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quarta-feira, 5 de março de 2014

Meditação

Sequencia da postagem “Ser de Deus”
A meditação
            18. O terceiro meio para se tornar santo é a meditação.
- João Gerson diz: que quem não medita as verdades eternas não pode, a não ser por milagre, viver como cristão. A razão é que, sem meditação, não há luz e se caminha na escuridão. As verdades de fé não se enxergam com os olhos do corpo, mas com os olhos d alma, quando nosso espírito as medita. Quem não faz meditação sobre as verdades eternas, não pode vê-las e por isso ando no escuro, facilmente se apega as coisas sensíveis e por causa delas despreza os bens eternos.
- S.Tereza: “Embora pareça que não há imperfeições em nós, descobrimos grande numero delas, quando Deus faz ver o nosso intimo, o que ele costuma fazer na meditação”.
- S.Bernardo: Quem não medita, não julga com severidade a si mesmo, porque não se conhece. A oração controla nossos afetos e dirige nossos atos para Deus; mas sem oração, os afetos de nossa alma se apegam a terra, nossas ações acompanham os afetos e assim tudo acaba em desordem.

            19. É impressionante o que se lê na vida da venerável irmã Maria Crucifixa. Quando rezava, como que ouviu um demônio gloriar-se de ter feito uma religiosa deixar a meditação. Em espírito viu que, após essa falta, o demônio tentava a religiosa a cometer uma falta grave e ela já estava para consentir. Correndo depressa, chamou-lhe atenção e livrou-a da queda.
- S.Tereza: Quem deixa a meditação, em pouco tempo se torna um animal ou um demônio.

            20. Quem abandona a meditação, portanto, deixará de amar a Jesus Cristo. A meditação é a fornalha onde se acende e se conserva o fogo do amor a Deus.
- S.Catarina Bolonha: Quem não medita muito fica sem o laço de união com Deus. Nessa situação não será difícil para o demônio, encontrando a pessoa fria no amor de Deus, leva-la a se alimentar com uma fruta envenenada.
- S.Tereza: Quem persevera na meditação, mesmo que o demônio a tente de muitas maneiras tenho certeza que o Senhor a levará ao porto da salvação... Quem não para no caminho da meditação, chegará ainda que tarde.
- O demônio se esforça muito em afastar a pessoa da meditação porque
“ele sabe que as pessoas perseverantes na oração estão perdidas para ele”
- Quantos bens se conseguem na meditação! Dela nascem os bons pensamentos, manifestam-se nossos piedosos afetos, desenvolvem-se os grandes DESEJOS, tomam-se as resoluções firmes de se dar inteiramente a Deus. Dessa maneira, a pessoa lhe sacrifica os prazeres terrenos e todos os DESEJOS desordenados.
- S.Luis Gonzada: “Não existirá muita perfeição, se não existir muita meditação.” Reparem bem nesta frase as pessoas que amam a perfeição!

As consolações espirituais
            21. Não se deve rezar para sentir a consolação do amor de Deus. Quem reza com esta finalidade, perderá seu tempo ou tirará pouco proveito. Devemos rezar somente para agradar a Deus, isto é, para conhecer o que Deus quer de nós e lhe pedir sua ajuda para cumprir sua vontade.
“Carregar a cruz sem consolações faz a alma voar até a perfeição”
- A oração sem consolações sensíveis torna-se mais frutuosa para a alma. Pobre pessoa que deixa a oração só porque não sente gosto nela!
- S.Tereza: Quem deixa a oração, é como jogar-se no inferno por si mesmo, sem necessidade dos demônios.

            22. Nasce da oração a gente sempre pensar em Deus.
- S.Tereza: Quem ama de verdade, sempre se lembra da pessoa a quem ama. Esta é a causa porque as pessoas piedosas falam sempre de Deus, sabendo o quanto agrada a Deus falar d’Ele e de seu amor por nós. É também assim que procuram comunicar aos outros aquele mesmo amor que invade seus corações. “Nas conversas dos filhos de Deus sempre está presente Jesus Cristo, agradando-lhe muito que se alegrem nele”
            23. Da oração nasce ainda o DESEJO de conservar o recolhimento interior nas ocupações externas e necessárias. Disse ‘ocupações necessárias’, isto é, seja por causa da direção da família, seja por causa dos próprios deveres, ou dos trabalhos exigidos pela obediência. Mesmo assim, as pessoas de oração devem amar a solidão e não se dissipar em ocupações extravagantes e inúteis; do contrário perderão o espírito de recolhimento, este grande meio de manter a união com Deus: “És um jardim fechado, minha irmã, minha esposa”. Nossa alma, esposa de Jesus Cristo, deve ser um jardim fechado a todas as criaturas, não admitindo outros pensamentos e ocupações que não sejam de Deus ou para Deus. Os corações dissipados não se tornam santos.
- Os santos que se dedicam a conquistar pessoas para Deus, não perdem o recolhimento mesmo entre as canseiras da pregação, do ouvir confissões, do reconciliar os inimigos, do assistir os doentes. O mesmo acontece com aqueles que se dedicam ao estudo. Quantos estudam muito e se esforçam para se tornar sábios e acabam não se tornando nem sábios nem santos. A verdadeira sabedoria é a sabedoria dos santos: saber amar a Jesus Cristo. P amor de Deus traz consigo a ciência e todos os bens; “Com ela me vieram todos os bens” Sab7,11, isto é, com a caridade.
- S.João Berchmans tinha uma paixão extraordinária pelo estudo, mas, com sua virtude, não deixou que os estudos dificultassem o seu crescimento espiritual.
- S.Paulo: Digo a todos que estão entre vós, que não saibam mais do que convém saber, mas que saibam com sobriedade...” Rm 12,3 quem deixa a oração por causa do estudo não busca a Deus, mas a si mesmo. Quem procura a Deus, larga o estudo oportunamente para não deixar a oração.

Meditação e Oração
            24. O maior mal, além disso, é que sem meditação não se reza. Em outras obras espirituais já falei da necessidade de rezar, especialmente num livrinho a parte, intitulado: “O grande meio da oração” neste capitulo direi rapidamente mais alguma coisa.
- Bispo João Palafox: Como podemos conservar a caridade, se Deus não nos dá a perseverança?
·         Como o Senhor nos dará a perseverança, se não a pedimos?
·         Como a pediremos sem oração?
Sem oração não existe comunicação com Deus, para se manter a vida cristã. De fato, quem não faz meditação enxerga pouco as necessidades de sua alma, não conhece bem os perigos a que se expõe para se salvar, nem os meios que deve usar para vencer as tentações. Assim, conhecendo pouco a necessidade da oração, deixará de rezar e certamente se perderá.

            25. Quanto ao que meditar, não há assunto, mais útil do que as verdades da vida: a morte, o julgamento, o inferno e o céu.
- Devemos meditar especialmente na morte, imaginando estarmos para morrer numa cama, com o crucifixo nas mãos e próximos a entrar na eternidade. Mas, principalmente para quem ama a Jesus Cristo e DESEJA crescer no seu santo amor, não existe meditação mais útil do que a Paixão do Redentor. O calvário é a montanha das pessoas que amam. Quem ama a Jesus Cristo sempre faz sua meditação sobre esta montanha, onde não se respira outro ar senão o amor de Deus.
- Vendo um Deus que morre por nosso amor e porque nos ama –amou-nos e se entregou por nós- é impossível não o amar intensamente. Das chagas de Jesus Crucificado saem continuamente flechas de amor que ferem os corações mais duros. Feliz aquele que faz continuamente nesta vida a sua meditação sobre o monte Calvário! Montanha feliz, amável, querida, quem se afastará de ti? Desprendendo fogo, abrasas as pessoas qie moram permanentemente sobre ti!


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap VIII– Santo Afonso Maria de Ligório

terça-feira, 4 de março de 2014

Ser de Deus

Sequencia da postagem “Desejo de perfeição”
Escolha do melhor
            15. A segunda resolução é preciso escolher sem restrição aquilo que é o melhor, não só o que agrada a Deus, mas aquilo que lhe agrada mais.
- S.Francisco Sales: “É preciso começar com uma grande e firme resolução de dar-se inteiramente a Deus, prometendo-lhe que queremos pertencer-lhe para sempre, sem nenhuma reserva. Depois, renovar muitas vezes essa mesma resolução.”

- S. André Avelino fez uma promessa de cada dia progredir sempre mais na perfeição. Quem quer ser santo, não precisa fazer uma promessa, mas deve procurar cada dia dar alguns passos no caminho da santificação.
- S.Lourenço Justiniano: “Quando alguém caminha de verdade, sente em si mesmo um desejo continuo de avançar mais. Quanto mais cresce na perfeição, tanto mais cresce nele esse desejo porque, aumentando a luz de Deus em sua alma, parece-lhe que não tem nenhuma virtude e não faz nenhum bem. Se, por acaso, praticou alguma coisa boa ele a sente como muito imperfeita, não fazendo caso dela. Por isso é que se esforça continuamente em alcançar a perfeição, sem parar.

            16. É necessário começar logo, não deixando para o dia seguinte. Quem nos garante que, mais tarde, teremos tempo? “Tudo que tua mão encontra para fazer, faze-o logo” oque podes fazer, não adies, “porque na região dos mortos para onde vais, não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria”
- Na outra vida não há tempo, para se praticar as boas ações nem motivos para merecimentos; lá não existe a sabedoria de fazer bem as coisas nem a ciência ou a experiência dos outros para a gente se aconselhar. Depois da morte, o que está feito, está feito!

-Certa religiosa de um mosteiro de Roma levava uma vida muito tíbia. Padre Lancízio veio pregar os exercícios espirituais as religiosas e esta freira, apegada a sua vida espiritual relaxada, assistia aos exercícios de má vontade. A graça de Deus, porém, tocou-lhe a alma na primeira pregação. Dirigiu-se ao pregador e lhe disse com verdadeira resolução: “Padre, eu quero ser santa logo” De fato, fez assim ajudada por Deus, porque viveu apenas oito meses e, nesse pouco tempo, viveu e morreu como uma santa.


            17. “Agora começo”, dizia Davi e o mesmo costumava falar S. Carlos Borromeu: “hoje começo a servir a Deus”. È assim que devemos fazer, como se no passado não tivéssemos feito nenhum bem. Tudo o que fazemos por Deus é nada, pois apenas cumprimos um dever. Portanto, tomemos cada dia a resolução de sermos inteiramente de Deus. Não fiquemos a olhar o que os outros fazem ou como fazem. Poucos são aqueles que se tornam santos de verdade.

- S. Bernardo: “Ninguém pode ser perfeito sem ser diferente” se queremos imitar o comum dos homens, seremos sempre imperfeitos como em geral eles são. É preciso vencer tudo, renunciar a tudo, para conseguir tudo, Deus.

- S.Tereza: “Porque não resolvemos dar todo o nosso coração a Deus, também não nos é dado todo o seu amor” “ Tudo o que podemos fazer é nada em comparação a uma gota de sangue de Jesus, derramada por nós.”
- Como é pouco tudo aquilo que se faz por Jesus Cristo! Ele deu seu sangue e sua vida por nós”
- Os santos não se poupam quando se trata de agradar a um Deus que se deu todo a nós, justamente para nos obrigar a não negarmos nada.

- S.João Crisóstomo: “Tudo te deu, nada deixou para si”. Já que Deus se deu todo a nós, não é justo que tenhamos reservas com ele. “Ele morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu”

A liberdade de Espírito
            VII 9. Aqueles que em seus trabalhos procuram só a vontade de Deus, gozam daquela santa liberdade de espírito, própria dos filhos de Deus; ela faz com que abracem tudo o que agrada a Jesus Cristo, apesar de qualquer repugnância do amor próprio ou do respeito humano. O amor de Jesus Cristo dá as pessoas uma total indiferença, tornando-lhes tudo igual, tanto as coisas penosas como as suaves. Nada querem do que lhes traz prazer, mas ardentemente desejam o que agrada a Deus. Com a mesma paz procuram fazer tudo, coisas grandes e pequenas, agradáveis ou desagradáveis; basta-lhes que agradem a Deus.

            10. Muitos querem servir a Deus, mas conforme seu gosto, em tal emprego, em tal lugar, com tais companheiros, em tais circunstâncias. Se não for assim, ou deixam os seus deveres ou agem de má vontade. Essas pessoas não tem a liberdade de espírito, mas são escravas de seu amor próprio. Por isso, há pouco merecimento no que fazem. Vivem inquietas, enquanto o jugo de Jesus Cristo torna-se pesado para elas.

- Aquelas pessoas que amam verdadeiramente a Jesus Cristo, só procuram fazer aquilo que lhe agrada e porque lhe agrada, quando, onde, como Jesus o quer. Pouco importa se ele nos deseja em funções honrosas aos olhos dos homens ou numa vida obscura e humilde. O que importa é amar a Jesus Cristo com puro amor; nisto devemos trabalhar, combatendo sempre os desejos do amor próprio que gostaria de nos ver ocupados em obra honrosas e de acordo com as nossas inclinações.

11. É preciso que estejamos desapegados de tudo, mesmo dos exercícios espirituais quando o Senhor nos quer empregar em outra coisa de sua vontade.
- Pe. Alvarez, achando-se, uma vez muito ocupado, desejou desembaraçar-se para ir fazer suas orações, porque lhe parecia não estar unido a Deus naquele tempo de trabalho. Mas o Senhor o fez sentir interiormente: “mesmo que eu não o tenha comigo, fique contente porque eu me sirvo de você” Aviso excelente para as pessoas que talvez se inquietam quando a obediência ou a caridade as obrigam a deixar as costumeiras práticas de piedade. Essa inquietação não vem certamente de Deus, mas ou do demônio ou do amor próprio.
Agradar a Deus e morrer, eis a primeira regra dos santos!


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap VIII– Santo Afonso Maria de Ligório

segunda-feira, 3 de março de 2014

Desejo de perfeição

Sequencia da postagem “Tibieza”
9. O primeiro meio para deixar a tibieza é o DESEJO de perfeição. – Os SANTOS DESEJOS são as asas que nos fazem voar da terra. Por um lado, eles nos dão força para caminhar na perfeição, por outro lado, eles nos aliviam os sofrimentos da caminhada.
- Quem DESEJA de verdade a perfeição nunca deixa de progredir nela e, se não ficar desanimado, vai consegui-la. Aquele, porém, que não a DESEJA, andará sempre para trás e se torna mais imperfeito do que no começo.
Na caminhada para Deus quem não avança, sempre retrocede arrastado pela correnteza de nossa natureza corrompida.

            10. É um grande erro dizer como alguns dizem: Deus não quer que todos sejam santos. “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” Tess 4,3
- Deus quer todos santos , cada um no seu estado de vida: o religioso como religioso, o leigo como leigo, o sacerdote como sacerdote, o casado como casado, o negociante como negociante, o soldado com soldado, e assim em todos os estados de vida.
- S. Tereza: “Os nossos pensamentos sejam grandes, porque deles nascem nosso bem... É preciso não diminuir os nossos DESEJOS, mas confiar em Deus; esforçando-nos, chegaremos pouco a pouco até onde os santos chegaram com a graça de Deus”. Em confirmação, diz ela ter visto pessoas corajosas que em pouco tempo fizeram grande progresso espiritual: “Agradam ao Senhor tanto os DESEJOS como se já fossem realizações... Deus não concede muitas graças importantes, senão para quem muito DESEJOU o seu amor... Deus não deixa de pagar qualquer bom DESEJO nesta vida, pois, ele ama as almas generosas quando não confiam em si mesmas”
- S. Tereza tinha esse espírito generoso. Chegou uma vez, a dizer ao Senhor que pouco lhe importaria ver no céu pessoas gozando maior felicidade do que ela; mas ver pessoas que o amassem mais do que ela, não sabia como poderia suportar.

            11. É preciso ter coragem.
- S. Tereza: “O Senhor é bom para aqueles que o procuram”, é extremamente bom e aberto para com as pessoas que o buscam de coração. Se DESEJAMOS ser santos de verdade, nem os pecados cometidos podem nos impedir. “O demônio faz tudo para nos parecer um orgulho ter grandes DESEJOS e o querer imitar os santos; mas ajuda muito ter coragem para as coisas grandes. Mesmo que a alma não tenha logo a força, ele dá um voo generoso e avança muito.”
“Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” Rm 8,28
- Mesmo os pecados cometidos podem concorrer para a nossa santificação, na medida em que sua lembrança nos faz mais humildes, mais agradecidos as graças que Deus nos deu, depois de tantas ofensas.
- O pecador deve dizer: nada posso, nada mereço, a não ser o inferno. Mas sirvo a um Deus de bondade infinita e ele prometeu ouvir a todos que lhe pedem alguma coisa. Já que ele me livrou da condenação e quer que eu me torne um santo oferecendo-me sua ajuda, então posso me tornar um santo, não com minhas forças, mas com a graça de Deus que me sustenta:
“Tudo posso naquele que me conforta” Fil 4,13
- Tendo os bons DESEJOS, é preciso que tenhamos coragem e, confiantes em Deus, procuremos realizar esses DESEJOS. Encontrando depois alguma dificuldade na sua realização, permaneçamos na vontade de Deus. A vontade de Deus deve estar acima de todos os nossos DESEJOS.

Decisão de ser de Deus
12. O segundo meio para chegar a santificação é a decisão de dar-se a Deus. Chamados a perfeição, muitos sentem o DESEJO de obtê-la, movidos pela graça. Se depois, porém, não tomam a decisão, vivem e morrem no lodo de sua vida tíbia e imperfeita.
- Não basta só o DESEJO de ser santo, se não juntarmos a ele uma firme resolução de alcança-lo. Quantas pessoas se alimentam só de DESEJOS e nunca dão um passo nos caminhos de Deus. Estes são os DESEJOS de que fala em Prov 21,25:
“Os DESEJOS do preguiçoso o matam”.
- O preguiçoso DESEJA sempre e nunca se decide a empregar os meios próprios de seu estado de vida para se tornar santo. Por isso, costuma dizer: Oh! Se eu morasse num deserto e não nesta casa! Se eu estivesse vivendo em outro convento, eu me entregaria todo a Deus! E no entanto, não suporta um companheiro, não pode ouvir uma palavra que o contraria, dissipa-se com muitas coisas inúteis, cai em muitas faltas, pecados da gula, curiosidade, orgulho, e depois suspirando diz: Oh! Se eu pudesse...
- Tais DESEJOS são mais prejudiciais do que úteis; alimenta-se deles e no entanto vive e continua a viver imperfeitamente.

- S. Francisco Sales: Não concordo com uma pessoa que, ligada por uma obrigação ou por uma vocação, fique a DESEJAR outro tipo de vida, fora daquele que é seu dever, os outros trabalhos que são incompatíveis com seu estado presente. Isso lhe dissipa o coração e a faz afrouxar nas suas obrigações.

            13. Portanto, é necessário DESEJAR a perfeição e empregar com decisão os meios de alcança-la.
- S. Tereza: “Deus não quer de nós apenas uma resolução, para ele depois fazer o resto. O demônio não tem medo das pessoas irresolutas.”; “Prefiro oração de pouco tempo mas que produz grandes efeitos, do que orações de muitos anos nas quais a pessoa não chega a resolução de fazer alguma coisa de valor por Deus... Sei por experiência que se alguém, desde o começo, toma a resolução de fazer alguma coisa por Deus, por difícil que seja, nada tem que temer”.
- A meditação é útil para conhecer os meios que conduzem a santidade. Alguns fazem oração, mas nunca tiram conclusão alguma.

            14. A primeira resolução deve ser esta: esforçar-se sempre e preferir morrer do que cometer um pecado deliberado, por pequeno que seja. É verdade que nossos esforços, sem a ajuda da Deus, não bastam para vencermos as tentações. Deus, porém, quer que, de nossa parte, nos esforcemos. Ele suprirá com sua graça, socorrerá nossa fraqueza e nos alcançará a vitória. Essa resolução nos torna possível caminhar para frente e ao mesmo tempo nos dará grande coragem, trazendo-nos a certeza da graça divina.

- S. Francisco Sales: “A maior segurança que podemos ter neste mundo de estar na graça de Deus, não consiste tanto nos sentimentos que temos de seu amor, mas no puro e irrevogável abandono de todo nosso ser nas suas mãos e na resolução firme de nunca mais consentir em algum pecado, nem grande nem pequeno.” Nisso consiste a delicadeza de consciência.
- Note-se que uma coisa é ser delicado de consciência, e outra é ser escrupuloso:
·         Ser delicado de consciência é uma necessidade para se tornar santo.
·         Ser escrupuloso é um defeito e nos faz mal; devemos, por isso, obedecer ao diretor espiritual e vencer os escrúpulos, preocupações inúteis e sem razão.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap VIII– Santo Afonso Maria de Ligório

domingo, 2 de março de 2014

Tibieza

Quem ama a Jesus Cristo,
foge da tibieza, ama a perfeição e os meios de alcança-la
1. S.Gregório, ao explicar essa frase, diz que a caridade, que só se ocupa como amor a Deus, rejeita tudo o que não é correto e santo.
- A caridade é o laço que junta a alma as virtudes mais perfeitas:
“Revesti-vos da caridade que é vinculo da perfeição” Cl 3,4
- A caridade ama a perfeição e por isso detesta a tibieza; algumas pessoas servem a Deus na tibieza com grande perigo de perder a caridade, a graça divina, a alma e tudo.

A tibieza
            2. Há duas espécies de tibieza, uma evitável outra inevitável. A tibieza inevitável é aquela da qual nem os santos estão livres. Ela abrange todas as faltas cometidas sem plena deliberação, mas só pela nossa fragilidade humana:
·         distrações na oração, perturbações interiores, palavras inúteis, vã curiosidade, desejo de se mostrar, gosto no comer e beber, movimentos de sensualidade não controlados prontamente, e tantos outros.
- Essas faltas, devemos evita-las quando pudermos; mas devido a fraqueza de nossa natureza humana, corrompida pelo pecado, é impossível evita-las todas. Devemos, sim, nos arrepender quando fazemos estes pecados, pois desgostam a Deus, mas não devemos nos perturbar por causa delas.
- S.Francisco Sales: “Todos os pensamentos que nos trazem inquietação não são de Deus, príncipe da paz, mas nascem sempre ou do demônio ou do amor próprio ou da estima de nós mesmos.”
            3. Portanto, é preciso nos afastar logo e não fazer caso desses pensamentos que nos inquietam. As faltas irrefletidas, feitas sem querer, também sem querer se apagam. Basta para isso um ato de arrependimento ou um ato de amor. Certa monja beneditina fala de uma chama de fogo, na qual, se jogarmos palhas, tornam-se cinzas. Com tal figura, ela queria explicar como um ato fervoroso de amor a Deus destrói todas as faltas em nossa alma. Esse mesmo efeito produz a sagrada comunhão, chamada ‘remédio’ que nos preserva dos pecados de cada dia. Essas faltas não deixam de ser faltas, mas não impedem nossa santificação, isto é, o caminhar para a perfeição; nesta vida ninguém chega perfeição, antes de entrar no céu.

Tibieza evitável
4. A tibieza, que impede nossa santificação, é aquela que chamamos de evitável: cometer pecados veniais refletidos.
- Todos esses pecados cometidos de olhos abertos, bem que podemos evita-los em nossa vida, com a graça de Deus.
- S.Tereza: “Que Deus nos livre dos pecados deliberados, por pequeno que seja.”; “Esses pecados são como vermes que não se deixam conhecer enquanto não roerem as virtudes em nós... Com as coisas pequenas o demônio vai abrindo buracos onde entram as coisas grandes.” Por exemplo:
·         mentiras voluntárias, pequenas murmurações, imprecações, ressentimentos, caçoar do próximo, palavras picantes, vaidade, antipatias nutridas no coração, afeição desordenada a pessoas do outro sexo.
5. Por isso devemos recear cometer tais pecados deliberados. Por causa deles, Deus diminui as luzes mais claras no coração, seu socorro mais forte, e nos tira o consolo espiritual da alma. Por isso é que uma pessoa faz contrariada e com muito custo os atos de piedade. Depois começa a deixar a oração, a comunhão, as visitas a Jesus Eucaristia, as devoções; finalmente deixará tudo como já tem acontecido muitas vezes a tantas pessoas infelizes.
6. É o que significa aquela ameaça feita pelo Senhor as pessoas tíbias: “Não és frio nem quente, oxalá fosses frio ou quente! Porque és morno, nem frio nem quente, estou para te vomitar da minha boca” AP 3,15
- Notemos bem: “oxalá fosses frio!” Como? É melhor ser frio, isto é, despojado da graça de Deus do que ser desleixado? É verdade; de certo modo é melhor ser frio, porque quem é frio pode mais facilmente corrigir-se tocado pelo remorso da consciência. A pessoa tíbia espiritualmente acostuma-se a ficar dormindo nas suas faltas, não pensa nos eu mal, não pensa em se emendar, e assim a sua cura se torna quase desesperada.
- S.Gregório: “A tibieza que deixou o fervor, cai no desespero.”
- Pe.Luís da Ponte dizia que, em sua vida, tinha cometido muitas falas, mas que nunca tinha feito as pazes com elas.
- Algumas pessoas fazem as pazes com suas faltas. A ruina vem daí, principalmente quando a falta se junta com alguma paixão de apego a si mesmo, desejo de se mostrar, de ajuntar dinheiro, ódio ao próximo ou um afeto desordenado a uma pessoa do outro sexo.
- S.Francisco Assis: “Então a um perigo de que os cabelos dessa pessoa tornem-se para ela laços que a arrastam para o inferno.” Pelo menos, ela não se tornará santa e perderá o prêmio para ela preparado por Deus, se tivesse sido fiel a graça. Um passarinho quando é solto do laço, logo voa livremente; a pessoa quando está livre de todo apego deste mundo, voa depressa para Deus. Mas, se estiver presa, qualquer pequeno fio bastará para impedi-la de caminhar para Deus. Quantas almas não se fazem santas, porque não se esforçam para se desprenderem de certas afeições passageiras!
7. Todo o mal vem do pouco amor que se tem a Jesus Cristo. Aqueles que estão cheios de si mesmo; os que se irritam com tudo que é contrário aos seus caprichos; os tolerantes consigo mesmos por medo de perderem a saúde; aqueles que têm o coração aberto para as coisas externas e o espírito sempre distraído pela ânsia de ouvir e saber tanta coisa alheia ao serviço de Deus e que servem somente para contentar a própria vontade; os que se ressentem com a menor desatenção que julgam ter recebido de alguém, perturbam-se facilmente, deixam a oração e o recolhimento; ora muito devotos e alegres, ora tristes e impacientes, conforme as coisas acontecem de acordo ou contra sua vontade; todas essas pessoas não amam, ou amam muito pouco a Jesus Cristo e desacreditam a verdadeira piedade cristã.

Deixar a Tibieza
            8. O que deve fazer quem se encontra neste lastimável estado de tibieza? De fato, é uma coisa bem difícil que uma pessoa recupere a antiga piedade? O que não podem os homens, Deus pode muito bem: “O que é impossível aos homens, é possível a Deus” Quem reza e usa dos meios necessários alcançará tudo quanto deseja.
- Os meios para deixar a tibieza e caminhar na perfeição são cinco:
·         o desejo de perfeição,
·         a decisão de alcança-la,
·          a meditação,
·         a comunhão frequente,
·         a oração.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap VIII– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Inveja

Quem ama a Jesus,
não tem inveja das grandezas do mundo
1. Explicando esta qualidade da caridade, S.Gregório diz que ela não é invejosa, porque não cobiça as grandezas terrenas.
Não deseja grandezas, mas as deixa de lado.
- É preciso distinguir duas espécies de inveja: uma é prejudicial e outra é santa.
            Inveja prejudicial é aquela que cobiça e se entristece com os bens do mundo possuídos por outros nesta terra.
            Inveja santa é aquela que não cobiça, mas ao contrário, tem compaixão dos ricos deste mundo vivendo entre honras e prazeres mundanos. Não procura nem deseja senão a Deus, nada pretende nesta vida senão ama-lo sempre mais; por isso inveja santamente quem o ama mais, querendo superar no amor até os próprios anjos.

            2. Essa é a única finalidade que as almas santas procuram e assim, como que ferem e inflamam de amor o Coração de deus, que lhe fazem dizer: “Feriste o meu coração, minha querida esposa, feriste o meu coração com um dos teus olhos”. Este “um de teus olhos” significa o único fim que tem a pessoa em todos seus atos e pensamentos: agradar a Deus.
- Os homens do mundo olham para as coisas com vários olhos, isto é, com diversos fins desordenados: agradar aos homens, conquistar honras, adquirir riquezas ou, ao menos, contentar a si próprios. Mas os santos têm somente um olhar para ver, em tudo quanto fazem, só a vontade de Deus. “Que tenho a desejar neste mundo e no outro fora de vós, meu Deus! Vós sois minha riqueza e o único Senhor de meu coração” Dizia S.Paulino: “Tenham os ricos as suas riquezas e os reis os seus reinos;
vós meu Jesus, sois o meu tesouro e o meu reino”.

Pureza de intenção
            3. Observemos, portanto, que não basta fazer boas obras, as é preciso fazê-las bem. Para que as nossas obras sejam boas e perfeitas é necessário fazê-las com pura intenção de agradar a Deus.
- Este foi o grande louvor dirigido a Jesus cristo: “Fez bem todas as coisas”
- Muitas ações, boas em si mesmas, pouco ou nada valerão junto de Deus porque feitas para outro fim e não para a glória divina.
- S.Maria Madalena Pazzi dizia: “Deus remunera as nossas boas obras segundo a pureza de intenção”, que dizer, quanto mais pura é a nossa intenção, tanto mais o Senhor aceita e recompensa as nossas obras. Mas como é difícil encontrar uma ação feita unicamente para Deus!
- Conheci um velho e santo religioso que trabalhou muito para Deus e morreu como um santo. Um dia, depois de olhar para sua vida passada, triste e muito preocupado, me disse: “Pobre de mim! Examinando todas as ações de minha vida, não acho nenhuma que tenha feito só para Deus”.
- Maldito amor próprio que faz perder todo ou em grande parte o fruto das nossas boas obras! Quantos há que, mesmo nos seus trabalhos mais santos de pregador, confessor, missionário, se cansam, se sacrificam e pouco o quase nada lucram com isso, porque não tem em vista unicamente a Deus, mas a glória mundana, o interesse, a vaidade de aparecer ou, ao menos, a própria inclinação!

            4. “Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu”. Quem age só para contentar seu próprio gosto, já recebe o seu prêmio: “Em verdade vos digo, já receberam a sua recompensa”, que se compara a um pouco de fumaça ou a uma satisfação que passa depressa e nenhum proveito deixa para a alma.
- Diz o Profeta Ageu 1, 6 que quem trabalha para outro fim, que não o de agradar a Deus, guarda sua recompensa num saco furado, onde nada achará quando for abri-lo”
- Daí é que acontece que alguém fica todo inquieto se, após muitas fadigas, fracassa em seu empreendimento. Isso é sinal de que não teve em vista somente a glória de Deus. Quem pratica uma ação só pela glória de Deus, não se perturba, mesmo que não seja bem sucedido. Tendo agido com reta intenção de agradar a Deus, já alcançou o fim que desejava.

Os Sinais
            5. Eis os sinais para conhecer se uma pessoa faz qualquer trabalho espiritual age só por Deus:
1º.    Quem age só para Deus não se perturba em caso de fracasso, porque Deus não querendo, ele também não quer.
2º.    Alegra-se com o bem que os outros fazem, como se ele mesmo o tivesse feito.
3º.    Sem preferência para trabalhos, aceita de boa vontade o que a obediência lhe pede.
4º.    Tendo cumprido seu dever, não fica a espera de louvores nem aprovações dos outros. Por isso, não fica triste se o criticam ou o desaprovam, alegrando-se somente em ter contentado a Deus. Se, por acaso, recebe qualquer elogio do mundo, não se envaidece, mas afasta a vanglória dizendo-lhe: “Segue o teu caminho; chegaste tarde porque o meu trabalho já esta dado todo a Deus”

6. Entrar na alegria do senhor, participar da alegria de Deus é justamente isto segundo a promessa feita aos servos fiéis: “Servo bom e fiel, porque foste fiel nas pequenas coisas, entra na alegria do teu Senhor”. Se temos a sorte de fazer alguma coisa que agrada a Deus p que mais queremos?. A maior graça, a maior felicidade que uma criatura pode desejar é dar gosto a seu Criador.

7. É precisamente isso que Jesus Cristo exige de uma pessoa que o ama: “grave-me como um selo sobre seu coração e sobre seu braço” Ct 8,6; sobre seu coração, isto é, quando pensa em fazer alguma coisa, deseja fazê-la somente por amor de Deus. Sobre o seu braço, isto é, quando realiza uma ação, faz tudo para dar gosto a Deus, de sorte que Deus seja sempre o único fim de todos seus pensamentos e ações.
- S. Tereza dizia que quem quiser chegar a santidade deve vir sem nenhum outro desejo senão o de agradar a Deus. “Não existe preço com que se possa pagar qualquer coisa feita por Deus, por pequena que seja”. Com razão, porque tudo que faz para agradar a Deus é um ato de caridade que nos une a Deus e nos obtém bens eternos.

            8 A pureza de intenção é chamada a “alquimia celeste” que transforma o ferro em ouro, pois as ações mais comuns, como o trabalho, as refeições, o recreio, o repouso, feitas por amor a Deus, se convertem em ouro de santo amor.
- S. Maria Madalena Pazzi tinha por certo que vai direto para o céu, sem passar pelo purgatório, quem faz tudo com pura intenção.
- Conta-se de um santo eremita que antes de começar qualquer trabalho, parava um pouco e levantava os olhos ao céu. Perguntaram-lhe o porque, no que respondeu: “ Procuro acertar o golpe” queria dizer com isso que, assim como um caçador antes de disparar a arma faz pontaria para não errar o tiro, ele também, antes de fazer qualquer coisa, tomava como alvo a Deus a fim de que a ação fosse conforme a vontade de Deus. Assim nós devemos fazer também. Será bom, durante o trabalho, renovar de tempo e tempo a boa intenção de agradar a Deus.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap VII– Santo Afonso Maria de Ligório

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Mansidão

Quem ama a Jesus, ama a Mansidão
1. O espírito de Mansidão é próprio de Deus. “Meu espírito é mais doce do que o mel” Eclo 24,27. A pessoa que ama a Deus, ama a todos os que são amados por Deus, isto é, todos os homens. Por isso procura sempre socorrer, consolar, contentar a todos na medida do possível.
- S.Francisco Sales, o mestre e modelo da mansidão diz: “A humilde mansidão é a virtude das virtudes que Deus tanto nos recomendou. É necessário praticá-la sempre e em toda parte”. Dá-nos ainda a seguinte regra: “Quando vedes alguma coisa que se pode fazer com amor, fazei-o; o que não se pode fazer sem discussões, deixai-o” isso se refere ao que podemos deixar sem ofender a Deus, porque, quando existe ofensa a Deus, esta deve ser impedida sempre e depressa por aquele que é obrigado a impedi-la.

2. A mansidão deve ser praticada especialmente com os pobres, os quais normalmente, por causa da sua pobreza, são tratados asperamente pelos homens. Deve-se ainda usar da mansidão particularmente com os doentes que se encontram aflitos e, as mais das vezes, recebem pouco cuidado dos outros. Devemos exercer a mansidão principalmente com os inimigos. É preciso “vencer o mal com o bem” Rm 12,21, isto é, o ódio com o amor, a perseguição com a mansidão. Assim fizeram os santos e por este meio conseguiram o afeto de seus maiores inimigos.

3. S.Francisco Sales, diz: “Não há nada que tanto edifique o próximo com a caridosa benignidade no trato”. Ele tinha ordinariamente o sorriso nos lábios. Sua aparência, suas palavras, suas maneiras respiravam mansidão.
- S.Vicente de Paulo afirmava jamais ter conhecido um homem mais manso, parecendo-lhe ver a imagem viva da bondade de Jesus Cristo. Mesmo quando sua consciência o obrigava a negar alguma coisa, o santo mostrava tanta benevolência com as pessoas, que elas iam embora contentes, embora não tivessem obtido o que desejavam. Era manso para com todos, com os superiores e com seus iguais, com seus inferiores, com as pessoas de casa e de fora. Era bem diferente dos que, segundo sua expressão, parecem anjos na rua e demônios em casa. No trato com seus empregados, não se queixava nunca de suas faltas; advertia-os apenas e sempre com bondade. Coisa muito louvável em todos os superiores!
- O superior deve usar de toda mansidão com os seus súditos. Ao lhes impor alguma coisa, deve antes pedir que mandar.
- S.Joana de Chantal disse: “Experimentei todos os meios de governar e não encontrei nenhum melhor do que o modo bondoso e paciente”.

A Bondade e a Mansidão
4. O superior deve mostrar-se benigno mesmo nas repreensões que tem a fazer. Uma coisa é repreender com energia e outra repreender com aspereza. É preciso, as vezes, repreender com energia, quando a falta é grave, principalmente em caso de repetição da falta e depois de a pessoa ter sido avisada. Mas evitemos repreender com aspereza e com raiva; quem repreende com raiva faz mais mal do que bem. Esse é o zelo errado que S.Tiago reprova. Há quem se glorie de dominar assim sua família ou comunidade, e pensa que é assim que se deve governar. S.Tiago não pensa assim: “Se tendes zelo amargo, não vos glorie”.
- Se em algum caso raro houvesse necessidade de dizer uma palavra áspera para que alguém percebesse a gravidade de seu erro, é preciso temperar a dureza, terminando com alguma palavra mais mansa. É preciso curara as feridas, a exemplo do bom samaritano, com vinho e óleo.
- S.Francisco Sales dizia: “Assim como o óleo fica boiando quando despejado num copo d’agua, assim em todos os nossos atos deve ficar por cima a bondade”. Se a pessoa a ser repreendida está alterada, convém deixar a repreensão para outra hora e esperar que passe a raiva, caso contrário mais a irritaríamos. “Quando uma casa pega fogo não se deve jogar mais lenha na fogueira”

5. “Não sabeis de que espíritos sois”. Foi esta a resposta que Jesus deu a seus discípulos Tiago e João, quando eles queriam que fossem castigados os samaritanos, que os tinham expulsado da sua cidade:
- Que espírito é esse? Não é o meu! O meu espírito é de bondade e mansidão; “Não vim para perder, mas para salvar as pessoas” Lc 9,55 e estais querendo que eu as perca? Calai-vos e não me façais semelhante pedidos, porque não é esse o meu espírito!
- Com que mansidão tratou Jesus a mulher adúltera: “Mulher, ninguém te condenou? Nem eu te condenarei. Vai a não peques mais” Jo 8, 10.
- Contentou-se apenas em admoesta-la a não mais pecar e a mandou em paz. Com quanta bondade procurou converter e converteu a samaritana. Começou pedindo-lhe agua. Depois lhe disse: “Se soubesses quem é que te pede de beber!”. Em seguida revelou-lhe que era o Messias esperado. Com quanta bondade procurou converter o traidor Judas. Deixou que ele comesse com ele no mesmo prato. Lavou-lhe os pés e o admoestou no momento da traição. “Judas, é com um beijo que me trais? Com um beijo trais o Filho do Homem?”
- Como é que mais tarde converteu Pedro, depois de ter sido renegado por ele? “O Senhor voltou-se e olhou para Pedro” Lc 22, 48.61. Ao sair da casa do pontífice, sem censurar o seu pecado, lançou sobre ele um olhar de ternura e o converteu. E converteu de tal forma que Pedro durante toda a vida não deixou de chorar a grave ofensa que fizera ao seu Mestre.

A força da Mansidão
            6. É certo, ganha-se mais sendo manso do que severo. Não há nada mais amargo que a noz; mas quando bem preparada, torna-se doce e agradável. O mesmo se dá com as repreensões; embora sejam em si desagradáveis, contudo quando feitas com amor e bondade, são bem aceitas e produzem maior proveito.
- S.Vicente de Paulo dizia que, no governo de seu instituto, fizera apenas três repreensões severas, acreditando ter boas razões para agir assim. Mas depois sempre se arrependeu porque nenhuma surtira efeito, ao passo que as correções feitas com mansidão sempre tiveram bons resultados.

            7. S.Francisco Sales, por sua mansidão, alcançava dos outros tudo o que desejava. Assim conseguiu levar para Deus os pecadores mais endurecidos. A mesma coisa fazia S.Vicente de Paulo que ensinava a seus missionários esta regra: “ A afabilidade, o amor e a humildade tem uma força maravilhosa para ganhar os corações dos homens e leva-los a abraçar as coisas mais desagradáveis a natureza humana”. Uma vez mandou um grande pecador a um de seus padres para que o convertesse. Mas o missionário, vendo inúteis todos os seus esforços, pediu ao santo que lhe dissesse alguma coisa. Ele o fez e o pecador se converteu. Este declarou depois eu a singular bondade e extrema caridade do santo lhe ganharam o coração. Por isso o santo não admitia que seus missionários tratassem os seus penitentes com dureza, e lhes dizia que o espírito infernal se serve do rigor de alguns para causar maior dano as almas.

            8. É preciso praticar a benignidade com todos, em todas as circunstâncias e em todo o tempo.
- S.Bernardo adverte que alguns são mansos enquanto as coisas correm de acordo com sua vontade. Mas quando atingidos por alguma contrariedade ou dificuldade, logo se inflamam e começam a fumegar como um vulcão.
- Pode-se chama-los muito bem de carvões acesos escondidos debaixo das cinzas. Quem quer ser santo, deve ser nesta vida como o lírio entre os espinhos. Embora nasça entre eles, não deixa de ser lírio, isto é, sempre igualmente suave e benigno!

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap VI– Santo Afonso Maria de Ligório

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Paciência na Dor, 2ª parte

A dor e o céu
7. Dizia São José Calazans: “Para ganhar o céu, todo sofrimento é pouco”
- S. Paulo: “Os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá se revelar em nós” Rm 8,18
- Seria uma grande vantagem sofrer a vida inteira todos os tormentos sofridos pelos mártires, só para gozarmos um momento do céu. Com maior razão devemos então abraçar as nossas cruzes, sabendo que os sofrimentos desta vida curta nos farão conquistar uma felicidade eterna.
“As nossas tribulações do momento são leves
e nos preparam um peso de glória eterna” IICor4,17.
- S. Agapito, mocinho de poucos anos, quando foi ameaçado de morte, respondeu: “Que maior felicidade posso eu ter do que a de perder a minha cabeça para vê-la depois coroada no céu?
- S. Francisco costumava sempre dizer: 
“O bem que espero é tão grande que todo sofrimento é prazer para mim”
- Para obter o paraíso é preciso lutar e sofrer. “Se sofremos com Cristo, com ele reinaremos”. Não pode haver prêmio sem merecimento, nem merecimento sem paciência. “Não recebe a coroa, se não aquele que lutou segundo as regras do jogo” Terá maior coroa quem combate com maior paciência. Coisa admirável! Quando se trata dos bens temporais desta terra, os mundanos procuram conquistar o máximo de coisas possíveis. Quando se trata dos bens eternos, dizem que basta um cantinho no paraíso. Esse não foi o comportamento dos santos. Nesta vida contentaram-se com qualquer coisa e desapegaram-se dos bens terrenos. Tratando-se dos bens eternos, eles procuraram ganhar o mais possível. Agora eu lhes pergunto: quem age com mais sabedoria e prudência?

8. Falando desta vida, é certo que quem padece com mais paciência vive com mais paz.
- Dizia S. Felipe Neri que neste mundo não há purgatório; ou é paraíso ou é um inferno. Os que suportam com paciência os sofrimentos desta vida gozam do Paraíso. Quem assim não o faz, sofre o inferno!
- S. Tereza: quem abraça as cruzes que Deus lhe manda não as sente.
- S. Francisco de Sales, achando-se uma vez cercado de sofrimentos disse: “De algum tempo para cá as grandes tribulações e oposições que sinto me trazem uma paz tão grande e me predizem a união próxima e estável de minha alma com Deus; sinceramente falando, é a única ambição e o único desejo de meu coração”. Na verdade, não há paz, para aqueles que levam uma vida errada, mas só para quem vive unido com Deus e com sua santa vontade.
- Um missionário religioso, nas Índias, assistia uma vez a execução de um condenado. Este, antes de morrer, chamou-o e lhe disse: “Sabe padre, eu fui de sua Congregação Religiosa. Enquanto observava o regulamento de vida, eu era muito feliz. Mas desde que comecei a relaxar, achei tudo difícil e passei a me aborrecer com tudo. Abandonei a vida religiosa para me entregar aos vícios; eles finalmente me trouxeram a este fim desgraçado que agora o senhor está vendo. Digo-lhe isto para que o meu exemplo possa servir a outros.”
- Dizia o Pe. Luiz da Ponte: “Considere como amargas as coisas doces desta vida e como doces as amargas; assim terá sempre paz”
- Isso é verdade, porque os prazeres ainda que agradáveis a natureza, deixam sempre o amargor do remorso da consciência devido ao apego desordenado que, as mais das vezes, colocamos neles. Mas as amarguras desta vida, aceitas das mãos de Deus com resignação, tornam-se suaves e queridas as pessoas que amam ao Senhor.

Sofrer amando
9. Persuadamo-nos que neste vale de lágrimas não pode ter a verdadeira paz interior senão quem recebe e abraça com amor os sofrimentos, tendo em vista agradar a Deus. Essa é a condição a que estamos reduzidos em consequência da corrupção do pecado. A situação dos justos na terra é sofrer amando.  A situação dos santos no céu é de gozar amando.
- O Pe. Paulo Segneri, para animar a uma de suas penitentes nos sofrimentos, pediu-lhe que escrevesse aos pés do crucifixo estas palavras: “ É assim que se ama”. O sinal mais certo para saber se uma pessoa ama a Jesus Cristo é, não tanto sofrer, mas o querer sofrer por amor d’Ele. Que vantagem maior Dizia S. Tereza, poderá haver para alguém do que ter um sinal de estar sendo agradável a Deus? Mas a maior parte dos homens se espanta só com o ouvir falar as palavras cruz, humilhação, sofrimento! Muitas pessoas, porém, vivem no amor de Deus e encontram nos padecimentos a sua felicidade. Ficariam desconsoladas se tivessem que viver sem sofrer. “Olhar Jesus Crucificado torna-me a cruz tão amável que me parece impossível ser feliz sem sofrer. O amor de Jesus Cristo me basta”
- Nosso Salvador diz a quem o quer seguir: “Tome a sua cruz e siga-me” mas é preciso toma-la e carrega-la, não a força e com repugnância, mas com humildade, paciência e amor.

Purificação
11. Uma pessoa que ama a Deus só tem a intenção de unir-se inteiramente a deus. Dizia S. Catarina de Gênova: “Para se chegar a união com Deus são necessárias as tribulações; porque o Senhor, por meio delas, procura destruir em nós as más inclinações interiores e exteriores. Por isso as injurias, os desprezos, as doenças, o abandono dos parentes e amigos, as confusões, as tentações e todas as contrariedades nos são necessárias. Oferecem-nos ocasião de combatermos e vencermos em nós todos os movimentos desordenados, até que, de vitória em vitória, cheguemos a extingui-los e a não mais senti-los. Dessa forma, as contrariedades sofridas por amor a Deus já não nos parecerão desagradáveis, mas suaves. Sem isso, nunca chegaremos a união com Deus.

12. Portanto, uma pessoa que deseja ser toda de Deus deve estar resolvida a procurar nesta vida não os prazeres, mas a acolher com amor os sofrimentos do dia a dia, abraçando logo todas as mortificações, principalmente quando aparecem contra a nossa vontade. Essas são as mais agradáveis a Deus.
“Mais vale o homem paciente do que o corajoso” Pr 16,32
Quem se mortifica com Jejuns, sacrifícios, penitencias, agrada sem duvida a Deus pela coragem que emprega nestas mortificações; mais lhe agrada, porém, quem é forte em sofrer com paciência e alegria as cruzes que Deus lhe manda.
- S. Francisco de Sales dizia: “As mortificações que nos vem de Deus ou dos homens, por permissão divina, são sempre mais preciosas do que aquelas que são filhas da nossa vontade. Como regra geral, o que tem menos de nossa escolha, é o mais agradável a Deus e proveitoso para a nossa alma”

13. Peçamos ao Senhor que nos faça dignos de seu santo amor. Se o amamos perfeitamente, todos os bens da terra parecerão fumaça e lodo; as humilhações e sofrimentos tornar-se-ão alegrias para nós.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap V– Santo Afonso Maria de Ligório

Paciência na Dor, 1ª parte

A alma que ama a Jesus Cristo, ama o Sofrimento
1. A terra é um lugar de merecimentos, e por isso é também um lugar de sofrimentos. O céu é nossa pátria, lá Deus nos preparou o repouso numa eterna felicidade. Passamos pouco tempo neste mundo, mas neste pouco tempo temos muitas dores a sofrer. “O homem, nascido de mulher, vive pouco tempo e é cheio de muitas misérias” Jó14,1.
- É preciso sofrer e todos têm de sofrer, seja justo ou pecador, cada um deve carregar sua cruz:
·         quem a carrega com paciência, salva-se;
·         quem a carrega com impaciência, perde-se.
- S. Agostinho diz que as mesmas misérias, levam alguns para o céu, e outros para o inferno. Com a prova do sofrimento se distingue a palha do trigo, na Igreja de Deus:
·         quem se humilha nos sofrimentos e se submete a vontade de Deus é trigo destinado ao céu;
·         quem é soberbo e fica impaciente, a ponto de voltar as costas para Deus, é palha que é destinada ao inferno.

2. No dia do julgamento de nossa salvação, nossa vida deverá ser igual a vida de jesus Cristo, para merecermos o Paraiso:
“Porque os que anteriormente ele conheceu, esses também predestinou a serem conformes a imagem de seu Filho” Rm 8, 29)
- O Verbo Eterno desceu a terra para nos ensinar, com seu exemplo, a carregar com paciência as cruzes que Deus nos manda:
“Cristo sofreu por vós, deixando-vos um exemplo, a fim de que sigais os seus passos” IPd2,21. Jesus Cristo quis sofrer para nos encorajar no sofrimento. Qual foi a vida de Jesus Cristo? Foi uma vida de humilhações e sofrimentos: “Desprezado, ultimo dos homens, homem das dores! Is53,3. Sim, a vida de jesus Cristo foi toda cheia de trabalhos e dores.

O amor no sofrimento
3. Como Deus trata seu Filho predileto, do mesmo modo trata a todos aqueles que ele ama e recebe como filhos: Hebreus 12,6
“O Senhor castiga os que ama e aflige todo aquele que recebe como filho”
- S. Tereza diz que sentiu na sua alma como se Deus lhe falasse: “Fica sabendo que as pessoas mais queridas de meu Pai são as que são mais afligidas com os maiores sofrimentos! Por essa razão, quando ela se via nos sofrimentos, dizia que não os trocaria por todos os tesouros do mundo. Conta-se que depois de sua morte ela apareceu a uma de suas companheiras ela revelou que recebera um grande prêmio no céu. Tinha recebido esse prêmio, não tanto por suas boas obras, como pelos sofrimentos suportados em sua vida, de boa vontade e por amor a Deus. E se desejasse por algum motivo voltar a terra, seria unicamente para poder ainda sofrer mais alguma coisa por Deus.

4. Quem ama a Deus nos sofrimentos recebe dupla recompensa no céu.
- S. Vicente de Paulo afirmava que se deve considerar como grande desgraça nesta vida o não ter nada a sofrer; e acrescentava que uma Congregação Religiosa ou uma pessoa que não sofre e a quem todos aplaudem, está próxima de uma queda.
- Quando S. Francisco de Assis passava um dia sem nada sofrer por Deus, temia que Deus tivesse se esquecido dele.
- S. João Crisóstomo escreve: Quando o Senhor concede a alguém a graça de sofrer, faz-lhe um bem maior do que se lhe desse o poder de ressuscitar os mortos. Isto porque o homem que faz milagres se torna devedor a Deus, mas no sofrimento Deus se torna devedor ao homem. Quem padece alguma coisa por Deus, se não tivesse outra graça senão a de poder sofrer por amor a Deus, já deveria considerar-se muito recompensado. Por isso, dizia ele, admirava mais a graça dada a São Paulo de ser preso por jesus Cristo, do que ser arrebatado ao terceiro céu.

Paciência na dor
5. “A paciência produz uma obra perfeita” Tg 1,4. Isso quer dizer que não existe coisa mais agradável a Deus do que sofrer com paciência e paz todas as cruzes por ele enviadas. É próprio do amor, fazer a pessoa que ama semelhante a pessoa amada.
- Dizia S. Francisco de Sales: “Todas as chagas do Redentor são outras tantas palavras que nos ensinam como devemos sofrer por ele. Esta é a sabedoria dos santos, sofrer constantemente por Jesus; assim ficaremos logo santos” Quem ama o salvador deseja ser como ele, pobre, sofredor e desprezado.
- S. João viu todos os santos vestidos de branco, segurando palmas nas mãos Ap 7,9. A palma é o símbolo do martírio; mas nem todos os santos foram martirizados. Por que então todos seguram palmas?
- Responde S. Gregório que todos os santos foram mártires ou pela espada ou pela paciência. E acrescenta:
“Nós podemos ser mártires sem a espada, se guardarmos a paciência”

6. O mérito de uma pessoa que ama Jesus Cristo consiste em amar e sofrer. Eis o que deus fez Santa Tereza entender: “Pensa, minha filha, que o mérito consiste no gozar? Não, o mérito consiste em sofrer e amar. Veja minha vida cheia de dores. Acredite, minha filha, aquele que é mais amado por meu Pai recebe dele cruzes maiores; ao sofrimento corresponde ao amor. Veja as minhas chagas; as suas dores nunca chegarão a tanto. Pensar que meu Pai admite alguém na sua amizade sem o sofrimento é um absurdo... mas acrescenta Santa Tereza: “Deus não manda nenhum sofrimento sem pagá-lo imediatamente com algum favor”
- São três as principais graças que Jesus faz as pessoas amadas por ele:
·         a primeira, não pecar;
·         a segunda, que é maior, o fazer boas obras;
·         a terceira, que é a maior de todas, sofrer por seu amor.
- Dizia S. Tereza que quando alguém faz algum  bem a Deus, o Senhor lhe paga com alguma cruz. Eis porque os santos agradeciam a Deus ao receberem os sofrimentos.
- S. Luís, Rei da França, falando da escravidão que sofreu na Turquia, diz: “Eu me alegro e fico muito agradecido a Deus mais pela paciência que me concedeu na minha prisão do que se tivesse conquistado a terra inteira”
- S. Isabel, rainha da Hungria, tendo perdido seu esposo, foi expulsa do lugar onde morava com seu filho. Sem abrigo e abandonada por todos, dirigiu-se a um convento dos franciscanos e mandou cantar um hino de ação de graças a Deus pelo favor que ele lhe concedia ao fazê-la sofrer por seu amor.7
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap V– Santo Afonso Maria de Ligório

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Amor de Cristo

I,13. S. João de Ávila era tão entusiasmado por Jesus Cristo que em todas suas pregações não deixava nunca de falar do amor de Cristo por nós. Escrevendo sobre o amor de nosso querido Redentor, expressa estes ardentes sentimentos, que por serem muito bonitos, resolvi colocar aqui:
14. “Vós Redentor, amastes o homem de tal modo que, quem considerar este amor, não pode deixar de vos amar. Vosso amor faz violência aos corações, como diz S. Paulo: “O amor de Cristo nos constrange” IICor 5,14 A origem do amor de Jesus Cristo para com os homens é sua caridade para com Deus. Ele mesmo o disse aos seus discípulos na quinta-feira santa: “Para que o mundo saiba que amo o Pai: Levantai-vos e vamos”.
            Mas para onde?
            Morrer pelos homens, na cruz!

15. Inteligência alguma compreenderá o quanto arde este fogo no Coração de Jesus Cristo. Assim como lhe foi mandado sofrer uma morte, do mesmo modo, se lhe tivesse sido ordenado que sofresse mil mortes, ele teria amor bastante para sofrê-las todas. Foi-lhe imposto sofrer por todos os homens; mas se lhe fosse pedido fazê-lo pela salvação de um só, tê-lo-ia feito do mesmo modo que o fez por todos. Assim como esteve três horas na cruz, se fosse necessário estar nela até o dia do juízo, ele teria amor para o fazer.
Jesus Cristo amou muito mais do que sofreu.
- O amor divino, fostes maior do que exteriormente vos mostrastes. Mostrastes-vos grande exteriormente, porque tantas chagas e feridas nos falam de um grande amor. Mas não dizem toda sua grandeza. Interiormente fostes maior do que exteriormente vos manifestastes: vossas dores físicas foram, apenas, uma faísca que saiu daquela grande fornalha de imenso amor.
- O maior sinal de amor é dar a vida pelos amigos. Contudo, não foi um sinal que bastasse a Jesus Cristo para exprimir seu amor por nós.

16. Esse amor, quando se dá a conhecer, faz as pessoas boas saírem de si e ficarem estarrecidas. Por isso as pessoas sentem afervorar-se o coração, DESEJAM o martírio, alegram-se no sofrimento, têm alivio nos grandes sofrimentos. Passeiam nas brasas como se fossem rosas, DESEJAM os tormentos, regozijam-se com o que o mundo teme, abraçam o que o mundo detesta. Para a pessoa unida a Cristo na cruz –diz S. Ambrósio- nenhuma coisa é mais consoladora e gloriosa do que trazer consigo os sinais de jesus Crucificado.

Frutos da Caridade
III,8. Eis o que S. João Crisóstomo diz dos frutos gerados em uma pessoa que possui o amor de Deus: “Quando o Amor de Deus se apodera de uma pessoa, produz nela um insaciável DESEJO de trabalhar pela pessoa amada; tanto que, por muitas e grandes que sejam as obras que faça, e por mais longo que seja o tempo dedicado a seu serviço, tudo parece nada.
- Sempre se aflige por fazer pouco para Deus, e se lhe fosse lícito morrer e consumir-se inteiramente por ele, de bom grado o faria. Por isso, por mais que faça sempre se considera inútil. O amor ensina a pessoa o que Deus merece, e na caridade desta luz divina vê todos s defeitos de suas ações, de tudo tira confusão e sofrimento, reconhecendo que todos os seus trabalhos são bem pouca coisa para um Senhor tão grande.

9. Diz S. Francisco de Sales: Como se engana a pessoa que faz consistir a santidade em outras coisas e não em amar a Deus! Uns põem na austeridade ou em dar esmolas, outros na oração ou frequência dos sacramentos. Para mim, não conheço outra santidade senão a de amar a Deus de todo o coração; todas as outras virtudes sem este amor não passam de um montão de pedras. E se não possuímos esse amor, a culpa é nossa, pois não nos decidimos a nos dar inteiramente a Deus.

10. S. Tereza sentiu em sua alma, certa vez, como se Jesus lhe dissesse: “Tudo o que não me agrada, é vaidade”. Como seria bom que todos entendessem esta verdade: “Uma só coisa é necessária”. Não é necessário ser rico neste mundo, ganhar a estima dos outros, levar vida cômoda, ter dignidades, passar por sábio.
A única coisa necessária é amar a Deus e fazer sua vontade.
- Só para este fim ele nos criou e nos conserva a vida; somente assim podemos ser admitidos no céu. A toda a alma que DESEJA ser sua esposa, o Senhor diz: “Coloca-me como um selo sobre teu coração, como um selo sobre teus braços” Ct8, 6 para que:
·         dirijas a mim todos os teus DESEJOS e ações; sobre teu coração a fim de que não entre em ti outro amor senão o meu, sobre teu braço para que não tenhas em vista senão a mim em tudo que fazes.
- Como corre rapidamente na perfeição quem só olha Jesus Crucificado em todas suas ações e só a ele procura agradar!

11. O fim de todos nossos esforços deve ser, portanto, adquirir um verdadeiro amor a Jesus Cristo. Os mestres da vida espiritual descrevem os sinais do verdadeiro amor:
·         É TEMEROSO, e o seu medo é dar desgosto a Deus.
·         É GENEROSO, cheio de confiança em Deus, tudo faz para a sua glória.
·         É FORTE, pois resiste a todas as más inclinações mesmo nas mais violentas tentações, e nos mais profundos sofrimentos.
·         É OBEDIENTE, porque procura seguir imediatamente a voz de Deus.
·         É PURO, amando somente a Deus e só porque Deus merece ser amado.
·         É ARDENTE, porque desejaria inflamar todos os corações, vendo-os consumidos pelo amor de Deus.
·         É ARREBATADOR, pois arrasta a alma e a faz viver como que fora de si mesma, como se não visse, não ouvisse e não tivesse mais os sentidos para as coisas da terra. Atenta em só amar a Deus.
·         É UNITIVO, unindo estreitamente à vontade da criatura a vontade de seu Criador.
·         É DESEJOSO, porque enche a alma do DESEJO de deixar a terra para unir-se perfeitamente a Deus no Paraiso, a fim de amá-lo com todas suas forças.

12. Mas ninguém ensina melhor as características e a prática da caridade do que o grande pregador desta rainha das virtudes, São Paulo. Ele diz primeiramente que sem a caridade o homem é nada, e de nada se aproveita: “Ainda que eu tivesse toda a fé a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que eu distribuísse todos meus bens em sustento dos pobres, ainda que entregasse meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria”. ICor 13, 1-7
- S. Paulo nos indica os sinais da verdadeira caridade, e ao mesmo tempo nos ensina a prática das virtudes que são filhas da caridade:
“A caridade é paciente, é bondosa. A caridade não tem inveja, não se ostenta, não se enche de orgulho, não é ambiciosa e não busca os seus próprios interesses. Não se irrita, não guarda rancor, nem se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” ICor 13, 1-7

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap I, II e III– Santo Afonso Maria de Ligório