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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Humildade

Humildade
            Quanto a humildade, não devemos nos envaidecer com as riquezas, honras, nobreza, talentos, nem com nenhuma outra vantagem natural e muito menos ainda com vantagens espirituais, lembrando-nos que tudo é dom de Deus. Devemos, pelo contrário, considerar-nos como os mais indignos dos homens e, consequentemente, gostar de nos ver desprezados sem fazermos como os que se dizem os piores de todos e querem ser mais bem tratados que os outros.
            Aceitemos as correções com humildade, sem nos desculpar, mesmo quando repreendidos sem razão, contanto que não estejamos obrigados a nos defender para evitar um escândalo.

            Guardemo-nos do desejo de aparecer e procurar honras humanas. Tenhamos sempre diante dos olhos a sábia máxima de São Francisco: “Somos na realidade o que somos diante de Deus”. Pior ainda seria procurar na vida religiosa cargos honrosos ou de superioridade. A honra de um religioso é ser o mais humilde de todos; e mais humilde é aquele que abraça as humilhações com mais alegria.


A Prática de amor a Jesus Cristo | Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Ser Santo

Ser Santo
Eis os principais meios para se chegar a perfeição:
Primeiro: Evitar todo o pecado deliberado, mesmo leve. Se tivermos a desgraça de cair em alguma falta, cuidado para não ficar perturbados e impacientes conosco mesmos. Devemos fazer com calma um ato de contrição e de amor a Jesus Cristo, prometer-lhe não mais ofendê-lo, e pedir-lhe a graça de lhe sermos fiéis.

Segundo: Desejar chegar a perfeição dos santos e sofrer tudo para agradar a Jesus Cristo;  se não tivermos esse desejo, pedir ao Senhor que no-lo conceda por sua bondade. Sem um verdadeiro desejo de nos santificarmos, não daremos jamais um passo sequer rumo a santidade.

Terceiro: Estar bem resolvido a atingir a perfeição. Sem essa firme resolução, age-se com fraqueza e não se tem a coragem de superar os obstáculos; ao contrário, com o auxilio divino que nunca falta, uma alma resoluta vence tudo.

Quarto: Fazer cada dia duas horas ou, ao menos, uma hora de oração mental, e nunca omiti-la sem verdadeira necessidade por qualquer aborrecimento, aridez ou agitação, em que nos encontremos.

Quinto: Comungar mais vezes na semana, de acordo com o diretor espiritual. O mesmo se diga das mortificações externas, como jejuns, etc. Fazendo alguém tais penitências sem a permissão do diretor espiritual, expor-se-ia a estragar a saúde ou a cair na vã glória. É, pois, necessário que cada um tenha seu diretor espiritual, a fim de submeter-se e obedecer a ele.

Sexto: Rezar continuamente. Recomendar-nos a Jesus Cristo em todas as nossas necessidades. Recorramos também a intercessão de nosso Anjo da Guarda, dos nossos santos padroeiros, e principalmente, da Santíssima Virgem por cujas mãos Deus nos dá todas as graças.
Da oração depende todo o nosso bem. Devemos principalmente pedir a Deus, todos os dias, a perseverança na sua graça: quem a pede, recebe; quem não a pede, não a recebe, e se perde.
Precisamos também pedir a Nosso Senhor o seu santo amor e a perfeita conformidade a sua santa vontade. Não esqueçamos de apoiar sempre nossas preces nos méritos de Jesus Cristo. 
Essas súplicas, devemos fazê-las de manhã ao levantar, repeti-las na meditação, na comunhão, na visita ao Santíssimo Sacramento, e também a noite no exame de consciência. Principalmente nas tentações é que temos a obrigação de suplicar a ajuda divina para podermos resistir; sobretudo quando somos tentados contra a castidade, invoquemos a Jesus e Maria.
Quem reza, vence; quem não reza, é vencido.


A Prática de amor a Jesus Cristo | Santo Afonso Maria de Ligório

sábado, 21 de junho de 2014

Desapego das Riquezas

            Não invejemos os grandes do mundo, as suas riquezas, as honras, as dignidades, nem os aplausos que recebem dos homens.
Tenhamos inveja dos que mais amam a Jesus Cristo, porque vivem certamente mais contentes do que os maiores reis da terra.
Agradeçamos ao Senhor que nos fez conhecer a vaidade de todos os bens terrenos, que causam a perda de tantas almas.


A Prática de amor a Jesus Cristo | Santo Afonso Maria de Ligório

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Mansidão na ira

            Sejamos mansos com todos, superiores e inferiores, pessoas distintas e pessoas simples, parentes e estranhos, mas principalmente com os pobres e doentes, e mais especialmente ainda com aqueles que nos veem com maus olhos.

            Ao repreendermos as faltas alheias, a mansidão de nossas palavras é melhor do que todos os outros meios e arrazoados.
Por isso não o façamos quando estivermos encolerizados, porque sempre a repreensão sairá amarga, seja no que dizemos, seja o modo de dizê-lo.
Mas não repreendamos também uma pessoa irritada. A correção serviria mais para a exasperar do que para fazê-la cair em si.


A Prática de amor a Jesus Cristo | Santo Afonso Maria de Ligório

terça-feira, 17 de junho de 2014

Sofrer com Paciência

Sofrer com Paciência
            È preciso sofrer com paciência todas as tribulações desta vida, as doenças, as dores, a pobreza, a perda de bens, a morte dos parentes, as injurias, as perseguições e tudo o que nos contraria.
Estejamos persuadidos de que os sofrimentos desta vida são sinais do amor de Deus para conosco, e do seu desejo de nos ver salvos no céu.
Compreendamos ainda que agradam mais a Deus as mortificações involuntárias enviadas por ele do que as voluntárias que são de nossa escolha.

            Nas doenças procuremos resignar-nos inteiramente a vontade do Senhor, com isso agradar-lhe-emos mais do que com qualquer outra prática de piedade. Se então não pudermos meditar, olhemos para o crucifixo e ofereçamos a Jesus nossos sofrimentos em união com os que ele sofreu por nós na cruz.
Quando nos avisarem da aproximação de nossa morte, aceitemo-la em paz e em espirito de sacrifício, isto é, com a vontade de morrer para comprazer a Jesus Cristo. Dessa entrega a vontade de Deus nasceu todo o mérito da morte dos mártires. É preciso, pois, dizer a Deus: “Senhor, eis-me aqui; quero o que vós quereis, quero sofrer tudo o que vos aprouver; estou pronto para morrer quando quiserdes”.
Não peçamos vida mais longa para fazermos penitência dos nossos pecados, pois a aceitação da morte com plena resignação vale mais do que todas as penitências.

            Conformemo-nos também com a vontade divina, quando formos provados pela pobreza e por todos os incômodos que ela nos traz consigo: o frio, a fome, o cansaço, as desonras, os desprezos.

É preciso ainda acolher com resignação a perda dos bens, dos parentes e amigos que, vivendo, poderiam fazer-nos o bem. Acostumemo-nos a repetir em todas as coisas que nos contrariam: “Assim Deus quis, assim também eu quero”. Na morte de algum parente, em vez de perdermos tempo chorando sem proveito algum, empreguemo-nos rezando pelo falecido, e ofereçamos a Jesus a dor que sentimos nessa perda.

Esforcemo-nos, enfim, para sofrer com paciência e serenidade os desprezos e as injurias. A quem nos fala com injurias, respondamos com mansidão; mas, quando nos sentimos agitados, é melhor sofrer e calar até que se tranquilize o nosso espirito. Não nos queixemos a outros das injurias recebidas, mas ofereçamo-las de coração a Jesus Cristo que sofreu tanto por nós.


A Prática de amor a Jesus Cristo | Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Consolação

Testemunho de Santa Joana de Chantal
Consolem-se, pois, as almas que estão resolvidas a ser todas de Deus, embora se vejam privadas de toda a consolação. Sua dor é sinal de que são muito queridas por Deus e de que ele preparou para elas um lugar no céu onde a felicidade é plena e eterna.
Tenham por certo que, quanto mais aflitas neste mundo, tanto mais serão consoladas no céu: “Segundo as muitas dores que experimentou o meu coração, as tuas consolações alegraram a minha alma” Salmo 93,19.
Para consolo dessas pessoas, quero acrescentar aqui o que se conta na vida de Santa Joana de Chantal: Por espaço de quarenta e um anos foi atormentada por terríveis sofrimentos interiores, tentações, medo de não estar na graça de Deus e até de ter sido abandonada por ele. Eram tão continuas e tão grandes as suas aflições que chegava a dizer que só o pensamento da morte é que lhe dava alivio.
“São tão furiosos os assaltos –dizia ela- que eu não sei onde repousar o meu pobre espírito. As vezes me parece acabar a paciência e estar ao ponto de perder e deixar tudo. É tão cruel a tirania da tentação, que todas as horas do dia eu trocaria com a morte. As vezes chego a perder o sono e a vontade de comer”

Tentações
Nos últimos anos de sua vida, as tentações tornaram-se mais violentas. Ela sofria dia e noite em continuo martírio interior quando rezava, quando trabalhava, quando descansava. Era tentada contra todas as virtudes –exceto a castidade- com duvidas, trevas e repugnâncias. As vezes Deus lhe tirava sua luz interior e parecia como que irritado com ela, como que a rejeitando.
            Assustada, ela virava os olhos para o outro lado, procurando algum alivio; mas, não o encontrando, era forçada a olhar para Deus e abandonar-se a sua misericórdia. Parecia-lhe que estivesse para cair a todo momento devido aos ataques das tentações. Embora a assistência divina não a desamparasse, parecia-lhe que o Senhor já a tinha abandonado.
Não sentia satisfação alguma, mas só o tedio e angustias na oração, na leitura espiritual, na comunhão e em todos os outros exercícios de piedade. Seu único recurso em tal estado de abandono era olhar para seu Deus e entregar-se a sua vontade divina.

Tentações intensas
            “Em todo este meu desamparo –dizia ela- até a simplicidade de minha vida se torna para mim uma nova cruz, aumentada com a incapacidade que sinto de praticar boas obras”.
            Por isso, ela dizia que lhe parecia ser como um doente cheio de dores, sem poder voltar-se de um lado para outro, como um mudo que não pode explicar seus males, como um cego que não vê se lhe dão remédio ou veneno. “Parece-me não ter fé, nem esperança, nem amor ao meu Deus”
            Apesar de tudo, a santa conservava o rosto sereno, era delicada no trato com as pessoas e mantinha os olhos fixos em Deus, entregando-se a vontade divina.

Assim são feitos os santos
São Francisco de Sales, seu diretor espiritual, sabendo quanto Deus amava sua bela alma, assim escreveu sobre ela: “Seu coração era como um musico surdo que, embora catasse maravilhosamente, não podia tirar do canto nenhum prazer”. Mais tarde ela escreveu: “Deveis servir ao vosso Salvador só por amor a sua vontade, com a privação de todas as consolações e com esses dilúvios de tristezas e amarguras”. Assim são feitos os santos.
            “Cortadas com o cinzel, polidas e lavradas –diz a Igreja- as pedras brilhantes, unidas com arte e perfeição, elevarão o templo até o céu”. Os santos são essas pedras escolhidas; trabalhadas e cinzeladas com as tentações, os temores, as trevas e outros sofrimentos internos e externos, tornam-se aptas para serem colocadas nos tronos do paraíso.

Oração
            Jesus, minha esperança, minha felicidade, amor único de minha alma, não mereço suas consolações. Reservai-as para as almas inocentes que sempre vos amaram. Eu, como pecador, sou indigno delas, não vos peço. Eis o que desejo: fazei que eu vos ame e cumpra vossa vontade em toda a minha vida; depois disponde de mim como vos aprouver. Amém.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

terça-feira, 10 de junho de 2014

Purificação Interior

Purificação interior
Quando uma alma tem certeza moral de estar na graça de Deus, embora despojada dos prazeres do mundo e dos dons de Deus, está contente sabendo que ama a Deus e é amada por ele.
Mas o que faz Deus, querendo vê-la mais purificada e despida de toda a satisfação sensível, para uni-la toda a si por meio de seu puro amor?
- Coloca-a na prova da desolação que causa uma dor pior do que todos os sofrimentos interiores e exteriores que uma alma pode sofrer. Priva-a do conhecimento de estar na graça e a deixa em densas trevas, de modo a pensar que não mais encontrará a Deus. As vezes Ele permite que seja assaltada por fortes tentações dos sentidos, tentações contra a castidade, pensamentos de desconfiança, de desespero e até mesmo de ódio a Deus.
            Parece-lhe que o Senhor a rejeitou e já não escuta as suas orações. De um lado as tentações são fortes e a concupiscência se faz sentir, de outro lado, a alma se vê em tão grande escuridão, que, embora resista com a vontade, não distingue bem se está resistindo como deve as tentações ou se nelas está consentindo.
            Com isso cresce-lhe o temor de perdido a Deus, e de que Deus, pelas suas infidelidades nesses combates, justamente a tenha abandonado de todo. Parece-lhe ter chegado a extrema ruina, de não mais amar a Deus e de ser odiada por ele.
- Santa Tereza experimentou essa provação. Diz ela que em tal estado, a solidão já não a consolava mas lhe era um tormento, e quando ia rezar, parecia-lhe encontrar um inferno.

Combater o bom combate
            Acontecendo isso a uma alma que ama a Deus, não deve ficar ela aborrecida nem o diretor espiritual ficar assustado. Tais movimentos dos sentidos, as tentações contra a fé, a desconfiança, os impulsos que a movem a odiar a Deus, são temores e tormentos da alma, esforços do inimigo, mas não são atos voluntários e por isso não são pecados.
            A pessoa que ama de verdade a Jesus Cristo resiste bem a esses combates e não consente em tais sugestões. Envolvida pelas trevas, não sabe distinguir o seu estado e se perturba. Vendo-se afastada da presença da graça, teme e se aflige. Bem se pode ver, nessas almas assim provadas, que tudo é medo e apreensão, mas não realidade. Perguntai-lhes se, enquanto se encontram abandonadas assim, cometeriam um só pecado venial conscientemente. Resolutamente responderiam estar prontas a sofrer, não uma, mas mil mortes, antes de deliberadamente dar um desgosto a Deus.

Unir-se a vontade de Deus
Devemos distinguir:
- Uma coisa é fazer um ato bom, como vencer a tentação, confiar em Deus, amar e querer o que Deus quer.
- Outra coisa é conhecer que, de fato, fazemos esse ato bom.
- Conhecer que fazemos um ato bom traz-nos consolação. O proveito não nos vem de conhecer que praticamos uma boa ação, mas de a praticarmos.
            Deus contenta-se com o ato feito e priva a alma do conhecimento. Assim ele lhe tira toda a satisfação própria que, na verdade, nada acrescenta ao ato praticado. O Senhor quer mais o nosso proveito do que a nossa satisfação.
            Consolando uma pessoa aflita, São João da Cruz escreveu-lhe:
“Nunca estiveste em melhor estado do que este, porque nunca estiveste tão humilhada e desapegada do mundo. Nunca te reconheceste tão miserável como agora, nem despojada e longe de procurar a ti mesma”
            Não creiamos, enfim, ser mais amados de Deus quando sentimos as consolações espirituais, pois, a perfeição não consiste nisso, mas em mortificar a nossa vontade e uni-la a vontade de Deus.

Perseverança na desolação
            Nessa desolação a alma não deve dar ouvidos a tentação que sugere Deus tê-la abandonado, nem deixar a oração, pois é isso que o demônio pretende para jogá-la no precipício. Diz Santa Tereza:
“O Senhor prova com aridez e tentações aqueles que o amam.
Ainda que a aridez dure toda a vida, não deixe a alma a oração; tempo virá em que tudo lhe será bem pago”.
            Em tal estado de sofrimento, a alma deve humilhar-se, julgando-se merecedora de ser assim tratada pelas ofensas feitas a Deus. Humilhar-se e resignar-se inteiramente a vontade divina, dizendo-lhe:
“Aqui estou, Senhor. Se me quereis assim desolada e aflita durante toda a minha vida ou mesmo por toda a eternidade, dai-me a vossa graça, fazei que eu vos ame; depois disponde de mim como for do vosso agrado”.

Manter-se em estado de graça
            Querer a alma ter a certeza de estar na graça de Deus, ou de que isto é provação e não abandono de Deus, será inútil e talvez causa de maior inquietação pois Ele não quer que ela saiba.
Não o quer para maior bem, para que a alma se humilhe mais e multiplique as orações e atos de confiança na sua misericórdia.
A alma quer ver e Deus não quer que veja.
            Além disso, São Francisco de Sales diz: A resolução de não consentir em nenhum pecado, por pequeno que seja, nos assegura que estamos em estado de graça”.
            Mas, quando a alma se encontra em grande desolação, nem isso conhece claramente. Ela não deve pretender sentir o que deseja, basta-lhe querer com a limitação de sua vontade. Dessa forma, deve abandonar-se toda nos braços da bondade divina. Oh! Como agradam a Deus esses atos de confiança e de resignação no meio das trevas da desolação! Confiemos no Senhor que, como diz Santa Tereza, nos ama mais do que nós amamos a nós mesmos”.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Aridez espiritual - Consolações

A alma que se dá a Deus experimenta a principio, consolações sensíveis. O Senhor procura atraí-la e desprende-la dos prazeres terrenos, para que ela vá se desapegando das criaturas e unindo-se a ele. Contudo, pode unir-se a ele seguindo um caminho errado, levada mais pelo gosto das consolações espirituais, do que por uma verdadeira vontade de agradar a Deus. Engana-se, pensando que tanto mais o ama, quanto mais gosto encontra nas suas devoções. Daí provém inquietar-se e afligir-se ao ser perturbada nos exercícios de piedade que lhe davam prazer, quando deve fazer outras coisas por obediência, ou por caridade, ou por obrigações do seu próprio estado.

É um defeito universal de nossa fraca humanidade procurar em tudo a própria satisfação. Não encontrando nestes exercícios o prazer desejado, deixa-os ou ao menos os reduz. Reduzindo-os de dia para dia, finalmente deixa todos. Essa desgraça acontece a muitas almas. Chamadas por Deus ao seu amor, começam a marchar no caminho da perfeição e avançam enquanto duram as consolações espirituais. Mas depois, quando elas acabam, abandonam tudo e voltam a vida antiga. É preciso persuadir-nos de que o amor de Deus e a perfeição não consistem em sentir consolações, mas em vencer o amor próprio e fazer a vontade de Deus.
- Diz São Francisco de Sales: “Deus é tão digno de nosso amor quando nos consola e quando nos faz sofrer”

            No tempo das consolações não é grande virtude deixar os gostos sensíveis e suportar as ofensas e contrariedades. No meio das alegrias a alma suporta tudo. Essa paciência nasce, muitas vezes, mais das consolações do que da força do verdadeiro amor a Deus.
            Por isso, com a finalidade de consolidá-la na virtude, o Senhor retira-se e lhe recusa esses gostos sensíveis para destruir todo o apego ao amor próprio que se alimentava com tais satisfações.

            Primeiro sentia gosto em fazer atos de oferecimento, confiança, amor; depois que secou a fonte de consolações, faz estes atos com frieza e dificuldade. Fica aborrecida com os exercícios mais piedosos, com a oração, com a leitura espiritual, com a comunhão. Só vê trevas e temores e tudo lhe parece perdido. Reza, torna a rezar, e se aflige por lhe parecer que Deus não a ouve.

            Vejamos na prática o que devemos fazer da nossa parte. Quando o Senhor, por sua misericórdia, nos consola com visitas consoladoras e nos faz sentir a presença de sua graça, não é bom rejeitar essas consolações, como queriam alguns falsos místicos. Aceitemo-las agradecidos, mas  cuidemos em não nos determos nelas com complacências. A isto São João da Cruz chama de ‘gula espiritual’, o que é defeito e não agrada a Deus.
            Esforcemo-nos em afastar de nossa alma a complacência sensível nessas consolações. Cuidemos especialmente em não pensar que ele usa de tais finezas conosco, porque nos comportamos com ele de forma melhor que os outros. Esse pensamento de vaidade obrigaria o Senhor a retirar-se inteiramente de nós e a nos deixar em nossa miséria. Devemos agradecer a Deus porque essas consolações espirituais são dons que ele nos fez, bem maiores do que todas as riquezas e honras temporais. Não sejamos famintos em saborear essas satisfações sensíveis, mas sejamos humildes, tendo diante dos olhos os pecados da vida passada.
            É preciso crer que essas consolações são pura consequência da bondade de Deus. Talvez o Senhor antes nos conforte para que depois soframos com paciência alguma grande tribulação que deseja nos enviar.
            Por isso, ofereçamo-nos para suportar qualquer sofrimento externo ou interno, enfermidades, perseguições, aridez espiritual, dizendo-lhe: “Meu Senhor, aqui estou. Fazei de mim e de tudo o que tenho o que vos aprouver. Dai-me a graça de vos amar e de cumprir perfeitamente a vossa vontade, e nada mais vos peço!


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Aridez espiritual

Aridez espiritual
            Diz São Francisco de Sales: “É um erro querer medir a nossa devoção através das consolações que experimentamos. A verdadeira piedade no caminho de Deus consiste em ter uma vontade resoluta de fazer tudo que lhe agrada”.
            Deus une a si as almas que ele mais ama através da aridez espiritual. O que nos impede a verdadeira união com Deus é o apego as nossas inclinaçõesdesordenadas.
Por isso, quando Jesus quer atrair uma alma ao seu perfeito amor, procura desprende-la de todos os apegos aos bens criados. Assim a vai afastando dos bens temporais, dos prazeres mundanos, das coisas, das honrarias, dos amigos, dos parentes, da saúde física. Por meio dessas perdas, desgostos, desprezos, mortes e enfermidades, ele a vai desprendendo de todas as coisas criadas para leva-la a colocar no seu Criador todas as suas afeições.

Para afeiçoá-la aos bens espirituais, Deus lhe faz experimentar muitas consolações sensíveis.
Por isso, a alma procura desapegar-se dos prazeres sensuais e até mesmo praticar mortificações. É preciso que seu diretor espiritual a ajude negando-lhe licença de fazer mortificações, ao menos em tudo que pede. Levada por esse entusiasmo sensível, poderia facilmente prejudicar a saúde.

É tática do demônio, vendo uma alma dar-se a Deus e percebendo que Deus a consola como o faz com principiantes, procura fazer-lhe perder a saúde com penitências indiscretas. Depois, vindo as doenças, poderá deixar não só as penitências mas também a oração, a comunhão e todos os exercícios piedosos e voltar a vida antiga.
Por isso, o diretor espiritual desse ser muito sóbrio em conceder licenças a essas almas que começam a vida espiritual e procuram penitências. Procure exorta-las a se mortificarem interiormente, sofrendo com paciência os desprezos e contrariedades, obedecendo aos superiores, refreando a curiosidade dos olhos e dos ouvidos e outras coisas semelhantes. Diga-lhes que depois, quando tiverem adquirido o costume de praticar essas mortificações interiores, poderão praticar as mortificações externas.

É claro o erro daqueles que dizem que as mortificações externas de nada ou pouco servem. Está fora de dúvida que as mortificações internas são necessárias a perfeição. Mas nem por isso deixam de ser necessárias também as externas.
Dizia São Vicente de Paulo que quem não pratica as mortificações externas, não será mortificado nem externa nem internamente. E acrescentava São João da Cruz que não se deve dar crédito a um diretor espiritual que despreza as mortificações externas, ainda que ele fizesse milagres.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

domingo, 1 de junho de 2014

Nas tentações, oração constante

Oração constante
            Entre todos os remédios contra as tentações, o mais eficaz e mais necessário, o remédio dos remédios, é suplicar a Deus o seu auxilio e continuar a pedir enquanto durar a tentação.
            Não é raro que o Senhor destine a vitória não na primeira oração, mas sim na segunda, na terceira ou na quarta. É preciso que nos convençamos de que da oração depende todo o nosso bem. Da oração depende a nossa mudança de vida, o vencer das tentações; dela depende conseguirmos o amor de Deus, a perfeição, a perseverança e a salvação eterna.

Tentação constante, oração constante
            Parece enfadonho de tanto recomendar a importância e a necessidade de recorrer a Deus continuamente pela oração. Mas, não me parece ter falado demais, mas ainda bem pouco.
            Sabemos que somos tentados todos os dias, todas as noites, e que o demônio não perde ocasião para nos fazer cair.
Sabemos que, sem a ajuda de Deus, não temos força para resistir aos assaltos do demônio.
Por isso mesmo disse São Paulo: “Revesti-vos da armadura de Deus para que possais resistir as ciladas do demônio. Porque nós não temos de lutar somente contra a carne e o sangue, mas sim contra os príncipes e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso” Efésios 6, 11-12.
            Quais são essas armas que São Paulo nos manda revestir para resistir ao demônio? Ei-las: “Orando continuamente em espírito com toda a perseverança” Efésios 6, 18. Essas armas são as orações continuas e fervorosas a Deus para que nos socorra e para que não sejamos vencidos.
            A Sagrada Escritura, tanto no Antigo como no Novo testamento, exorta-nos a orar: “Invoca-me e eu te livrarei. Recorre a mim e eu te ouvirei. É preciso orar sempre sem desfalecer. Pedi e vos será dado. Vigiai e orai. Orai sem cessar” (Salmo 49, 15; Jeremias 33,3; Lucas 18,1; Mateus 7,7; 26,61; I Tessalonicenses 5, 17).

            Desejaria que todos os pregadores nada recomendassem tanto aos seus ouvintes como a oração e que os confessores nada aconselhassem com mais calor aos seus penitentes do que a oração. Quereria que os que escrevem livros espirituais falassem mais abundantemente da oração.
Mas eu me lamento e penso até que seja um castigo de nossos pecados o fato de tanto pregadores, confessores e escritores falarem tão pouco da oração. Não há duvida de que as pregações, as meditações, as comunhões, as mortificações ajudam a vida espiritual. Mas se, quando vêm as tentações, não nos recomendamos a Deus, apesar de todas as pregações, meditações, comunhões, penitências e de todos os bons propósitos feitos, acabaremos por cair.
Portanto, se queremos nos salvar, rezemos sempre.
Recomendemo-nos Jesus Cristo, nosso Redentor, especialmente no momento da tentação.
Peçamos-lhe não só a perseverança final, mas também a graça de rezar sempre.
Recomendemo-nos também a Mãe de Deus que é a dispensadora das graças como diz São Bernardo: “Busquemos a graça e busquemo-la por meio de Maria”.
O mesmo São Bernardo nos diz que é da vontade de Deus que não recebamos nenhuma graça, sem que passe pelas mãos de Maria: “Deus quis que não recebêssemos nada que não passasse pelas mãos de Maria”.

Oração
            Jesus, meu Redentor, espero pelo vosso sangue que me tenhais perdoado todas as ofensas que vos fiz. Espero um dia ir vos dar graças no paraíso,  cantarei eternamente as misericórdias do Senhor”.
            Vejo que na minha vida passada, cai e tornei a cair miseravelmente, porque me descuidei de vos pedir a perseverança na vossa graça. É essa perseverança que vos suplico: “Não permitais que eu me separe de vós”. Faço o propósito de pedir sempre, especialmente quando me vir tentado a vos ofender. Jesus, assim proponho e prometo.
            Mas de que me servirá esse propósito e essa promessa, se não me derdes a graça de recorrer a vós? Pelos méritos de vossa paixão, concedei-me a graça de sempre me recomendar a vós em todas as minhas necessidades.
            Maria, minha mãe e minha Rainha, pelo amor que tendes a Jesus Cristo, eu vos suplico que me alcanceis a graça de recorrer sempre a vosso Filho e a vós mesma em toda a minha vida.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Nas tentações, recorrer a Deus

Recorrer a Deus
            Oxalá todos os homens recorressem a Deus, quando são tentados a ofendê-lo; certamente nenhum o ofenderia. Caem os coitados porque, impelidos pelos seus maus instintos, preferem perder o supremo bem, que é Deus, só para não perderem uns breves prazeres.
            A experiência mostra de sobra que quem recorre a Deus nas tentações, não cai; quem não recorre, cai, especialmente nas tentações impuras. Salomão bem sabia de usa impossibilidade de ser casto, se Deus não o ajudasse. Por isso recorria a Deus nas tentações: “Consciente de que não posso ser continente, a não ser por Dom de Deus, voltei-me para o Senhor e o invoquei do fundo do coração” Sabedoria 8, 21.

            Nessas tentações impuras –e o mesmo acontece com as tentações contra a fé- não é boa tática a gente se pôr a lutar com elas frente a frente, cara a cara. Quando elas começam, é preciso procurar afastá-las indiretamente, fazendo um ato de amor a Deus ou um ato de arrependimento dos pecados; ou então procurar uma ocupação diferente que nos distraia. Logo que percebemos qualquer pensamento mau, é preciso procurar livrar-se dele. Fechar-lhe, por assim dizer, a porta na cara e negar-lhe a entrada na alma sem perguntar-lhe o que diz ou o que pretende. Essas sugestões más devem ser apagadas logo como se faz com uma faísca que de repente salta do fogo sobre nós.

A tentação começa nos sentidos
            Se a tentação impura já entrou na alma e mostrou o que desejava, provocando os primeiros movimentos nos sentidos, deve-se fazer o que aconselha São Jerônimo: “Logo que sentimos os movimentos da carne, comecemos a gritar: Senhor: sede o meu auxilio”. Invoquemos os santíssimos nomes de Jesus e Maria que têm uma força particular para dissipar essa espécie de tentações.
            Diz São Francisco de Sales que as crianças, vendo o lobo correm logo para os braços do pai ou da mãe, pois ali se sentem seguras. Assim devemos fazer: recorrer imediatamente a Jesus e a Maria. 
Eu digo: ‘recorrer imediatamente’, sem dar atenção a tentação nem discutir com ela.

Quais os meios que devemos usar para vencer as tentações
            Se mesmo assim a tentação continua a nos molestar, cuidemos em não nos inquietar e não nos irritar contra ela. De tal inquietação o demônio poderia aproveitar-se para nos fazer cair.
            Devemos nos conformar com humildade a vontade de Deus que permite a tentação.
            Devemos rezar: “Senhor, mereço ser atormentado por esses pensamentos, como castigo pelas ofensas que já vos fiz. Vós me socorrereis e me livrareis deles”.
            Por isso, se a tentação continua a perseguir-nos, continuemos a invocar os nomes de Jesus e Maria. Enquanto a tentação persiste nos atormentando, convém renovar o propósito feito a Deus de antes sofrer todas as dores e morrer do que ofendê-lo; ao mesmo tempo não se deve deixar de lhe pedir ajuda. Se a tentação é tão forte que nos vemos em grande perigo de consentir, é preciso redobrar o fervor na oração, recorrer ao Santíssimo Sacramento, ajoelhar-se diante de um crucifixo ou imagem de Nossa Senhora e rezar com ardor, gemer e chorar pedindo ajuda.
            É verdade que Deus está pronto a ouvir a quem o invoca, sendo ele e não o nosso empenho que nos dará forças para resistir. Contudo, as vezes o Senhor quer de nós esse esforço e depois ele supre a nossa fraqueza, dando-nos a vitória.

            É bom também, na hora da tentação, fazer o sinal da cruz. É bom manifestar a tentação ao diretor espiritual.
            Dizia São Felipe Neri que a tentação revelada já é vencida pela metade.
            É bom notar que é doutrina seguida comumente pelos teólogos, mesmo rigoristas, que as pessoas que levaram durante muito tempo uma vida devota, tementes a Deus, quando ficam em dúvida se consentiram em algum pecado grave, devem ficar tranquilas de que não perderam a graça de Deus.
            É moralmente impossível que a vontade, confirmada por muito tempo nos bons propósitos, mude num momento e consinta num pecado mortal, sem perceber claramente. A razão disso é que o pecado mortal é um monstro tão horrível, que não pode entrar numa alma que por longo tempo o detestou, sem se fazer claramente conhecido.
            Dizia Santa Tereza: “Ninguém se perde sem saber, ninguém é enganado sem querer ser enganado”.

Tentação consentida e tentação não consentida
            Para algumas pessoas de consciência delicada e virtuosa, mas tímidas e molestadas pelas tentações, especialmente contra a fé ou a castidade, será conveniente, as vezes, que o diretor espiritual lhes proíba revelar ou falar dessas tentações.
            Para falar delas, terão de refletir como vieram aqueles pensamentos, se houve prazer, complacência ou consentimento. Dessa forma, refletindo muito, esses maus pensamentos causam maior impressão e mais inquietação.
            Quando o confessor está moralmente certo de que a pessoa não consentiu nesses pensamentos, é melhor obriga-la a não falar delas. Assim fazia Santa Joana de Chantal. Tendo ela passado muitos anos agitada por grandes tentações, sabendo que não tinha consentido nelas, nunca se confessou disso, mas continuou seguindo a orientação de seu diretor espiritual. Ela diz: “Nunca tive conhecimento claro de ter consentido”. Dizendo isso, dá a entender que lhe restava algum escrúpulo por causa daquelas tentações, mas se tranquilizava com a obediência ao diretor que lhe proibia confessar tais dúvidas. No mais, falando de modo geral, é muito bom manifestar as tentações ao confessor.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Nas tentações, Deus é fiel

Deus fiel
“Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima de vossas forças”. Quem resiste as tentações, não perde nada, “mas tira delas grande proveito” I Coríntios 10,13. Por isso o Senhor muitas vezes permite tentações as almas mais escolhidas para que adquiram maiores méritos neste mundo e mais glória no céu.
A água parada logo apodrece. Do mesmo modo a alma ociosa, sem tentações e lutas, corre o risco de se perder com alguma complacência no próprio merecimento, julgando talvez ter atingido a perfeição. Descuida-se do temor de Deus e, por isso, pouco se recomenda a Deus e pouco se esforça para assegurar sua salvação.
Quando, porém, é agitada pelas tentações, vendo-se no perigo de cair no pecado, recorre a Deus, recorre a Mãe de Deus, renova os propósitos de ante morrer do que pecar. Humilha-se e se lança nos braços da divina misericórdia, adquirindo assim mais força e unindo-se mais a Deus, como nos mostra a experiência.

Devemos desejar as tentações?
Pelo contrário, devemos pedir sempre a Deus que nos livre delas, especialmente daquelas nas quis Deus vê que seremos vencidos. É justamente isso que pedimos no Pai Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação”.
Mas quando Deus permite que sejamos tentados, não nos inquietemos com os maus pensamentos e não nos abatamos; confiemos em Jesus Cristo e peçamos ajuda. Ele, na certa, não deixará de dar-nos a força para resistir a tentação.
Santo Agostinho diz: “Entrega-te a Deus e não temas, porque, se ele te coloca na luta, certamente não te deixará sozinho para que caias”

Quais os meios que devemos usar para vencer as tentações
- Os mestres da vida espiritual indicam muitos. O meio mais necessário e

mais seguro é recorrer logo a Deus com humildade e confiança: “Deus, vinde em meu auxilio; Senhor, apressai-vos em me socorrer” Salmo 69, 2.
- Senhor, ajudai-me e ajudai-me depressa! Só essa oração bastará para nos fazer vencer os assaltos de todos os demônios do inferno, porque Deus é infinitamente mais forte do que todos eles.
            Deus bem sabe que não temos força para resistir as tentações. Por isso diz o Cardeal Gotti: “Quando somos tentados e estamos em perigo de sucumbir, se recorremos a Deus, ele é obrigado a nos conceder forças suficientes para que possamos resistir”

Deus vem em nosso auxilio
            Como podemos recear que Jesus Cristo não nos ajude, depois de tantas promessas que fez na sagrada Escritura?
“Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei... Invoca-me no dia da tribulação, livrar-te-ei e honrar-me-ás... então o invocarás e o Senhor te ouvirá. Chamarás e ele dirá: Eis-me aqui.” Mateus 11,18; Salmo 49, 15; Isaias 58, 9.
            No momento do perigo, chamarás o Senhor em teu auxilio e ele te ouvirá. Clamarás: Senhor, apressai-vos em me socorrer. Ele dirá: Aqui estou, pronto a te ajudar. “Quem jamais invocou o Senhor e foi por ele desprezado?” Eclesiástico 2, 12.
- Quem invocou o Senhor e ele o desprezou sem o socorrer? Davi sentia tanta força com esse poderoso meio de oração, que tinha a certeza de nunca ser vencido pelos inimigos: “Invocarei o Senhor digno de todo o louvor, e ficarei livre de meus inimigos” Salmo 17, 4.
- Ele já sabia que Deus está perto daquele que o chama em seu auxilio: “O Senhor está perto de todos os que o invocam” Salmo 144, 18.
- São Paulo acrescenta que Deus não é avarento, mas rico de graças para com todos os que o invocam” Romanos 10, 12.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Tentações

O amor a Jesus Cristo nas tentações
Os sofrimentos que mais afligem nesta vida as pessoas que amam a Deus, não são a pobreza, as doenças, as injurias ou as perseguições, mas sim as tentações e tribulações espirituais.
            Quando uma alma goza da presença amorosa de Deus, todas as dores, os desprezos e os maus tratos, em vez de afligirem, consolam, pois são motivos para oferecer a Deus alguma prova de seu amor. São lenha  que ateia mais fogo. Mas, o ver-se tentada a perder a graça de Deus ou o sentir o temor na desolação de já tê-la perdido, são esses os sofrimentos mais amargos para quem ama de coração a Jesus Cristo.
Mas o próprio amor a Deus lhe dá forças para sofrer com paciência e continuar no caminho da perfeição. E quanto progridem as almas no caminho da perfeição com essas provas, que deus costuma exigir-lhes de seu amor!

As tentações
Para quem ama a Jesus Cristo não há sofrimento pior que as tentações. Todos os outros sofrimentos o estimulam a se unir mais com Deus, quando aceitos com generosidade. As tentações, porém, impelem a pecar, a separar-se de Jesus Cristo e, por isso, são muito mais amargas do que todos os outros sofrimentos. É preciso, porém, notar que todas as tentações, que impelem para o mal, não vêm de Deus, mas do demônio ou das más inclinações:
“Deus é incapaz de tentar para o mal, e ele não tenta ninguém” Tiago 1,13
            Contudo, ele permite, as vezes, que as almas, que lhe são mais caras, sejam tentadas mais fortemente.
1. Em primeiro lugar, para que conheçam melhor a sua fraqueza e a necessidade que têm do auxilio de Deus para não caírem. Quando uma pessoa se encontra interiormente consolada por Deus, pensa ser capaz de vencer todas as tentações e realizar qualquer trabalho pela gloria de Deus. Vendo-se, porém, duramente tentada, a beira do precipício, e quase caindo, é então que reconhece melhor sua miséria e sua incapacidade para resistir, se Deus não a socorre. Foi isso justamente o que aconteceu a São Paulo que escreveu: “É para que a grandeza das revelações não me ensoberbecesse, foi-me dado o estímulo da minha carne, um anjo de satanás, que me esbofeteie” IICor 12,7

            2. Em segundo lugar, Deus permite as tentações para que vivamos mais desapegados deste mundo, e desejemos mais ardentemente ir vê-lo no céu.
            As pessoas de bom coração, vendo-se tentadas nesta vida dia e noite, enfastiam-se de viver e dizem: “Ai de mim, meu desterro se prolonga”, suspirando pela hora em que poderão dizer: “A cadeia se rompeu, e nós ficamos livres” Salmo 119, 5. A alma quer voar para Deus, mas enquanto vive neste mundo, está presa por uma cadeia que a segura aqui na terra, onde é atormentada continuamente pelas tentações. Essa cadeia não se rompe senão com a morte. Por isso, as almas que amam o Senhor suspiram pela morte que as tire do perigo de perderem a Deus.

            3. Em terceiro lugar, Deus permite as tentações para nos enriquecer com méritos como disse o anjo a Tobias: “Porque eras aceito a Deus, foi necessário que a tentação te provasse” Tobias 12, 13.
            Portanto, não devemos recear de estar sem a graça de Deus pelo fato de sermos tentados; pelo contrário, então devemos esperar ser mais amados por Deus.
É engano do demônio o fazer certas almas fracas acreditarem que as tentações são pecados que mancham  a alma. Não são os maus pensamentos que fazem perder a Deus, mas sim os maus consentimentos. Por fortes que sejam as tentações do demônio, por mais vivas que sejam as imaginações impuras assaltando o nosso espírito, se nós não a queremos, não mancham a alma, mas a tornam mais pura, mais forte e mais querida por Deus.
- Diz São Bernardo que todas as vezes que vencemos as tentações, ganhamos um novo mérito: “Quantas vezes vencemos, tantas vezes somos coroados”.
            Não nos espantemos com o mau pensamento que não sai da nossa cabeça e continua a nos atormentar; basta que o detestemos e procuremos afastá-lo.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Deus nos ama

Deus nos ama
17. Por que Deus nos carrega de tantas cruzes e parece se alegrar vendo-nos atribulados, desprezados, perseguidos e maltratados no mundo?
Por acaso é um tirano tão cruel que gosta de nos ver sofrer?
Não. Deus não é um tirano nem é cruel; ele é todo bondade e amor para conosco. Basta dizer que nos amou até morrer por nós.
Ele se alegra, sim, vendo-nos sofrer, mas para o nosso bem. Deseja que, sofrendo nesta vida, fiquemos livres das penas que deveríamos sofrer na outra vida por causa das nossas dividas com a justiça de Deus.
Ele se alegra, sim, para que não nos apeguemos aos prazeres sensíveis desta vida.
Certas mães colocam algo de amargo em seus seios quando querem desmamar o filhinho. Deus torna amargos os prazeres da vida para que, sofrendo com paciência e resignação, lhe demos alguma prova de nosso amor.
Alegra-se finalmente, por adquirirmos maior glória no céu com os nossos sofrimentos. Por esses motivos, todos eles de bondade e amor, o Senhor se alegra vendo-nos sofrer.

18. Para praticarmos bem a resignação em todas as tribulações que nos acontecem, é necessário persuadir-nos de que todos os sofrimentos vêm das mãos de Deus, diretamente ou indiretamente através dos homens.
Quando nos virmos atribulados, devemos agradecer ao Senhor e aceitar alegremente tudo o que ele nos manda, porque tudo é para o nosso bem: “Todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus” Romanos 8,28.
Quando nos aflige alguma tribulação, devemos pensar no inferno, por nós merecido. Todo o sofrimento em comparação com o inferno, será sempre imensamente menor.
Mas, para sofrer com paciência todas as dores, todos os desprezos e todas as contrariedades, requer-se a oração mais do que qualquer consideração. A ajuda divina que nos será dada depois da oração, comunicar-nos-á a força que não tínhamos.
Assim fizeram os santos, recomendaram-se a Deus e venceram todos os sofrimentos e perseguições.

Oração
            Senhor, estou convencido de que, sem sofrer com paciência, não posso ganhar o céu. “Dele é que vem –dizia Davi- a minha paciência” Salmo 61,6. O mesmo quero dizer.
            Vós me dareis a paciência para sofrer. Quero aceitar com tranquilidade todas as tribulações, mas depois, quando elas chegam, encho-me logo de tristeza de desânimo.
            Dessa forma sofro sem méritos e sem amor, porque não sei ainda sofrer par vos agradar.
            Por isso, meu Jesus, eu vos peço, pelos merecimentos de vossa paciência, a graça de sofrer todas as cruzes por vosso amor.
            Eu vos amo de todo o meu coração, divino Redentor.
Eu vos amo, meu sumo bem;
Amo-vos, Jesus, digno de um amor infinito.
Arrependo-me de todos os desgostos que vos tenho dado.
Prometo-vos aceitar com resignação todos os sofrimentos de que me enviardes; mas espero de vós o socorro para sofrer com paciência, especialmente as dores da minha agonia e da minha morte.
Maria, minha Rainha, alcançai-me uma verdadeira resignação em tudo o que ainda tenha de sofrer na vida e na morte.

Amém.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIV– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Felizes os humildes (Santo Afonso)

10. “Quem é verdadeiramente humilde, vendo-se humilhado, mais se humilha” diz S.Joana Chantal. Sim, porque a pessoa humilde nunca se julga tão humilhada quanto merece. Os que fazem assim são chamados por Cristo de ‘felizes’. Os que são estimados, honrados e louvados por sua nobreza, ciência e poder não são chamados ‘felizes’ por Cristo.
Mas uma grande recompensa será dada no céu aos que são amaldiçoados pelo mundo, perseguidos e caluniados pelos homens, se sofrerem tudo isso com paciência: “Bem aventurados sois vós, quando vos injuriarem e vos perseguirem e mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus” Mt5, 11-12.

11. Devemos praticar a humildade principalmente quando somos repreendidos por alguma falta pelos nossos superiores ou por outra pessoa qualquer.
Alguns fazem como ouriços: quando não são atacados, parecem calmos e cheios de mansidão. Mas quando um superior ou amigo o toca lembrando-lhes alguma coisa mal feita, arrepiam logo os espinhos. Respondem com azedume dizendo que não é verdade, ou que tiveram motivos para o fazer, ou que não tinham cabimento aquela admoestação. Em resumo, quem os repreende torna-se seu inimigo. Fazem como aqueles que se zangam com o médico porque os faz sofrer dores quando realiza os curativos de suas feridas.
Diz S.João Crisóstomo: “A pessoa santa é humilde, quando é repreendida, arrepende-se da falta que fez. Ao contrário, quem é orgulhoso fica magoado quando é corrigido. Fica magoado por ver descoberto o seu defeito e por isso responde e indigna-se com quem o adverte.”
S.Felipe Neri dá esta regra a quem é acusado sem motivo: “Quem quer ficar verdadeiramente santo nunca desse se desculpar, nem que seja falso o que lhe atribuem”. A única exceção acontece quando é necessário defender-se para evitar escândalo. Quando merecimento perante Deus tem uma pessoa que é repreendida, até mesmo sem razão, e se cala e não se desculpa!
S.Tereza: “Uma pessoa caminha mais para Deus quando deixa de desculpar-se do que ouvindo dez sermões. Não se desculpando, começa a adquirir a liberdade interior e a não se preocupar se dizem dele bem ou mal”.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap IX– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Céu (Santo Afonso)

            10. Amemos a Jesus Cristo o quanto podemos neste mundo. Desejemos a todo instante ir vê-lo no céu para lá o amarmos perfeitamente. Seja esse o principal objeto de toda a nossa esperança: ir amá-lo com todas as nossas forças.
            Temos nesta vida o mandamento de amar a Deus com todas as nossas forças: “Amarás o Senhor, tu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças” Lc 10,27.
- S.Tomás: Esse mandamento não pode ser perfeitamente cumprido pelos homens nesta vida. Somente jesus Cristo, o homem e Deus, e Maria Santíssima, a cheia de graça e livre da culpa original, é que o cumpriram perfeitamente. Nós, pobres filhos de adão, contagiados pelo pecado, não podemos amar a Deus sem alguma imperfeição. Só no céu, quando virmos Deus face a face, nós o amaremos e até teremos necessidade de amá-lo com todas as nossas forças.

            11. Eis a meta a que devem tender todos os nossos desejos, aspirações, pensamentos, nossas esperanças: ir gozar de Deus no Paraíso para amá-lo com todas as nossas forças e gozar do gozo de Deus! Gozam, sim, os santos da sua felicidade no céu, mas o gozo principal que ultrapassa todos os outros prazeres será o conhecerem a felicidade infinita de Deus, pois amam mais a ele do que a si mesmos.
            Qualquer santo, pelo amor que tem a Deus, perderia com prazer todas as alegrias e sofreria tudo para que não faltasse a Deus –se lhe fosse possível faltar- uma parcela mínima da felicidade que ele goza. Todo o seu paraíso consiste em ver que Deus é infinitamente feliz e que sua felicidade nunca lhe pode faltar. Dessa forma se entende o que diz o Senhor a toda a alma, ao lhe dar o céu: “Entra no gozo de teu Senhor” Mt25,21. Não é o gozo que entra na alma, mas é a alma que entra na felicidade de Deus. A felicidade de Deus é o objeto da felicidade do bem-aventurado. Dessa forma, o bem de Deus será o seu bem, a riqueza de Deus será a sua riqueza, a felicidade de Deus será a sua felicidade.

            12. Logo que uma alma entra no céu e vê claramente com a luz da glória a infinita Beleza de Deus, achar-se-á toda presa e consumida pelo amor. Ela fica perdida e mergulhada no mar infinito da bondade divina, esquece de si mesma e, inebriada pelo amor de Deus, não pensa em mais nada, senão em amar o seu Deus: “Eles se saciam da abundancia de vossa casa” Sl 35,9.
            Uma pessoa embriagada não pensa mais em si. Do mesmo modo quem está no céu não pensa senão em amar e contentar a Deus. Deseja possui-lo todo, e já o possui todo sem o medo de poder perdê-lo. Deseja dar-se todo a ele, por amor, em todos os momentos, e já consegue, porque a todo o momento se entrega sem reservas a Deus. Deus o abraça com amor e, assim abraçado, o tem e terá por toda a eternidade.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVI– Santo Afonso Maria de Ligório

sábado, 10 de maio de 2014

Amor tudo espera (Santo Afonso)

O amor tudo espera
7. A caridade tudo espera. A esperança cristã, como ensina S. Tomás: “é a espera certa da felicidade eterna”. Tal certeza nasce da promessa infalível de Deus em dar a vida eterna aos seus servos fiéis.
            A caridade elimina o pecado, eliminando assim o impedimento de conseguir o céu. Por isso, quanto maior é a caridade, maior e mais firme se torna a nossa esperança; esta não pode certamente ser um obstáculo ao amor de Deus. O amor tende naturalmente a união com a pessoa que se ama, ele é como um laço de ouro que une os corações de quem ama e de quem é amado. Não podendo essa união fazer-se a distância, quem ama deseja sempre a presença do seu amado. A alma, descrita no Cântico dos Cânticos, definhava afastada de seu amado; pedia as suas companheiras que lhe contassem o seu sofrimento para que ele viesse consola-la com a sua presença: “Suplico-vos, filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, dizei-lhe que estou doente de amor” Ct 5,8.
            Uma pessoa que ama muito a Jesus Cristo, enquanto vive neste mundo, não deixa de desejar e esperar ir logo para o céu a fim de unir-se com seu amado Senhor.

            8. É puro e perfeito amor o desejo de i ver Deus no céu. Não tanto pela felicidade que lá experimentaremos em amá-lo, mas pelo prazer que lhe daremos amando-o.
            A felicidade que os santos do céu sentem em amar a Deus, não impede a pureza de sua caridade. Tal felicidade é inseparável do amor. Os santos se satisfazem muito mais no amor que dão a Deus, do que no prazer que sentem em ama-lo. Mas dirá alguém:
- Desejar uma recompensa é ambição e não amizade.
- É necessário distinguir as recompensas do céu prometida por Deus a quem o ama.
            As recompensas que os homens dão distinguem-se das suas pessoas, pois remunerando os outros, eles não se dão a si mesmos, mas somente os seus bens; enquanto que a principal recompensa que Deus faz aos santos é dar-se todo a eles: “Eu serei a tua recompensa extremamente grande” Gn 15,1. Portanto, desejar o Paraíso é o mesmo que desejar a Deus, nosso fim ultimo.

            9. Quero apresentar aqui uma dúvida que facilmente pode vir a mente de uma pessoa que ama a Deus e que procura em tudo fazer a sua santa vontade.
             Se por acaso, fosse revelada a uma pessoa a sua condenação eterna, ela estaria obrigada a aceita-la para se conformar com a vontade de Deus?
            Não, ensina S.Tomás. Chega até a afirmar que peca, se consente nisso, porque consentiria em viver num estado unido ao pecado e contrário ao fim último determinado por Deus. Deus não criou os homens para o inferno onde o odeiam, mas para o céu onde o amam. Deus não quer a morte do pecador, mas que todos se convertam e se salvem. “O Senhor não quer ninguém condenado senão pelo pecado. por isso, se alguém, tivesse lavrado o decreto de sua condenação, não se conformaria com a vontade de Deus, mas com a vontade do pecado".
            E se Deus, prevendo o pecado de alguém, tivesse lavrado o decreto de sua condenação, e revelando-o a pessoa, estaria ela obrigada a consentir nele?
“De modo algum. Deveria entender aquela revelação, não como um decreto irrevogável, mas como uma ameaça no caso de persistir no pecado.”


 A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVI– Santo Afonso Maria de Ligório