segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Mansidão

Quem ama a Jesus, ama a Mansidão
1. O espírito de Mansidão é próprio de Deus. “Meu espírito é mais doce do que o mel” Eclo 24,27. A pessoa que ama a Deus, ama a todos os que são amados por Deus, isto é, todos os homens. Por isso procura sempre socorrer, consolar, contentar a todos na medida do possível.
- S.Francisco Sales, o mestre e modelo da mansidão diz: “A humilde mansidão é a virtude das virtudes que Deus tanto nos recomendou. É necessário praticá-la sempre e em toda parte”. Dá-nos ainda a seguinte regra: “Quando vedes alguma coisa que se pode fazer com amor, fazei-o; o que não se pode fazer sem discussões, deixai-o” isso se refere ao que podemos deixar sem ofender a Deus, porque, quando existe ofensa a Deus, esta deve ser impedida sempre e depressa por aquele que é obrigado a impedi-la.

2. A mansidão deve ser praticada especialmente com os pobres, os quais normalmente, por causa da sua pobreza, são tratados asperamente pelos homens. Deve-se ainda usar da mansidão particularmente com os doentes que se encontram aflitos e, as mais das vezes, recebem pouco cuidado dos outros. Devemos exercer a mansidão principalmente com os inimigos. É preciso “vencer o mal com o bem” Rm 12,21, isto é, o ódio com o amor, a perseguição com a mansidão. Assim fizeram os santos e por este meio conseguiram o afeto de seus maiores inimigos.

3. S.Francisco Sales, diz: “Não há nada que tanto edifique o próximo com a caridosa benignidade no trato”. Ele tinha ordinariamente o sorriso nos lábios. Sua aparência, suas palavras, suas maneiras respiravam mansidão.
- S.Vicente de Paulo afirmava jamais ter conhecido um homem mais manso, parecendo-lhe ver a imagem viva da bondade de Jesus Cristo. Mesmo quando sua consciência o obrigava a negar alguma coisa, o santo mostrava tanta benevolência com as pessoas, que elas iam embora contentes, embora não tivessem obtido o que desejavam. Era manso para com todos, com os superiores e com seus iguais, com seus inferiores, com as pessoas de casa e de fora. Era bem diferente dos que, segundo sua expressão, parecem anjos na rua e demônios em casa. No trato com seus empregados, não se queixava nunca de suas faltas; advertia-os apenas e sempre com bondade. Coisa muito louvável em todos os superiores!
- O superior deve usar de toda mansidão com os seus súditos. Ao lhes impor alguma coisa, deve antes pedir que mandar.
- S.Joana de Chantal disse: “Experimentei todos os meios de governar e não encontrei nenhum melhor do que o modo bondoso e paciente”.

A Bondade e a Mansidão
4. O superior deve mostrar-se benigno mesmo nas repreensões que tem a fazer. Uma coisa é repreender com energia e outra repreender com aspereza. É preciso, as vezes, repreender com energia, quando a falta é grave, principalmente em caso de repetição da falta e depois de a pessoa ter sido avisada. Mas evitemos repreender com aspereza e com raiva; quem repreende com raiva faz mais mal do que bem. Esse é o zelo errado que S.Tiago reprova. Há quem se glorie de dominar assim sua família ou comunidade, e pensa que é assim que se deve governar. S.Tiago não pensa assim: “Se tendes zelo amargo, não vos glorie”.
- Se em algum caso raro houvesse necessidade de dizer uma palavra áspera para que alguém percebesse a gravidade de seu erro, é preciso temperar a dureza, terminando com alguma palavra mais mansa. É preciso curara as feridas, a exemplo do bom samaritano, com vinho e óleo.
- S.Francisco Sales dizia: “Assim como o óleo fica boiando quando despejado num copo d’agua, assim em todos os nossos atos deve ficar por cima a bondade”. Se a pessoa a ser repreendida está alterada, convém deixar a repreensão para outra hora e esperar que passe a raiva, caso contrário mais a irritaríamos. “Quando uma casa pega fogo não se deve jogar mais lenha na fogueira”

5. “Não sabeis de que espíritos sois”. Foi esta a resposta que Jesus deu a seus discípulos Tiago e João, quando eles queriam que fossem castigados os samaritanos, que os tinham expulsado da sua cidade:
- Que espírito é esse? Não é o meu! O meu espírito é de bondade e mansidão; “Não vim para perder, mas para salvar as pessoas” Lc 9,55 e estais querendo que eu as perca? Calai-vos e não me façais semelhante pedidos, porque não é esse o meu espírito!
- Com que mansidão tratou Jesus a mulher adúltera: “Mulher, ninguém te condenou? Nem eu te condenarei. Vai a não peques mais” Jo 8, 10.
- Contentou-se apenas em admoesta-la a não mais pecar e a mandou em paz. Com quanta bondade procurou converter e converteu a samaritana. Começou pedindo-lhe agua. Depois lhe disse: “Se soubesses quem é que te pede de beber!”. Em seguida revelou-lhe que era o Messias esperado. Com quanta bondade procurou converter o traidor Judas. Deixou que ele comesse com ele no mesmo prato. Lavou-lhe os pés e o admoestou no momento da traição. “Judas, é com um beijo que me trais? Com um beijo trais o Filho do Homem?”
- Como é que mais tarde converteu Pedro, depois de ter sido renegado por ele? “O Senhor voltou-se e olhou para Pedro” Lc 22, 48.61. Ao sair da casa do pontífice, sem censurar o seu pecado, lançou sobre ele um olhar de ternura e o converteu. E converteu de tal forma que Pedro durante toda a vida não deixou de chorar a grave ofensa que fizera ao seu Mestre.

A força da Mansidão
            6. É certo, ganha-se mais sendo manso do que severo. Não há nada mais amargo que a noz; mas quando bem preparada, torna-se doce e agradável. O mesmo se dá com as repreensões; embora sejam em si desagradáveis, contudo quando feitas com amor e bondade, são bem aceitas e produzem maior proveito.
- S.Vicente de Paulo dizia que, no governo de seu instituto, fizera apenas três repreensões severas, acreditando ter boas razões para agir assim. Mas depois sempre se arrependeu porque nenhuma surtira efeito, ao passo que as correções feitas com mansidão sempre tiveram bons resultados.

            7. S.Francisco Sales, por sua mansidão, alcançava dos outros tudo o que desejava. Assim conseguiu levar para Deus os pecadores mais endurecidos. A mesma coisa fazia S.Vicente de Paulo que ensinava a seus missionários esta regra: “ A afabilidade, o amor e a humildade tem uma força maravilhosa para ganhar os corações dos homens e leva-los a abraçar as coisas mais desagradáveis a natureza humana”. Uma vez mandou um grande pecador a um de seus padres para que o convertesse. Mas o missionário, vendo inúteis todos os seus esforços, pediu ao santo que lhe dissesse alguma coisa. Ele o fez e o pecador se converteu. Este declarou depois eu a singular bondade e extrema caridade do santo lhe ganharam o coração. Por isso o santo não admitia que seus missionários tratassem os seus penitentes com dureza, e lhes dizia que o espírito infernal se serve do rigor de alguns para causar maior dano as almas.

            8. É preciso praticar a benignidade com todos, em todas as circunstâncias e em todo o tempo.
- S.Bernardo adverte que alguns são mansos enquanto as coisas correm de acordo com sua vontade. Mas quando atingidos por alguma contrariedade ou dificuldade, logo se inflamam e começam a fumegar como um vulcão.
- Pode-se chama-los muito bem de carvões acesos escondidos debaixo das cinzas. Quem quer ser santo, deve ser nesta vida como o lírio entre os espinhos. Embora nasça entre eles, não deixa de ser lírio, isto é, sempre igualmente suave e benigno!

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap VI– Santo Afonso Maria de Ligório

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