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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Vícios: Impureza, Ganância e Poder

Julgamento falso e repreensões divinas
- Por causa dos vícios: Impureza, Ganância e Poder, os pecadores pronunciam um julgamento falso, como passo a explicar-te.
- Embora sejam retas as minhas ações e praticadas com amor e justiça, os pecadores continuamente se opõem a elas.
- Foi com semelhante falso juízo, envenenado ainda pela inveja e orgulho, que (os judeus) injustamente condenaram a atividade de meu Filho.
- Mentindo eles diziam: "Ele age na força de Belzebu" Mateus 12,24.
- Hoje os pecadores comportam-se da mesma maneira, cheios de egoísmo, impureza, orgulho, ganância e inveja.
- Baseados em interpretações falsas, impacientes e por outros defeitos, em tudo se opõem a mim e a meus servidores, que chamam de fingidos.
- Donos de um coração corrompido e de uma viciada percepção dos fatos, julgam más as coisas boas e vice versa.
- Ó cegueira humana, que nem respeitas a própria dignidade:
·         sendo grande, fazes-te pequena;
·         de senhora, tu fazes-te escrava do mais vil patrão, o pecado.
- Tornas-te semelhante aquele a quem serves e como o pecado é nada, a nada te reduzes. Perdes-te a vida, encontraste a morte.
- O Verbo Encarnado, meu Filho único e ponte de glória, deu aos homens vida e grandeza:
·         Eram escravos do demônio e ele os libertou.
·         Para que cumprisse tal missão, tornei-o servo;
·         para cobrir a desobediência de Adão, exigi que obedecesse;
·         para confundir o orgulho, humilhou-se até a morte de cruz.
- Por sua morte, destruiu o pecado; já ninguém, pode dizer: "Restou este ou aquele vício, que não foi remido com seus sofrimentos."
- No intuito de livrar a humanidade da morte eterna, fez de seu corpo uma bigorna (Cristo atrai a si todas as coisas) e usou todos os remédios.
- No entanto, os pecadores desprezam seu sangue, pisoteiam-no com um amor desordenado.
- Esta é a injustiça, este o julgamento falso a respeito do qual o mundo é e será repreendido até o dia do Juízo Final. A esse respeito, dizia meu Filho: "Mandarei o Paráclito; Ele repreenderá o mundo da injustiça e do julgamento falso." João 16,8.
- Tal repreensão começou quando enviei o Espírito Santo sobre os apóstolos. 

São três as repreensões:
1ª repreensão: A Voz da Igreja
- A primeira repreensão iniciou, com a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos. Fortalecidos pelo Meu Poder, iluminados pela Sabedoria do amado Filho, receberam a Plenitude do Espírito Santo. Este, que é uma só coisa comigo e com meu Filho, repreendeu então o mundo pela boca dos apóstolos através da mensagem de Cristo.
- Por tal forma, eles e os sucessores que ouviram a Verdade, repreendem o mundo.
- É a mesma perene repreensão, sempre feita ao mundo pelas Escrituras Sagradas e pelos meus servidores.
- Coloco o Espírito em seus lábios e eles dizem a verdade, da mesma forma como o demônio se põe na boca dos seus asseclas, que pecaminosamente vão pelo rio do pecado.
- É a mesma doce e contínua repreensão realizada por mim com imenso amor pela salvação humana.
- Não se pode dizer: "Ninguém me chamou a atenção"!
A todos foi mostrada a verdade sobre o vício e a virtude,
sobre os frutos das virtudes e as conseqüências do pecado.
- Para que odiassem o mal e amassem o bem, a todos foi oferecido o amor e o santo temor.
- Nem foi um anjo a lhes revelar a mensagem da Verdade, de modo que pudessem escusar-se, dizendo: "O anjo é um espírito feliz, não padece, não sente as fraquezas da carne como nós ou o peso do corpo". Não, não podem falar assim, pois enviei-lhes o Filho, homem mortal como vós.
- E os demais servidores do meu Filho, como eram?
- Criaturas mortais e passíveis como vós, sujeitos as lutas da carne contra o espírito. Assim aconteceu com o glorioso apóstolo Paulo, assim com os outros santos.
- Cada um deles, a seu modo, sofreu as tentações da Sensibilidade. (14.2)
- Permiti e ainda permito essas dificuldades para o crescimento da graça e das virtudes nas almas. Como vós, os santos nasceram no pecado, nutriram-se do mesmo alimento (Eucaristia).
Também Eu Sou o mesmo Deus daquelas épocas;
Meu Poder não diminuiu.
Posso, quero e sei socorrer a quem deseja ser por mim socorrido.
- Assim os pecadores abandonam o Rio do Pecado e vão pela Ponte, vivendo a mensagem do meu Filho.

2ª repreensão: O Juízo particular
- Os pecadores não podem desculpar-se.
- Continuamente são por mim convidados ao Conhecimento da Verdade (conforme Catecismo da Igreja Católica §851).
- Não se corrigindo enquanto podem fazê-lo, uma segunda repreensão os condenará. Ela acontece no último instante da vida, quando meu Filho chamar:
"Levantai-vos, ó mortos, vinde para o julgamento"!
- Tu que morreste para a graça e morto chegas ao fim da vida terrena, levanta-te, aproxima-te do Supremo Juiz. Aproxima-te com tua maldade, com teus julgamentos falsos, com a lâmpada da fé apagada. No Santo Batismo, ela foi-te entregue acesa; tu a apagaste com o sopro do orgulho e da vaidade do coração, usados como velas enfunadas as ventanias contrárias a salvação.

- O amor da fama soprava teu amor próprio (egoísmo) e tu corrias alegre pelo rio dos prazeres mundanos; seguias a frágil carne, as incitações do demônio, as tentações. Tua vontade era um pano retesado e o diabo te conduziu pela estrada do mal, junto com ele, para a eterna condenação.
- Filha muito querida, esta segunda repreensão se dá no fim da vida, quando não há mais remédio.
- Ao chegar no instante da morte, o homem sente remorso.
- Já afirmei que ele é um verme cego por causa do egoísmo.
- No instante final, quando a pessoa compreende que não pode fugir das minhas mãos, esse verme recupera a visão e atormenta interiormente a pessoa, fazendo ver que por própria culpa chegou a tão triste situação.

- Se o pecador se deixar iluminar e se arrepender - não por medo dos castigos infernais, mas por ter ofendido a suma e eterna bondade - ainda será perdoado.
- Mas se ultrapassar o momento da morte nas trevas, no remorso, sem esperança no sangue ou, então, lamentando-se apenas pela infelicidade em que se acha - e não por ter me ofendido - irá para a perdição.
- Sobrevirá, pois, a Repreensão pela injustiça e Julgamento falso:
·         Em primeiro lugar, a Repreensão da injustiça e do Julgamento falso em geral, praticados no conjunto de suas ações;
·         depois, em particular, do último instante, quando o pecador considera seu pecado maior que minha misericórdia.
- Este (Mateus 12,32) é o pecado que não será perdoado, nem aqui nem no além. O desprezo voluntário da minha misericórdia constitui pecado mais grave que todos os anteriores. Neste sentido, o desespero de Judas desagradou-me e foi mais grave que a sua traição.
- Também para meu Filho! É por causa deste (último) Julgamento falso que o pecador sofre a repreensão, ou seja, porque acha que sua falta é maior que meu perdão. Este é o motivo da punição, indo sofrer eternamente com os demônios.

- A Repreensão da injustiça acontece porque os pecadores sentem mais tristeza pelos próprios danos que por me terem ofendido.
- São injustos, no sentido de que não atribuem a mim o que me pertence e a si o que é deles.
- A mim deveriam oferecer o amor, a tristeza e contrição dos pecados cometidos. Mas agem no sentido oposto, só demonstrando auto compaixão e angústia pelo castigo que lhes merecem seus pecados. Como vês, são injustos. E por tal motivo são punidos por uma e outra coisa.
- Já que desprezaram meu perdão, com justiça mando-os ao castigo (Mateus 25, 41), juntamente com a Sensualidade e o tirano demônio, a quem na Sensualidade serviam.
- Já que solidariamente me ofenderam, juntos serão punidos e atormentados. Os próprios demônios, encarregados por mim de cumprir a sentença de justiça, atormentá-los-ão.
- Filha, tua linguagem é incapaz de descrever os sofrimentos, destes infelizes.
- Sendo três os seus vícios principais - egoísmo, medo de perder a boa fama e orgulho - os quais se acrescentam a injustiça, a maldade e vergonhosos pecados, no inferno os pecadores padecem quatro tormentos principais:
Primeiro tormento no inferno: a ausência da visão de Deus.
- Um sofrimento tão grande que os condenados, se fosse possível, prefeririam sofrer o fogo vendo-me, que ficar fora dele sem me ver.

Segundo tormento no inferno: o remorso.
- Como conseqüência, é o remorso que corrói interiormente o pecador privado de mim, longe da conversação dos anjos, a conviver com os demônios.

Terceiro tormento no inferno: visão do diabo.
- Ao vê-lo, duplica-se o sofrer.
- No céu os bem-aventurados exultam com minha visão e sentem rejuvenescer o prêmio recebido pelas fadigas amorosamente suportadas (no mundo);
- Da mesma forma, mas em sentido contrário, os infelizes danados vêem crescer seus padecimentos ao verem os demônios. Nestes, eles se conhecem melhor, entendendo que por própria culpa mereceram o castigo.
- Assim o remorso os martiriza e jamais cessará o ardor da consciência.
- Muito grande é este tormento, porque o diabo é visto no próprio ser; tão horrível é sua fealdade, que a mente humana não consegue imaginar.
- Se ainda o recordas, já te mostrei o demônio uma vez assim como ele é; foi por um átimo de tempo. Quando retornaste aos sentidos, preferias caminhar por uma estrada de fogo até o Juízo final que tornar a vê-lo.
- No entanto, apesar do que viste, ignoras sua fealdade. Especialmente porque, segundo a justiça divina, ele é visto mais ou menos horrível pelos condenados, segundo a gravidade das culpas.

Quarto tormento no inferno: fogo.
- Um fogo que arde sem consumir, sem destruir o ser humano.
- É algo de imaterial, que não destrói a alma incorpórea.
- Na minha justiça permito que tal fogo queime, faça padecer, aflija; mas não destrua.
- É ardente e fere de modo crudelíssimo em muitas maneiras, conforme a diversidade das culpas.
- A uns mais, a outros menos, segundo a gravidade dos pecados.

- Destes quatro tormentos derivam os demais: o frio, o calor, o ranger de dentes (Mateus 22,13).
- Como vês, repreendo os pecadores nesta vida por seus Julgamentos falsos e injustiças;
·         se não se corrigem, faço-lhes uma segunda repreensão na hora da morte;
·         pela ausência de esperança e arrependimento, sobrevem-lhes a morte eterna em indizível infelicidade.


3ª repreensão: O Juízo final
- Passo a tratar do Julgamento geral, quando a alma do condenado sentirá renovar-se o seu tormento, e mesmo aumentar, com a recuperação do corpo.
- Será um padecimento intolerável, acompanhado de muita confusão e vergonha. Quero que entendas quanto se enganam os pecadores (neste mundo).
- Por ocasião do Juízo final, o Verbo encarnado virá com divina majestade para repreender o mundo. Não mais se apresentará pobrezinho, na forma como nasceu da Virgem numa estrebaria, entre animais, para morrer depois no meio de ladrões.
- Naquela ocasião, ocultei nele o Meu poder e permiti que suportasse penas e dores como homem:
·         A natureza divina se unira a humana e foi enquanto homem que sofreu para reparar vossas culpas.
- No Juízo final, não será assim, pois virá com poder a fim de julgar:
·         As criaturas humanas estremecerão e Ele a cada um dará a sentença conforme o merecimento.
- Tua língua não consegue exprimir o que se sucederá aos condenados.
- Para os bons, Jesus será motivo de temor santo e alegria imensa.

- Em si mesmo, meu Filho não terá diferenças, pois sendo Deus, é imutável. Ele é uma só coisa Comigo.
- Pela gloria da ressurreição, até a natureza humana não padece mudanças.
- Mas os condenados não o verão assim:
·         Olhá-lo-ão com visão obscurecida e horrível, como lhes é próprio.
- O olho doentio, mesmo diante do sol, somente vê escuridão, ao passo que o olho sadio vê apenas luz. Não que o sol, em sua luz, transforme-se diante do cego ou daquele que possui bons olhos. o defeito está na cegueira.
- O mesmo acontece com os condenados:
·         Verão o Ressuscitado em escuridão, na confusão, no ódio.
Repito: não por imperfeição da Majestade divina, que virá julgar o mundo, mas por causa da própria cegueira.
- Grande é o ódio dos condenados, pois já não amam o bem. Blasfemam continuamente contra mim!
- Queres saber por que já não podem desejar o bem?
- É porque, no fim desta vida, vincula-se o Livre Arbítrio.
- Com o cessar do tempo, já não se merece mais.
- Quem termina esta existência no pecado mortal, por direito divino fica para sempre apegado ao ódio, obstinado no mal, a roer-se interiormente.
- Seus sofrimentos irão aumentando sempre, especialmente por causa das demais pessoas que por sua causa irão para a condenação:
- Tendes a respeito disto o exemplo do rico epulário (Lucas 16,27), que suplicava a Lázaro para que fosse até seus irmãos, no mundo, a fim de adverti-los sobre os futuros castigos.
- Ele não agia assim por amor e compaixão deles.
- Não tinha mais a virtude da caridade, nem poderia desejar-lhes o bem, seja querendo honrar-me ou salvar os irmãos.
- Já te disse anteriormente que os condenados ao inferno não podem fazer o bem:
·         eles só blasfemam contra mim, uma vez que suas vidas acabaram no ódio a todo bem.
- Porque então o rico epulário fala daquela maneira?
- Porque fora o mais velho dos irmãos e dera-lhes maus exemplos durante a vida:
·         Pessoalmente era causa de condenação para eles.
- Se viessem para a sua companhia, teria seus próprios tormentos aumentados.
O Diálogo | Santa Catarina de Sena 14.3

terça-feira, 6 de maio de 2014

Amor a Palavra (Santo Afonso)

Quem ama a Jesus Cristo crê em todas as suas Palavras
1. Quem ama uma pessoa, acredita em tudo o que ela diz. Por isso, quanto maior é o amor de alguém a Jesus Cristo, tanto mais firme e viva é a sua fé. O bom ladrão, vendo nosso Redentor morrendo na cruz sem culpa e sofrendo com tanta paciência, começou a amá-lo. Movido por esse amor e iluminado pela luz divina, acreditou que ele era verdadeiramente o Filho de Deus; por essa razão pediu-lhe que se lembrasse dele, quando entrasse em seu reino.

2. A fé é o fundamento da caridade, mas depois é a caridade que aperfeiçoa a fé. Quem mais perfeitamente ama a Deus, mais perfeitamente crê. A caridade faz que o homem creia, não só com a inteligência, mas também com a vontade. Assim fazem os pecadores que sabem serem mais que certas as verdades da fé, mas não querem viver conforme os mandamentos divinos. Eles têm uma fé muito fraca. Se tivessem uma fé viva, crendo que a graça divina é um bem maior de todos os bens e que o pecado é um mal maior do que todos os males, por nos privar da graça de Deus, com certeza mudariam de vida.
Se preferem os míseros bens deste mundo em vez de Deus, é porque não creem ou creem muito fracamente. Os que acreditam não só com a inteligência, mas também com a vontade, de modo que não só creem, mas querem crer num Deus que se revela pelo amor que lhes tem, e gostam de crer em Deus, estes, sim, acreditam perfeitamente. Por isso procuram conformar sua vida com as verdades que creem.

Maus costumes
            3. A falta de fé, naqueles que vivem em pecado, não nasce da obscuridade da fé. Embora Deus tenha desejado que as coisas da fé nos fossem em grande parte incompreensíveis e ocultas, para que tivéssemos merecimento em crer, contudo as verdades de fé se tornam evidentes pelos sinais que as manifestam. Não acreditar nelas seria não só imprudência, mas também falta de religião e loucura.
            A fraqueza da fé de muitos nasce de seus maus costumes. Quem despreza a amizade de Deus para não se privar dos prazeres ilícitos, desejaria que não houvesse lei que os proibisse, nem castigo para os que pecam. Faz tudo para evitar a reflexão sobre as verdades eternas, a morte, o juízo, o inferno, a justiça divina. Tudo isso lhe causa muito medo e torna amargos os seus prazeres. Espreme, então, o cérebro procurando razões, ao menos prováveis, para se persuadir ou se convencer de que não existe alma, nem Deus, nem inferno. Assim poderiam viver e morrer como o animal que não conhece lei nem razão.

            4. A dissolução dos costumes é a fonte donde nascem e saem todos os dias tantos livros e sistemas materialistas, indiferentistas, deístas e naturalistas. Uns negam a existência de Deus; outros negam a Providência Divina, dizendo que Deus, depois de criar os homens, não se importa mais com eles, sendo-lhes indiferente se o amam ou se o ofendem, se os homens se salvam ou se perdem. Outros negam a bondade divina afirmando que Deus criou muitas almas para o inferno, forçando-as ele mesmo a pecarem para que assim se condenem e o amaldiçoem para sempre no fogo eterno.

            5. Tudo isso é ingratidão e maldade dos homens! Deus os criou por sua misericórdia para os fazer eternamente felizes no céu. Encheu-os de tantas luzes, benefícios e graças, para que alcançássemos a vida eterna. Para esse mesmo fim ele os remiu com tantas dores e com tanto amor. E os homens se esforçam por não acreditar em nada, para se entregarem aos vícios e viverem a vontade.
            Mas, não adianta! Por mais esforços que façam, nunca esses infelizes poderão libertar-se do remorso da má consciência e do temor da justiça divina. Certamente não poriam em dúvida as verdades de fé e acreditariam firmemente em todas as verdades reveladas por Deus, se deixassem os vícios e se dedicassem a amar a Jesus Cristo.

Verdades eternas
            6. Quem ama a Jesus Cristo de todo o coração, tem sempre diante dos olhos as verdades eternas e por elas regula suas ações.
            Quem ama a Jesus Cristo, entende muito bem o que diz a escritura: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” Eclo 1,2
            Toda a grandeza terrena é fumaça, engano e lodo; o único bem e felicidade de uma alma consiste em amar seu Criador e em fazer-lhe a vontade. Nós somos o que somos diante de Deus. De nada vale ganhar todo o mundo, se a alma se perde. Todos os bens da terra não podem contentar o coração do homem; só Deus o satisfaz; em resumo, é preciso deixar tudo para ganhar tudo!

            7. A caridade tudo crê. Há cristãos que não são perversos, como aqueles dos quais falamos, os quais não creem em nada para viverem nos vícios sem remorsos e com mais liberdade. Existem cristãos que acreditam, mas têm uma fé fraca. Creem nos sacrossantos mistérios, creem nas verdades reveladas do evangelho: a Santíssima Trindade, a Redenção, os Sacramentos e outras; mas não creem em todas.
            Jesus Cristo disse: “Felizes os pobres, felizes os que choram, felizes os que sofrem perseguições, felizes vós, quando vos amaldiçoarem e disserem todo o mal contra vós”. Foi assim que falou Jesus no Evangelho. Mas como se pode afirmar que creem no Evangelho os que dizem: “Felizes os ricos, felizes os que não sofrem, felizes os que procuram prazeres, infelizes os que são perseguidos e maltratados pelos outros?”. É forçoso dizer destas pessoas que, ou não creem no Evangelho ou só creem em parte.
            Quem crê em tudo, aceita como felicidade e graça de Deus o ser pobre, o estar doente, o ser mortificado, desprezado e maltratado pelos homens. Assim crê e assim fala quem crê em tudo o que o Evangelho diz. Essa pessoa tem o verdadeira amor a Jesus Cristo.

Oração
            Meu amado Redentor, vida de minha alma, eu creio que sois o único bem de ser amado. Creio que sois aquele que me tendes mais amor, porque chegastes a morrer consumido de dores por mim, só por amor.
            Creio que nem nesta vida nem na outra, não há maior felicidade do que vos amar e fazer a vossa vontade. Tudo isso creio firmemente e, por isso, a tudo renuncio par ser todo vosso e só a vós possuir. Ajudai-me pelos méritos de vossa paixão e fazei-me ser como desejais que eu seja.
Verdade infalível, eu creio em vós.
Misericórdia infinita, eu confio em vós.
Bondade infinita, eu vos amo.
Amor infinito que vos destes todo a mim na vossa paixão e no sacramento da Eucaristia, eu me dou todo a vós.
Também a vós me recomendo, Maria, Mãe de Deus, refúgio dos pecadores.
Amém.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XV– Santo Afonso Maria de Ligório

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Santidade de vida (Santo Afonso)

A vocação e os pais
14. A escolha da vocação é chamada pelo Pe. Granada de ‘roda mestra’. No relógio, estragada a roda mestra, todo o relógio fica desacertado. Do mesmo modo, quando se trata da nossa salvação, estando errada a nossa vocação, toda a nossa vida ficará desacertada. Tantos pobres jovens perderam sua vocação por causa dos pais; tiveram um mau fim e se tornaram a ruina da casa.
Certo jovem perdeu a vocação religiosa por instigação de seu pai. Mais tarde teve com o próprio pai grandes brigas, chegando a mata-lo com suas próprias mãos. Finalmente, foi justiçado. Um outro, que frequentava o seminário, sentiu-se chamado por Deus a deixar o mundo. Surdo a esse chamado, primeiro deixou a vida piedosa que levava, a oração, a comunhão. Depois entregou-se aos vícios. Finalmente, numa noite, ao sair da casa de uma mulher, foi morto por seu rival. Veio o sacerdote, mas já o encontrou morto. Quantos exemplos semelhantes a este eu poderia apresentar aqui!

15. S.Tomas aconselha aos vocacionados a não se aconselharem com seus parentes porque, neste assunto, eles se tornam verdadeiros inimigos. Ora, se os filhos não estão obrigados a se aconselhar com os pais, muito menos estão obrigados a esperar a licença deles. Nem a pedir, sempre que possam temer que provavelmente lhes será negada injustamente, resultando com isso um impedimento para seguirem sua vocação. S. Tomas Aquino, S. Pedro Alcântara, S. Francisco Xavier, S. Luiz Beltrão e muitos outros santos abraçaram a vida religiosa sem avisarem a seus pais.

Vocação sacerdotal
            16. Note-se ainda que, assim como corre grande perigo de condenar-se quem não segue o chamado de Deus só para satisfazer os pais, também corre grande risco quem se ordena padre sem vocação, só para agradar seus parentes. São três os principais sinais para se conhecer a verdadeira vocação sacerdotal:
·         A ciência competente;
·         A reta intenção de buscar só a Deus;
·         A boa conduta de vida.
- O Concilio de Trento, falando especialmente da boa conduta, mandou aos bispos que não promovam as ordens sacras a não ser os já aprovados na virtude e bons costumes. Isso jpa tinha sido estabelecido por antigas prescrições canônicas. Isso se entende principalmente da constatação externa que o bispo deve fazer a respeito da boa conduta de quem vai ser ordenado. Mas, não se põe em duvida que o Concilio exige e pede tanto a probidade exterior como a interior. Sem a interior, a probidade exterior não passa de um puro engano e fingimento. Por isso admoesta o Concilio: “Saibam os bispos que ninguém deve ser promovido as ordens sacras sem ser digno, e sem que seu procedimento esteja de acordo com a probidade de vida. Com a mesma intenção de ter provas completas sobre aquele que cai ser ordenado, o Concilio estabeleceu ainda intervalos entre os diversos graus das ordens “para que aumente neles, juntamente com a idade, a maturidade da vida e a abundância do saber”.

Santidade de vida
            17. Quem é ordenado, é destinado ao ministério de servir a Jesus Cristo na Eucaristia; por isso –diz S.Tomas- a santidade do sacerdote deve ser maior do que a do religioso. Acrescenta ainda que as ‘ordens sacras’ preexigem santidade. A palavra ‘preexigem’ supõe que o jovem deve ser santo já antes de ser ordenado. Indica, então, o santo a diferença entre a vocação religiosa e a vocação de quem recebe as ordens sacras. Na vida religiosa se purificam os vícios, mas querendo alguém receber as ordens sacras, é preciso que se encontre já purificado por meio de uma vida santa.
- Explicando esse mesmo pensamento, diz “Como os que recebem as ordens sacras, são colocados acima do povo, assim devem eles estar acima pelo mérito da santidade”. O santo exige essa santidade de vida antes da ordenação, porque a julga necessária não só para que se possa exercer dignamente entre os ministros de Cristo. Finalmente conclui: “Na ordenação lhes é concedida maior abundância de graça para que, por meio dela, possam tornar-se idôneos para coisas maiores.”
            Notemos a expressão   “para coisas maiores”.
- S.Tomas declara que a graça do sacramento, que depois se confere, não será inútil, mas dará ao ordenado maiores auxílios para que se torne capaz de conquistar maiores méritos. Mas exprime que no ordenado se requer a graça precedente, suficiente para torna-lo digno de ser contado entre os membros do povo de Cristo.



Boa conduta
            18. Sobre esse assunto, escrevi uma longa exposição provando que se alguém recebe uma ordem sacra sem a experiência de uma vida exemplar, não pode se isentar de uma grave culpa. Isso porque abraça um estado de vida sem a vocação de Deus. Não se pode dizer chamado por Deus quem se ordena sem estar livre de todo o vicio habitual, especialmente contra a castidade. Embora possa receber o sacramento da Penitência, por estar preparado através do arrependimento, em tal estado ainda não está capacitado para receber as ordens sacras. Além disso é necessária já antes a boa conduta, comprovada com a experiência há mais tempo.
             Não pode, igualmente, se isentar de pecado mortal quem, por grande presunção, assume os sagrados ministérios sem a devida vocação. Grande perigo de condenação em semelhante caso, ao se expor assim. “Quem conscientemente, sem ter em conta a vocação de Deus” –como o faz um habituado a qualquer vicio grave- “entra como intruso no sacerdócio, colocando-se em evidente perigo de condenação.”
- Falando do sacramento da Ordem, Soto afirma: “Embora a boa conduta não seja da essência do sacramento, ela é absolutamente necessária por preceito divino... tal idoneidade de costumes não se identifica com a disposição geral exigida na recepção de qualquer sacramento para que a graça não encontre obstáculo. O homem que abraça o sacerdócio não só recebe a graça, mas abraça um estado de vida mais sublime. Exige-se, pois, dele a honestidade de vida e o brilho das virtudes”. O mesmo afirmaram Tomas Sanchez, P. Holzman e os Salmanticenses.
- O que acabo de escrever não é opinião de algum doutor particular, mas opinião comum; todos se fundamentam na doutrina por Santo Tomas.

Sequência da postagem “Coração vazio”

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XI– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 26 de março de 2014

Consagração a Jesus Cristo por Maria

Consagração a Jesus Cristo pelas mãos de Maria

- Ó Sabedoria Eterna e Encarnada.

- Ó amabilíssimo e adorável Jesus,

verdadeiro Deus e verdadeiro homem,

Filho Unigênito do Pai Eterno e da sempre Virgem Maria.

- Adoro-Vos profundamente,

no seio e nos esplendores do Vosso Pai, durante toda a eternidade, e

no seio virginal de Maria, Vossa Mãe digníssima, no tempo da Vossa Encarnação (Nota 1).

- Dou-Vos graças por Vos terdes aniquilado a Vós mesmo,

tomando a forma de escravo,

para livrar-me da cruel escravidão do demônio.

- Eu Vos louvo e glorifico por Vos terdes querido submeter em tudo a Maria,

Vossa Mãe Santíssima,

a fim de, por Ela, tornar-me Vosso fiel escravo.

- Entretanto, ai de mim, criatura ingrata e infiel.

- Não guardei os votos e promessas que tão solenemente Vos fiz no meu Batismo (Nota 2).

- Não cumpri as minhas obrigações;

não mereço ser chamado Vosso filho, nem Vosso escravo;

e, como nada há em mim que não mereça a Vossa repulsa e a Vossa cólera,

não ouso aproximar-me por mim mesmo da Vossa Santíssima e Augustíssima Majestade.

- Recorro, pois, à intercessão e à misericórdia de Vossa Mãe Santíssima,

que me destes por medianeira junto de Vós.

É por intermédio d’Ela que espero obter de Vós:

a contrição e o perdão dos meus pecados,

a aquisição e conservação da Sabedoria.

 

- Ave, pois, ó Maria Imaculada,

Tabernáculo Vivo da Divindade,

onde a Eterna Sabedoria escondida quer ser adorada pelos anjos e pelos homens.

- Ave, ó Rainha do Céu e da Terra,

a cujo Império é submetido tudo o que há abaixo de Deus.

- Ave, ó Seguro Refúgio dos pecadores,

cuja misericórdia a ninguém despreza.

- Atendei ao Desejo Santo que tenho da Divina Sabedoria,

e recebei, para isso,

os votos e ofertas apresentados pela minha baixeza.

 

- Eu ........, infiel pecador, renovo e ratifico hoje, nas Vossas mãos, as promessas do meu Batismo:

- Renuncio para sempre a satanás, às suas pompas e suas obras, e

- Dou-me inteiramente a Jesus Cristo, a Sabedoria Encarnada,

para o seguir,

levando a minha cruz,

todos os dias da minha vida.

- E para lhe ser mais fiel do que até agora tenho sido:

- Escolho-Vos hoje, ó Maria,

na presença de toda a Corte Celeste, por minha Mãe e Senhora.

- Entrego-Vos e consagro-Vos, na qualidade de escravo:

  o meu Corpo (com os sentidos: audição, visão, olfato, paladar e tato);

  a minha Alma (com as potências: inteligência, memória, vontade);

 os meus Bens Interiores (orações, méritos, graças, virtudes e satisfações);

   e meus Bens Exteriores (família, trabalho, casa, renda);

  e o próprio valor das minhas obras passadas, presentes e futuras.

- Deixo-Vos pleno e inteiro direito de dispor de mim e de tudo o que me pertence,

sem exceção alguma,

segundo o Vosso agrado e para maior Glória de Deus,

neste tempo,

no Tempo da Prova Dolorosa e Sangrenta da Purificação,

da Grande Tribulação e do Castigo e por toda a Eternidade.

- Recebei, ó Benigníssima Virgem, esta pequenina oferta da minha escravidão:

em união e em honra à submissão que a Sabedoria Eterna quis ter à Vossa Maternidade;

em homenagem ao poder que ambos tendes sobre este vermezinho e miserável pecador;

em ação de graças pelos privilégios com que largamente Vos favoreceu a Trindade Santíssima.

- Protesto que quero,

de hoje em diante e firmemente,

como Vosso verdadeiro escravo,

buscar a Vossa honra e obedecer-Vos em todas as coisas.

- Ó Mãe Admirável,

apresentai-me ao Vosso amado Filho na condição de escravo perpétuo,

a fim de que,

tendo-me resgatado por Vós,

por Vós também me receba propiciamente.

- Ó Mãe de Misericórdia,

concedei-me a graça de obter a Verdadeira Sabedoria de Deus,

e de colocar-me, para isso, entre o número daqueles que:

amais, ensinais, guiais, sustentais e protegeis como filhos e escravos Vossos.

- Ó Virgem Fiel,

tornai-me em tudo um tão perfeito discípulo,

imitador e escravo da Sabedoria Encarnada,

Jesus Cristo, Vosso Filho,

que eu chegue um dia,

por Vossa intercessão e a Vosso exemplo,

à plenitude da sua idade na Terra e da Sua glória no Céu.

Amém.

Assim seja.

Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria
São Luis Maria Grignion de Monfort

Nota 1:
Culto especial ao Mistério da Encarnação
§243. Quarta prática de devoção. Terão especial devoção ao grande mistério da Encarnação do Verbo, celebrado no dia 25 de março. É o mistério próprio desta Devoção, visto que ela foi inspirada pelo Espírito Santo:
1º. Para honrar e imitar a inefável dependência que o Filho de Deus quis ter de Maria, para glória de seu Pai e para nossa salvação. Esta dependência manifesta-se duma maneira particular neste mistério, em que Jesus Cristo está cativo e escravo no seio de Maria Santíssima, e onde depende d'Ela em todas as coisas.
2º. Para agradecer a Deus as graças incomparáveis que deu a Maria e, particularmente, por a ter escolhido para sua tão digna Mãe, escolha que se realizou neste mistério.
- Estes são os dois fins principais da escravidão de Jesus Cristo em Maria.



Nota 2:
Uma Perfeita Renovação dos Votos do Santo Batismo
§126. Como disse, a “Verdadeira Devoção A Santíssima Virgem Maria” podia muito justamente chamar-se uma “Renovação perfeita dos votos ou promessas do Santo Batismo”.  Todo cristão:
  • Antes do Batismo, era escravo do demônio, pois lhe pertencia.
  • Depois de receber o Batismo renunciou solenemente, pela própria boca ou pelas de seu padrinho e sua madrinha, a satanás, às suas pompas e às suas obras. Assim tomou a Jesus Cristo por seu Mestre e Soberano Senhor, a fim de depender d'Ele na qualidade de escravo de amor.
- É o que se faz pela presente Devoção:
  • renuncia-se (como está expresso na fórmula da consagração), ao demônio, ao mundo, ao pecado e a si mesmo, dando-se inteiramente a Jesus Cristo pelas mãos de Maria. E ainda se faz mais, porque no Batismo fala-se habitualmente pela boca de outra pessoa, isto é, do padrinho e da madrinha. A entrega a Jesus Cristo é feita por intermediários. Mas nesta Devoção damo-nos por nós mesmos, voluntariamente, com conhecimento de causa.
Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria 
São Luis Maria Grignion de Monfort

quinta-feira, 20 de março de 2014

Maria, fazer tudo por Maria

Práticas particulares e interiores
para os que desejam vir a ser perfeitos
§257. As práticas exteriores desta Devoção, que acabo de referir, não devem omitir-se por negligência ou desprezo, na proporção em que o estado e a condição de cada um o permitem. Mas além destas práticas exteriores há ainda práticas interiores, muito santificantes para aqueles que o Espírito Santo chama a uma alta perfeição. Consistem, numa palavra, em
fazer todas as ações por Maria, com Maria, em Maria e para Maria, a fim de mais perfeitamente as fazer por Jesus Cristo, com Jesus Cristo, em Jesus e para Jesus.

Fazer tudo por Maria
§258. É necessário fazer todas as ações por meio de Maria, o que equivale a dizer que devemos obedecer em tudo à Santíssima Virgem, e conduzir-nos em tudo pelo seu espírito, que é o Espírito Santo de Deus. “Aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus” (Rm 8, 14). Aqueles que são conduzidos pelo espírito de Maria são filhos de Maria e, por conseguinte, filhos de Deus, como já mostramos (§29-30).
- E entre tantos devotos da Santíssima Virgem, os devotos verdadeiros e fiéis são somente aqueles que se deixam conduzir pelo seu espírito. Eu disse que o espírito de Maria era o Espírito de Deus, porque Ela nunca se conduziu pelo seu próprio espírito, mas sempre pelo de Deus, o qual d'Ela tomou posse, de tal modo, que passou a ser o seu próprio espírito. É por isso que Santo Ambrósio diz:
Que a alma de Maria esteja em cada um para glorificar o Senhor;
que o espírito de Maria esteja em cada um para se alegrar em Deus”.
- Como é feliz uma alma quando - a exemplo de um bom irmão jesuíta, chamado Rodriguez e falecido em odor de santidade - ela é toda governada e possuída pelo espírito de Maria, que é um espírito suave e forte, zeloso e prudente, humilde, corajoso, puro e fecundo!

§259. A fim de que uma alma se deixe conduzir por este espírito de Maria é preciso:
1º. Renunciar ao seu próprio espírito, às suas próprias luzes e vontades antes de fazer qualquer coisa, por exemplo, antes de fazer oração, de celebrar ou assistir à Santa Missa, antes de comungar etc. Porque as trevas do nosso espírito próprio e a malícia da nossa vontade e obras poriam obstáculo ao santo espírito de Maria, se as seguíssemos, embora nos parecessem boas.
2º. Entregar-se ao espírito de Maria para ser movida e conduzida do modo que Ela quiser. Temos de nos pôr e nos abandonar nas suas mãos virginais, como um instrumento nas mãos do artífice, como uma cítara nas mãos dum bom músico.
- É preciso perder-se e entregar-se a Ela, como uma pedra que se atira ao mar, o que se faz tão simplesmente, num instante, por um olhar do espírito, um pequeno movimento da vontade, ou verbalmente, dizendo por exemplo:
 “Renuncio a mim mesmo e dou-me a Vós, ó minha querida mãe!”
- E ainda que não se experimente qualquer doçura sensível neste ato de união, ele não deixa de ser verdadeiro, assim como se alguém dissesse, o que Deus não permita: “Dou-me ao demônio”; se o dissesse com sinceridade, embora sem qualquer mudança sensível, não seria menos realmente do demônio.
3º. Renovar este mesmo ato de oferecimento e de união, de tempos a tempos, durante a ação ou depois dela. Quanto mais o repetir tanto mais depressa a alma se santificará e mais depressa chegará à união com Jesus Cristo, pois esta segue-se sempre à união com Maria, visto o espírito de Maria ser o de Jesus.

Fazer tudo com Maria
§260. É necessário fazer todas as ações com Maria.
- Para isso devemos pôr os olhos n'Ela, em todas as nossas ações, como no modelo acabado de toda a virtude e perfeição. É o modelo formado pelo Espírito Santo numa simples criatura, para nós o imitarmos, na medida das nossas limitadas forças. É preciso, portanto, que consideremos, em cada ação, o modo com o qual Maria a fez ou faria se estivesse no nosso lugar.
- Para isso devemos examinar e meditar as grandes virtudes que Ela praticou durante a vida, particularmente:
1º. A sua Fé viva, pela qual acreditou, sem hesitar, na palavra do anjo. Acreditou fielmente, constantemente, até o pé da Cruz, no Calvário;
2º. A sua Humildade profunda, que a fez esconder-se, calar-se, submeter-se a tudo e pôr-se no último lugar;
3º. A sua Pureza toda divina, que não teve nem jamais terá igual sob o Céu. Enfim, todas as suas demais virtudes (§108).
- Lembremo-nos, torno a repetir, que Maria é a grande e a única Fôrma de Deus (§218-221), própria para formar imagens de Deus, facilmente e em pouco tempo. Uma alma que achou deveras esta Fôrma e n'Ela se perdeu, em breve se transformará em Jesus Cristo, que este molde representa ao natural.

Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Maria, 5ª verdade de devoção

É-nos muito difícil conservar a Graça e os Tesouros recebidos de Deus
§87-89. Quinta Verdade. É muito difícil, atendendo à nossa fraqueza e fragilidade, conservar em nós as graças e os tesouros recebidos de Deus:
1º. Porque temos este tesouro, mais valioso que o Céu e a Terra, em vasos frágeis (2 Cor 4, 7); num corpo corruptível, numa alma fraca e inconstante, que por um nada se perturba e abate.
2º. Porque os demônios, que são ladrões muito finos, querem apanhar-nos de improviso, para nos roubar e despojar.
- Para isso espreitam noite e dia o momento favorável. Rondam incessantemente, prontos para nos devorar e nos arrebatar num só momento, por um único pecado, tudo o que ganhamos em graças e méritos durante muitos anos. A sua malícia, a sua experiência, as suas astúcias e o seu número devem-nos fazer temer imensamente esta infelicidade.
- Já outras pessoas, mais cheias de graça, mais ricas de virtudes, mais fundadas na experiência e elevadas em santidade, foram surpreendidas, roubadas e lamentavelmente despojadas.
Ah! Quantos cedros do Líbano, quantas estrelas do firmamento não têm-se visto cair miseravelmente e, em pouco tempo, perder toda a sua elevação e claridade!
- Donde proveio esta estranha mudança? O que faltou não foi a graça, que não falta a ninguém, foi a humildade. Julgaram-se mais fortes e mais capazes do que eram; julgaram que podiam guardar os seus tesouros. Fiaram-se e apoiaram-se em si mesmos. Acharam a sua casa bastante segura e os seus cofres bastante fortes para guardar o precioso tesouro da graça. Foi por causa desta confiança não apercebida que tinham em si (embora lhes parecesse que se apoiavam unicamente na graça de Deus) que o Senhor, infinitamente justo, permitiu que fossem roubados e abandonados a si mesmos.
Ah! Se tivessem conhecido a Admirável Devoção que vou expor, teriam confiado o seu tesouro a uma Virgem poderosa e fiel, que o teria guardado como seu, considerando isto como um dever de justiça.

3º. É difícil perseverar na justiça, por causa da estranha corrupção do mundo. Ele está, presentemente, tão corrompido, que se torna quase inevitável serem os corações religiosos manchados, senão pela sua lama, ao menos pela poeira. Assim, é quase um milagre conservar-se alguém firme no meio desta torrente impetuosa sem ser arrastado; andar neste mar tormentoso sem ser submergido ou pilhado pelos piratas e corsários; respirar este ar empestado sem lhe sentir as más consequências.
- É a Virgem, a única sempre fiel, sobre a qual a serpente jamais teve poder, quem faz este milagre a favor daqueles e daquelas que a servem da melhor maneira.
Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort