sexta-feira, 30 de maio de 2014

Nas tentações, recorrer a Deus

Recorrer a Deus
            Oxalá todos os homens recorressem a Deus, quando são tentados a ofendê-lo; certamente nenhum o ofenderia. Caem os coitados porque, impelidos pelos seus maus instintos, preferem perder o supremo bem, que é Deus, só para não perderem uns breves prazeres.
            A experiência mostra de sobra que quem recorre a Deus nas tentações, não cai; quem não recorre, cai, especialmente nas tentações impuras. Salomão bem sabia de usa impossibilidade de ser casto, se Deus não o ajudasse. Por isso recorria a Deus nas tentações: “Consciente de que não posso ser continente, a não ser por Dom de Deus, voltei-me para o Senhor e o invoquei do fundo do coração” Sabedoria 8, 21.

            Nessas tentações impuras –e o mesmo acontece com as tentações contra a fé- não é boa tática a gente se pôr a lutar com elas frente a frente, cara a cara. Quando elas começam, é preciso procurar afastá-las indiretamente, fazendo um ato de amor a Deus ou um ato de arrependimento dos pecados; ou então procurar uma ocupação diferente que nos distraia. Logo que percebemos qualquer pensamento mau, é preciso procurar livrar-se dele. Fechar-lhe, por assim dizer, a porta na cara e negar-lhe a entrada na alma sem perguntar-lhe o que diz ou o que pretende. Essas sugestões más devem ser apagadas logo como se faz com uma faísca que de repente salta do fogo sobre nós.

A tentação começa nos sentidos
            Se a tentação impura já entrou na alma e mostrou o que desejava, provocando os primeiros movimentos nos sentidos, deve-se fazer o que aconselha São Jerônimo: “Logo que sentimos os movimentos da carne, comecemos a gritar: Senhor: sede o meu auxilio”. Invoquemos os santíssimos nomes de Jesus e Maria que têm uma força particular para dissipar essa espécie de tentações.
            Diz São Francisco de Sales que as crianças, vendo o lobo correm logo para os braços do pai ou da mãe, pois ali se sentem seguras. Assim devemos fazer: recorrer imediatamente a Jesus e a Maria. 
Eu digo: ‘recorrer imediatamente’, sem dar atenção a tentação nem discutir com ela.

Quais os meios que devemos usar para vencer as tentações
            Se mesmo assim a tentação continua a nos molestar, cuidemos em não nos inquietar e não nos irritar contra ela. De tal inquietação o demônio poderia aproveitar-se para nos fazer cair.
            Devemos nos conformar com humildade a vontade de Deus que permite a tentação.
            Devemos rezar: “Senhor, mereço ser atormentado por esses pensamentos, como castigo pelas ofensas que já vos fiz. Vós me socorrereis e me livrareis deles”.
            Por isso, se a tentação continua a perseguir-nos, continuemos a invocar os nomes de Jesus e Maria. Enquanto a tentação persiste nos atormentando, convém renovar o propósito feito a Deus de antes sofrer todas as dores e morrer do que ofendê-lo; ao mesmo tempo não se deve deixar de lhe pedir ajuda. Se a tentação é tão forte que nos vemos em grande perigo de consentir, é preciso redobrar o fervor na oração, recorrer ao Santíssimo Sacramento, ajoelhar-se diante de um crucifixo ou imagem de Nossa Senhora e rezar com ardor, gemer e chorar pedindo ajuda.
            É verdade que Deus está pronto a ouvir a quem o invoca, sendo ele e não o nosso empenho que nos dará forças para resistir. Contudo, as vezes o Senhor quer de nós esse esforço e depois ele supre a nossa fraqueza, dando-nos a vitória.

            É bom também, na hora da tentação, fazer o sinal da cruz. É bom manifestar a tentação ao diretor espiritual.
            Dizia São Felipe Neri que a tentação revelada já é vencida pela metade.
            É bom notar que é doutrina seguida comumente pelos teólogos, mesmo rigoristas, que as pessoas que levaram durante muito tempo uma vida devota, tementes a Deus, quando ficam em dúvida se consentiram em algum pecado grave, devem ficar tranquilas de que não perderam a graça de Deus.
            É moralmente impossível que a vontade, confirmada por muito tempo nos bons propósitos, mude num momento e consinta num pecado mortal, sem perceber claramente. A razão disso é que o pecado mortal é um monstro tão horrível, que não pode entrar numa alma que por longo tempo o detestou, sem se fazer claramente conhecido.
            Dizia Santa Tereza: “Ninguém se perde sem saber, ninguém é enganado sem querer ser enganado”.

Tentação consentida e tentação não consentida
            Para algumas pessoas de consciência delicada e virtuosa, mas tímidas e molestadas pelas tentações, especialmente contra a fé ou a castidade, será conveniente, as vezes, que o diretor espiritual lhes proíba revelar ou falar dessas tentações.
            Para falar delas, terão de refletir como vieram aqueles pensamentos, se houve prazer, complacência ou consentimento. Dessa forma, refletindo muito, esses maus pensamentos causam maior impressão e mais inquietação.
            Quando o confessor está moralmente certo de que a pessoa não consentiu nesses pensamentos, é melhor obriga-la a não falar delas. Assim fazia Santa Joana de Chantal. Tendo ela passado muitos anos agitada por grandes tentações, sabendo que não tinha consentido nelas, nunca se confessou disso, mas continuou seguindo a orientação de seu diretor espiritual. Ela diz: “Nunca tive conhecimento claro de ter consentido”. Dizendo isso, dá a entender que lhe restava algum escrúpulo por causa daquelas tentações, mas se tranquilizava com a obediência ao diretor que lhe proibia confessar tais dúvidas. No mais, falando de modo geral, é muito bom manifestar as tentações ao confessor.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

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