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sexta-feira, 21 de julho de 2017

Recipiente vazio


"Quero que sejas como um recipiente vazio que Eu Me encarregarei de encher.
Deixa Teu criador encarregar-se da sua criatura.
Quanto a ti, não guardes medida."
Jesus a Santa Josefa

terça-feira, 11 de julho de 2017

Chagas de Jesus

Olhe Minhas chagas: adore-as, beije-as.
- Não foram as almas que as fizeram, foi o Amor.
- Sabes que Me enterrou esta coroa? O Amor.
- Sabes que Me abriu o Coração? O Amor.
Jesus a Santa Josefa

sábado, 29 de abril de 2017

Jesus as Almas Consagradas


Apelo de Jesus as Almas consagradas
- Quero dirigir-Me agora as minhas Almas consagradas, a fim de que possam dar-Me a conhecer aos pecadores e ao mundo inteiro.
- Dirijo-me também as Almas comuns.
- Muitas dessas almas ainda não sabem aprofundar os Meus sentimentos.
- Tratam-Me como alguém de quem vivem afastadas, como alguém que conhecem pouco e em quem não depositam bastante confiança.
- Quero que reanime a sua fé e o seu amor, e vivam de confiança e de intimidade com Aquele a quem amam e que as ama.

- Numa família, em geral é o filho mais velho quem melhor conhece os sentimentos e os segredos de seu pai. É nele, com efeito, que o pai confia mais completamente, visto como os mais novos ainda não são capazes de se interessar pelos negócios sérios, nem ver mais do que a superfície das coisas. Por isso é ao mais velho que compete transmitir aos seus irmãos mais novos os desejos e as vontades do pai, quando este vem a morrer.

- Na Minha Igreja, Eu tenho filhos mais velhos: são almas que escolhi para Mim. Consagradas pelo Sacerdócio ou pelos Votos religiosos, são elas que vivem mais perto de Mim, que participam das Minhas graças de eleição e a quem Eu confio os Meus segredos, Meus desejos e Meus sofrimentos, também! São elas que Eu encarrego, por meio do Santo Ministério, de velar pelos meus filhinhos, seus irmãos, e, direta ou indiretamente, de os instruir, de os guiar e de lhes transmitir os Meus desejos.

- Se estas almas escolhidas Me conhecem bem, facilmente poderão tornar-Me conhecido, e se Me amam me farão amar.
- Mas, que hão elas de ensinar aos outros, se pouco Me conhecem?
- Pode amar-se muito Aquele que se conhece mal?
- Falar com verdadeira intimidade Aquele de quem vivemos afastados?
- Que temos pouca confiança?

- Eis precisamente o que quero recordar as Minhas Almas de eleição.
- Não lhes digo nada de novo, mas tem ela necessidade de reanimar a sua fé, o seu amor e a sua confiança.
- Quero que elas me tratem com maior intimidade, que Me procurem dentro de si mesmas, pois sabem que a alma em estado de graça é morada do Espírito Santo. E, ali devem ver-Me tal como sou, isto é, como Deus de amor.
- Tenham mais amor que temor, creiam que Eu as amo e nunca o esqueçam. Muitas com efeito, sabem perfeitamente que Eu as escolhi porque as amei. Mas quando as suas misérias, talvez mesmo as suas faltas, as confundem, então a tristeza as invade, porque pensam que o Meu Amor já não é o mesmo que foi antes.

- Essas almas não Me conhecem.
- Essas almas não compreendem o que o Meu Coração Divino é.
- São precisamente as suas misérias e as suas faltas que inclinam a Minha Bondade para elas.
- E, quando, reconhecendo a sua impotência e a sua fraqueza, se humilham e vem a Mim com toda a confiança, é então que Me glorificam muito mais do que antes de haverem caído.
- O mesmo acontece quando oram por si mesmas ou pelos outros:
- Se hesitam e duvidam de Mim, não honram o Meu Coração; mas quando esperam com certeza o que Me pedem, sabendo que não lhes posso recusar senão o que não convém ao bem estar de sua alma, então glorificam ao Meu coração.
- Quando o Centurião veio suplicar-Me a cura de seu servo, disse-Me com profunda humildade:
  • “Não sou digno de que entreis na minha morada...”
- Mas cheio de fé e de confiança, acrescentou:
  • “Todavia, Senhor, dizei uma só palavra e o meu servo será curado.”
- Este homem conhecia Meu coração.
- Sabia que não posso resistir a suplica duma alma que espera tudo de Mim.
- Este homem deu-Me grande glória, porque a humilhação juntou firme e inteira confiança.
- Sim, este homem conhecia Meu Coração.
- E, no entanto, Eu não Me tinha manifestado a ele como Me manifesto as minhas almas escolhidas.
- Pela confiança é que alcançarão copiosíssimas graças, não somente para si mesmas mas também para os outros.
- É o que Eu quero que compreendam a fundo, porque desejo que revelem o Meu Coração as pobres almas que não Me conhecem.

- Torno a repetir: o que estou dizendo agora nada é de novo. Mas assim como a chama tem necessidade de alimento para não se apagar, também as almas precisam de novo impulso que as mova a avançar e de novo calor que as reanime.

- Entre as almas que Me são consagradas, poucas são as que tem em Mim confiança verdadeira, porque poucas vivem em união intima comigo.
- Quero que saibam que amo as almas tais quais são.
- Sei que sua fragilidade as levará a cair mais de uma vez.
- Sei que em muitas ocasiões não cumprirão o que Me prometem.
- Mas a sua determinação Me glorifica, o ato de humildade que fizeram depois da queda, a confiança que em Mim depositam Me honram tanto que Meu coração derrama sobre elas torrentes de graças.

- Quero que todas as almas saibam quanto desejo, se reanimem e renovem nesta vida de união e intimidade.
- Não devem contentar-se com falar-Me só quando estão ao pé do Tabernáculo. Estou lá, é certo, mas também vivo nelas e apraz-Me viver em união com elas.
- É preciso que Me falem de tudo! Consultem-Me em tudo! Tudo Me peçam!
- Vivo nas almas para ser a sua vida, moro nas almas para ser sua força.
- Sim, repito, não esqueçam que Me agrada ficar unido a elas, lembrem-se que estou nelas. Ali as vejo, as ouço, as amo. Ali espero que correspondam ao Amor que lhes tenho.

- Há muitas almas que, todas as manhãs, fazem oração. Mas esta é mais uma fórmula do que uma entrevista de amor... Ouvem ou celebram Missa e recebem-Me na comunhão; mas saídas do Lugar Santo, não se deixam elas absorver pelas suas ocupações, a tal ponto que mal pensam em Me dirigir uma palavra no resto do dia?

- Estou nessa alma como num deserto, ela nada Me diz, nada Me pede... E quando tem necessidade de consolação, o mais das vezes vai pedi-la a uma criatura que tem de ir procurar, e não a Mim, Seu Criador, que estou e vivo nela!
- Não é isto falta de união, falta de vida interior ou, o que dá no mesmo, falta de amor?

- Quero também repetir as almas que Me estão consagradas, como Eu as escolhi de modo especial para que, vivendo em intima união comigo, Me consolem e ofereçam reparações por todos aqueles que Me ofendem.
- Quero recordar-lhes que devem estudar o Meu Coração, a fim de partilharem os seus sentimentos e realizarem os seus desejos, tanto quanto lhes for possível.

- Quando um homem trabalha no campo que lhe pertence, aplica-se a arrancar todas as ervas daninhas e não se poupa nem a trabalhos, nem a fadigas, até que consiga. Assim Eu quero que as minhas almas escolhidas, desde que conheçam os Meus desejos, trabalhem com zelo e ardor no seu cumprimento, não recuem diante de nenhum esforço, de nenhum sofrimento, para aumentar a Minha Glória e reparar as ofensas do mundo.

- Chamo-as todas: Meus Padres, Minhas Religiosas, Meus Religiosos, a viverem em intima união comigo.
- A estas almas pertence conhecer os Meus desejos e participar das Minhas alegrias e das Minhas tristezas.
  • A elas, cumpre trabalhar pelos Meus interesses, sem se pouparem a esforços nem a sofrimentos.
  • A elas, compete reparar, com as suas orações, trabalhos e penitências, as ofensas de tantas e tantas almas!
- Devem, sobretudo redobrar sua união comigo e fazer-Me companhia... e não Me deixar só! Ah! Muitas não compreendem isto e esquecem-se de que lhes compete fazer-Me companhia e consolar-Me!
- Devem, enfim, formar uma liga de Amor e, unindo-se todas no Meu Coração, implorar para as almas o conhecimento da Verdade, a luz e o perdão.
- E quando, cheias de dor, a vista das ofensas que recebo de todos os lados, elas, as minhas almas escolhidas, se oferecem para reparar e para trabalhar na Minha Obra, é necessário que todas elas tenham inteira confiança, porque Eu não poderei resistir as suas suplicas e as despacharei da maneira mais favorável.
- Apliquem-se, pois, todas a estudar o Meu Coração e aprofundar os Meus sentimentos. Esforcem-se por viver unidas comigo, por Me falar, e por Me consultar.

- Sejam as suas ações revestidas dos Meus Méritos e cobertas do Meu Sangue.
- Consagrem a sua vida a Salvação das almas e ao aumento da Minha Glória.
- Não se diminuam, considerando a si mesmas. Mas dilatem o coração, vendo-se revestidas do poder do Meu Sangue e dos Meus Méritos.
- Porque, se trabalharem sozinhas, nunca poderão fazer grande coisa.
Mas, se trabalharem Comigo, em Meu Nome e para Minha Glória, então serão poderosas.
- Reanimem as minhas almas consagradas o seu desejo de reparar, e peçam confiadamente que se erga sobre o mundo o Dia do Divino Rei, isto é, o Dia do Meu Reino Universal!
  • Não temam, esperem em Mim, confiem em Mim.
  • Devore-as o zelo e a caridade pelos pecadores!
  • Tenham compaixão deles, orem por eles e tratem-nos com mansidão!
- Narrem ao mundo inteiro a Minha Bondade, o Meu Amor e a Minha Misericórdia!
- Em seus trabalhos apostólicos, armem-se de oração, de penitência e sobretudo de confiança, não em seus próprios esforços, mas no Poder, na Bondade do Meu Coração que os acompanha!
  • “Em Vosso Nome, Senhor, farei isto e sei que serei poderoso”.
- Esta foi a oração dos meus Apóstolos, homens pobres e ignorantes, mas ricos e sábios de Riqueza e Sabedoria Divinas!
- Peço três coisas as minhas almas consagradas:
  • Reparação: quer dizer, vida de união com o Reparador Divino: Trabalhar por Ele, com Ele, nEle, em espírito de reparação, em estreita união com os Seus sentimentos e com os Seus Desejos.
  • Amor: quer dizer, intimidade com Aquele que É todo Amor e que se põe ao nível das suas criaturas para lhes pedir que não O deixem só e que Lhe deem amor.
  • Confiança: isto é, segurança
    • Naquele que é Bondade e Misericórdia,
    • Naquele com quem vivo dia e noite... que Me conhece e que eu conheço... que me ama e que eu amo,
    • Naquele que, chama de maneira especial suas almas escolhidas, a fim de que, vivendo com Ele e conhecendo Seu Coração, tudo esperem Dele.
- Josefa, por que Me amas?
- Senhor, porque sois Bom.
- Sim, bem dizes: Sou Bom!
- Para compreende-lo só falta uma coisa as almas: união e vida interior.
- Se minhas almas escolhidas vivessem mais unidas a Mim, haveriam de Me conhecer melhor.
- Senhor, -responde Josefa ingenuamente- é difícil... porque as vezes elas tem tanto que fazer para Vós!
- Sim, bem sei, e é por isso que, quando se afastam, procuro-as para as aproximar de Mim.
- Eis nosso trabalho do alto do céu:
  • Ensinar as almas a viverem unidas a Mim, não como se Eu estivesse longe delas, mas nelas, pois pela graça vivo dentro delas e durante o tempo da comunhão, minha Santa Humanidade, por assim dizer, nelas se encarna.
- Se as minhas Almas escolhidas assim vivessem unidas a Mim e Me conhecessem em verdade, que bem não poderiam fazer a tantas pobres almas que vivem longe de Mim e não Me conhecem.
- Quando as minhas Almas escolhidas se unirem estreitamente ao Meu Coração, compreenderão os Meus Sentimentos. Então, Me consolarão, repararão e, cheias de confiança em Minha Bondade, pedirão perdão e obterão graça para o mundo!

“Apelo ao Amor” A mensagem do Coração de Jesus ao Mundo e Sua Mensageira Irmã Josefa Menéndez da Sociedade do Sagrado Coração. 01 a 09.dezembro.1923

domingo, 1 de janeiro de 2017

Felicidade dos santos


Felicidade dos santos
- O homem justo, ao encerrar sua vida terrena no amor, já não poderá progredir na virtude.
 Para sempre continuará a amar no grau de caridade que atingiu ao chegar até mim.
- Também será julgado na proporção do amor.
- Continuamente ME DESEJA, continuamente me possui; sua aspirações não caem no vazio.
- Ao DESEJAR, será saciado; ao saciar-se, sentirá ainda fome; distanciando-se, assim, do fastio da saciedade e do sofrimento da fome.

- Os bem aventurados gozam da minha eterna visão. Cada um no seu grau, de acordo com a caridade em que vieram participar de tudo o que possuo.
- Por terem vivido no meu amor e no amor dos homens; por terem praticado a caridade em geral e em particular, qual fruto de um único amor desfrutam -na alegria e gozo- dos bens pessoais e comuns que mereceram.
- Colocados entre os anjos e santos, com eles se rejubilam na proporção do bem praticado na terra.
- Entre si congraçados na caridade, os bem aventurados de modo especial comunicam-se com aqueles que amaram no mundo. Realizam-no, naquele mesmo amor que os fez crescer na graça e nas virtudes. Na terra, ajudavam-se uns aos outros, a glorificar-me, a louvar-me em si mesmo e nos outros; tal amor continua na eternidade. Conservam-no, partilham-no profundamente entre si; com maior intensidade até, associando-se a felicidade geral.
- Não penses que a felicidade celeste seja apenas individual. Não! Ela é participada por todos os cidadãos da pátria, homens e anjos.
- Quando chega alguém a vida eterna, todos sentem sua felicidade, da mesma forma como ele participa do prazer de todos. Não no sentido que os bem aventurados progridam ou se enriqueçam, pois todos são perfeitos e não precisam de acréscimos.
- É uma felicidade, um prazer, um júbilo, uma alegria que se renova interiormente, ao tomarem eles conhecimento da riqueza espiritual do recém chegado. Todos compreendem que ele foi elevado da terra a plenitude da graça por minha misericórdia; naquele que chegou todos se alegram, gratos pelos dons por mim recebidos. O novo eleito, igualmente, sente-se feliz em mim e nos bem aventurados, neles contemplando a doçura do meu amor.
- Em seus anseios, os eleitos clamam continuamente diante de mim em favor do mundo inteiro.
- Suas vidas haviam terminado no amor fraterno; continuam no mesmo amor. Aliás, foi exatamente por tal caridade que passaram pela porta, que é Meu Filho Jesus Cristo.

- Os bem aventurados continuam no céu, eternamente, naquele mesmo amor com que encerraram a vida terrena.
- Conformam-se inteiramente a minha vontade, SÓ DESEJAM O QUE EU DESEJO. Chegando ao momento da morte em estado de graça, seu livre arbítrio fixa-se no amor e eles não pecam mais. Suas vontades identificam-se com a minha. Se um pai, uma mãe veem ou, em sentido contrário, se um filho vê os pais no inferno, não se perturbam. Até se alegram por ver tal pessoa punida, como se fosse inimigo seu.

- Os bem aventurados em nada se distanciam de mim. SEUS DESEJOS estão saciados.
- Anseiam em ver-me glorificado por vós, viandantes e peregrinos que sois em direção a morte.
- Aspirando por minha honra, querem vossa salvação e sempre rogam por vós.
- De minha parte, escuto seus pedidos naquilo em que vós, por maldade, não opondes resistência a minha bondade.

- Os bem aventurados DESEJAM recuperar seus corpos; toda via não sofrem por sua ausência. Até se alegram, na certeza de que tal aspiração será realizada.
- A ausência do corpo não lhes diminui o prazer, não é angustiante, não faz sofrer.
- Nem julgues que a satisfação de ter o corpo após a ressurreição lhes traga maior bem aventurança. Se isso fosse verdade, seria sinal de que a felicidade anterior era imperfeita enquanto não o recuperassem, e isto não pode ser.
- De fato, nenhuma perfeição lhes falta:
Não é o corpo que faz feliz a alma, mas o contrário.

- Quando esta recupera o corpo no dia do Juízo, participará ele da plenitude e da perfeição da alma. Naquele dia, esta se fixará para sempre em mim, e o corpo -em tal união- ficará imortal, sutil, leve.
- Deves saber que o corpo ressuscitado pode atravessar uma parede, que o fogo e a água não o ofendem. Tal propriedade lhe advém, não de uma virtude própria, mas por uma força que gratuitamente concedo a alma, que foi criada a minha imagem e semelhança num inefável ato de amor.

- Tua inteligência não dispõe da capacidade necessária para entender, nem teus ouvidos para escutar, a língua para narrar e o coração para sentir qual a felicidade dos santos.
- Que prazer sentem na minha visão, que satisfação ao recuperar o corpo glorificado! Até o Juízo final não o possuem, mas sem sofrimento; suas almas já são perfeitas e o corpo apenas virá a participar dessa plenitude.

- Estava Eu falando da perfeição que o corpo ressuscitado receberá da humanidade glorificada de Jesus, a qual vos dá a certeza da ressurreição! No seu corpo brilham as chagas, sempre vivas; conservam-se as cicatrizes a implorar continuamente perdão para vós a mim, Pai eterno.
- Os bem aventurados assemelhar-se-ão a Cristo na alegria e no prazer: os olhos dos santos serão como os do Ressuscitado, as mãos como suas mãos, todo o corpo igual ao seu. Unidos a mim, estarão unidos a Ele, que é uma só coisa comigo.

- Serão felizes vossos olhos ao ver o corpo ressuscitado do meu filho. Por que? Porque a vida dos santos, ao encerrar-se no amor, não muda mais; como não podem praticar um bem ulterior, gozam daquilo que trouxeram. Já não fazendo obras meritórias -somente nesta vida é possível merecer ou pecar, segundo o livre parecer da VONTADE- aguardam o Juízo final sem temor.
- Mas também com alegria. Desse modo, a face de Cristo não lhe será um rosto severo e irado. Morreram no meu amor e no amor do próximo.

- Quando Cristo vier julgar com majestade divina, não o verão com severidade; tal acontecerá com os que serão condenados. Estes verão o Ressuscitado com rosto severo e justo. Para os santos sua face mostrar-se-á amorosa e cheia de misericórdia.


O Diálogo-Santa Catarina de Sena, 14.4

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Desejo Santo



Desejo Santo de Santa Catarina
- Desejando conhecer e seguir mais virilmente a Verdade, aquela serva elevou a Deus quatro pedidos: por si mesma, pela Igreja, pelo mundo e por um caso particular.
- O ardor era grande, contínuo. E aumentou ainda mais, quando a Verdade Primeira lhe revelou as necessidades do mundo, mostrando-lhe sua confusão e pecados.
- Tudo isso lhe acendia a chama do DESEJO SANTO, num misto de tristeza pelos pecados e de alegria pela esperança de que Deus haveria de dar solução a tantos males. 1.3

A culpa é reparada pelo amor
- Filha, fiz-te ver que a culpa não é reparada neste mundo pelos sofrimentos, suportados unicamente como sofrimentos, mas sim pelos sofrimentos aceitos com amor, com DESEJO SANTO -da glória divina e salvação dos homens-. 2.2
- Então Deus Pai, deixando-se levar pelas lágrimas e reter pelos laços do DESEJO SANTO daquela serva, olhou misericordiamente para ela e queixou-se nestes termos: Filha muito amável, tuas lágrimas me coagem, porque estão unidas a mim e são derramadas por amor; prendem-me os teus sofrimentos íntimos. 4.1
- Há um remédio, capaz de aplacar minha ira. São os meus servidores, quando se esforçam por coagir-me ao perdão com suas lágrimas, por reter-me com os laços do amor. Com essa corrente tu me amarraste! Dei tais servidores a ti, porque desejava ser misericordioso para com o mundo. É por tal motivo que infundo neles o ardor e o DESEJO de glorificar-me, bem como de salvar os homens.
- Quero ser coagido pelas suas lágrimas, diminuir a violência da minha justiça... é assim que realizarei o teu DESEJO. 4.4

Glória de Deus e Salvação dos homens
- Impulsionada pelo DESEJO SANTO, afervorou-se mais ainda e na fé pôs-se a refletir sobre o amor de Deus. Ela compreendia experimentalmente quanto somos obrigados a DESEJAR e promover a Glória Divina e a Salvação da humanidade. 9

Felicidade dos santos
- O homem justo, ao encerrar sua vida terrena no amor, já não poderá progredir na virtude. Para sempre continuará a amar no grau de caridade que atingiu ao chegar até mim. Também será julgado na proporção do amor.
- Continuamente me DESEJA, continuamente me possui; suas aspirações não caem no vazio.
- Ao DESEJAR, será saciado; ao saciar-se, sentirá ainda fome; distanciando-se, assim, do fastio da saciedade e do sofrimento da fome.
- Os bem aventurados continuam no céu, eternamente, aquele mesmo amor com que encerraram a vida terrena. Conformam-se inteiramente a minha vontade, só DESEJAM o que Eu DESEJO. Chegando ao momento da morte em estado de graça, seu livre arbítrio fixa-se no amor e eles não pecam mais. Seus DESEJOS estão saciados. 14.4
- Sou um Deus imutável, livre da acepção de pessoas, unicamente atento ao DESEJO SANTO.
- A felicidade dos santos é possuir a vontade satisfeita em todas as suas aspirações. Ao DESEJAR-ME, possuem-me. Só DESEJAM o que Eu DESEJO.
- Separando-se do corpo, a vontade dos bem aventurados realiza-se: ao DESEJO de ver-me corresponde a visão, e com ela, a beatitude. Vendo, conhecem-me; conhecendo, amam-me; amando, saboreiam-me; saboreando realizam-se quanto ao DESEJO de me ver e conhecer.
- DESEJANDO, possuem; possuindo, DESEJAM.
- Como disse o sofrimento está distante do DESEJO e o fastio da saciedade. Como vês, meus servidores são felizes, especialmente na visão celeste. Ela satisfaz seus DESEJOS, sacia suas vontades.
- Neste sentido afirmei que a vida eterna consiste na posse das coisas que a vontade DESEJA, isto é, conhecer-me, ver-me. 14.9

Ilusão do pecado
- O demônio convida os homens para a água morta, a única que lhe pertence, cegando-os com prazeres e satisfações do mundo. Usa o anzol do prazer e fisga-os mediante a aparência de bem. Sabe ele que por outros caminhos nada conseguiria; sem o vislumbre de um bem ou satisfação, os homens não se deixam aprisionar.
- Quando o homem decide suportar as tentações, parece-lhe difícil a quem DESEJA seguir a estrada da Verdade. Há sempre luta entre a consciência de um lado e a sensualidade do outro.
- Mas quando a pessoa virilmente renega a si mesma e se decide dizendo: "Quero seguir Cristo crucificado", então ela quebra aqueles espinhos e descobre inestimável doçura. A doçura será maior ou menor conforme a boa disposição e o esforço pessoal. 14.8

Riquezas
- As almas DESEJOSAS de grande perfeição, desprezaram o ouro, afetiva e efetivamente; estes são os que seguem os conselhos evangélicos quanto ao DESEJO e quanto a prática, conforme o legado de Cristo.
- Outros, na posse de bens, seguem os conselhos evangélicos somente pelo DESEJO não na vida prática.
- Como os conselhos evangélicos estão ligados aos mandamentos, ninguém vive estes últimos se não segue os conselhos, senão efetivamente, pelo menos quanto ao DESEJO. Em outras palavras: o cristão que possui bens, deve fazê-lo na humildade, sem orgulho, como coisa emprestada, não própria.
- O afeto do coração deve estar em mim, não nas coisas externas; elas não pertencem aos homens, são dadas em empréstimo.
- Não tenho preferência por pessoas ou posições sociais; somente pelos DESEJOS do coração. 14.11

Remorso
- Quanta ilusão produz o remorso; como se martiriza quem DESEJA vingar-se! O homem DESEJOSO de vingança se corrói e morre antes mesmo de matar o inimigo. O primeiro morto é ele mesmo. Mata-se com o punhal do ódio. 14.12

Adversidades
- Venham de onde vierem, as adversidades são instrumentos meus que fazem meus servidores padecer no corpo; perseguidos pelo mundo, nada sofrem no espírito. Identificaram-se com a minha vontade e até se alegram em tolerar males por mim.
- Quanto aos pecadores sofrem externe e internamente. Sobretudo internamente! Seja pelo medo de perder quanto amam, seja por DESEJAR o que não conseguem adquirir. 14.13

Perseverança
- Quem não persevera, jamais realiza seus DESEJOS, levando a termo o que começou. 14.14


 O Diário | Santa Catarina de Sena

domingo, 11 de maio de 2014

Decisão em casal, testemunho

- Somos casados a 26 anos e por longos anos nossas ‘atitudes egoístas’ (Galatas 5, 19) estavam nos levando ao caos.
- Por inspiração do Espirito Santo, o Senhor nos agraciou com esse discernimento que renovou nosso Matrimônio e passamos a ter ‘atitudes de amor’ (Galatas 5, 22).
- As dificuldades e provações continuam, mas a forma de encarar os fatos faz a diferença (II Corintios 4, 7-9; 16-18).
- Assim como nos foi útil, desejamos e rezamos para que o seja também a vós.
- No final, dê sua opinião e compartilhe suas experiências para somarmos aqui a melhor forma de administrar as diferenças.

- Antes de tomar alguma decisão pensar no projeto, considerando:
  • Margens de erro;
  • Hipóteses, idéias e possibilidades a favor e contra;
  • Leis morais, éticas e religiosas (ler Provérbios 3,5)
  • Não sejam ingênuos achando que é o melhor e único negócio do mundo, negócios bons sempre vão existir.
  • Rezar juntos;
  • Participar juntos, ao menos em uma Missa antes de cada decisão.

- Não tomar decisão:
  • Na emoção ou nervosismo;
  • No mesmo dia;
  • Antes de compartilhar com outra pessoa que já viveu os benefícios do projeto em questão;
  • Antes de compartilhar com seu cônjuge, pois o Matrimônio prove graças especiais quando se há comunhão.

- Não ter vergonha de dizer não, pois as consequências da decisão recairá sobre você. 
(ler Eclesiástico 4, 20-22)
- Não ter escrúpulo de voltar atrás.

- Se mesmo assim tomaram a decisão errada, assumam juntos, as perdas, os riscos, custos...

- Comecem juntos, de novo, um novo projeto.

-  Aproveitem a experiência vivida.

“O Senhor há de prover as nossas necessidades.
Ao invés de perder tempo pelas ruas, em pedir e incomodar os benfeitores,
empregue tempo em encomendar o caso àquele que move os corações”
São João da cruz, 80 + Eclesiástico 10, 4-5

“Buscai, em primeiro lugar,
o Reino de Deus e a sua justiça,
e todas essas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal."                                                                                   Mateus 6,33-34


José Paulo Sanitá e Sandra Sanitá

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Esperança faz crescer o amor (Santo Afonso)

Quem ama a Jesus Cristo, dele tudo espera
1. A esperança faz crescer a caridade, e a caridade faz crescer a esperança.
- S. Tomás: “No momento em que esperamos algum bem de alguma pessoa, começamos a amá-la”. Por isso, o Senhor não quer que ponhamos nossa confiança nas criaturas: “Não coloqueis nos poderosos a vossa confiança.” Ele amaldiçoa quem confia no homem, dizendo: “Maldito o homem que confia no homem”. Deus não quer que confiemos nas criaturas, porque não quer que coloquemos nelas o nosso amor.
- S.Vicente Paulo: “Cuidemos em não nos apoiarmos muito na proteção dos homens, porque o Senhor, quando nos vê apoiados neles, retira-se de nós. Ao contrário, quanto mais confiamos em Deus tanto mais progredimos no seu amor”.
            “Correrei pelo caminho de vossos mandamentos, porque sois vós que dilatais o meu coração.” Corre no caminho da perfeição quem possui o coração dilatado na confiança em Deus. Digo mais, não só corre, mas voa, porque tendo depositado toda sua esperança no Senhor, deixará de ser fraco como era. Tornar-se-á forte com a força de Deus comunicada a todos os que confiam em Deus: “Aqueles que esperam no Senhor renovam suas forças; terão asas como de águia. Correrão sem se cansar, irão para frente sem se fatigar” Isaias40,31. A águia, quanto mais se levanta em seu voo, mais se avizinha do sol; do mesmo modo a alma, fortalecida com a confiança, desprende-se da terra e mais se une a Deus pelo amor.

            2. Assim como a esperança ajuda a aumentar o amor de Deus, assim também o amor aumenta a esperança, porque a caridade nos faz filhos adotivos de Deus. Na ordem natural somos obras de suas mãos. Na ordem sobrenatural, pelos merecimentos de Jesus Cristo, somos filhos de Deus e participantes da natureza divina (IIPedro 1,4). E se a caridade nos faz filhos de Deus, como consequência nos faz também herdeiros do céu: “Se somos filhos, também somos herdeiros” Rm 8,17. Ora, aos filhos compete habitar a casa do pai. Aos herdeiros pertence a herança, e por isso a caridade faz crescer a esperança do paraíso. Dessa forma, quem ama a Deus não cessa de continuamente exclamar: Venha a nós o vosso reino!

Esperança no amor
            3. Deus ama a quem o ama, como se diz na sagrada Escritura: “Eu amo aqueles que me amam” Pr 8,17. Ele enche de graças a quem o procura com amor: “O Senhor é bondoso com a alma que o procura” Lm 3,25. Por isso, quem mais ama a Deus, mais espera na sua bondade. Dessa confiança nasce nos santos aquela inalterável tranquilidade, que os fez sempre alegres e sossegados, até mesmo no meio das contrariedades. Amando eles a Jesus Cristo e sabendo quanto ele é generoso com suas graças para com aqueles que o ama, só nele confiam e nele encontram tranquilidade. É essa a razão porque a alma esposa, descrita no Cântico dos Cânticos, transbordava de felicidade. Não amando senão a Deus, descansava somente nele. Sabendo o quanto é agradecido com quem o ama, estava toda contente. Por isso dela se dizia: “Quem é esta que sobe do deserto, mergulhada em felicidade, apoiando-se em seu amado?” Ct 8,5. É mais do que certo o que diz a Escritura: “Todos os bens me vieram junto com ela”Sb 7,11.; junto com a caridade nos vem todos os bens.

            4. O objeto primário da esperança cristã é Deus, de cuja presença gozam as almas do céu. Mas não pensemos que a esperança de gozar da presença de Deus no céu seja um obstáculo para a caridade, porque a esperança está inseparavelmente unida a caridade. No céu a caridade se aperfeiçoa e encontra o seu complemento.
             A caridade, como diz a Sagrada Escritura, é aquele tesouro infinito que nos faz amigos de Deus: “Ela é para os homens um tesouro inesgotável, e os que a adquiriram, tornaram-se amigos de Deus” Sb 7,14.
- S.Tomás: “A amizade tem por fundamento a comunicação de bens. Sendo a amizade um amor recíproco entre os amigos, é necessário que eles reciprocamente façam bem uns aos outros, conforme o que cabe a cada um. “Se não houvesse comunicação de bens, não haveria amizade”. Por isso Jesus disse aos seus discípulos: “Eu vos chamei amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” Jo 15,15. Já que Jesus os tinha feito seus amigos, devia comunicar-lhes todos os seus segredos.

Comunhão com Deus
            5. S.Francisco de Sales: “Se por impossível, existisse uma bondade infinita, isto é, um Deus a quem não pertencêssemos de modo nenhum e com quem não pudéssemos ter nenhuma união nem comunicação, com certeza nós a valorizaríamos mais do que a nós mesmos. Poderíamos desejar amá-la, mas não a amaríamos porque o amor exige união. A caridade é uma amizade, e a amizade tem por fundamento a comunicação e por finalidade a união.”
- S.Tomás: “A caridade não exclui o desejo da recompensa que Deus nos prepara no céu, mas até nos faz considerá-la como principal objetivo de nosso amor que é Deus, felicidade dos bem-aventurados. É próprio da amizade que os amigos desfrutem mutuamente uns dos outros.”

            6. Esta é aquela reciproca comunicação de dons de que fala o Cântico dos Cânticos: “Aquele que eu amo existe para mim e eu para ele” Ct2,16. A alma no céu se dá toda a Deus e Deus se dá todo a alma na medida em que ela é capaz e segundo seus merecimentos.
            Conhecendo seu nada diante da infinita amabilidade de Deus e vendo que Deus merece ser amado infinitamente mais por ela do que ela por Deus, a alma deseja mais o agrado de Deus do que a sua própria satisfação. Por isso, mais se alegra em dar-se a Deus para lhe agradar, do que Deus dar-se todo a ela; e tanto se alegra que Deus se doe a ela, quanto isso a inflama a dar-se toda a Deus com amor mais intenso. Goza já da glória comunicada por Deus, mas goza da glória para atribui-la ao mesmo Deus e aumentar-lhe a glória o quanto pode.
            No céu, a alma, vendo a Deus, não pode deixar de amá-lo com todas as suas forças. Também Deus não pode odiar quem o ama. É um absurdo, mas se Deus pudesse odiar alguém que o ama e se alguém no céu pudesse viver sem o amar, esse alguém preferiria sofrer todos os tormentos do inferno, contanto que lhe fosse dado amar a Deus, do que viver sem o amar, mesmo gozando de todas as outras felicidades do Paraíso. Sim, porque conhecendo que Deus merece ser amado infinitamente mais do que ela, a alma deseja muito mais amar do que ser amada por ele.

Oração
             Meu Deus, meu Criador e Redentor, vós me criastes  me remistes para me levardes ao Paraíso. Ofendendo-vos tantas vezes, renunciei abertamente ao céu e me contentei de me ver condenado.
            Bendita seja sempre a vossa infinita misericórdia que, tendo-me perdoado –como espero-, me livrou tantas vezes do inferno!
            Meu Jesus, quem me dera nunca vos ter ofendido e vos ter sempre amado.
            Consola-me que ainda tenho tempo de vos amar.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XV– Santo Afonso Maria de Ligório

domingo, 4 de maio de 2014

Amor a pobreza (Santo Afonso)

Voto de pobreza
13. O amor a pobreza, devem tê-lo especialmente os religiosos que fizeram o voto de pobreza.
- S.Bernardo: “Muitos religiosos querem ser pobres, com a condição de que não lhes falte nada”
- S.Francisco Sales: “Estes tais querem a honra da pobreza, mas rejeitam-lhe os incômodos”. Para esses religiosos fica bem o que dizia uma monja Clarissa: “A religiosa que se gloria de ser pobre e se lamenta quando lhe falta alguma coisa, será ridicularizada pelos anjos e pelos homens”.
            Diferente é o modo de agir dos bons religiosos: amam a sua pobreza mais do que todas as riquezas.
            A filha do imperador Maximiano II, monja de Santa Clara, compareceu na presença de seu irmão, o arquiduque Alberto, com o hábito remendado. Ele estranhou isso como inconveniente a nobreza de sua irmã; mas ela lhe disse: “Meu irmão, estou mais contente com estas roupas pobres do que os reis com suas purpuras”.
- S.Maria Madalena Pazzi: “Felizes os religiosos que, desapegados de tudo por meio da pobreza, podem dizer: Senhor, sois a parte de minha herança (Sl15,5). Senhor, sois a minha herança, todo o meu bem”
            Certa vez, Santa Tereza, tendo recebido muitas esmolas de um negociante, mandou-lhe dizer que seu nome estava escrito no livro da vida e, como sinal disto, as coisas deste mundo lhe seriam tiradas. De fato, o negociante faliu e ficou pobre até a morte.”
- S.Luis Gonsaga: “Não há nenhum sinal mais certo de que alguém seja do número dos escolhidos, do que vê-lo temente a Deus, e ao mesmo tempo, ser provado com tribulações e desolações neste mundo.”

            14.De algum modo, ainda faz parte da pobreza o ser privado dos parentes e amigos pela morte. É muito importante praticar a conformidade nesta ocasião.
            Perdendo um parente, um amigo, há pessoas que perdem também a paz. Fecham-se num quarto a chorar e, dominados pela tristeza, tornam-se impacientes e insuportáveis. Eu queria saber: essas pessoas que se angustiam assim e derramam tantas lágrimas, a quem estão agradando?
- A Deus? A Deus não, porque ele quer que nos resignemos com a sua vontade.
- Agradam a alma do defunto? Também não, porque se essa se perdeu, ela odeia a vós e as vossas lágrimas.
- Se ela já está no céu, deseja que agradeçais a Deus por ela.
- Se está no purgatório, deseja que a socorrais com as vossas orações e que vos conformeis com a vontade de Deus; deseja que vos santifiqueis para, um dia, vos ter como companheiros no céu.
- De que serve, então, chorar tanto?
- S.José Caracciolo, teatino, tendo-lhe morrido um irmão e estando certo dia com os parentes, que não paravam de chorar, chamou-lhes a atenção:
“Chega! Reservemos estas lágrimas para uma finalidade melhor, para chorar a morte de jesus Cristo que foi para nós Pai, irmão e morreu por nosso amor”
- Em tais ocasiões é preciso fazer como Jó ao receber a noticia da morte dos seus filhos, conformado inteiramente com a vontade de Deus: “O Senhor deu, o Senhor tirou; como foi do seu agrado, assim aconteceu; bendito seja o nome do Senhor!” o que aconteceu foi da vontade de Deus, e por isso, também do meu agrado; que ele seja sempre louvado por mim!

Os desprezos
            15.Devemos também praticar a paciência e provar nosso amor a Deus suportando em paz os desprezos que recebemos. Quando uma pessoa se dá para Deus, ele mesmo faz ou permite que seja desprezada e perseguida pelos homens.
            Conta-se do Beato Henrique Suso que, certa vez, tomou consciência dos sofrimentos impostos pelos homens: “Henrique, até agora tens praticado a mortificação a teu modo. De hoje em diante, serás mortificado como os outros quiserem”. No dia seguinte, vendo um cachorro rasgando um farrapo, pensou consigo: “Assim serás tu, dilacerado pela boca dos homens”. Desceu do lugar onde estava, guardou um pedaço daquele pano para lembrar-se dele no meio dos sofrimentos.

            16.Os desprezos e as injurias são desejadas e procuradas pelos santos.
- S.Felipe Neri, como hóspede, sofreu muitos maus tratos durante 30-anos; apesar disso, não queria mudar-se e passar para uma nova casa que ele mesmo fundara.
- S.João Cruz, precisando mudar de ares por causa de uma doença, não quis aceitar uma casa cômoda, onde havia um superior que gostava muito dele. Escolheu, porém, uma casa pobre, dirigida por um superior que não lhe tinha simpatia e que o perseguiu e o maltratou durante muito tempo e de várias maneiras.
- S.Tereza: “Quem procura a perfeição deve evitar de dizer: fizeram-me isso sem razão. Se queres carregar a cruz, mas somente aquela que se apoia na razão, a santidade não é para ti”
- É conhecida a resposta que Jesus crucificado deu a São Pedro, mártir, quando se lastimava de estar encarcerado, sem ter feito mal algum: “E eu que mal fiz para estar pregado nesta cruz sofrendo e morrendo pelos homens”
- Os santos consolavam-se, quando injuriados, com as ofensas que Jesus Cristo padeceu por nós.
- S.Eleazar, perguntado por sua esposa, como podia sofrer com tanta paciência as numerosas injúrias recebidas até mesmo de seus empregados, respondeu: “Penso em Jesus desprezado. Vejo que as afrontas feitas a mim não são nada, em comparação com as que ele sofreu por mim. Assim Deus me dá força para suportar tudo em paz.”
            As injúrias, a pobreza, os sofrimentos e todas as tribulações que sobrevêm a uma pessoa que não ama a Deus, tornam-se ocasião para mais se afastarem dele. Mas, sobrevindo a quem ama a Deus, tornam-se motivo de maior união com ele e de maior amor:
“As torrentes não puderam extinguir o amor,
nem os rios o puderam submergir” Ct 8,7
- As tribulações, por muitas e graves que sejam, não só não extinguem, mas sim, aumentam as chamas da caridade num coração que ama somente a Deus.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIV– Santo Afonso Maria de Ligório

terça-feira, 15 de abril de 2014

Ame a Deus e faze o que quiseres (Santo Afonso)

Quem ama a Jesus Cristo só quer o que Ele quer
1. A caridade anda sempre unida com a verdade. Por isso, a caridade, reconhecendo a Deus como único e verdadeiro bem, detesta o mal por ser oposto a vontade divina e não se alegra com nada que não seja a vontade de Deus. Quem ama a Deus, pouco se preocupa do que digam, e só procura fazer o que agrada a Deus. “Quem se esforça por satisfazer a verdade realmente está bem com Deus; e não se importa, qualquer que seja o modo, em que seja tratado ou julgado pelos homens”.

2. Já temos dito muitas vezes que toda a santidade e perfeição de uma alma consiste em renunciar a si mesma e em seguir a vontade de Deus. Mas aqui convém falar disso mais expressamente. Se queremos ser santos, todo o nosso esforço deve ser de nunca seguir nossa vontade, mas sempre a vontade de Deus; o resumo de todos os preceitos e conselhos divinos se reduz em fazer e sofrer aquilo que ele quer e como ele quer. Peçamos, portanto, ao Senhor que nos dê a santa liberdade de espírito. A liberdade de espírito faz-nos abraçar todas as coisas que agradam a Jesus Cristo, apesar de qualquer repugnância do amor próprio ou do respeito humano. O amor a Jesus Cristo coloca aqueles que o têm, numa total indiferença. Para eles tudo é igual, o doce e o amargo: não querem nada do que lhes agrada e querem tudo o que agrada a Deus. Com a mesma paz se ocupam nas coisas grandes e nas pequenas, nas agradáveis e nas desagradáveis. Basta-lhes agradarem a Deus.

3. S.Agostinho: “Ame a Deus e faze o que quiseres” Quem ama a Deus de verdade não procura senão agradar a Deus.
- S.Tereza: “Quem procura agradar a quem ama, anda contente com tudo que o agrada. Quando o amor é perfeito, tem a força de fazer a pessoa esquecer toda a vantagem própria e toda a satisfação. Faz tudo para dirigir os seus pensamentos a fim de agradar aquele que ama. Procura honrá-lo como pode, por si mesmo e através dos outros. Ah! Meu Senhor! Todo o mal nos vem de não termos os olhos fixos em vós! Se não pensássemos senão em caminhar, em breve chegaríamos ao fim. Mas caímos e tropeçamos mil vezes e, ainda mais, erramos o caminho porque não olhamos com atenção a verdadeira estrada” Eis contudo, qual deve ser a única finalidade de todos os nossos pensamentos, ações, desejos e orações: agradar a Deus. Nosso caminho para a santidade deve ser esse, andar junto com a vontade de Deus.

Senhor, o que desejais?
            4. Deus quer que o amemos de todo o coração: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o coração”. Ama a Jesus Cristo de todo o coração quem lhe diz de verdade, como disse São Paulo: “Senhor, que quereis que eu faça?” Atos 9,6 Senhor, fazei-me conhecer o que desejais de mim, pois eu quero fazer tudo. Estejamos certos de que, querendo o que Deus quer, estamos querendo nosso maior bem. É coisa certa, Deus não quer senão o que é melhor para nós.
- S.Vicente Paulo: “A conformidade com a vontade divina é o tesouro do cristão e o remédio para todos os seus males, porque contém a renuncia de si mesmo, a união com Deus e todas as virtudes”. Eis, em resumo, onde está toda santidade: “Senhor, que quereis que eu faça?” Jesus mesmo nos promete: “Não se perderá um só cabelo de vossa cabeça”, o que quer dizer, o Senhor recompensa todo o pensamento que tenhamos de lhe agradar, toda a tribulação que aceitemos com boa intenção, conformando-nos com sua santa vontade.
- S.Tereza: “O Senhor nunca nos manda um sofrimento sem nos recompensar com alguma graça, desde que o aceitemos com resignação”

            5. Nossa conformidade com a Vontade divina deve ser total, sem condição, constante e irrevogável. Nisso consiste o máximo da perfeição, e repito, a isto devem tender todas as nossas ações, todos os nossos desejos, todas as nossas preces. Algumas pessoas piedosas, lendo os êxtases e arroubos de Santa Tereza, São Felipe e outros santos, desejariam ter essas experiências espirituais. Esses desejos devem ser rejeitados porque são contrários a humildade. Se queremos ser santos, procuremos a verdadeira união com Deus que é unir totalmente nossa vontade a vontade Dele.
- S.Tereza: “Enganam-se aqueles que acreditam que a união com Deus consiste em êxtases, arroubos espirituais e gozo de Deus. Ela não consiste em outra coisa, senão em sujeitar nossa vontade a vontade de Deus. Essa sujeição é perfeita quando nossa vontade está desprendida de tudo, e unicamente unida a vontade de Deus. Essa é a verdadeira e indispensável união que sempre tenho desejado e continuamente peço ao Senhor. Oh! Quantos de nós dizem isto; e realmente parece que não queremos, senão isso. Mas, pobres de nós! Como são poucos os que chegam a isso!” É verdade, muitas vezes dizemos: “Senhor, dou-vos toda a minha vontade, não quero senão o que vós quereis”. Mas, quando depois vêm as contrariedades, não sabemos aceitar a vontade divina. Lastimamos a má sorte que temos neste mundo, dizemos que todas as desgraças caem sobre nós, e que levamos uma vida infeliz.

Tudo em Deus
            6. Se estivermos unidos a vontade divina em todas as tribulações, é certo, vamos nos tornar santos e seremos os mais felizes do mundo. Por isso todo o nosso esforço deve ser este: manter nossa vontade unida a vontade de Deus em todas as coisas que acontecem, tanto agradáveis como desagradáveis. “Não te deixes mover por todos os ventos”. Alguns fazem como os bandeirolas que se voltam para onde sopra o vento. Se o vento é favorável, como desejam, andam alegres e tranquilos. Mas se o vento é contrario e as coisas não acontecem como querem, andam todos tristes e impacientes. É por isso que não se santificam e levam uma vida infeliz, já que neste mundo acontecem muito mais coisas desfavoráveis do que favoráveis.

- S.Doroteu diz que o receber das mãos de Deus todas as coisas, como quer que aconteçam, é um grande meio para conservarmos a paz contínua e tranquilidade do coração. Conta o santo que os antigos monges do deserto não ficavam irados e melancólicos, porque tudo o que lhes acontecia eles aceitavam alegremente como das mãos de Deus. Feliz aquele que vive inteiramente unido e abandonado a vontade de Deus. Não fica orgulhoso com seus sucessos, nem fica desanimado com os fracassos, pois sabe que tudo vem da mesma mão de Deus. Só a vontade de Deus é a regra de seu desejo; por isso faz o que Deus quer e quer o que Deus faz. Não se preocupa em fazer muitas coisas, mas procura realizar perfeitamente aquilo que acha ser a vontade de Deus. Por isso coloca as menores obrigações de seu estado antes das ações mais grandiosas e gloriosas, porque percebe que nestas pode haver lugar para o amor próprio, enquanto que naquelas se encontra certamente a vontade de Deus.

            7. Portanto, seremos felizes, se recebermos de Deus todas as coisas em perfeita conformidade com a vontade divina, sem nos importarmos são conformes ou contrárias ao nosso gosto.
- S.Joana Chantal: “Quando chegaremos a saborear a doçura da vontade divina em tudo que nos acontece, não tendo em conta senão a vontade divina? É certo que, com igual amor e para nosso maior proveito, nos são dadas tanto as desgraças como as prosperidades. Quando nos abandonaremos inteiramente nos braços de nosso bondosíssimo Pai, confiando-lhe o cuidado de nossas pessoas e de nossos trabalhos, reservando para nós somente o desejo de agradar a Deus?

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIII– Santo Afonso Maria de Ligório

terça-feira, 8 de abril de 2014

Reta intenção (Santo Afonso)

O desprendimento
21. Quem deseja ser todo de Deus, deve desprender-se a estima mundana. Quantos se afastam de Deus e quantos até o perdem por causa desta maldita estima! Por exemplo, ouvindo falar de algum dos próprios defeitos, fazem tudo para se justificar e fazer acreditar que é falsidade e calunia o que dizem. Se praticam algum bem, o que não fazem para o tornar conhecido de todos?
- Desejariam que todo o mundo soubesse, para serem louvados.
- O modo de agir dos santos é bem diferente. Gostariam que todo o mundo conhecesse seus defeitos para tê-los como pobres pecadores, como eles mesmos se julgam. Se praticam alguma virtude, gostariam que só Deus soubesse pois só a ele desejam agradar. Por isso, eles amam tanto a vida escondida, lembrados do ensinamento de Jesus: “Quando das esmola, não saiba tua mão esquerda o que fez a direita... Quando fazes oração, entra no teu quarto, fecha a porta e reza a teu pai em segredo”

            22. É preciso, principalmente, desprendermo-nos de nós mesmos, isto é, de nossa própria vontade. Quem vence a si mesmo facilmente vencerá todas as dificuldades.
S.Francisco Xavier costumava das a todos o conselho: “Vence a ti mesmo”. Jesus mesmo disse: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo”
            Nisso consiste tudo o que precisamos fazer para sermos santos: renunciar a nós mesmos e não seguir nossa vontade própria, “Não te deixes levar por tuas más inclinações, e refreia os teus apetites”
S.Francisco Assis: a maior graça que uma pessoa pode receber de Deus é vencer a si mesma, renunciando a própria vontade.
S.Bernardo: se os homens fizessem guerra a vontade própria, ninguém se condenaria: “Desapareça a vontade própria e não haverá inferno. Grande mal é a vontade própria que faz com que tuas boas ações não sejam boas para ti”
- Assim seria se um penitente quisesse fazer alguma mortificação, jejuns, mas contra a orientação de seu diretor espiritual. Essa mortificação, realizada para seguir a própria vontade, torna-se um defeito. Infeliz daquele que vive escravo da própria vontade. Desejará muitas coisas e não poderá alcança-las: “Donde vem as lutas e questões entre vós? Não vêm elas de vossas paixões que combatem em vossos membros? Cobiçais e não recebeis: sois invejosos e ciumentos, e não conseguis o que desejais” Tg 4, 1-2
- A primeira guerra vem-nos das paixões sensuais. Fujamos das ocasiões, mortifiquemos nossos olhares, encomendemo-nos a Deus e a guerra acabará.
- A segunda guerra vem-nos da cobiça das riquezas. Esforcemo-nos por amar a pobreza, e a guerra terminará.
- A terceira guerra vem-nos da ambição pelas honras. Amemos a humildade, a vida oculta e a guerra acabará.
- A quarta guerra, a mais prejudicial, vem-nos da vontade própria. Sejamos resignados com a vontade de Deus em tudo que acontece e a guerra chegará ao seu fim.
S.Bernardo: quando se vê uma pessoa perturbada, a causa dessa perturbação não é outra coisa senão a incapacidade de satisfazer a própria vontade: “Donde vem as perturbações, senão do fato de seguirmos nossa vontade própria?”

União com Deus
            23. É preciso amar a Deus como ele quer, e não como nós queremos. Deus quer que o coração esteja despojado de tudo, para se unir a ele e se saciar de seu amor.
S.Tereza: “A oração de intimidade com Deus não é outra coisa senão um morrer quase total a todas as coisas do mundo pra alegrar-se só em Deus. Quanto mais nos esvaziamos das criaturas, quanto mais nos desprendemos delas por amor a Deus, tanto mais ele nos saciará dele mesmo e mais estaremos unidos com ele”
            Muitas pessoas desejam chegar a união com Deus, mas não querem as dificuldades que Deus lhe permite. Não querem as doenças que as afligem, nem a pobreza que sofrem, nem as ofensas que recebem. Sem a resignação, jamais conseguirão unir-se perfeitamente a Deus.
S.Catarina Gênova: Para chegar a união com Deus, são necessárias as dificuldades mandadas por Ele. Por meio delas, Ele espera destruir em nós as paixões internas e externas. Por isso, todos os desprezos, as doenças, a pobreza, as tentações, todas as dificuldades, tudo nos é necessário. Assim teremos de lutar e por meio das vitórias, nossas paixões se enfraquecerão a tal ponto, que não mais as sentiremos. Enquanto as dificuldades não nos parecerem amargas, mas suaves por amor a Deus, não chegaremos a união com Ele”

A Mortificação
            24. S.João Cruz diz que para a perfeita união com Deus ”é necessária a mortificação total dos nossos sentidos e paixões. Qualquer que seja a satisfação que se apresente aos nossos sentidos, se não é puramente para a glória de Deus, deve logo ser afastada por amor a Jesus Cristo. Quanto aos nossos desejos, esforcemo-nos por inclinarmo-nos para o pior, o mais desagradável, o mais pobre, sem desejar outra coisa do que sofrer e ser desprezado”
            Resumindo, quem ama verdadeiramente a Jesus Cristo, não se apega aos bens da terra e procura despojar-se de tudo para se conservar unido a Jesus Cristo. Para Jesus Cristo dirige todos os seus desejos, pensa sempre nele, procura agradar-lhe em todo o lugar, em todo o tempo, em toa a ocasião.
            Mas para se chegar a isso, é preciso esforçar-se continuamente para esvaziar o coração de todo o afeto que não se dirige para Deus.
Pergunto: O que deve fazer uma pessoa que se dá toda a Deus?
·                    Deve fugir de tudo que ofende a Deus e fazer tudo o que mais lhe agrada.
·                    Deve, depois, acolher sem exceção tudo o que vem de suas mãos, por mais duro e desagradável que seja.
·                    Deve, enfim, preferir em todas as coisas a vontade de Deus e não a nossa própria vontade.
Isso é que requer para ser todo de Deus.

Oração
            Meu Deus e meu todo. Apesar de minhas ingratidões e negligenciassem vos servir, continuas a me atrair ao vosso amor. Aqui estou, não quero resistir mais. Quero renunciar a tudo ara pertencer só a vós. Além de tudo, vós me tendes obrigado a vos amar. Eu me encantei convosco e quero a vossa amizade.
            Como posso amar outra coisa, depois de vos ter visto morrer de dor numa cruz para me salvar? Como poderei contemplar-vos morto, consumido nos sofrimentos, sem vos querer bem com todo o meu coração? – Sim, Redentor meu, amo-vos com toda a minha alma e não tenho outro desejo senão vos amar nesta vida e por toda a eternidade.
Amém.
Sequência da postagem “Santidade de vida”

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XI– Santo Afonso Maria de Ligório