terça-feira, 15 de abril de 2014

Ame a Deus e faze o que quiseres (Santo Afonso)

Quem ama a Jesus Cristo só quer o que Ele quer
1. A caridade anda sempre unida com a verdade. Por isso, a caridade, reconhecendo a Deus como único e verdadeiro bem, detesta o mal por ser oposto a vontade divina e não se alegra com nada que não seja a vontade de Deus. Quem ama a Deus, pouco se preocupa do que digam, e só procura fazer o que agrada a Deus. “Quem se esforça por satisfazer a verdade realmente está bem com Deus; e não se importa, qualquer que seja o modo, em que seja tratado ou julgado pelos homens”.

2. Já temos dito muitas vezes que toda a santidade e perfeição de uma alma consiste em renunciar a si mesma e em seguir a vontade de Deus. Mas aqui convém falar disso mais expressamente. Se queremos ser santos, todo o nosso esforço deve ser de nunca seguir nossa vontade, mas sempre a vontade de Deus; o resumo de todos os preceitos e conselhos divinos se reduz em fazer e sofrer aquilo que ele quer e como ele quer. Peçamos, portanto, ao Senhor que nos dê a santa liberdade de espírito. A liberdade de espírito faz-nos abraçar todas as coisas que agradam a Jesus Cristo, apesar de qualquer repugnância do amor próprio ou do respeito humano. O amor a Jesus Cristo coloca aqueles que o têm, numa total indiferença. Para eles tudo é igual, o doce e o amargo: não querem nada do que lhes agrada e querem tudo o que agrada a Deus. Com a mesma paz se ocupam nas coisas grandes e nas pequenas, nas agradáveis e nas desagradáveis. Basta-lhes agradarem a Deus.

3. S.Agostinho: “Ame a Deus e faze o que quiseres” Quem ama a Deus de verdade não procura senão agradar a Deus.
- S.Tereza: “Quem procura agradar a quem ama, anda contente com tudo que o agrada. Quando o amor é perfeito, tem a força de fazer a pessoa esquecer toda a vantagem própria e toda a satisfação. Faz tudo para dirigir os seus pensamentos a fim de agradar aquele que ama. Procura honrá-lo como pode, por si mesmo e através dos outros. Ah! Meu Senhor! Todo o mal nos vem de não termos os olhos fixos em vós! Se não pensássemos senão em caminhar, em breve chegaríamos ao fim. Mas caímos e tropeçamos mil vezes e, ainda mais, erramos o caminho porque não olhamos com atenção a verdadeira estrada” Eis contudo, qual deve ser a única finalidade de todos os nossos pensamentos, ações, desejos e orações: agradar a Deus. Nosso caminho para a santidade deve ser esse, andar junto com a vontade de Deus.

Senhor, o que desejais?
            4. Deus quer que o amemos de todo o coração: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o coração”. Ama a Jesus Cristo de todo o coração quem lhe diz de verdade, como disse São Paulo: “Senhor, que quereis que eu faça?” Atos 9,6 Senhor, fazei-me conhecer o que desejais de mim, pois eu quero fazer tudo. Estejamos certos de que, querendo o que Deus quer, estamos querendo nosso maior bem. É coisa certa, Deus não quer senão o que é melhor para nós.
- S.Vicente Paulo: “A conformidade com a vontade divina é o tesouro do cristão e o remédio para todos os seus males, porque contém a renuncia de si mesmo, a união com Deus e todas as virtudes”. Eis, em resumo, onde está toda santidade: “Senhor, que quereis que eu faça?” Jesus mesmo nos promete: “Não se perderá um só cabelo de vossa cabeça”, o que quer dizer, o Senhor recompensa todo o pensamento que tenhamos de lhe agradar, toda a tribulação que aceitemos com boa intenção, conformando-nos com sua santa vontade.
- S.Tereza: “O Senhor nunca nos manda um sofrimento sem nos recompensar com alguma graça, desde que o aceitemos com resignação”

            5. Nossa conformidade com a Vontade divina deve ser total, sem condição, constante e irrevogável. Nisso consiste o máximo da perfeição, e repito, a isto devem tender todas as nossas ações, todos os nossos desejos, todas as nossas preces. Algumas pessoas piedosas, lendo os êxtases e arroubos de Santa Tereza, São Felipe e outros santos, desejariam ter essas experiências espirituais. Esses desejos devem ser rejeitados porque são contrários a humildade. Se queremos ser santos, procuremos a verdadeira união com Deus que é unir totalmente nossa vontade a vontade Dele.
- S.Tereza: “Enganam-se aqueles que acreditam que a união com Deus consiste em êxtases, arroubos espirituais e gozo de Deus. Ela não consiste em outra coisa, senão em sujeitar nossa vontade a vontade de Deus. Essa sujeição é perfeita quando nossa vontade está desprendida de tudo, e unicamente unida a vontade de Deus. Essa é a verdadeira e indispensável união que sempre tenho desejado e continuamente peço ao Senhor. Oh! Quantos de nós dizem isto; e realmente parece que não queremos, senão isso. Mas, pobres de nós! Como são poucos os que chegam a isso!” É verdade, muitas vezes dizemos: “Senhor, dou-vos toda a minha vontade, não quero senão o que vós quereis”. Mas, quando depois vêm as contrariedades, não sabemos aceitar a vontade divina. Lastimamos a má sorte que temos neste mundo, dizemos que todas as desgraças caem sobre nós, e que levamos uma vida infeliz.

Tudo em Deus
            6. Se estivermos unidos a vontade divina em todas as tribulações, é certo, vamos nos tornar santos e seremos os mais felizes do mundo. Por isso todo o nosso esforço deve ser este: manter nossa vontade unida a vontade de Deus em todas as coisas que acontecem, tanto agradáveis como desagradáveis. “Não te deixes mover por todos os ventos”. Alguns fazem como os bandeirolas que se voltam para onde sopra o vento. Se o vento é favorável, como desejam, andam alegres e tranquilos. Mas se o vento é contrario e as coisas não acontecem como querem, andam todos tristes e impacientes. É por isso que não se santificam e levam uma vida infeliz, já que neste mundo acontecem muito mais coisas desfavoráveis do que favoráveis.

- S.Doroteu diz que o receber das mãos de Deus todas as coisas, como quer que aconteçam, é um grande meio para conservarmos a paz contínua e tranquilidade do coração. Conta o santo que os antigos monges do deserto não ficavam irados e melancólicos, porque tudo o que lhes acontecia eles aceitavam alegremente como das mãos de Deus. Feliz aquele que vive inteiramente unido e abandonado a vontade de Deus. Não fica orgulhoso com seus sucessos, nem fica desanimado com os fracassos, pois sabe que tudo vem da mesma mão de Deus. Só a vontade de Deus é a regra de seu desejo; por isso faz o que Deus quer e quer o que Deus faz. Não se preocupa em fazer muitas coisas, mas procura realizar perfeitamente aquilo que acha ser a vontade de Deus. Por isso coloca as menores obrigações de seu estado antes das ações mais grandiosas e gloriosas, porque percebe que nestas pode haver lugar para o amor próprio, enquanto que naquelas se encontra certamente a vontade de Deus.

            7. Portanto, seremos felizes, se recebermos de Deus todas as coisas em perfeita conformidade com a vontade divina, sem nos importarmos são conformes ou contrárias ao nosso gosto.
- S.Joana Chantal: “Quando chegaremos a saborear a doçura da vontade divina em tudo que nos acontece, não tendo em conta senão a vontade divina? É certo que, com igual amor e para nosso maior proveito, nos são dadas tanto as desgraças como as prosperidades. Quando nos abandonaremos inteiramente nos braços de nosso bondosíssimo Pai, confiando-lhe o cuidado de nossas pessoas e de nossos trabalhos, reservando para nós somente o desejo de agradar a Deus?

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIII– Santo Afonso Maria de Ligório

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