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domingo, 9 de abril de 2017

Metanoia Cristã


Significado de Metanóia (Mind Set):
  • Mudança, transformação de caráter ou na maneira de pensar.
  • Mudança que resulta ou é motivada por algum tipo de arrependimento.
  • Remorso por alguma falha; penitência.
  • Modificação espiritual; conversão.
  • Modo novo de conceber ideias, de se comportar, de enxergar a vida e a realidade.
Esperança no mundo
- A Paixão de Nosso Divino Redentor deixa uma lição para nós:
  • Aqueles que, por princípios mundanos, têm como ideal obter aplauso, colocando sua esperança na aprovação dos homens, erram, porque cometem a loucura de escolher para si uma situação estável.
- A Paixão de Nosso Senhor nos mostra, de maneira eloquente, o quanto é preciso pôr nosso empenho em conhecer, amar e servir a Deus com “todo seu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento e com toda a tua força e o teu próximo como a ti mesmo” Marcos 12, 30-31, pouco nos importando se nos atacam ou nos elogiam, se nos recebem ou nos repudiam, mas, isto sim, se agradamos a Deus com a nossa forma de proceder.
- Ao sermos Batizados nos comprometemos –seja por nós mesmos ou na pessoa de nossos padrinhos- a renunciar ao demônio, ao mundo e a carne e ficarmos marcados com o sinal do combate.
- Não firmamos, em nenhum momento, o propósito de nos apoiarmos no aplauso dos outros. Assim sendo, devemos, sempre, nos lembrar dessas promessas de luta, que exigem de nossa parte a determinação de enfrentar todas as batalhas que tais inimigos, por nós rejeitados no Batismo, vão se apresentando no decorrer desta peregrinação.

A Cruz
- A Cruz, sinal de ignominia por constituir o pior castigo, o suplício mais horrível daqueles tempos da Encarnação de Jesus, considerado pelos Judeus como ‘Maldição Divina” Dt 21,23 e pelos romanos como infamante, a tal ponto que não era aplicado a um cidadão do Império, sendo reservado apenas aos escravos e aos criminosos mais comuns.
- No entanto, tão poderoso é este Rei Jesus que, posto nesse pedestal de humilhação, Ele o transforma em trono de glória!
- Hoje em dia, ostentar a Cruz ao peito é uma honra, e nos admiramos ao vê-la sobre as coroas ou no alto das catedrais e dos edifícios eclesiásticos:
  • É a exaltação da Cruz.
- Ora, sendo participes da vida divina, pela graça, somos chamados a trilhar a mesma via do Rei dos reis, sem nunca descer, subir para chegar ao Céu, cujas portas nos serão abertas, não por nossos méritos, mas pelos de Nosso Redentor (Metanóia).


Pela Cruz alcançamos a Luz
- Contrário a certa mentalidade muito alastrada, não é possível abolir a Cruz da face da Terra, pois, em geral, todo ser humano sofre.
- A dor é nossa companheira e só deixará de existir no Paraiso Celeste.
- É neste contexto que é imprescindível ao homem compreender o verdadeiro valor do sofrimento (Metanóia), pois uma equivocada compreensão do sofrimento leva alguns a caírem no:
  • Abatimento,
  • Revolta contra a providência,
  • Querer esquivar-se de carregar a própria cruz, cuja tentativa se torna inútil, tornando-a mais pesada, acrescentando ainda o ônus da inconformidade com a vontade de Deus, que conhece e permite cada uma de nossas angústias.
Valor da luta
- Compenetremo-nos de que a dor encerra inúmeros benefícios para nossa salvação:
  • Poderoso meio de nos aproximarmos de Deus. (Metanóia).
- Desde antes da queda, Anjos e homens, por terem sido criados em estado de prova, tem a tendência de fechar-se e esconder-se sobre si (conf Gn 3, 8-10), quando deveriam estar constantemente abertos para Deus.
- E é nisto que consiste a prova do entendimento e a compreensão de nossa realidade como Batizados, filhos de Deus e de sermos chamados de Cristãos (Metanóia).
- As lutas, reveses e aflições surgidas em nosso caminho são elementos eficazes para dirigir nosso espírito ao Bem infinito e escancarar para Ele a porta de nossa alma.
- Nessas horas experimentamos o poder da oração, sentimos nossa total dependência de Deus e nos colocamos em suas mãos sem reservas, a procura de amparo e força.
- O sofrimento pode receber o título de bem aventurança que nos faz merecer, já neste mundo, a recompensa de libertar-nos de nosso egoísmo e de vivermos voltados para Deus. Ó dor, bem aventurada dor!
- Em sua Bondade infinita, o Senhor nos “cumula de tribulações na Terra para nos obrigar a buscar a felicidade no Céu” diz Santo Antônio Maria Claret.
- O sofrimento constitui-se, então, um meio infalível de preparação para conhecer, amar e contemplar a Deus face a face.

Glória comprada pelo sofrimento
- O Verbo onipotente, Unigênito do Pai, ao Se encarnar quis passar pelas vicissitudes da condição humana, para nos dar exemplo de paciência.
- Sua Alma Santíssima que desde o primeiro instante da concepção, já possuía a glória, e esta deveria, naturalmente, refletir-se em sua carne; mas a relação natural entre alma e corpo n’Ele estava submetida a sua Divina Vontade, a qual aprouve suspender esta lei, realizando um milagre contra Si mesmo, pois preferiu tomar um corpo padecente a fim de que obtivesse com maior honra a glória do Corpo, quando a merecesse pela Paixão.
- Ele assumiu aquelas deficiências corporais derivadas do pecado original como o cansaço, a fome, a sede e a morte.
- Jesus visava apontar o combate da Cruz como causa de elevação para todos nós, Batizados, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo (conf Rm 8,17). (Metanóia).
- Tão excelente é o sacrifício de nosso Salvador, oferecendo-Se a Si mesmo ao Pai como Vitima perfeita, que os efeitos da Paixão excedem em muito a dívida do pecado. Diz o Padre Garrigou-Lagrange:
“Deus Pai pediu a seu Filho:  um ato de amor que Lhe agrada mais do que Lhe desagradam todos os pecados juntos;
um ato de amor redentor, de um valor infinito e superabundante”
Jesus lhe ofereceu o sofrimento e morte na Cruz.

O combate do Católico é sua glória
- Somos combatentes (Metanóia).
- Não fomos feitos para apoiar aqueles que põe sua esperança no mundo, mas para defender Nosso Senhor Jesus Cristo.
- O mundo só nos interessa como objeto de conquista para O Reino de Deus, pois queremos ser apóstolos, a fim de que todos os homens experimentem nossa alegria de cristãos. (Metanóia).
- Alegria proveniente da certeza (Metanóia), infundida pela fé na alma, de um dia recuperar o corpo em estado glorioso e viver a eternidade feliz no convívio com Deus, com Maria Santíssima, com os Anjos e com os Santos.
- A convicção (Metanóia) de que a Cruz conduz a Luz, isto é, a vitória e ao triunfo final, torna a alma equilibrada, calma e serena, e dá forças para encarar a morte com confiança, sabendo que no outro lado estará Aquele que por nós morreu na Cruz, pronto a nos receber (Metanóia).
- E agora? Estou preparado para a Metanóia? Ou seja:
  • Mudança,
  • transformação de caráter,
  • maneira de pensar,
  • modificação espiritual,
  • conversão. 
Metanóia de Pedro
- A famosa frase de Santo Agostinho:
“Crer para entender e entender para crer”
resume uma verdadeira Metanóia que aconteceu com Pedro; vejamos o relato em João 13, 6-9:
- “Jesus coloca agua numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxuga-los com a toalha que estava cingido. (Traje e função dos escravos, não dos senhores ISm 25,41).
Chega, então, a Simão Pedro, que lhe diz:
- Senhor, tu, lavar-me os pés?
Respondeu Jesus:
- O que faço, não compreenderás agora, mas o compreenderás mais tarde.
Disse-lhe Pedro:
- Jamais me lavarás os pés!
Respondeu Jesus:
- Se Eu não te lavar, não terás parte comigo.
Disse-lhe Pedro:
- Senhor, não apenas meus pés, mas também as mãos e a cabeça”

- Por não estarmos prontos, podemos voltar nas decisões tomadas; Deus purifica nosso entendimento quando cremos mas ainda não entendemos.
- Essa foi a Metanóia de Pedro: por crer em Jesus aceitou sua proposta mesmo ainda não entendendo.

- Jesus ‘sentiu’ e ‘experimentou’ toda repugnância e dor que haveremos de ‘sentir’ e ‘experimentar’ durante todo nosso processo de Metanóia (conversão).
“Não creias porém que deixei de sentir então repugnância e dor. Pelo contrário quis que a minha natureza humana experimentasse todas as que vós mesmos experimentais, a fim de que meu exemplo vos fortificasse em todas as circunstancias de vossa vida.
Também quando soou para Mim aquela hora dolorosíssima de minha Paixão, que Eu poderia tão facilmente evitar, abracei-a amorosamente para:
  • cumprir a Vontade do Pai,
  • reparar Sua Glória,
  • expiar os pecados do mundo,
  • comprar a salvação de muitas almas.
Jesus a Santa Josefa; Apelo ao Amor pg 414

Minha Metanóia
- Descreva em seu diário espiritual quais são as repugnâncias que sua natureza humana sente quando se fala de uma verdadeira conversão ao cristianismo.
- Quais as renúncias que devo proceder?
- O que me impede de ser humilde?
- O que me impede de perdoar?
- O que me impede de Amar até o extremo, como Jesus amou?
- Se voluntariamente passei a maior parte de minha vida na impiedade ou na indiferença e percebo que a eternidade já esta as portas, o que me impede de implorar o perdão?
- Qual respeito humano sinto como uma ‘repugnância’ que me está impedindo de me unir ao Senhor?
“Enquanto tiver o homem um sopro de vida, poderá ainda recorrer a Misericórdia e implorar o perdão”
Jesus a Santa Josefa; Apelo ao Amor pg 418
- Olhemos para o resultado e a recompensa que haveremos de receber na eternidade.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Sofrer com Paciência

Sofrer com Paciência
            È preciso sofrer com paciência todas as tribulações desta vida, as doenças, as dores, a pobreza, a perda de bens, a morte dos parentes, as injurias, as perseguições e tudo o que nos contraria.
Estejamos persuadidos de que os sofrimentos desta vida são sinais do amor de Deus para conosco, e do seu desejo de nos ver salvos no céu.
Compreendamos ainda que agradam mais a Deus as mortificações involuntárias enviadas por ele do que as voluntárias que são de nossa escolha.

            Nas doenças procuremos resignar-nos inteiramente a vontade do Senhor, com isso agradar-lhe-emos mais do que com qualquer outra prática de piedade. Se então não pudermos meditar, olhemos para o crucifixo e ofereçamos a Jesus nossos sofrimentos em união com os que ele sofreu por nós na cruz.
Quando nos avisarem da aproximação de nossa morte, aceitemo-la em paz e em espirito de sacrifício, isto é, com a vontade de morrer para comprazer a Jesus Cristo. Dessa entrega a vontade de Deus nasceu todo o mérito da morte dos mártires. É preciso, pois, dizer a Deus: “Senhor, eis-me aqui; quero o que vós quereis, quero sofrer tudo o que vos aprouver; estou pronto para morrer quando quiserdes”.
Não peçamos vida mais longa para fazermos penitência dos nossos pecados, pois a aceitação da morte com plena resignação vale mais do que todas as penitências.

            Conformemo-nos também com a vontade divina, quando formos provados pela pobreza e por todos os incômodos que ela nos traz consigo: o frio, a fome, o cansaço, as desonras, os desprezos.

É preciso ainda acolher com resignação a perda dos bens, dos parentes e amigos que, vivendo, poderiam fazer-nos o bem. Acostumemo-nos a repetir em todas as coisas que nos contrariam: “Assim Deus quis, assim também eu quero”. Na morte de algum parente, em vez de perdermos tempo chorando sem proveito algum, empreguemo-nos rezando pelo falecido, e ofereçamos a Jesus a dor que sentimos nessa perda.

Esforcemo-nos, enfim, para sofrer com paciência e serenidade os desprezos e as injurias. A quem nos fala com injurias, respondamos com mansidão; mas, quando nos sentimos agitados, é melhor sofrer e calar até que se tranquilize o nosso espirito. Não nos queixemos a outros das injurias recebidas, mas ofereçamo-las de coração a Jesus Cristo que sofreu tanto por nós.


A Prática de amor a Jesus Cristo | Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Aridez espiritual - Consolações

A alma que se dá a Deus experimenta a principio, consolações sensíveis. O Senhor procura atraí-la e desprende-la dos prazeres terrenos, para que ela vá se desapegando das criaturas e unindo-se a ele. Contudo, pode unir-se a ele seguindo um caminho errado, levada mais pelo gosto das consolações espirituais, do que por uma verdadeira vontade de agradar a Deus. Engana-se, pensando que tanto mais o ama, quanto mais gosto encontra nas suas devoções. Daí provém inquietar-se e afligir-se ao ser perturbada nos exercícios de piedade que lhe davam prazer, quando deve fazer outras coisas por obediência, ou por caridade, ou por obrigações do seu próprio estado.

É um defeito universal de nossa fraca humanidade procurar em tudo a própria satisfação. Não encontrando nestes exercícios o prazer desejado, deixa-os ou ao menos os reduz. Reduzindo-os de dia para dia, finalmente deixa todos. Essa desgraça acontece a muitas almas. Chamadas por Deus ao seu amor, começam a marchar no caminho da perfeição e avançam enquanto duram as consolações espirituais. Mas depois, quando elas acabam, abandonam tudo e voltam a vida antiga. É preciso persuadir-nos de que o amor de Deus e a perfeição não consistem em sentir consolações, mas em vencer o amor próprio e fazer a vontade de Deus.
- Diz São Francisco de Sales: “Deus é tão digno de nosso amor quando nos consola e quando nos faz sofrer”

            No tempo das consolações não é grande virtude deixar os gostos sensíveis e suportar as ofensas e contrariedades. No meio das alegrias a alma suporta tudo. Essa paciência nasce, muitas vezes, mais das consolações do que da força do verdadeiro amor a Deus.
            Por isso, com a finalidade de consolidá-la na virtude, o Senhor retira-se e lhe recusa esses gostos sensíveis para destruir todo o apego ao amor próprio que se alimentava com tais satisfações.

            Primeiro sentia gosto em fazer atos de oferecimento, confiança, amor; depois que secou a fonte de consolações, faz estes atos com frieza e dificuldade. Fica aborrecida com os exercícios mais piedosos, com a oração, com a leitura espiritual, com a comunhão. Só vê trevas e temores e tudo lhe parece perdido. Reza, torna a rezar, e se aflige por lhe parecer que Deus não a ouve.

            Vejamos na prática o que devemos fazer da nossa parte. Quando o Senhor, por sua misericórdia, nos consola com visitas consoladoras e nos faz sentir a presença de sua graça, não é bom rejeitar essas consolações, como queriam alguns falsos místicos. Aceitemo-las agradecidos, mas  cuidemos em não nos determos nelas com complacências. A isto São João da Cruz chama de ‘gula espiritual’, o que é defeito e não agrada a Deus.
            Esforcemo-nos em afastar de nossa alma a complacência sensível nessas consolações. Cuidemos especialmente em não pensar que ele usa de tais finezas conosco, porque nos comportamos com ele de forma melhor que os outros. Esse pensamento de vaidade obrigaria o Senhor a retirar-se inteiramente de nós e a nos deixar em nossa miséria. Devemos agradecer a Deus porque essas consolações espirituais são dons que ele nos fez, bem maiores do que todas as riquezas e honras temporais. Não sejamos famintos em saborear essas satisfações sensíveis, mas sejamos humildes, tendo diante dos olhos os pecados da vida passada.
            É preciso crer que essas consolações são pura consequência da bondade de Deus. Talvez o Senhor antes nos conforte para que depois soframos com paciência alguma grande tribulação que deseja nos enviar.
            Por isso, ofereçamo-nos para suportar qualquer sofrimento externo ou interno, enfermidades, perseguições, aridez espiritual, dizendo-lhe: “Meu Senhor, aqui estou. Fazei de mim e de tudo o que tenho o que vos aprouver. Dai-me a graça de vos amar e de cumprir perfeitamente a vossa vontade, e nada mais vos peço!


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Nas tentações, Deus é fiel

Deus fiel
“Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima de vossas forças”. Quem resiste as tentações, não perde nada, “mas tira delas grande proveito” I Coríntios 10,13. Por isso o Senhor muitas vezes permite tentações as almas mais escolhidas para que adquiram maiores méritos neste mundo e mais glória no céu.
A água parada logo apodrece. Do mesmo modo a alma ociosa, sem tentações e lutas, corre o risco de se perder com alguma complacência no próprio merecimento, julgando talvez ter atingido a perfeição. Descuida-se do temor de Deus e, por isso, pouco se recomenda a Deus e pouco se esforça para assegurar sua salvação.
Quando, porém, é agitada pelas tentações, vendo-se no perigo de cair no pecado, recorre a Deus, recorre a Mãe de Deus, renova os propósitos de ante morrer do que pecar. Humilha-se e se lança nos braços da divina misericórdia, adquirindo assim mais força e unindo-se mais a Deus, como nos mostra a experiência.

Devemos desejar as tentações?
Pelo contrário, devemos pedir sempre a Deus que nos livre delas, especialmente daquelas nas quis Deus vê que seremos vencidos. É justamente isso que pedimos no Pai Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação”.
Mas quando Deus permite que sejamos tentados, não nos inquietemos com os maus pensamentos e não nos abatamos; confiemos em Jesus Cristo e peçamos ajuda. Ele, na certa, não deixará de dar-nos a força para resistir a tentação.
Santo Agostinho diz: “Entrega-te a Deus e não temas, porque, se ele te coloca na luta, certamente não te deixará sozinho para que caias”

Quais os meios que devemos usar para vencer as tentações
- Os mestres da vida espiritual indicam muitos. O meio mais necessário e

mais seguro é recorrer logo a Deus com humildade e confiança: “Deus, vinde em meu auxilio; Senhor, apressai-vos em me socorrer” Salmo 69, 2.
- Senhor, ajudai-me e ajudai-me depressa! Só essa oração bastará para nos fazer vencer os assaltos de todos os demônios do inferno, porque Deus é infinitamente mais forte do que todos eles.
            Deus bem sabe que não temos força para resistir as tentações. Por isso diz o Cardeal Gotti: “Quando somos tentados e estamos em perigo de sucumbir, se recorremos a Deus, ele é obrigado a nos conceder forças suficientes para que possamos resistir”

Deus vem em nosso auxilio
            Como podemos recear que Jesus Cristo não nos ajude, depois de tantas promessas que fez na sagrada Escritura?
“Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei... Invoca-me no dia da tribulação, livrar-te-ei e honrar-me-ás... então o invocarás e o Senhor te ouvirá. Chamarás e ele dirá: Eis-me aqui.” Mateus 11,18; Salmo 49, 15; Isaias 58, 9.
            No momento do perigo, chamarás o Senhor em teu auxilio e ele te ouvirá. Clamarás: Senhor, apressai-vos em me socorrer. Ele dirá: Aqui estou, pronto a te ajudar. “Quem jamais invocou o Senhor e foi por ele desprezado?” Eclesiástico 2, 12.
- Quem invocou o Senhor e ele o desprezou sem o socorrer? Davi sentia tanta força com esse poderoso meio de oração, que tinha a certeza de nunca ser vencido pelos inimigos: “Invocarei o Senhor digno de todo o louvor, e ficarei livre de meus inimigos” Salmo 17, 4.
- Ele já sabia que Deus está perto daquele que o chama em seu auxilio: “O Senhor está perto de todos os que o invocam” Salmo 144, 18.
- São Paulo acrescenta que Deus não é avarento, mas rico de graças para com todos os que o invocam” Romanos 10, 12.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Tentações

O amor a Jesus Cristo nas tentações
Os sofrimentos que mais afligem nesta vida as pessoas que amam a Deus, não são a pobreza, as doenças, as injurias ou as perseguições, mas sim as tentações e tribulações espirituais.
            Quando uma alma goza da presença amorosa de Deus, todas as dores, os desprezos e os maus tratos, em vez de afligirem, consolam, pois são motivos para oferecer a Deus alguma prova de seu amor. São lenha  que ateia mais fogo. Mas, o ver-se tentada a perder a graça de Deus ou o sentir o temor na desolação de já tê-la perdido, são esses os sofrimentos mais amargos para quem ama de coração a Jesus Cristo.
Mas o próprio amor a Deus lhe dá forças para sofrer com paciência e continuar no caminho da perfeição. E quanto progridem as almas no caminho da perfeição com essas provas, que deus costuma exigir-lhes de seu amor!

As tentações
Para quem ama a Jesus Cristo não há sofrimento pior que as tentações. Todos os outros sofrimentos o estimulam a se unir mais com Deus, quando aceitos com generosidade. As tentações, porém, impelem a pecar, a separar-se de Jesus Cristo e, por isso, são muito mais amargas do que todos os outros sofrimentos. É preciso, porém, notar que todas as tentações, que impelem para o mal, não vêm de Deus, mas do demônio ou das más inclinações:
“Deus é incapaz de tentar para o mal, e ele não tenta ninguém” Tiago 1,13
            Contudo, ele permite, as vezes, que as almas, que lhe são mais caras, sejam tentadas mais fortemente.
1. Em primeiro lugar, para que conheçam melhor a sua fraqueza e a necessidade que têm do auxilio de Deus para não caírem. Quando uma pessoa se encontra interiormente consolada por Deus, pensa ser capaz de vencer todas as tentações e realizar qualquer trabalho pela gloria de Deus. Vendo-se, porém, duramente tentada, a beira do precipício, e quase caindo, é então que reconhece melhor sua miséria e sua incapacidade para resistir, se Deus não a socorre. Foi isso justamente o que aconteceu a São Paulo que escreveu: “É para que a grandeza das revelações não me ensoberbecesse, foi-me dado o estímulo da minha carne, um anjo de satanás, que me esbofeteie” IICor 12,7

            2. Em segundo lugar, Deus permite as tentações para que vivamos mais desapegados deste mundo, e desejemos mais ardentemente ir vê-lo no céu.
            As pessoas de bom coração, vendo-se tentadas nesta vida dia e noite, enfastiam-se de viver e dizem: “Ai de mim, meu desterro se prolonga”, suspirando pela hora em que poderão dizer: “A cadeia se rompeu, e nós ficamos livres” Salmo 119, 5. A alma quer voar para Deus, mas enquanto vive neste mundo, está presa por uma cadeia que a segura aqui na terra, onde é atormentada continuamente pelas tentações. Essa cadeia não se rompe senão com a morte. Por isso, as almas que amam o Senhor suspiram pela morte que as tire do perigo de perderem a Deus.

            3. Em terceiro lugar, Deus permite as tentações para nos enriquecer com méritos como disse o anjo a Tobias: “Porque eras aceito a Deus, foi necessário que a tentação te provasse” Tobias 12, 13.
            Portanto, não devemos recear de estar sem a graça de Deus pelo fato de sermos tentados; pelo contrário, então devemos esperar ser mais amados por Deus.
É engano do demônio o fazer certas almas fracas acreditarem que as tentações são pecados que mancham  a alma. Não são os maus pensamentos que fazem perder a Deus, mas sim os maus consentimentos. Por fortes que sejam as tentações do demônio, por mais vivas que sejam as imaginações impuras assaltando o nosso espírito, se nós não a queremos, não mancham a alma, mas a tornam mais pura, mais forte e mais querida por Deus.
- Diz São Bernardo que todas as vezes que vencemos as tentações, ganhamos um novo mérito: “Quantas vezes vencemos, tantas vezes somos coroados”.
            Não nos espantemos com o mau pensamento que não sai da nossa cabeça e continua a nos atormentar; basta que o detestemos e procuremos afastá-lo.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Deus nos ama

Deus nos ama
17. Por que Deus nos carrega de tantas cruzes e parece se alegrar vendo-nos atribulados, desprezados, perseguidos e maltratados no mundo?
Por acaso é um tirano tão cruel que gosta de nos ver sofrer?
Não. Deus não é um tirano nem é cruel; ele é todo bondade e amor para conosco. Basta dizer que nos amou até morrer por nós.
Ele se alegra, sim, vendo-nos sofrer, mas para o nosso bem. Deseja que, sofrendo nesta vida, fiquemos livres das penas que deveríamos sofrer na outra vida por causa das nossas dividas com a justiça de Deus.
Ele se alegra, sim, para que não nos apeguemos aos prazeres sensíveis desta vida.
Certas mães colocam algo de amargo em seus seios quando querem desmamar o filhinho. Deus torna amargos os prazeres da vida para que, sofrendo com paciência e resignação, lhe demos alguma prova de nosso amor.
Alegra-se finalmente, por adquirirmos maior glória no céu com os nossos sofrimentos. Por esses motivos, todos eles de bondade e amor, o Senhor se alegra vendo-nos sofrer.

18. Para praticarmos bem a resignação em todas as tribulações que nos acontecem, é necessário persuadir-nos de que todos os sofrimentos vêm das mãos de Deus, diretamente ou indiretamente através dos homens.
Quando nos virmos atribulados, devemos agradecer ao Senhor e aceitar alegremente tudo o que ele nos manda, porque tudo é para o nosso bem: “Todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus” Romanos 8,28.
Quando nos aflige alguma tribulação, devemos pensar no inferno, por nós merecido. Todo o sofrimento em comparação com o inferno, será sempre imensamente menor.
Mas, para sofrer com paciência todas as dores, todos os desprezos e todas as contrariedades, requer-se a oração mais do que qualquer consideração. A ajuda divina que nos será dada depois da oração, comunicar-nos-á a força que não tínhamos.
Assim fizeram os santos, recomendaram-se a Deus e venceram todos os sofrimentos e perseguições.

Oração
            Senhor, estou convencido de que, sem sofrer com paciência, não posso ganhar o céu. “Dele é que vem –dizia Davi- a minha paciência” Salmo 61,6. O mesmo quero dizer.
            Vós me dareis a paciência para sofrer. Quero aceitar com tranquilidade todas as tribulações, mas depois, quando elas chegam, encho-me logo de tristeza de desânimo.
            Dessa forma sofro sem méritos e sem amor, porque não sei ainda sofrer par vos agradar.
            Por isso, meu Jesus, eu vos peço, pelos merecimentos de vossa paciência, a graça de sofrer todas as cruzes por vosso amor.
            Eu vos amo de todo o meu coração, divino Redentor.
Eu vos amo, meu sumo bem;
Amo-vos, Jesus, digno de um amor infinito.
Arrependo-me de todos os desgostos que vos tenho dado.
Prometo-vos aceitar com resignação todos os sofrimentos de que me enviardes; mas espero de vós o socorro para sofrer com paciência, especialmente as dores da minha agonia e da minha morte.
Maria, minha Rainha, alcançai-me uma verdadeira resignação em tudo o que ainda tenha de sofrer na vida e na morte.

Amém.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIV– Santo Afonso Maria de Ligório

sábado, 10 de maio de 2014

Amor tudo espera (Santo Afonso)

O amor tudo espera
7. A caridade tudo espera. A esperança cristã, como ensina S. Tomás: “é a espera certa da felicidade eterna”. Tal certeza nasce da promessa infalível de Deus em dar a vida eterna aos seus servos fiéis.
            A caridade elimina o pecado, eliminando assim o impedimento de conseguir o céu. Por isso, quanto maior é a caridade, maior e mais firme se torna a nossa esperança; esta não pode certamente ser um obstáculo ao amor de Deus. O amor tende naturalmente a união com a pessoa que se ama, ele é como um laço de ouro que une os corações de quem ama e de quem é amado. Não podendo essa união fazer-se a distância, quem ama deseja sempre a presença do seu amado. A alma, descrita no Cântico dos Cânticos, definhava afastada de seu amado; pedia as suas companheiras que lhe contassem o seu sofrimento para que ele viesse consola-la com a sua presença: “Suplico-vos, filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, dizei-lhe que estou doente de amor” Ct 5,8.
            Uma pessoa que ama muito a Jesus Cristo, enquanto vive neste mundo, não deixa de desejar e esperar ir logo para o céu a fim de unir-se com seu amado Senhor.

            8. É puro e perfeito amor o desejo de i ver Deus no céu. Não tanto pela felicidade que lá experimentaremos em amá-lo, mas pelo prazer que lhe daremos amando-o.
            A felicidade que os santos do céu sentem em amar a Deus, não impede a pureza de sua caridade. Tal felicidade é inseparável do amor. Os santos se satisfazem muito mais no amor que dão a Deus, do que no prazer que sentem em ama-lo. Mas dirá alguém:
- Desejar uma recompensa é ambição e não amizade.
- É necessário distinguir as recompensas do céu prometida por Deus a quem o ama.
            As recompensas que os homens dão distinguem-se das suas pessoas, pois remunerando os outros, eles não se dão a si mesmos, mas somente os seus bens; enquanto que a principal recompensa que Deus faz aos santos é dar-se todo a eles: “Eu serei a tua recompensa extremamente grande” Gn 15,1. Portanto, desejar o Paraíso é o mesmo que desejar a Deus, nosso fim ultimo.

            9. Quero apresentar aqui uma dúvida que facilmente pode vir a mente de uma pessoa que ama a Deus e que procura em tudo fazer a sua santa vontade.
             Se por acaso, fosse revelada a uma pessoa a sua condenação eterna, ela estaria obrigada a aceita-la para se conformar com a vontade de Deus?
            Não, ensina S.Tomás. Chega até a afirmar que peca, se consente nisso, porque consentiria em viver num estado unido ao pecado e contrário ao fim último determinado por Deus. Deus não criou os homens para o inferno onde o odeiam, mas para o céu onde o amam. Deus não quer a morte do pecador, mas que todos se convertam e se salvem. “O Senhor não quer ninguém condenado senão pelo pecado. por isso, se alguém, tivesse lavrado o decreto de sua condenação, não se conformaria com a vontade de Deus, mas com a vontade do pecado".
            E se Deus, prevendo o pecado de alguém, tivesse lavrado o decreto de sua condenação, e revelando-o a pessoa, estaria ela obrigada a consentir nele?
“De modo algum. Deveria entender aquela revelação, não como um decreto irrevogável, mas como uma ameaça no caso de persistir no pecado.”


 A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVI– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Mérito no sofrimento (Santo Afonso)

Mérito no Sofrimento
6. Quantos méritos se podem ganhar só em suportar com paciência as doenças! Suportando com paciência as dores de nossas doenças, tecemos uma grande parte e talvez a maior parte da coroa que Deus nos prepara no céu.
- S.Liduvina, depois de ter suportado tantas doenças, tão dolorosas, desejava morrer mártir por Jesus Cristo. Um dia, suspirando por esse martírio, entendeu que uma bela coroa, ainda inacabada, estava sendo preparada para ela. Ansiosa para que fosse terminada, suplicou ao Senhor o aumento de suas dores. Jesus a ouviu... sofreu mais ainda e pouco depois morreu.

            7.Para as pessoas que amam ardentemente a Jesus Cristo, como são leves e agradáveis as dores e os desprezos! Por isso os mártires iam ao encontro das torturas, unhas de ferro, chapas incandescentes e espadas, com tanta alegria.
- S.Prosdócimo, mártir: “Atormentem-me quanto quiserem, mas fiquem sabendo que para quem ama a Jesus Cristo não existe coisa mais desejável do que sofrer por seu amor”
- S.Gordiano: “Tu que me ameaças com a morte, mas o que me desagrada é que não posso morrer por Jesus Cristo senão uma só vez”.

            Mas, pergunto eu, por que os mártires falavam assim? Porque eram insensíveis aos sofrimentos ou tinham perdido o juízo?
- Não, responde São Bernardo, de maneira alguma, “Não foi a loucura que fez isso, mas sim o amor”. Eles não eram loucos. Sentiam as dores dos tormentos, mas porque amavam a Deus, consideravam grande vantagem sofrer e perder tudo, até mesmo a própria vida, por amor de Deus.

Nossa morte
            8.Principalmente no tempo da doença, devemos estar prontos para aceitar a morte, aquela morte que é da vontade de Deus. Temos de morrer. Nossa vida vai terminar na última doença e não sabemos qual delas nos levará a sepultura. Portanto, é necessário que nos preparemos em todas as enfermidades para abraçar a morte que Deus nos tem destinado.
- Algum doente poderá dizer:
- Mas eu fiz tantos  pecados e nenhuma penitência! Queria viver, não por viver, mas para dar alguma satisfação a Deus antes de morrer.
- Dize-me, meu irmão,  como sabes que, vivendo, farás penitência e não te comportarás pior que antes? Neste momento podes esperar que Deus te tenha perdoado. Mas que melhor penitência do que aceitar com resignação a morte, se Deus assim o quer?
- S.Luis Gonzaga que morreu aos 23 anos, abraçou a morte alegremente, dizendo: “Encontro-me agora, assim espero, na graça de Deus. Mais tarde não sei o que será de mim. Morro contente, se nesta hora Deus quiser me chamar para a outra vida.
- S.João A’Vila dizia que uma pessoa, encontrando-se com boas disposições, mesmo medíocres, deve desejar a morte par sair do perigo em que sempre vivemos neste mundo, de poder pecar e perder a graça de Deus.

            9.Devido a nossa fragilidade, não podemos viver nesta terra sem cometer, ao menos, pecados veniais. Por isso, ao menos, por esse motivo, de não ofender a Deus, deveríamos abraçar com alegria a morte.
- Se amamos a Deus de verdade, devemos ardentemente desejar vê-lo e amá-lo com todas as forças do céu. Isso ninguém pode fazer perfeitamente nesta vida. Mas, se a morte não nos abre a porta, não podemos entrar no paraíso.
- S.Agostinho: “Morra eu, Senhor, para vos ver”.
- Senhor, fazei-me morrer porque, se não morro, não posso vos amar e vos ver face a face.

A pobreza
            10.Precisamos praticar a paciência, suportando a pobreza.
- É certo que é muito necessário praticar a conformidade, quando nos faltam os bens materiais.
- S.Agostinho: “Quem não tem Deus, não tem nada; quem tem Deus, tem tudo”. Possuindo Deus e estando unido a sua vontade, encontramos nele todos os bens.
- S.Francisco: descalço, vestido com uma roupa pobre, pobre de tudo e que ao dizer: “Meu Deus e meu tudo”, achava-se o mais rico de todos os reis da terra. Chama-se pobre quem deseja bens que não possui.
Mas quem não deseja nada e está contente com sua pobreza, é perfeitamente rico.
- S.Paulo “Não tendo nada, mas possuindo tudo” IICor 6,10. Quem ama a Deus de verdade, diz quando lhe faltam os bens temporais: “Meu Jesus, só tu me bastas” e fica contente.
            Os santos não só tiveram paciência na pobreza, mas procuraram também desfazer-se de tudo, para viverem desapegados e unidos só a Deus. Se não temos o espirito de renunciar a todas as coisas do mundo, ao menos contentemo-nos com a situação em que o Senhor nos quer. Não tenhamos ansiedade para adquirir as riquezas da terra, mas sim as do céu, imensamente maiores e eternas. Convençamo-nos do que diz Santa Tereza: “Quanto menos tivermos aqui, mais possuiremos lá”

            11.S.Boaventura: A abundância dos bens temporais é um empecilho para a alma, impedindo-a de voar para Deus. Pelo contrário, escreve S.João Climaco que a pobreza é um meio de caminhar para Deus sem impedimentos.
“Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” Mt 5,3 Para as outras bem aventuranças, dos mansos, dos puros de coração, está prometido o céu, isto é, a felicidade do céu é ainda nesta vida: ‘deles é o reino dos céus’. Ainda nesta vida os pobres gozam de um paraiso antecipado. “Pobres de espírito” quer dizer: não só são pobres das coisas da terra, mas também não as cobiçam. Vivem contentes, possuindo o que lhes basta para se alimentar e se vestir. “Tendo, pois, de que nos sustentar e cobrir, contentemo-nos com isto” ITm6,8
- S.Lourenço Justiniano: “Feliz pobreza, que nada possui e nada tem! É sempre feliz e sempre abundante; todos os incômodos que experimenta faz com que sirvam para o bem da alma”
- S.Bernardo: “O avarento está sempre faminto como um mendigo, nunca chega a ficar satisfeito com os bens que deseja. O pobre, como senhor de tudo, os despreza, pois não deseja nada”

            12.Se a pobreza não fosse um grande bem, Jesus Cristo não a teria escolhido para si, nem a teria deixado em herança para os seus preferidos. De fato, os santos, vendo Jesus tão pobre, amaram tanto a pobreza.
- O próprio São Paulo nos alerta contra a cobiça de enriquecimento como laço do demônio para perder os homens: “Porque os que querem fazer-se ricos, caem na tentação e no laço do demônio e em muitos desejos inúteis e perniciosos, que submergem os homens no abismo da morte e da perdição”.
- Deus só nos baste! Bastem-nos os bens que ele nos dá. Alegremo-nos de sermos pobres quando nos faltar o que queríamos. Aí é que está o mérito: Não é pobreza que é considerada virtude, mas sim o amor a pobreza.
- Muitos são pobres, mas porque não amam a sua pobreza, não tem nenhum mérito.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIV– Santo Afonso Maria de Ligório

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Liberdade de espírito (Santo Afonso)

8. Muitas pessoas inventam para si uma santidade conforme sua inclinação:
·         Quem é melancólico faz a santidade consistir no viver sozinho;
·          quem é ativo, em pregar e fazer reconciliações;
·         os de gênio austero, em fazer penitência e mortificações;
·         os de temperamento bondoso, em dar esmolas;
·         alguns em visitar santuários;
·         outros em fazer muitas orações vocais.
- Os atos externos são frutos do amor a Jesus Cristo. Mas, o verdadeiro amor consiste em nos conformar em tudo com a vontade de Deus, em renunciar a nós mesmos e em preferir que o que mais agrada a Deus, somente porque ele o merece.

            9. Há os que querem servir a Deus, mas em tal emprego, em tal lugar, com tais companheiros ou em tais circunstancias. Se assim não for, ou deixam o trabalho ou o fazem de má vontade. Essas pessoas não têm a liberdade de espírito; são escravas do amor próprio, ganhando pouco merecimento do que fazem. Vivem sempre inquietas porque, estando presas a própria vontade, o jugo de Cristo se lhes torna pesado.
Quem ama de verdade a Jesus Cristo, ama só o que lhe agrada, quando, onde e como ele quer; seja em trabalhos importantes ou em ocupações simples e humildes, numa vida distinta no mundo ou escondida e desprezada. Isso é o que exige o amor a Jesus Cristo.
Nisso devemos nos esforçar, combatendo as ambições do amor próprio que quereria ver-nos ocupados somente em trabalhos gloriosos ou de acordo com nossas inclinações. De que adianta ser neste mundo a pessoa mais honrada, mais rica, a maior de todas, sem a vontade de Deus?
- Dizia Henrique Suso: “Preferiria ser um mísero verme da terra por vontade de Deus, do que um anjo do céu por minha própria vontade”

            10. Jesus Cristo: “Muitos me dirão: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, e em teu nome expulsamos os demônios, em teu nome fizemos muitos milagres?’ Mas o Senhor lhes responderá: ‘Nunca vos conheci, afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade’” Mt 7, 22-23. Retirai-vos, nunca vos reconheci por meus discípulos, porque preferistes a vossa inclinação e não aminha vontade.
- Isso se aplica especialmente aqueles sacerdotes que se gastam pela salvação e perfeição dos outros e, no entanto, vivem no pântano de suas próprias imperfeições.
- A santidade consiste:
1º.    Numa verdadeira renúncia de si mesmo;
2º.    Numa total mortificação das próprias paixões;
3º.    Numa perfeita conformidade com a vontade de Deus.
- Quem falha numa dessas virtudes, está fora do caminho da perfeição. Por isso, dizia um grande servo de Deus que era melhor colocar como finalidade das nossas ações a vontade de Deus, do que a sua glória. Pois, fazendo sua vontade, buscamos também a sua glória. Mas, propondo-nos a glória de Deus, muitas vezes nos enganamos fazendo a nossa vontade, com o pretexto da glória de Deus.
- S.Francisco Sales: “São muitos os que dizem ao Senhor: eu me dou todo a vós sem reservas; mas são poucos os que aceitam a prática desse abandono. Esse abandono consiste numa certa indiferença para receber qualquer acontecimento conforme a Divina Providência nos mandar, sejam aflições ou consolações, sejam desprezos e injurias ou honras e louvores.”

Amor no sofrimento
            11. Portanto, é só no sofrer e no abraçar com alegria as coisas desagradáveis e contrárias ao nosso amor próprio que se conhece quem ama de verdade a Jesus Cristo.
- Tomás Kempis: “Quem não está pronto a sofrer tudo pela pessoa amada e a seguir sempre sua vontade, não merece o nome de verdadeiro amigo”
- Corre velozmente para Deus que, de boa vontade, se conforma com a vontade divina em tudo.
- S.Tereza: “Que maior vantagem pode haver, do que ter alguma prova de que damos alegria a Deus”. Não podemos ter maior garantia de agradarmos a Deus, do que aceitando de boa vontade as cruzes mandadas por ele. O Senhor aceita de bom grado nossos agradecimentos pelos benefícios que nos fez neste mundo. Mas diz S.João Ávila que vale mais um ‘bendito seja deus’ nas contrariedades, do que seis mil agradecimentos na alegria.

            12. É preciso notar ainda, que não só devemos receber com resignação as provações vindas diretamente de Deus, tais como as doenças, a nossa limitação, a perda acidental de alguma coisa, mas também tudo o que nos vem indiretamente de Deus e diretamente dos homens: as perseguições, os roubos, as injurias. Na verdade, tudo nos vem de Deus.
            Certa vez o rei Davi foi injuriado por um súdito seu de nome Semei que o maltratou com palavras ofensivas e até com pedradas. Um dos seus soldados quis cortar a cabeça do atrevido, mas Davi observou a humildade: “Deixai-o maldizer; o Senhor lhe ordenou que maldissesse a Davi” IISam 16,10, isto é, Deus serve-se deste homem para castigar os meus pecados; por isso permite que me injurie assim.

            13. S.Maria Madalena Pazzi dizia que todas as nossas orações não devem ter outra finalidade a não ser alcançar de Deus a graça de seguir em tudo a sua santa vontade.
- Certas pessoas, ávidas de satisfações espirituais, nada mais fazem na sua oração do que procurar sentimentos agradáveis e ternos, para se deliciarem neles. As almas fortes e desejosas de pertencer só a Deus não lhe pedem senão luz para discernir sai vontade e força para a cumprir perfeitamente. Para alcançar a perfeição do amor, é necessário sujeitar em tudo nossa vontade a vontade de Deus.
- S.Francisco Sales: “Não penseis já ter chegado a perfeição que deveis possuir, enquanto vossa vontade não estiver completamente, mesmo nas coisas mais difíceis, submissa alegremente a vontade de Deus”
- S.Tereza: A entrega de nossa vontade a Deus o faz unir-se a nossa pequenez”
- Mas isso jamais poderá ser conseguido, senão através da oração mental ou meditação, e de súplicas contínuas a sua divina Majestade, com um verdadeiro desejo de ser todo, sem reservas, de Jesus cristo.

            14. Coração bondoso de meu Salvador, Coração apaixonado pelos homens, que nos amais cm tanta delicadeza;
Coração merecedor de reinar e de possuir todos os nossos corações. Quem me dera fazer todos compreenderem o amor que lhes tendes e a bondade que manifestais com aqueles que vos amam sem reservas!
- Jesus, dignai-vos aceitar a oferta e o sacrifício que hoje vos faço de toda a minha vontade. Fazei-me compreender o que desejais de mim; quero fazer tudo com a vossa graça.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIII– Santo Afonso Maria de Ligório

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Paciência na Dor, 2ª parte

A dor e o céu
7. Dizia São José Calazans: “Para ganhar o céu, todo sofrimento é pouco”
- S. Paulo: “Os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá se revelar em nós” Rm 8,18
- Seria uma grande vantagem sofrer a vida inteira todos os tormentos sofridos pelos mártires, só para gozarmos um momento do céu. Com maior razão devemos então abraçar as nossas cruzes, sabendo que os sofrimentos desta vida curta nos farão conquistar uma felicidade eterna.
“As nossas tribulações do momento são leves
e nos preparam um peso de glória eterna” IICor4,17.
- S. Agapito, mocinho de poucos anos, quando foi ameaçado de morte, respondeu: “Que maior felicidade posso eu ter do que a de perder a minha cabeça para vê-la depois coroada no céu?
- S. Francisco costumava sempre dizer: 
“O bem que espero é tão grande que todo sofrimento é prazer para mim”
- Para obter o paraíso é preciso lutar e sofrer. “Se sofremos com Cristo, com ele reinaremos”. Não pode haver prêmio sem merecimento, nem merecimento sem paciência. “Não recebe a coroa, se não aquele que lutou segundo as regras do jogo” Terá maior coroa quem combate com maior paciência. Coisa admirável! Quando se trata dos bens temporais desta terra, os mundanos procuram conquistar o máximo de coisas possíveis. Quando se trata dos bens eternos, dizem que basta um cantinho no paraíso. Esse não foi o comportamento dos santos. Nesta vida contentaram-se com qualquer coisa e desapegaram-se dos bens terrenos. Tratando-se dos bens eternos, eles procuraram ganhar o mais possível. Agora eu lhes pergunto: quem age com mais sabedoria e prudência?

8. Falando desta vida, é certo que quem padece com mais paciência vive com mais paz.
- Dizia S. Felipe Neri que neste mundo não há purgatório; ou é paraíso ou é um inferno. Os que suportam com paciência os sofrimentos desta vida gozam do Paraíso. Quem assim não o faz, sofre o inferno!
- S. Tereza: quem abraça as cruzes que Deus lhe manda não as sente.
- S. Francisco de Sales, achando-se uma vez cercado de sofrimentos disse: “De algum tempo para cá as grandes tribulações e oposições que sinto me trazem uma paz tão grande e me predizem a união próxima e estável de minha alma com Deus; sinceramente falando, é a única ambição e o único desejo de meu coração”. Na verdade, não há paz, para aqueles que levam uma vida errada, mas só para quem vive unido com Deus e com sua santa vontade.
- Um missionário religioso, nas Índias, assistia uma vez a execução de um condenado. Este, antes de morrer, chamou-o e lhe disse: “Sabe padre, eu fui de sua Congregação Religiosa. Enquanto observava o regulamento de vida, eu era muito feliz. Mas desde que comecei a relaxar, achei tudo difícil e passei a me aborrecer com tudo. Abandonei a vida religiosa para me entregar aos vícios; eles finalmente me trouxeram a este fim desgraçado que agora o senhor está vendo. Digo-lhe isto para que o meu exemplo possa servir a outros.”
- Dizia o Pe. Luiz da Ponte: “Considere como amargas as coisas doces desta vida e como doces as amargas; assim terá sempre paz”
- Isso é verdade, porque os prazeres ainda que agradáveis a natureza, deixam sempre o amargor do remorso da consciência devido ao apego desordenado que, as mais das vezes, colocamos neles. Mas as amarguras desta vida, aceitas das mãos de Deus com resignação, tornam-se suaves e queridas as pessoas que amam ao Senhor.

Sofrer amando
9. Persuadamo-nos que neste vale de lágrimas não pode ter a verdadeira paz interior senão quem recebe e abraça com amor os sofrimentos, tendo em vista agradar a Deus. Essa é a condição a que estamos reduzidos em consequência da corrupção do pecado. A situação dos justos na terra é sofrer amando.  A situação dos santos no céu é de gozar amando.
- O Pe. Paulo Segneri, para animar a uma de suas penitentes nos sofrimentos, pediu-lhe que escrevesse aos pés do crucifixo estas palavras: “ É assim que se ama”. O sinal mais certo para saber se uma pessoa ama a Jesus Cristo é, não tanto sofrer, mas o querer sofrer por amor d’Ele. Que vantagem maior Dizia S. Tereza, poderá haver para alguém do que ter um sinal de estar sendo agradável a Deus? Mas a maior parte dos homens se espanta só com o ouvir falar as palavras cruz, humilhação, sofrimento! Muitas pessoas, porém, vivem no amor de Deus e encontram nos padecimentos a sua felicidade. Ficariam desconsoladas se tivessem que viver sem sofrer. “Olhar Jesus Crucificado torna-me a cruz tão amável que me parece impossível ser feliz sem sofrer. O amor de Jesus Cristo me basta”
- Nosso Salvador diz a quem o quer seguir: “Tome a sua cruz e siga-me” mas é preciso toma-la e carrega-la, não a força e com repugnância, mas com humildade, paciência e amor.

Purificação
11. Uma pessoa que ama a Deus só tem a intenção de unir-se inteiramente a deus. Dizia S. Catarina de Gênova: “Para se chegar a união com Deus são necessárias as tribulações; porque o Senhor, por meio delas, procura destruir em nós as más inclinações interiores e exteriores. Por isso as injurias, os desprezos, as doenças, o abandono dos parentes e amigos, as confusões, as tentações e todas as contrariedades nos são necessárias. Oferecem-nos ocasião de combatermos e vencermos em nós todos os movimentos desordenados, até que, de vitória em vitória, cheguemos a extingui-los e a não mais senti-los. Dessa forma, as contrariedades sofridas por amor a Deus já não nos parecerão desagradáveis, mas suaves. Sem isso, nunca chegaremos a união com Deus.

12. Portanto, uma pessoa que deseja ser toda de Deus deve estar resolvida a procurar nesta vida não os prazeres, mas a acolher com amor os sofrimentos do dia a dia, abraçando logo todas as mortificações, principalmente quando aparecem contra a nossa vontade. Essas são as mais agradáveis a Deus.
“Mais vale o homem paciente do que o corajoso” Pr 16,32
Quem se mortifica com Jejuns, sacrifícios, penitencias, agrada sem duvida a Deus pela coragem que emprega nestas mortificações; mais lhe agrada, porém, quem é forte em sofrer com paciência e alegria as cruzes que Deus lhe manda.
- S. Francisco de Sales dizia: “As mortificações que nos vem de Deus ou dos homens, por permissão divina, são sempre mais preciosas do que aquelas que são filhas da nossa vontade. Como regra geral, o que tem menos de nossa escolha, é o mais agradável a Deus e proveitoso para a nossa alma”

13. Peçamos ao Senhor que nos faça dignos de seu santo amor. Se o amamos perfeitamente, todos os bens da terra parecerão fumaça e lodo; as humilhações e sofrimentos tornar-se-ão alegrias para nós.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap V– Santo Afonso Maria de Ligório

Paciência na Dor, 1ª parte

A alma que ama a Jesus Cristo, ama o Sofrimento
1. A terra é um lugar de merecimentos, e por isso é também um lugar de sofrimentos. O céu é nossa pátria, lá Deus nos preparou o repouso numa eterna felicidade. Passamos pouco tempo neste mundo, mas neste pouco tempo temos muitas dores a sofrer. “O homem, nascido de mulher, vive pouco tempo e é cheio de muitas misérias” Jó14,1.
- É preciso sofrer e todos têm de sofrer, seja justo ou pecador, cada um deve carregar sua cruz:
·         quem a carrega com paciência, salva-se;
·         quem a carrega com impaciência, perde-se.
- S. Agostinho diz que as mesmas misérias, levam alguns para o céu, e outros para o inferno. Com a prova do sofrimento se distingue a palha do trigo, na Igreja de Deus:
·         quem se humilha nos sofrimentos e se submete a vontade de Deus é trigo destinado ao céu;
·         quem é soberbo e fica impaciente, a ponto de voltar as costas para Deus, é palha que é destinada ao inferno.

2. No dia do julgamento de nossa salvação, nossa vida deverá ser igual a vida de jesus Cristo, para merecermos o Paraiso:
“Porque os que anteriormente ele conheceu, esses também predestinou a serem conformes a imagem de seu Filho” Rm 8, 29)
- O Verbo Eterno desceu a terra para nos ensinar, com seu exemplo, a carregar com paciência as cruzes que Deus nos manda:
“Cristo sofreu por vós, deixando-vos um exemplo, a fim de que sigais os seus passos” IPd2,21. Jesus Cristo quis sofrer para nos encorajar no sofrimento. Qual foi a vida de Jesus Cristo? Foi uma vida de humilhações e sofrimentos: “Desprezado, ultimo dos homens, homem das dores! Is53,3. Sim, a vida de jesus Cristo foi toda cheia de trabalhos e dores.

O amor no sofrimento
3. Como Deus trata seu Filho predileto, do mesmo modo trata a todos aqueles que ele ama e recebe como filhos: Hebreus 12,6
“O Senhor castiga os que ama e aflige todo aquele que recebe como filho”
- S. Tereza diz que sentiu na sua alma como se Deus lhe falasse: “Fica sabendo que as pessoas mais queridas de meu Pai são as que são mais afligidas com os maiores sofrimentos! Por essa razão, quando ela se via nos sofrimentos, dizia que não os trocaria por todos os tesouros do mundo. Conta-se que depois de sua morte ela apareceu a uma de suas companheiras ela revelou que recebera um grande prêmio no céu. Tinha recebido esse prêmio, não tanto por suas boas obras, como pelos sofrimentos suportados em sua vida, de boa vontade e por amor a Deus. E se desejasse por algum motivo voltar a terra, seria unicamente para poder ainda sofrer mais alguma coisa por Deus.

4. Quem ama a Deus nos sofrimentos recebe dupla recompensa no céu.
- S. Vicente de Paulo afirmava que se deve considerar como grande desgraça nesta vida o não ter nada a sofrer; e acrescentava que uma Congregação Religiosa ou uma pessoa que não sofre e a quem todos aplaudem, está próxima de uma queda.
- Quando S. Francisco de Assis passava um dia sem nada sofrer por Deus, temia que Deus tivesse se esquecido dele.
- S. João Crisóstomo escreve: Quando o Senhor concede a alguém a graça de sofrer, faz-lhe um bem maior do que se lhe desse o poder de ressuscitar os mortos. Isto porque o homem que faz milagres se torna devedor a Deus, mas no sofrimento Deus se torna devedor ao homem. Quem padece alguma coisa por Deus, se não tivesse outra graça senão a de poder sofrer por amor a Deus, já deveria considerar-se muito recompensado. Por isso, dizia ele, admirava mais a graça dada a São Paulo de ser preso por jesus Cristo, do que ser arrebatado ao terceiro céu.

Paciência na dor
5. “A paciência produz uma obra perfeita” Tg 1,4. Isso quer dizer que não existe coisa mais agradável a Deus do que sofrer com paciência e paz todas as cruzes por ele enviadas. É próprio do amor, fazer a pessoa que ama semelhante a pessoa amada.
- Dizia S. Francisco de Sales: “Todas as chagas do Redentor são outras tantas palavras que nos ensinam como devemos sofrer por ele. Esta é a sabedoria dos santos, sofrer constantemente por Jesus; assim ficaremos logo santos” Quem ama o salvador deseja ser como ele, pobre, sofredor e desprezado.
- S. João viu todos os santos vestidos de branco, segurando palmas nas mãos Ap 7,9. A palma é o símbolo do martírio; mas nem todos os santos foram martirizados. Por que então todos seguram palmas?
- Responde S. Gregório que todos os santos foram mártires ou pela espada ou pela paciência. E acrescenta:
“Nós podemos ser mártires sem a espada, se guardarmos a paciência”

6. O mérito de uma pessoa que ama Jesus Cristo consiste em amar e sofrer. Eis o que deus fez Santa Tereza entender: “Pensa, minha filha, que o mérito consiste no gozar? Não, o mérito consiste em sofrer e amar. Veja minha vida cheia de dores. Acredite, minha filha, aquele que é mais amado por meu Pai recebe dele cruzes maiores; ao sofrimento corresponde ao amor. Veja as minhas chagas; as suas dores nunca chegarão a tanto. Pensar que meu Pai admite alguém na sua amizade sem o sofrimento é um absurdo... mas acrescenta Santa Tereza: “Deus não manda nenhum sofrimento sem pagá-lo imediatamente com algum favor”
- São três as principais graças que Jesus faz as pessoas amadas por ele:
·         a primeira, não pecar;
·         a segunda, que é maior, o fazer boas obras;
·         a terceira, que é a maior de todas, sofrer por seu amor.
- Dizia S. Tereza que quando alguém faz algum  bem a Deus, o Senhor lhe paga com alguma cruz. Eis porque os santos agradeciam a Deus ao receberem os sofrimentos.
- S. Luís, Rei da França, falando da escravidão que sofreu na Turquia, diz: “Eu me alegro e fico muito agradecido a Deus mais pela paciência que me concedeu na minha prisão do que se tivesse conquistado a terra inteira”
- S. Isabel, rainha da Hungria, tendo perdido seu esposo, foi expulsa do lugar onde morava com seu filho. Sem abrigo e abandonada por todos, dirigiu-se a um convento dos franciscanos e mandou cantar um hino de ação de graças a Deus pelo favor que ele lhe concedia ao fazê-la sofrer por seu amor.7
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap V– Santo Afonso Maria de Ligório