domingo, 13 de abril de 2014

Paz no coração (Santo Afonso)

A paz no coração
6. “De onde vem a guerra, senão de vossas concupiscências? Tg4,1
- Quando alguém fica tomado de cólera por qualquer contrariedade, pensa encontrar alívio e paz desafogando sua raiva com atos ou, ao menos, com palavras. É um engano porque, depois desse desabafo, ficará muito mais perturbado do que antes. Quem deseja conservar-se em paz contínua, procure jamais estar de mau humor. Percebendo estar dominado por ele, procure libertar-se imediatamente e não o deixe dormir consigo nem uma noite, distraindo-se com alguma leitura, um canto piedoso, ou a conversa agradável de algum amigo.
            Diz a Sagrada Escritura: “É no coração dos insensatos que reside a irritação” Eclo7,9 a cólera no coração dos insensatos, que pouco amam a Jesus Cristo, encontra morada por muito tempo. Mas no coração daqueles que amam a Jesus Cristo, se por acaso entrar, é logo expulsa e não permanece. Quem ama a Jesus de coração, nunca está de mau humor. Não querendo senão o que Deus quer, sempre tem tudo o que quer e por isso se encontra sempre tranquilo e sempre o mesmo. A vontade de Deus o tranquiliza em todas as dificuldades que acontecem, e por isso demonstra para com todos uma total mansidão. Essa mansidão não pode ser alcançada sem um grande amor a Jesus Cristo. De fato, percebe-se que nunca somos mais delicados e mansos com os outros, do que quando sentimos maior ternura a Jesus Cristo.

            7. Por não experimentarmos sempre esta ternura, é preciso que na oração mental nos preparemos para sofrer as contrariedades que nos possam sobrevir. Assim fizeram os santos e ficaram prontos para receber com paciência e mansidão as ofensas, os insultos e as mágoas.
            No momento em que somos atingidos pelos insultos do próximo, se não estivermos preparados, dificilmente saberemos o que fazer para não sermos vencidos pela raiva. A paixão nos fará julgar razoável rebater com atrevimento o atrevimento de quem nos maltrata sem razão. Mas diz S. João Crisóstomo que não é um meio adequado para apagar um fogo aceso no coração do próximo, usar o fogo de uma resposta ressentida, que mais o inflama: “Fogo não se apaga com fogo”.
- Mas não é justo –dirá alguém- usar delicadeza e mansidão com um atrevido que nos ofende sem razão.
- É preciso usar de mansidão –responde S.Francisco Sales- não só com a razão, mas também contra a razão
            8. Nesses casos é preciso responder com uma palavra branda: esse é o meio de apagar o fogo: “A resposta mansa aplaca a ira”. Mas quando nosso animo está agitado, o melhor é calar-se.
- S.Bernardo: “A vista ofuscada pela raiva não enxerga direito”. Os olhos ofuscados pela ira já não veem o que é justo ou injusto. A paixão é como um véu colocado diante dos olhos não nos permitindo distinguir o certo do errado. “É necessário fazer um contrato com a língua, de não falar quando o meu coração estiver agitado”

Corrigir com amor
            9. Algumas vezes é necessário corrigir um insolente com palavras ásperas. “Irai-vos, mas sem pecar” Sl 4,5. As vezes é licito ficar irado mas sem pecar e aí é que está a dificuldade. Teoricamente falando, pode parecer em certos momentos conveniente falar ou responder com aspereza para fazer alguém entrar em si. O caminho seguro é o chamar a atenção ou responder com brandura e estar atento para não se deixar levar pela raiva. “Eu nunca me deixei conduzir pela ira –Dizia S.Francisco Sales- sem que logo me tenha arrependido”
            Quando nos sentimos ainda perturbados, como disse acima, o caminho mais seguro é calar, reservando a resposta ou admoestação para um momento mais oportuno, quando o coração estiver mais sossegado.
            10. Devemos especialmente praticar a mansidão ao sermos corrigidos por nossos superiores ou amigos.
- S.Francisco Sales: “Aceitar de bom grado as repreensões é sinal de que amamos as virtudes contrárias aos defeitos de que somos corrigidos. É um grande sinal de progresso na perfeição”.
            É preciso também usar a mansidão para conosco mesmos. O demônio mostra-nos como coisa louvável o ficar com raiva de nós mesmos quando cometemos uma falta. Mas não; isso é tentação dele que se esforça para nos inquietar a fim de que não possamos fazer nenhum bem.
- “Tende por certo que todos os pensamentos, que nos trazem inquietação, não vêm de Deus, príncipe da paz. Eles vêm ou do demônio ou do amor próprio ou da estima desregrada que temos de nós mesmos. São essas as três fontes de onde brotam todas as nossas perturbações. Por isso, quando aparecem pensamentos que nos inquietam, é necessário rejeitá-los e desprezá-los logo”

            11. a mansidão também nos é muito necessária quando temos que repreender os outros. Admoestações feitas com zelo amargo causam mais frequentemente  mais prejuízo do que proveito, principalmente estando perturbada a pessoa a ser corrigida. Deve-se então retardar a correção e esperar uma oportunidade em que esteja acalmado o fogo da raiva.
            Deixemos, ainda, de corrigir os outros, quando estamos de mau humor. Nesse estado, a admoestação será sempre feita com aspereza. A pessoa, vendo-se repreendida desse modo, fará pouco caso da admoestação, por ser feita com paixão. Isto vale tratando-se do bem do próximo. No que se refere ai nosso proveito, mostremos que amamos a Jesus Cristo, suportando com paz e alegria os maus tratos, as injurias e os desprezos.

Oração
            Meu Jesus desprezado, amor e alegria de minha vida. Com vosso exemplo, tornastes possível ais que vos amam, amar também s desprezos. De hoje em diante eu vos prometo sofrer, por vosso amor, todas as ofensas, já que por meu amor fostes tão injuriado pelos homens, neste mundo. Dai-me forças para realiza-lo, fazei-me conhecer e praticar tudo o que desejais de mim.
            Meu Deus e meu tudo, não quero procurar outro bem fora de vós, bondade infinita. Vós que cuidais tanto de meu progresso, fazei que eu não tenha outro cuidado senão o de vos dar alegria. Fazei que meus pensamentos sejam empregados sempre em fugir de tudo. Afastai de mim toda a ocasião que me afaste de vosso amor. Privo-me de minha liberdade e a consagro toda a vossa divina vontade.
            Eu vos amo, bondade sem fim, Verbo encarnado, amo-vos mais do que a mim mesmo. Tende piedade de mim e curai todas as feridas de que sofre minha alma por causa das ofensas que vis fiz.
- Abandono-me inteiramente em vossos braços, meu bom Jesus: quero vos pertencer, quero sofrer por vosso amor; só a vós desejo.
            Maria, virgem santa e minha mãe, eu vos amor e em vós confio. Socorrei-me com a vossa poderosa intercessão! Amém.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XII– Santo Afonso Maria de Ligório

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