quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Maria e seus escravos de amor

Ela os ama
§201 “Eu amo aqueles que me têm amor” (Pr 8, 17).
1) Ama-os porque é sua verdadeira Mãe, e uma mãe ama seus filhos, fruto das suas entranhas;
2) Ama-os por gratidão, visto que efetivamente eles a amam como sua boa Mãe;
3) Ama-os porque, sendo predestinados, Deus lhes tem amor: “Amei Jacó e odiei Esaú” (Rm 9, 13);
4) Ama-os porque se lhe consagraram inteiramente e se tornaram seu quinhão e sua herança: “Recebe Israel por tua herança“ (Eclo 24, 13).

§202. Ela os ama ternamente, e com mais ternura que todas as mães juntas. Juntai, se puderdes, num só coração de mãe e para com um único filho, todo o amor natural que as mães do mundo inteiro têm pelos seus filhos: certamente essa mãe amará muito esse filho. No entanto, verdade é que Maria ama ainda mais ternamente Seus filhos do que aquela mãe amaria o seu. Ela não os ama apenas com afeto, mas também com eficácia. O seu amor por eles é ativo e efetivo, como o de Rebeca por Jacó, e ainda mais.
Eis o que esta boa Mãe, de quem Rebeca era apenas uma
imagem, realiza para obter a Seus filhos a bênção do Pai celeste:

§203. 1) Ela espreita, como Rebeca, as ocasiões favoráveis para lhes fazer bem, para os engrandecer e enriquecer. Ela vê claramente em Deus os bens e os males, os bons e os maus sucessos, as bênçãos e as maldições divinas. - Por isso dispõe de longe todas as coisas, para livrar os Seus servos de toda a espécie de males, e para os cumular de todos os bens. 
- Assim, se apresentar-se-lhe a ocasião de obter, em Deus, um bom prêmio ou proveito, pela fidelidade de alguma criatura a qualquer alta missão, é fora de dúvida que Maria obterá esta graça a um dos Seus filhos e servos fiéis, juntamente com a graça de tudo levar a cabo fielmente. “Ela própria se ocupa dos nossos interesses e negócios”, diz um Santo.

§204. 2) Ela os favorece com bons conselhos, como Rebeca a Jacó: “Meu filho, segue os meus conselhos” (Gn 27, 8). E, entre outros conselhos, inspira-lhes o de lhe trazerem dois cabritos, isto é, o corpo e a alma, para lhos consagrarem, a fim de que Ela prepare um festim agradável a Deus.
- Inspira-lhes ainda o conselho de fazerem tudo o que seu Filho Jesus Cristo ensinou com suas palavras e exemplos. Se não é diretamente que lhes dá estes conselhos, dá-lhos pelo ministério dos anjos, cuja maior honra e prazer é obedecer a alguma das suas ordens para baixar à Terra e vir em socorro de algum dos servidores d'Ela.

§205. 3) Quando lhe levamos e consagramos o corpo e a alma, e tudo o que deles depende, sem nada excetuar, que faz esta boa Mãe? Aquilo que outrora fez Rebeca aos dois cabritos que Jacó lhe trouxe:
  • 1º. Sacrifica-os, fazendo-os morrer para a vida do velho Adão;
  • 2º. Esfola-os e tira-lhes a pele natural, que são as inclinações da natureza, o amor próprio, a vontade própria e todo o apego às criaturas.;
  • 3º. Purifica-os de suas manchas, impurezas e pecados;
  • 4º. Prepara-os ao gosto de Deus e para a sua maior glória. Como só Ela conhece perfeitamente o gosto divino e a maior glória do Altíssimo, também só Ela pode aprontar e preparar, sem se enganar, o nosso corpo e a nossa alma segundo esse gosto infinitamente elevado e essa glória infinitamente escondida e eterna.

§206. 4) Esta boa Mãe, tendo recebido a oferta perfeita que lhe fizemos, de nós mesmos e dos nossos méritos e satisfações, por meio da Devoção de que já falei, e tendo-nos uma vez despojado dos nossos velhos hábitos, prepara-nos e torna-nos dignos de comparecer diante de nosso Pai celeste:
1º. Reveste-nos com os vestidos apropriados, novos, preciosos e perfumados de Esaú, o primogênito, isto é, de Jesus Cristo, seu Filho. Ela guarda estas vestes em sua casa, quer dizer, tem-nas em seu poder, sendo a tesoureira e dispensadora universal dos méritos e das virtudes de Jesus Cristo, seu Filho. E Maria pode dá-los e comunicá-los a quem quer, quando quer, como quer e na medida que quer, como já acima vimos (§25 e 141).
2º. Envolve as mãos e o pescoço de Seus servos com a pele dos cabritos mortos e esfolados, isto é, adorna-os com os méritos e o valor das ações deles mesmos. Ela mata e mortifica o que há de impuro e imperfeito nas suas pessoas, mas não perde nem dissipa todo o bem que a graça neles operou. Guarda-o e aumenta-o, para fazer dele o ornamento e a força de seu pescoço e de suas mãos, ou seja, para lhes dar fortaleza em levar o jugo do Senhor, que assenta sobre o pescoço, e para operarem grandes coisas para glória de Deus e a salvação de seus pobres irmãos.
3º. Ela dá um novo perfume e uma nova graça a essas vestes e ornamentos, comunicando-lhes as suas próprias vestes, quer dizer: os méritos e virtudes, que Ela lhes legou em testamento ao morrer, como diz uma santa religiosa do século passado, morta em odor de santidade, e que o soube por revelação.
- Deste modo, todos os Seus domésticos, fiéis servos e escravos estão duplamente vestidos com vestes de seu Filho e as suas: “Todos os Seus domésticos trazem vestidos forrados” (Pr 31, 21). É por isso que não têm a recear o frio de Jesus Cristo, branco como a neve, que os réprobos, inteiramente nus e desprovidos dos merecimentos de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem, não poderão suportar.

§207. 5) Ela lhes faz obter, enfim, a bênção do Pai celeste, embora naturalmente não a devessem receber por não serem os primogênitos, e apenas filhos adotivos. Com estas vestes inteiramente novas, muito preciosas e muito perfumadas, e com o corpo e a alma bem preparados e aprontados, aproximam-se confiadamente do leito de repouso do Pai celeste. Ele os entende e distingue pela voz, que é a do pecador; apalpa-lhes as mãos, recobertas de peles; sente o aroma dos seus vestidos; come com prazer o que Maria, a Mãe deles, lhe preparou. E reconhecendo neles os méritos e o bom odor de seu Filho e de sua Santa Mãe:
1º. Ele lhes dá uma dupla bênção. A bênção do orvalho do Céu (Gn 27, 28), que é a graça divina, semente da glória:
“Deus abençoou-nos em Jesus Cristo com toda a bênção espiritual”
(Ef 1, 3). E a bênção da fecundidade da terra (Gn 27,28),
isto é, este Pai bondoso dá-lhes o pão quotidiano e uma suficiente abundância dos bens deste mundo.
2º. Ele os constitui senhores dos outros seus irmãos, os réprobos, embora esta primazia nem sempre se manifeste neste mundo, que passa num momento (1 Cor 7, 31).
Neste mundo são muitas vezes os réprobos que dominam: “Os pecadores se vangloriarão com discursos e se exaltarão” (Sl 93, 3-4). “Vi o ímpio exaltado e elevado” (Sl 36, 35). Mas essa primazia não deixa, por isso, de ser verdadeira, e aparecerá manifestamente no outro mundo, pela eternidade afora. Lá os justos, no dizer do Espírito Santo, “dominarão e imperarão sobre as nações (Sb 3, 8).
3º. Sua Majestade não se contenta só com abençoar as suas pessoas e os seus bens, mas estende a sua bênção a quantos os abençoarem, e a sua maldição a todos os que os amaldiçoarem e perseguirem (Gn 27, 29).

Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort

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