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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Tentações

O amor a Jesus Cristo nas tentações
Os sofrimentos que mais afligem nesta vida as pessoas que amam a Deus, não são a pobreza, as doenças, as injurias ou as perseguições, mas sim as tentações e tribulações espirituais.
            Quando uma alma goza da presença amorosa de Deus, todas as dores, os desprezos e os maus tratos, em vez de afligirem, consolam, pois são motivos para oferecer a Deus alguma prova de seu amor. São lenha  que ateia mais fogo. Mas, o ver-se tentada a perder a graça de Deus ou o sentir o temor na desolação de já tê-la perdido, são esses os sofrimentos mais amargos para quem ama de coração a Jesus Cristo.
Mas o próprio amor a Deus lhe dá forças para sofrer com paciência e continuar no caminho da perfeição. E quanto progridem as almas no caminho da perfeição com essas provas, que deus costuma exigir-lhes de seu amor!

As tentações
Para quem ama a Jesus Cristo não há sofrimento pior que as tentações. Todos os outros sofrimentos o estimulam a se unir mais com Deus, quando aceitos com generosidade. As tentações, porém, impelem a pecar, a separar-se de Jesus Cristo e, por isso, são muito mais amargas do que todos os outros sofrimentos. É preciso, porém, notar que todas as tentações, que impelem para o mal, não vêm de Deus, mas do demônio ou das más inclinações:
“Deus é incapaz de tentar para o mal, e ele não tenta ninguém” Tiago 1,13
            Contudo, ele permite, as vezes, que as almas, que lhe são mais caras, sejam tentadas mais fortemente.
1. Em primeiro lugar, para que conheçam melhor a sua fraqueza e a necessidade que têm do auxilio de Deus para não caírem. Quando uma pessoa se encontra interiormente consolada por Deus, pensa ser capaz de vencer todas as tentações e realizar qualquer trabalho pela gloria de Deus. Vendo-se, porém, duramente tentada, a beira do precipício, e quase caindo, é então que reconhece melhor sua miséria e sua incapacidade para resistir, se Deus não a socorre. Foi isso justamente o que aconteceu a São Paulo que escreveu: “É para que a grandeza das revelações não me ensoberbecesse, foi-me dado o estímulo da minha carne, um anjo de satanás, que me esbofeteie” IICor 12,7

            2. Em segundo lugar, Deus permite as tentações para que vivamos mais desapegados deste mundo, e desejemos mais ardentemente ir vê-lo no céu.
            As pessoas de bom coração, vendo-se tentadas nesta vida dia e noite, enfastiam-se de viver e dizem: “Ai de mim, meu desterro se prolonga”, suspirando pela hora em que poderão dizer: “A cadeia se rompeu, e nós ficamos livres” Salmo 119, 5. A alma quer voar para Deus, mas enquanto vive neste mundo, está presa por uma cadeia que a segura aqui na terra, onde é atormentada continuamente pelas tentações. Essa cadeia não se rompe senão com a morte. Por isso, as almas que amam o Senhor suspiram pela morte que as tire do perigo de perderem a Deus.

            3. Em terceiro lugar, Deus permite as tentações para nos enriquecer com méritos como disse o anjo a Tobias: “Porque eras aceito a Deus, foi necessário que a tentação te provasse” Tobias 12, 13.
            Portanto, não devemos recear de estar sem a graça de Deus pelo fato de sermos tentados; pelo contrário, então devemos esperar ser mais amados por Deus.
É engano do demônio o fazer certas almas fracas acreditarem que as tentações são pecados que mancham  a alma. Não são os maus pensamentos que fazem perder a Deus, mas sim os maus consentimentos. Por fortes que sejam as tentações do demônio, por mais vivas que sejam as imaginações impuras assaltando o nosso espírito, se nós não a queremos, não mancham a alma, mas a tornam mais pura, mais forte e mais querida por Deus.
- Diz São Bernardo que todas as vezes que vencemos as tentações, ganhamos um novo mérito: “Quantas vezes vencemos, tantas vezes somos coroados”.
            Não nos espantemos com o mau pensamento que não sai da nossa cabeça e continua a nos atormentar; basta que o detestemos e procuremos afastá-lo.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Deus nos ama

Deus nos ama
17. Por que Deus nos carrega de tantas cruzes e parece se alegrar vendo-nos atribulados, desprezados, perseguidos e maltratados no mundo?
Por acaso é um tirano tão cruel que gosta de nos ver sofrer?
Não. Deus não é um tirano nem é cruel; ele é todo bondade e amor para conosco. Basta dizer que nos amou até morrer por nós.
Ele se alegra, sim, vendo-nos sofrer, mas para o nosso bem. Deseja que, sofrendo nesta vida, fiquemos livres das penas que deveríamos sofrer na outra vida por causa das nossas dividas com a justiça de Deus.
Ele se alegra, sim, para que não nos apeguemos aos prazeres sensíveis desta vida.
Certas mães colocam algo de amargo em seus seios quando querem desmamar o filhinho. Deus torna amargos os prazeres da vida para que, sofrendo com paciência e resignação, lhe demos alguma prova de nosso amor.
Alegra-se finalmente, por adquirirmos maior glória no céu com os nossos sofrimentos. Por esses motivos, todos eles de bondade e amor, o Senhor se alegra vendo-nos sofrer.

18. Para praticarmos bem a resignação em todas as tribulações que nos acontecem, é necessário persuadir-nos de que todos os sofrimentos vêm das mãos de Deus, diretamente ou indiretamente através dos homens.
Quando nos virmos atribulados, devemos agradecer ao Senhor e aceitar alegremente tudo o que ele nos manda, porque tudo é para o nosso bem: “Todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus” Romanos 8,28.
Quando nos aflige alguma tribulação, devemos pensar no inferno, por nós merecido. Todo o sofrimento em comparação com o inferno, será sempre imensamente menor.
Mas, para sofrer com paciência todas as dores, todos os desprezos e todas as contrariedades, requer-se a oração mais do que qualquer consideração. A ajuda divina que nos será dada depois da oração, comunicar-nos-á a força que não tínhamos.
Assim fizeram os santos, recomendaram-se a Deus e venceram todos os sofrimentos e perseguições.

Oração
            Senhor, estou convencido de que, sem sofrer com paciência, não posso ganhar o céu. “Dele é que vem –dizia Davi- a minha paciência” Salmo 61,6. O mesmo quero dizer.
            Vós me dareis a paciência para sofrer. Quero aceitar com tranquilidade todas as tribulações, mas depois, quando elas chegam, encho-me logo de tristeza de desânimo.
            Dessa forma sofro sem méritos e sem amor, porque não sei ainda sofrer par vos agradar.
            Por isso, meu Jesus, eu vos peço, pelos merecimentos de vossa paciência, a graça de sofrer todas as cruzes por vosso amor.
            Eu vos amo de todo o meu coração, divino Redentor.
Eu vos amo, meu sumo bem;
Amo-vos, Jesus, digno de um amor infinito.
Arrependo-me de todos os desgostos que vos tenho dado.
Prometo-vos aceitar com resignação todos os sofrimentos de que me enviardes; mas espero de vós o socorro para sofrer com paciência, especialmente as dores da minha agonia e da minha morte.
Maria, minha Rainha, alcançai-me uma verdadeira resignação em tudo o que ainda tenha de sofrer na vida e na morte.

Amém.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIV– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Felizes os humildes (Santo Afonso)

10. “Quem é verdadeiramente humilde, vendo-se humilhado, mais se humilha” diz S.Joana Chantal. Sim, porque a pessoa humilde nunca se julga tão humilhada quanto merece. Os que fazem assim são chamados por Cristo de ‘felizes’. Os que são estimados, honrados e louvados por sua nobreza, ciência e poder não são chamados ‘felizes’ por Cristo.
Mas uma grande recompensa será dada no céu aos que são amaldiçoados pelo mundo, perseguidos e caluniados pelos homens, se sofrerem tudo isso com paciência: “Bem aventurados sois vós, quando vos injuriarem e vos perseguirem e mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus” Mt5, 11-12.

11. Devemos praticar a humildade principalmente quando somos repreendidos por alguma falta pelos nossos superiores ou por outra pessoa qualquer.
Alguns fazem como ouriços: quando não são atacados, parecem calmos e cheios de mansidão. Mas quando um superior ou amigo o toca lembrando-lhes alguma coisa mal feita, arrepiam logo os espinhos. Respondem com azedume dizendo que não é verdade, ou que tiveram motivos para o fazer, ou que não tinham cabimento aquela admoestação. Em resumo, quem os repreende torna-se seu inimigo. Fazem como aqueles que se zangam com o médico porque os faz sofrer dores quando realiza os curativos de suas feridas.
Diz S.João Crisóstomo: “A pessoa santa é humilde, quando é repreendida, arrepende-se da falta que fez. Ao contrário, quem é orgulhoso fica magoado quando é corrigido. Fica magoado por ver descoberto o seu defeito e por isso responde e indigna-se com quem o adverte.”
S.Felipe Neri dá esta regra a quem é acusado sem motivo: “Quem quer ficar verdadeiramente santo nunca desse se desculpar, nem que seja falso o que lhe atribuem”. A única exceção acontece quando é necessário defender-se para evitar escândalo. Quando merecimento perante Deus tem uma pessoa que é repreendida, até mesmo sem razão, e se cala e não se desculpa!
S.Tereza: “Uma pessoa caminha mais para Deus quando deixa de desculpar-se do que ouvindo dez sermões. Não se desculpando, começa a adquirir a liberdade interior e a não se preocupar se dizem dele bem ou mal”.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap IX– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Plenitude (Santo Afonso)

13. A alma no céu está unida toda a Deus e o ama com todas as suas forças, com um amor consumado e perfeito. Esse amor, embora limitado, pois a criatura não é capaz de um amor infinito, é tal que a contenta e a satisfaz completamente. Ela nada mais deseja.
Deus, por sua vez, comunica-se e se une todo a alma, saciando-a na medida da capacidade dela e de seus méritos. Une-se a ela não já por meio de seus dons, luzes, atrativos de amor, como faz conosco nesta vida, mas com sua própria essência.
Assim como o fogo penetra o ferro e parece identificar-se com ele, assim também Deus penetra e preenche a alma. Embora não perca a sua personalidade, ela fica de tal modo repleta e abismada naquele mar imenso da substância divina, como que aniquilada e como se não existisse.
Era essa a felicidade que São Paulo pedia para os seus discípulos:
“Que sejais saciados de toda plenitude de Deus” Ef 3,19

14. É esse o fim último que o Senhor, na sua bondade, nos permite conseguir na outra vida. Enquanto a alma não chega a se unir a Deus no céu, onde se realiza a união perfeita, não pode ter aqui na terra o seu perfeito repouso.
É verdade que quem ama a Jesus Cristo encontra na conformidade com a vontade de Deus a sua paz, mas não encontra nesta vida o seu repouso completo. Este só se alcança atingindo o fim ultimo que é ver Deus face a face, e ser consumido por seu amor. Enquanto a alma não conseguir essa meta, ela permanece inquieta, sofre e suspira: “Eis que meu sofrimento se mudou em paz” Is 38,17.

            15. Sim, meu Deus, vivo em paz neste vale de lágrimas, porque essa é a vossa vontade; mas não posso deixar de sentir uma inexplicável amargura vendo-me longe de vós, ainda não perfeitamente unido convosco, minha meta, meu tudo, meu pleno repouso.
            Os santos, mesmo inflamados de amor de Deus neste mundo, suspiravam pelo céu. O rei Davi dizia: “Pobre de mim, meu desterro se prolongou... Saciar-me-ei, quando aparecer a vossa glória” Sl 119,5; 16,15.
- S.Paulo: “Desejo estar com Cristo” Fl 1,23.
- S.Francisco Assis: “É tão grande o bem que espero, que todo o sofrimento me é um prazer”. Todos esses são atos de perfeito amor.
- S.Tomás: O grau mais alto de caridade a que pode chegar uma alma nesta vida, é desejar intensamente ir unir-se com Deus e gozar dele no céu. Esse gozar de Deus no céu consiste não tanto em receber a felicidade dada por Deus, mas na felicidade do gozo de Deus, amado pela alma mais que a si mesma.

            16. O maior tormento das almas do purgatório é o desejo de possuir Deus que ainda não possuem. Esse sofrimento afligirá especialmente aqueles que durante a vida, desejaram pouco o céu.
- S.Roberto Belarmino fala de um “cárcere de honra” no purgatório, onde algumas almas não sofrem nos sentidos, mas somente a privação da visão de Deus. Esse sofrimento lhes é dado, não pelos pecados cometidos, mas pela frieza com que desejaram o paraíso.
            Muitas pessoas desejam a perfeição e depois encaram com demasiada indiferença o ir para o céu para ver a Deus, ou continuar vivendo aqui na terra. A vida eterna é um bem imensamente grande que Jesus Cristo mereceu com sua morte; por isso é justo o sofrimento para aqueles que a desejarem pouco em sua vida.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVI– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Céu (Santo Afonso)

            10. Amemos a Jesus Cristo o quanto podemos neste mundo. Desejemos a todo instante ir vê-lo no céu para lá o amarmos perfeitamente. Seja esse o principal objeto de toda a nossa esperança: ir amá-lo com todas as nossas forças.
            Temos nesta vida o mandamento de amar a Deus com todas as nossas forças: “Amarás o Senhor, tu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças” Lc 10,27.
- S.Tomás: Esse mandamento não pode ser perfeitamente cumprido pelos homens nesta vida. Somente jesus Cristo, o homem e Deus, e Maria Santíssima, a cheia de graça e livre da culpa original, é que o cumpriram perfeitamente. Nós, pobres filhos de adão, contagiados pelo pecado, não podemos amar a Deus sem alguma imperfeição. Só no céu, quando virmos Deus face a face, nós o amaremos e até teremos necessidade de amá-lo com todas as nossas forças.

            11. Eis a meta a que devem tender todos os nossos desejos, aspirações, pensamentos, nossas esperanças: ir gozar de Deus no Paraíso para amá-lo com todas as nossas forças e gozar do gozo de Deus! Gozam, sim, os santos da sua felicidade no céu, mas o gozo principal que ultrapassa todos os outros prazeres será o conhecerem a felicidade infinita de Deus, pois amam mais a ele do que a si mesmos.
            Qualquer santo, pelo amor que tem a Deus, perderia com prazer todas as alegrias e sofreria tudo para que não faltasse a Deus –se lhe fosse possível faltar- uma parcela mínima da felicidade que ele goza. Todo o seu paraíso consiste em ver que Deus é infinitamente feliz e que sua felicidade nunca lhe pode faltar. Dessa forma se entende o que diz o Senhor a toda a alma, ao lhe dar o céu: “Entra no gozo de teu Senhor” Mt25,21. Não é o gozo que entra na alma, mas é a alma que entra na felicidade de Deus. A felicidade de Deus é o objeto da felicidade do bem-aventurado. Dessa forma, o bem de Deus será o seu bem, a riqueza de Deus será a sua riqueza, a felicidade de Deus será a sua felicidade.

            12. Logo que uma alma entra no céu e vê claramente com a luz da glória a infinita Beleza de Deus, achar-se-á toda presa e consumida pelo amor. Ela fica perdida e mergulhada no mar infinito da bondade divina, esquece de si mesma e, inebriada pelo amor de Deus, não pensa em mais nada, senão em amar o seu Deus: “Eles se saciam da abundancia de vossa casa” Sl 35,9.
            Uma pessoa embriagada não pensa mais em si. Do mesmo modo quem está no céu não pensa senão em amar e contentar a Deus. Deseja possui-lo todo, e já o possui todo sem o medo de poder perdê-lo. Deseja dar-se todo a ele, por amor, em todos os momentos, e já consegue, porque a todo o momento se entrega sem reservas a Deus. Deus o abraça com amor e, assim abraçado, o tem e terá por toda a eternidade.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVI– Santo Afonso Maria de Ligório

sábado, 10 de maio de 2014

Amor tudo espera (Santo Afonso)

O amor tudo espera
7. A caridade tudo espera. A esperança cristã, como ensina S. Tomás: “é a espera certa da felicidade eterna”. Tal certeza nasce da promessa infalível de Deus em dar a vida eterna aos seus servos fiéis.
            A caridade elimina o pecado, eliminando assim o impedimento de conseguir o céu. Por isso, quanto maior é a caridade, maior e mais firme se torna a nossa esperança; esta não pode certamente ser um obstáculo ao amor de Deus. O amor tende naturalmente a união com a pessoa que se ama, ele é como um laço de ouro que une os corações de quem ama e de quem é amado. Não podendo essa união fazer-se a distância, quem ama deseja sempre a presença do seu amado. A alma, descrita no Cântico dos Cânticos, definhava afastada de seu amado; pedia as suas companheiras que lhe contassem o seu sofrimento para que ele viesse consola-la com a sua presença: “Suplico-vos, filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, dizei-lhe que estou doente de amor” Ct 5,8.
            Uma pessoa que ama muito a Jesus Cristo, enquanto vive neste mundo, não deixa de desejar e esperar ir logo para o céu a fim de unir-se com seu amado Senhor.

            8. É puro e perfeito amor o desejo de i ver Deus no céu. Não tanto pela felicidade que lá experimentaremos em amá-lo, mas pelo prazer que lhe daremos amando-o.
            A felicidade que os santos do céu sentem em amar a Deus, não impede a pureza de sua caridade. Tal felicidade é inseparável do amor. Os santos se satisfazem muito mais no amor que dão a Deus, do que no prazer que sentem em ama-lo. Mas dirá alguém:
- Desejar uma recompensa é ambição e não amizade.
- É necessário distinguir as recompensas do céu prometida por Deus a quem o ama.
            As recompensas que os homens dão distinguem-se das suas pessoas, pois remunerando os outros, eles não se dão a si mesmos, mas somente os seus bens; enquanto que a principal recompensa que Deus faz aos santos é dar-se todo a eles: “Eu serei a tua recompensa extremamente grande” Gn 15,1. Portanto, desejar o Paraíso é o mesmo que desejar a Deus, nosso fim ultimo.

            9. Quero apresentar aqui uma dúvida que facilmente pode vir a mente de uma pessoa que ama a Deus e que procura em tudo fazer a sua santa vontade.
             Se por acaso, fosse revelada a uma pessoa a sua condenação eterna, ela estaria obrigada a aceita-la para se conformar com a vontade de Deus?
            Não, ensina S.Tomás. Chega até a afirmar que peca, se consente nisso, porque consentiria em viver num estado unido ao pecado e contrário ao fim último determinado por Deus. Deus não criou os homens para o inferno onde o odeiam, mas para o céu onde o amam. Deus não quer a morte do pecador, mas que todos se convertam e se salvem. “O Senhor não quer ninguém condenado senão pelo pecado. por isso, se alguém, tivesse lavrado o decreto de sua condenação, não se conformaria com a vontade de Deus, mas com a vontade do pecado".
            E se Deus, prevendo o pecado de alguém, tivesse lavrado o decreto de sua condenação, e revelando-o a pessoa, estaria ela obrigada a consentir nele?
“De modo algum. Deveria entender aquela revelação, não como um decreto irrevogável, mas como uma ameaça no caso de persistir no pecado.”


 A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVI– Santo Afonso Maria de Ligório

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Esperança faz crescer o amor (Santo Afonso)

Quem ama a Jesus Cristo, dele tudo espera
1. A esperança faz crescer a caridade, e a caridade faz crescer a esperança.
- S. Tomás: “No momento em que esperamos algum bem de alguma pessoa, começamos a amá-la”. Por isso, o Senhor não quer que ponhamos nossa confiança nas criaturas: “Não coloqueis nos poderosos a vossa confiança.” Ele amaldiçoa quem confia no homem, dizendo: “Maldito o homem que confia no homem”. Deus não quer que confiemos nas criaturas, porque não quer que coloquemos nelas o nosso amor.
- S.Vicente Paulo: “Cuidemos em não nos apoiarmos muito na proteção dos homens, porque o Senhor, quando nos vê apoiados neles, retira-se de nós. Ao contrário, quanto mais confiamos em Deus tanto mais progredimos no seu amor”.
            “Correrei pelo caminho de vossos mandamentos, porque sois vós que dilatais o meu coração.” Corre no caminho da perfeição quem possui o coração dilatado na confiança em Deus. Digo mais, não só corre, mas voa, porque tendo depositado toda sua esperança no Senhor, deixará de ser fraco como era. Tornar-se-á forte com a força de Deus comunicada a todos os que confiam em Deus: “Aqueles que esperam no Senhor renovam suas forças; terão asas como de águia. Correrão sem se cansar, irão para frente sem se fatigar” Isaias40,31. A águia, quanto mais se levanta em seu voo, mais se avizinha do sol; do mesmo modo a alma, fortalecida com a confiança, desprende-se da terra e mais se une a Deus pelo amor.

            2. Assim como a esperança ajuda a aumentar o amor de Deus, assim também o amor aumenta a esperança, porque a caridade nos faz filhos adotivos de Deus. Na ordem natural somos obras de suas mãos. Na ordem sobrenatural, pelos merecimentos de Jesus Cristo, somos filhos de Deus e participantes da natureza divina (IIPedro 1,4). E se a caridade nos faz filhos de Deus, como consequência nos faz também herdeiros do céu: “Se somos filhos, também somos herdeiros” Rm 8,17. Ora, aos filhos compete habitar a casa do pai. Aos herdeiros pertence a herança, e por isso a caridade faz crescer a esperança do paraíso. Dessa forma, quem ama a Deus não cessa de continuamente exclamar: Venha a nós o vosso reino!

Esperança no amor
            3. Deus ama a quem o ama, como se diz na sagrada Escritura: “Eu amo aqueles que me amam” Pr 8,17. Ele enche de graças a quem o procura com amor: “O Senhor é bondoso com a alma que o procura” Lm 3,25. Por isso, quem mais ama a Deus, mais espera na sua bondade. Dessa confiança nasce nos santos aquela inalterável tranquilidade, que os fez sempre alegres e sossegados, até mesmo no meio das contrariedades. Amando eles a Jesus Cristo e sabendo quanto ele é generoso com suas graças para com aqueles que o ama, só nele confiam e nele encontram tranquilidade. É essa a razão porque a alma esposa, descrita no Cântico dos Cânticos, transbordava de felicidade. Não amando senão a Deus, descansava somente nele. Sabendo o quanto é agradecido com quem o ama, estava toda contente. Por isso dela se dizia: “Quem é esta que sobe do deserto, mergulhada em felicidade, apoiando-se em seu amado?” Ct 8,5. É mais do que certo o que diz a Escritura: “Todos os bens me vieram junto com ela”Sb 7,11.; junto com a caridade nos vem todos os bens.

            4. O objeto primário da esperança cristã é Deus, de cuja presença gozam as almas do céu. Mas não pensemos que a esperança de gozar da presença de Deus no céu seja um obstáculo para a caridade, porque a esperança está inseparavelmente unida a caridade. No céu a caridade se aperfeiçoa e encontra o seu complemento.
             A caridade, como diz a Sagrada Escritura, é aquele tesouro infinito que nos faz amigos de Deus: “Ela é para os homens um tesouro inesgotável, e os que a adquiriram, tornaram-se amigos de Deus” Sb 7,14.
- S.Tomás: “A amizade tem por fundamento a comunicação de bens. Sendo a amizade um amor recíproco entre os amigos, é necessário que eles reciprocamente façam bem uns aos outros, conforme o que cabe a cada um. “Se não houvesse comunicação de bens, não haveria amizade”. Por isso Jesus disse aos seus discípulos: “Eu vos chamei amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” Jo 15,15. Já que Jesus os tinha feito seus amigos, devia comunicar-lhes todos os seus segredos.

Comunhão com Deus
            5. S.Francisco de Sales: “Se por impossível, existisse uma bondade infinita, isto é, um Deus a quem não pertencêssemos de modo nenhum e com quem não pudéssemos ter nenhuma união nem comunicação, com certeza nós a valorizaríamos mais do que a nós mesmos. Poderíamos desejar amá-la, mas não a amaríamos porque o amor exige união. A caridade é uma amizade, e a amizade tem por fundamento a comunicação e por finalidade a união.”
- S.Tomás: “A caridade não exclui o desejo da recompensa que Deus nos prepara no céu, mas até nos faz considerá-la como principal objetivo de nosso amor que é Deus, felicidade dos bem-aventurados. É próprio da amizade que os amigos desfrutem mutuamente uns dos outros.”

            6. Esta é aquela reciproca comunicação de dons de que fala o Cântico dos Cânticos: “Aquele que eu amo existe para mim e eu para ele” Ct2,16. A alma no céu se dá toda a Deus e Deus se dá todo a alma na medida em que ela é capaz e segundo seus merecimentos.
            Conhecendo seu nada diante da infinita amabilidade de Deus e vendo que Deus merece ser amado infinitamente mais por ela do que ela por Deus, a alma deseja mais o agrado de Deus do que a sua própria satisfação. Por isso, mais se alegra em dar-se a Deus para lhe agradar, do que Deus dar-se todo a ela; e tanto se alegra que Deus se doe a ela, quanto isso a inflama a dar-se toda a Deus com amor mais intenso. Goza já da glória comunicada por Deus, mas goza da glória para atribui-la ao mesmo Deus e aumentar-lhe a glória o quanto pode.
            No céu, a alma, vendo a Deus, não pode deixar de amá-lo com todas as suas forças. Também Deus não pode odiar quem o ama. É um absurdo, mas se Deus pudesse odiar alguém que o ama e se alguém no céu pudesse viver sem o amar, esse alguém preferiria sofrer todos os tormentos do inferno, contanto que lhe fosse dado amar a Deus, do que viver sem o amar, mesmo gozando de todas as outras felicidades do Paraíso. Sim, porque conhecendo que Deus merece ser amado infinitamente mais do que ela, a alma deseja muito mais amar do que ser amada por ele.

Oração
             Meu Deus, meu Criador e Redentor, vós me criastes  me remistes para me levardes ao Paraíso. Ofendendo-vos tantas vezes, renunciei abertamente ao céu e me contentei de me ver condenado.
            Bendita seja sempre a vossa infinita misericórdia que, tendo-me perdoado –como espero-, me livrou tantas vezes do inferno!
            Meu Jesus, quem me dera nunca vos ter ofendido e vos ter sempre amado.
            Consola-me que ainda tenho tempo de vos amar.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XV– Santo Afonso Maria de Ligório

terça-feira, 6 de maio de 2014

Amor a Palavra (Santo Afonso)

Quem ama a Jesus Cristo crê em todas as suas Palavras
1. Quem ama uma pessoa, acredita em tudo o que ela diz. Por isso, quanto maior é o amor de alguém a Jesus Cristo, tanto mais firme e viva é a sua fé. O bom ladrão, vendo nosso Redentor morrendo na cruz sem culpa e sofrendo com tanta paciência, começou a amá-lo. Movido por esse amor e iluminado pela luz divina, acreditou que ele era verdadeiramente o Filho de Deus; por essa razão pediu-lhe que se lembrasse dele, quando entrasse em seu reino.

2. A fé é o fundamento da caridade, mas depois é a caridade que aperfeiçoa a fé. Quem mais perfeitamente ama a Deus, mais perfeitamente crê. A caridade faz que o homem creia, não só com a inteligência, mas também com a vontade. Assim fazem os pecadores que sabem serem mais que certas as verdades da fé, mas não querem viver conforme os mandamentos divinos. Eles têm uma fé muito fraca. Se tivessem uma fé viva, crendo que a graça divina é um bem maior de todos os bens e que o pecado é um mal maior do que todos os males, por nos privar da graça de Deus, com certeza mudariam de vida.
Se preferem os míseros bens deste mundo em vez de Deus, é porque não creem ou creem muito fracamente. Os que acreditam não só com a inteligência, mas também com a vontade, de modo que não só creem, mas querem crer num Deus que se revela pelo amor que lhes tem, e gostam de crer em Deus, estes, sim, acreditam perfeitamente. Por isso procuram conformar sua vida com as verdades que creem.

Maus costumes
            3. A falta de fé, naqueles que vivem em pecado, não nasce da obscuridade da fé. Embora Deus tenha desejado que as coisas da fé nos fossem em grande parte incompreensíveis e ocultas, para que tivéssemos merecimento em crer, contudo as verdades de fé se tornam evidentes pelos sinais que as manifestam. Não acreditar nelas seria não só imprudência, mas também falta de religião e loucura.
            A fraqueza da fé de muitos nasce de seus maus costumes. Quem despreza a amizade de Deus para não se privar dos prazeres ilícitos, desejaria que não houvesse lei que os proibisse, nem castigo para os que pecam. Faz tudo para evitar a reflexão sobre as verdades eternas, a morte, o juízo, o inferno, a justiça divina. Tudo isso lhe causa muito medo e torna amargos os seus prazeres. Espreme, então, o cérebro procurando razões, ao menos prováveis, para se persuadir ou se convencer de que não existe alma, nem Deus, nem inferno. Assim poderiam viver e morrer como o animal que não conhece lei nem razão.

            4. A dissolução dos costumes é a fonte donde nascem e saem todos os dias tantos livros e sistemas materialistas, indiferentistas, deístas e naturalistas. Uns negam a existência de Deus; outros negam a Providência Divina, dizendo que Deus, depois de criar os homens, não se importa mais com eles, sendo-lhes indiferente se o amam ou se o ofendem, se os homens se salvam ou se perdem. Outros negam a bondade divina afirmando que Deus criou muitas almas para o inferno, forçando-as ele mesmo a pecarem para que assim se condenem e o amaldiçoem para sempre no fogo eterno.

            5. Tudo isso é ingratidão e maldade dos homens! Deus os criou por sua misericórdia para os fazer eternamente felizes no céu. Encheu-os de tantas luzes, benefícios e graças, para que alcançássemos a vida eterna. Para esse mesmo fim ele os remiu com tantas dores e com tanto amor. E os homens se esforçam por não acreditar em nada, para se entregarem aos vícios e viverem a vontade.
            Mas, não adianta! Por mais esforços que façam, nunca esses infelizes poderão libertar-se do remorso da má consciência e do temor da justiça divina. Certamente não poriam em dúvida as verdades de fé e acreditariam firmemente em todas as verdades reveladas por Deus, se deixassem os vícios e se dedicassem a amar a Jesus Cristo.

Verdades eternas
            6. Quem ama a Jesus Cristo de todo o coração, tem sempre diante dos olhos as verdades eternas e por elas regula suas ações.
            Quem ama a Jesus Cristo, entende muito bem o que diz a escritura: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” Eclo 1,2
            Toda a grandeza terrena é fumaça, engano e lodo; o único bem e felicidade de uma alma consiste em amar seu Criador e em fazer-lhe a vontade. Nós somos o que somos diante de Deus. De nada vale ganhar todo o mundo, se a alma se perde. Todos os bens da terra não podem contentar o coração do homem; só Deus o satisfaz; em resumo, é preciso deixar tudo para ganhar tudo!

            7. A caridade tudo crê. Há cristãos que não são perversos, como aqueles dos quais falamos, os quais não creem em nada para viverem nos vícios sem remorsos e com mais liberdade. Existem cristãos que acreditam, mas têm uma fé fraca. Creem nos sacrossantos mistérios, creem nas verdades reveladas do evangelho: a Santíssima Trindade, a Redenção, os Sacramentos e outras; mas não creem em todas.
            Jesus Cristo disse: “Felizes os pobres, felizes os que choram, felizes os que sofrem perseguições, felizes vós, quando vos amaldiçoarem e disserem todo o mal contra vós”. Foi assim que falou Jesus no Evangelho. Mas como se pode afirmar que creem no Evangelho os que dizem: “Felizes os ricos, felizes os que não sofrem, felizes os que procuram prazeres, infelizes os que são perseguidos e maltratados pelos outros?”. É forçoso dizer destas pessoas que, ou não creem no Evangelho ou só creem em parte.
            Quem crê em tudo, aceita como felicidade e graça de Deus o ser pobre, o estar doente, o ser mortificado, desprezado e maltratado pelos homens. Assim crê e assim fala quem crê em tudo o que o Evangelho diz. Essa pessoa tem o verdadeira amor a Jesus Cristo.

Oração
            Meu amado Redentor, vida de minha alma, eu creio que sois o único bem de ser amado. Creio que sois aquele que me tendes mais amor, porque chegastes a morrer consumido de dores por mim, só por amor.
            Creio que nem nesta vida nem na outra, não há maior felicidade do que vos amar e fazer a vossa vontade. Tudo isso creio firmemente e, por isso, a tudo renuncio par ser todo vosso e só a vós possuir. Ajudai-me pelos méritos de vossa paixão e fazei-me ser como desejais que eu seja.
Verdade infalível, eu creio em vós.
Misericórdia infinita, eu confio em vós.
Bondade infinita, eu vos amo.
Amor infinito que vos destes todo a mim na vossa paixão e no sacramento da Eucaristia, eu me dou todo a vós.
Também a vós me recomendo, Maria, Mãe de Deus, refúgio dos pecadores.
Amém.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XV– Santo Afonso Maria de Ligório

domingo, 4 de maio de 2014

Amor a pobreza (Santo Afonso)

Voto de pobreza
13. O amor a pobreza, devem tê-lo especialmente os religiosos que fizeram o voto de pobreza.
- S.Bernardo: “Muitos religiosos querem ser pobres, com a condição de que não lhes falte nada”
- S.Francisco Sales: “Estes tais querem a honra da pobreza, mas rejeitam-lhe os incômodos”. Para esses religiosos fica bem o que dizia uma monja Clarissa: “A religiosa que se gloria de ser pobre e se lamenta quando lhe falta alguma coisa, será ridicularizada pelos anjos e pelos homens”.
            Diferente é o modo de agir dos bons religiosos: amam a sua pobreza mais do que todas as riquezas.
            A filha do imperador Maximiano II, monja de Santa Clara, compareceu na presença de seu irmão, o arquiduque Alberto, com o hábito remendado. Ele estranhou isso como inconveniente a nobreza de sua irmã; mas ela lhe disse: “Meu irmão, estou mais contente com estas roupas pobres do que os reis com suas purpuras”.
- S.Maria Madalena Pazzi: “Felizes os religiosos que, desapegados de tudo por meio da pobreza, podem dizer: Senhor, sois a parte de minha herança (Sl15,5). Senhor, sois a minha herança, todo o meu bem”
            Certa vez, Santa Tereza, tendo recebido muitas esmolas de um negociante, mandou-lhe dizer que seu nome estava escrito no livro da vida e, como sinal disto, as coisas deste mundo lhe seriam tiradas. De fato, o negociante faliu e ficou pobre até a morte.”
- S.Luis Gonsaga: “Não há nenhum sinal mais certo de que alguém seja do número dos escolhidos, do que vê-lo temente a Deus, e ao mesmo tempo, ser provado com tribulações e desolações neste mundo.”

            14.De algum modo, ainda faz parte da pobreza o ser privado dos parentes e amigos pela morte. É muito importante praticar a conformidade nesta ocasião.
            Perdendo um parente, um amigo, há pessoas que perdem também a paz. Fecham-se num quarto a chorar e, dominados pela tristeza, tornam-se impacientes e insuportáveis. Eu queria saber: essas pessoas que se angustiam assim e derramam tantas lágrimas, a quem estão agradando?
- A Deus? A Deus não, porque ele quer que nos resignemos com a sua vontade.
- Agradam a alma do defunto? Também não, porque se essa se perdeu, ela odeia a vós e as vossas lágrimas.
- Se ela já está no céu, deseja que agradeçais a Deus por ela.
- Se está no purgatório, deseja que a socorrais com as vossas orações e que vos conformeis com a vontade de Deus; deseja que vos santifiqueis para, um dia, vos ter como companheiros no céu.
- De que serve, então, chorar tanto?
- S.José Caracciolo, teatino, tendo-lhe morrido um irmão e estando certo dia com os parentes, que não paravam de chorar, chamou-lhes a atenção:
“Chega! Reservemos estas lágrimas para uma finalidade melhor, para chorar a morte de jesus Cristo que foi para nós Pai, irmão e morreu por nosso amor”
- Em tais ocasiões é preciso fazer como Jó ao receber a noticia da morte dos seus filhos, conformado inteiramente com a vontade de Deus: “O Senhor deu, o Senhor tirou; como foi do seu agrado, assim aconteceu; bendito seja o nome do Senhor!” o que aconteceu foi da vontade de Deus, e por isso, também do meu agrado; que ele seja sempre louvado por mim!

Os desprezos
            15.Devemos também praticar a paciência e provar nosso amor a Deus suportando em paz os desprezos que recebemos. Quando uma pessoa se dá para Deus, ele mesmo faz ou permite que seja desprezada e perseguida pelos homens.
            Conta-se do Beato Henrique Suso que, certa vez, tomou consciência dos sofrimentos impostos pelos homens: “Henrique, até agora tens praticado a mortificação a teu modo. De hoje em diante, serás mortificado como os outros quiserem”. No dia seguinte, vendo um cachorro rasgando um farrapo, pensou consigo: “Assim serás tu, dilacerado pela boca dos homens”. Desceu do lugar onde estava, guardou um pedaço daquele pano para lembrar-se dele no meio dos sofrimentos.

            16.Os desprezos e as injurias são desejadas e procuradas pelos santos.
- S.Felipe Neri, como hóspede, sofreu muitos maus tratos durante 30-anos; apesar disso, não queria mudar-se e passar para uma nova casa que ele mesmo fundara.
- S.João Cruz, precisando mudar de ares por causa de uma doença, não quis aceitar uma casa cômoda, onde havia um superior que gostava muito dele. Escolheu, porém, uma casa pobre, dirigida por um superior que não lhe tinha simpatia e que o perseguiu e o maltratou durante muito tempo e de várias maneiras.
- S.Tereza: “Quem procura a perfeição deve evitar de dizer: fizeram-me isso sem razão. Se queres carregar a cruz, mas somente aquela que se apoia na razão, a santidade não é para ti”
- É conhecida a resposta que Jesus crucificado deu a São Pedro, mártir, quando se lastimava de estar encarcerado, sem ter feito mal algum: “E eu que mal fiz para estar pregado nesta cruz sofrendo e morrendo pelos homens”
- Os santos consolavam-se, quando injuriados, com as ofensas que Jesus Cristo padeceu por nós.
- S.Eleazar, perguntado por sua esposa, como podia sofrer com tanta paciência as numerosas injúrias recebidas até mesmo de seus empregados, respondeu: “Penso em Jesus desprezado. Vejo que as afrontas feitas a mim não são nada, em comparação com as que ele sofreu por mim. Assim Deus me dá força para suportar tudo em paz.”
            As injúrias, a pobreza, os sofrimentos e todas as tribulações que sobrevêm a uma pessoa que não ama a Deus, tornam-se ocasião para mais se afastarem dele. Mas, sobrevindo a quem ama a Deus, tornam-se motivo de maior união com ele e de maior amor:
“As torrentes não puderam extinguir o amor,
nem os rios o puderam submergir” Ct 8,7
- As tribulações, por muitas e graves que sejam, não só não extinguem, mas sim, aumentam as chamas da caridade num coração que ama somente a Deus.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIV– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Mérito no sofrimento (Santo Afonso)

Mérito no Sofrimento
6. Quantos méritos se podem ganhar só em suportar com paciência as doenças! Suportando com paciência as dores de nossas doenças, tecemos uma grande parte e talvez a maior parte da coroa que Deus nos prepara no céu.
- S.Liduvina, depois de ter suportado tantas doenças, tão dolorosas, desejava morrer mártir por Jesus Cristo. Um dia, suspirando por esse martírio, entendeu que uma bela coroa, ainda inacabada, estava sendo preparada para ela. Ansiosa para que fosse terminada, suplicou ao Senhor o aumento de suas dores. Jesus a ouviu... sofreu mais ainda e pouco depois morreu.

            7.Para as pessoas que amam ardentemente a Jesus Cristo, como são leves e agradáveis as dores e os desprezos! Por isso os mártires iam ao encontro das torturas, unhas de ferro, chapas incandescentes e espadas, com tanta alegria.
- S.Prosdócimo, mártir: “Atormentem-me quanto quiserem, mas fiquem sabendo que para quem ama a Jesus Cristo não existe coisa mais desejável do que sofrer por seu amor”
- S.Gordiano: “Tu que me ameaças com a morte, mas o que me desagrada é que não posso morrer por Jesus Cristo senão uma só vez”.

            Mas, pergunto eu, por que os mártires falavam assim? Porque eram insensíveis aos sofrimentos ou tinham perdido o juízo?
- Não, responde São Bernardo, de maneira alguma, “Não foi a loucura que fez isso, mas sim o amor”. Eles não eram loucos. Sentiam as dores dos tormentos, mas porque amavam a Deus, consideravam grande vantagem sofrer e perder tudo, até mesmo a própria vida, por amor de Deus.

Nossa morte
            8.Principalmente no tempo da doença, devemos estar prontos para aceitar a morte, aquela morte que é da vontade de Deus. Temos de morrer. Nossa vida vai terminar na última doença e não sabemos qual delas nos levará a sepultura. Portanto, é necessário que nos preparemos em todas as enfermidades para abraçar a morte que Deus nos tem destinado.
- Algum doente poderá dizer:
- Mas eu fiz tantos  pecados e nenhuma penitência! Queria viver, não por viver, mas para dar alguma satisfação a Deus antes de morrer.
- Dize-me, meu irmão,  como sabes que, vivendo, farás penitência e não te comportarás pior que antes? Neste momento podes esperar que Deus te tenha perdoado. Mas que melhor penitência do que aceitar com resignação a morte, se Deus assim o quer?
- S.Luis Gonzaga que morreu aos 23 anos, abraçou a morte alegremente, dizendo: “Encontro-me agora, assim espero, na graça de Deus. Mais tarde não sei o que será de mim. Morro contente, se nesta hora Deus quiser me chamar para a outra vida.
- S.João A’Vila dizia que uma pessoa, encontrando-se com boas disposições, mesmo medíocres, deve desejar a morte par sair do perigo em que sempre vivemos neste mundo, de poder pecar e perder a graça de Deus.

            9.Devido a nossa fragilidade, não podemos viver nesta terra sem cometer, ao menos, pecados veniais. Por isso, ao menos, por esse motivo, de não ofender a Deus, deveríamos abraçar com alegria a morte.
- Se amamos a Deus de verdade, devemos ardentemente desejar vê-lo e amá-lo com todas as forças do céu. Isso ninguém pode fazer perfeitamente nesta vida. Mas, se a morte não nos abre a porta, não podemos entrar no paraíso.
- S.Agostinho: “Morra eu, Senhor, para vos ver”.
- Senhor, fazei-me morrer porque, se não morro, não posso vos amar e vos ver face a face.

A pobreza
            10.Precisamos praticar a paciência, suportando a pobreza.
- É certo que é muito necessário praticar a conformidade, quando nos faltam os bens materiais.
- S.Agostinho: “Quem não tem Deus, não tem nada; quem tem Deus, tem tudo”. Possuindo Deus e estando unido a sua vontade, encontramos nele todos os bens.
- S.Francisco: descalço, vestido com uma roupa pobre, pobre de tudo e que ao dizer: “Meu Deus e meu tudo”, achava-se o mais rico de todos os reis da terra. Chama-se pobre quem deseja bens que não possui.
Mas quem não deseja nada e está contente com sua pobreza, é perfeitamente rico.
- S.Paulo “Não tendo nada, mas possuindo tudo” IICor 6,10. Quem ama a Deus de verdade, diz quando lhe faltam os bens temporais: “Meu Jesus, só tu me bastas” e fica contente.
            Os santos não só tiveram paciência na pobreza, mas procuraram também desfazer-se de tudo, para viverem desapegados e unidos só a Deus. Se não temos o espirito de renunciar a todas as coisas do mundo, ao menos contentemo-nos com a situação em que o Senhor nos quer. Não tenhamos ansiedade para adquirir as riquezas da terra, mas sim as do céu, imensamente maiores e eternas. Convençamo-nos do que diz Santa Tereza: “Quanto menos tivermos aqui, mais possuiremos lá”

            11.S.Boaventura: A abundância dos bens temporais é um empecilho para a alma, impedindo-a de voar para Deus. Pelo contrário, escreve S.João Climaco que a pobreza é um meio de caminhar para Deus sem impedimentos.
“Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” Mt 5,3 Para as outras bem aventuranças, dos mansos, dos puros de coração, está prometido o céu, isto é, a felicidade do céu é ainda nesta vida: ‘deles é o reino dos céus’. Ainda nesta vida os pobres gozam de um paraiso antecipado. “Pobres de espírito” quer dizer: não só são pobres das coisas da terra, mas também não as cobiçam. Vivem contentes, possuindo o que lhes basta para se alimentar e se vestir. “Tendo, pois, de que nos sustentar e cobrir, contentemo-nos com isto” ITm6,8
- S.Lourenço Justiniano: “Feliz pobreza, que nada possui e nada tem! É sempre feliz e sempre abundante; todos os incômodos que experimenta faz com que sirvam para o bem da alma”
- S.Bernardo: “O avarento está sempre faminto como um mendigo, nunca chega a ficar satisfeito com os bens que deseja. O pobre, como senhor de tudo, os despreza, pois não deseja nada”

            12.Se a pobreza não fosse um grande bem, Jesus Cristo não a teria escolhido para si, nem a teria deixado em herança para os seus preferidos. De fato, os santos, vendo Jesus tão pobre, amaram tanto a pobreza.
- O próprio São Paulo nos alerta contra a cobiça de enriquecimento como laço do demônio para perder os homens: “Porque os que querem fazer-se ricos, caem na tentação e no laço do demônio e em muitos desejos inúteis e perniciosos, que submergem os homens no abismo da morte e da perdição”.
- Deus só nos baste! Bastem-nos os bens que ele nos dá. Alegremo-nos de sermos pobres quando nos faltar o que queríamos. Aí é que está o mérito: Não é pobreza que é considerada virtude, mas sim o amor a pobreza.
- Muitos são pobres, mas porque não amam a sua pobreza, não tem nenhum mérito.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIV– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Amar no sofrimento (Santo Afonso)

Quem ama a Jesus, tudo sofre por Ele
1. Um cristão não deve pensar que já fez algum progresso, se não chegou a fixar no coração as dores, a pobreza, os desprezos sofridos por Jesus, a fim de padecê-los por amor a Jesus Cristo.
- Falemos das dores e doenças corporais que nos fazem ganhar muitos méritos quando suportados com paciência.
- S.Vicente Paulo: “Se conhecêssemos o precioso tesouro, contido nas doenças, recebíamos com a alegria com que se recebem os maiores presentes”. O santo, mesmo assaltado continuamente pela doença, muitas vezes não conseguia repousar nem de dia nem de noite. Mas suportava com tanta paz e serenidade no rosto e sem se queixar, que parecia não ter nenhum mal.
            Quanto edifica um enfermo que suporta a doença com o rosto tranquilo a semelhança de S.Francisco de Sales. Estando enfermo, expunha simplesmente ao médico o seu mal, obedecia-lhe pontualmente tomando todos os remédios, por desagradáveis que fossem, e depois ficava sossegado, sem se lastimar do sofrimento.
- Este procedimento contrasta com o de muitas pessoas. Por qualquer ligeiro incômodo não param de lastimar-se a todos; desejariam que todos os parentes e amigos estivessem a sua volta a lamentar os seus males.

- S.Tereza exortava as religiosas: “Irmãs, aprendei a sofrer alguma coisa por amor do senhor, sem que toda a gente o saiba”.
- Numa sexta feira santa o Padre Luiz da Ponte foi presenteado por Jesus Cristo com tantas dores corporais, que não havia nenhuma parte do seu corpo sem um particular sofrimento. Contou então a um seu amigo esse grande padecimento. Depois de ter contado, ficou tão arrependido que fez uma promessa de nunca mais manifestar a ninguém os seus sofrimentos.


            2. Eu disse “presenteado”. Sim, porque os santos consideram como presentes as doenças e as dores que Deus lhes manda.
- S.Francisco de Assis estava na cama muito atormentado de dores. Um companheiro que o assistia lhe disse: “Francisco, peça a Deus que lhe alivie este sofrimento e não carregue tanto a sua mão”. Ao ouvir isso, num instante, saltou da cama e de joelhos se pôs a agradecer aquelas dores. Voltou-se depois para o companheiro: “Saiba que se eu não estivesse certo de que falou por simplicidade, não queria mais vê-lo aqui”.

Vontade de Deus
            3. Algum doente poderá dizer:
- O que me desagrada não é tanto suportar esta doença, mas não poder ir a Igreja fazer minhas orações, comungar, participar da Missa. Não posso ir a capela rezar os salmos com os meus irmãos, não posso celebrar a Missa, não posso nem sequer rezar, porque me dói a cabeça e fico distraído.
- Mas, dize-me, por favor, por que desejas ir a igreja ou a capela?
- Porque desejas comungar e celebrar ou participar da Missa?
- É para agradar a Deus?
- O que agrada a Deus agora não é comungar, participar da Missa, mas estar nessa cama e suportar os incômodos dessa doença. Se minhas palavras não te agradam, é porque não procuras fazer o que é da vontade de Deus, mas sim o que é da tua vontade.

- S.João D’Avila escreveu a um sacerdote que se lastimava justamente disso: “Amigo, não fiques calculando o que farias estando com saúde, mas fica contente com estar doente enquanto Deus quiser. Se procuras a vontade de Deus, que te importa estar são ou doente?”

            4.Dizes que não podes até mesmo fazer oração porque a cabeça está fraca e distraída. Sim, senhor, não podes meditar; mas por que não podes fazer atos de conformidade com a vontade de Deus? Essa é a mais bela oração que podes fazer, aceitando com amor as dores que te afligem.

- S.Vicente Paulo quando estava gravemente enfermo, punha-se tranquilamente na presença de Deus, sem fazer violência em aplicar sua mente em algum ponto particular. Apenas fazia de vez em quando, um ato de amor, de confiança, de agradecimento e, mais vezes, de resignação, quando aumentavam suas dores.

- S.Francisco Sales: “As tribulações, consideradas em si mesmas, são espantosas; mas consideradas na vontade de Deus, são amor e alegria”.
- Não podes rezar? Que oração melhor do que olhar para o crucifixo de quando em quando e oferecer as dores que suportas, unindo o pouco que sofres as dores imensas de Jesus Cristo na cruz? 

O Crucifixo
            5.Uma piedosa mulher estava de cama, atormentada por muitos males. A empregada lhe entregou o crucifixo e lhe disse: Pede a Cristo que te livre desses sofrimentos.
- Como queres que eu procure descer da cruz –respondeu ela- enquanto tenho nas mãos um Deus crucificado? Deus me livre! Quero sofrer por aquele que desejou sofrer por mim dores muito maiores do que as minhas.

- S.Tereza, estando doente e muito aflita, teve esse mesmo sentimento, contemplando jesus todo chagado, como a lhe dizer:
“Vê filha, a gravidade de minhas dores e considera se as tuas podem se comparar com as minhas” por isso ela costumava dizer quando era atormentada pela doença: “Quando penso nos sofrimentos que o Senhor suportou sendo inteiramente inocente, não sei de onde me vem a cabeça lamentar-me dos meus sofrimento”

- S.Liduvina sofreu continuamente durante 38 anos muitas doenças, febres, gota nos pés e nas mãos, inflamação da garganta, feridas por todo o corpo. Mas tendo sempre diante dos olhos as dores de Jesus Cristo, estava sempre na sua cama, alegre e feliz.

- Do mesmo modo S.José Leonissa, capuchinho. Precisando o médico fazer-lhe um corte na carne, seus companheiros queriam amarrá-lo com cordas para que não se mexesse pela intensidade da dor. Mas ele tomou as mãos um crucifixo e lhes disse: “Que coras, que nada! Aqui está aquele que me prende para sofrer em paz todas as dores por amor d’Ele. E assim suportou a operação sem se queixar.

- S.Jonas mártir, passou por ordem do imperador uma noite num tanque gelado. De manhã, ele disse não ter passado noite mais sossegada do que aquela, porque tinha imaginado ver Jesus pendente da cruz. Assim suas dores, em comparação com as de Cristo, pareciam-lhe mais caricias de Deus do que sofrimentos.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIV– Santo Afonso Maria de Ligório

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Obediência Completa (Santo Afonso)

15. Qual é o meio mais seguro para saber e aceitar em nossas ações o que Deus quer de nós? 
 Não há meio mais seguro e mais certo do que obedecer aos nossos superiores e diretores.
- “Vale mais a obediência do que o sacrifício” Eclo 4,17. Agrada mais a Deus a imolação que fazemos de nossa vontade, sujeitando-a a obediência, do que todos os outros sacrifícios que possamos lhe oferecer. Nas outras coisas, nas esmolas, nas abstinências, mortificações e semelhantes, damos a Deus as nossas coisas, mas dando-lhe a nossa vontade, é a nós mesmos que damos. Oferecendo-lhe os nossos bens, nossas mortificações, damos-lhe uma parte; entregando-lhe nossa vontade, entregamos-lhe tudo. Por isso, quando dizemos a Deus: ”Senhor, fazei-me compreender pela obediência o que desejais de mim, quero fazer tudo”, nada mais temos a lhe oferecer.

            16. Quem se sujeitou a obediência, deve desapegar-se da própria opinião. Diz S.Francisco Sales que cada um de nós tem suas próprias opiniões e isso não se opõe a virtude. O que se opõe a virtude é o apego que temos as nossas opiniões.
- Infelizmente este apego é a coisa mais custosa de deixar. Por isso há tão poucas pessoas que se dão a Deus, pois, são poucas que se sujeitam em tudo a obediência. Existe gente tão agarrada a própria vontade que ao lhe ser ordenada alguma coisa, mesmo sendo de seu gosto, pelo fato de a ter de realizar por obediência, perdem a vontade de a executar.
- Os santos não são assim. Eles encontram a tranquilidade nas ações mandadas pela obediência.
- S.Joana Chantal certa vez permitiu as suas monjas que fizessem naquele dia o que mais desejassem. A tarde, elas foram pedir-lhe insistentemente que nunca mais lhes desse tal licença, porque nunca tinham passado um dia tão cheio de tédio como aquele em que estavam desligadas da obediência.

            17. É um erro pensar em outra ação melhor do que a mandada pela obediência.
- S.Francisco Sales: “Deixar uma ocupação mandada pela obediência para nos unir a Deus pela oração, pela leitura ou recolhimento, seria afastar-se de Deus para nos unir ao nosso amor próprio.”
- S.Tereza: “Quem faz alguma coisa, mesmo sendo alguma coisa espiritual, mas contra a obediência, age certamente por instigação do demônio e não por inspiração de Deus, como talvez pense; porque as inspirações de Deus estão unidas a obediência... Deus não quer outra coisa de uma alma que está resolvida a amá-lo, senão que obedeça.”
- Pe Rodrigues: “Vale mais uma ação feita por obediência do que qualquer outra coisa que possamos imaginar. Vale mais levantar uma palha do chão por obediência, do que uma longa oração e uma disciplina sangrenta feita por nosso próprio arbítrio”
- S.Maia Madalena Pazi dizia preferir um trabalho por obediência do que a própria oração. Com a obediência estou segura de fazer a vontade de Deus, ao passo que não estou segura dedicando-me a qualquer outra ocupação.

            Conforme ensinam os mestres da vida espiritual, é melhor deixar algum ato de piedade por obediência, do que fazê-lo sem obediência.
- S.Brigida afirma que alguém deixando por obediência uma mortificação, lucra duplamente: alcança o mérito da mortificação que desejava fazer e o mérito da obediência pela qual a deixou.
- Um dia o Padre Francisco Árias foi visitar o amigo São João de Ávila e achou-o pensativo e triste. Perguntando-lhe a razão, S.João, respondeu:
“Felizes de vós, que viveis sob a obediência e estais seguros de fazer o que Deus quer. Quanto a mim, quem me garante ser mais agradável a Deus percorrer as aldeias ensinando os pobres camponeses, do que ficar parado num confessionário atendendo os que chegam? Quem vive sob a obediência tem a certeza de que tudo o que faz para obedecer é conforme a vontade de Deus, e é aquilo que mais agrada a ele” Sirva isso de consolação a todos que vivem sob a obediência.

Obediência completa
            18. Para que a obediência seja perfeita, é preciso que haja nela a vontade e o discernimento. Obedecer com a vontade é obedecer espontaneamente e não a força, como fazem os escravos. Obedecer com discernimento é conformar nosso juízo com o do superior sem discutir o que nos manda nem como no-lo manda.
- S.Maria Madalena Pazzi: “A perfeita obediência exige uma alma sem juízo próprio”
- S.Felipe Neri: Para obedecer bem, não basta fazer só o que se manda; é preciso fazê-lo sem controvérsia, tendo por certo que a coisa mandada para nós é a mais perfeita que podemos fazer, ainda que o contrário fosse melhor diante de Deus.

            19. O que dissemos vale não só para os religiosos, mas também para os leigos na obediência a seus diretores espirituais. Devem pedir a eles as orientações a que se devem sujeitar nas realizações, tanto espirituais como temporais. Assim estão sempre seguros de fazer o que é melhor.
- S.Felipe Neri: “Os que desejam avançar no caminho de Deus, sujeitem-se a um sábio confessor e obedeçam-lhe como a Deus.  Quem assim faz, fica seguro de não prestar contas a Deus das ações que faz... devemos confiar no confessor, pois o Senhor não deixaria errar. Não há coisa mais segura para escapar dos lações do demônio, do que fazer a vontade alheia nas coisas boas. Não há coisa mais perigosa do que querer se dirigir pelo próprio parecer.”
- S.Francisco Sales falando da direção espiritual diz que “Este é o conselho dos conselhos. Por mais que procureis, jamais será encontrada a vontade de Deus tão seguramente como pelo caminho dessa humilde obediência, tão recomendada e praticada por todas as pessoas piedosas do passado”
-S.João Cruz: “Não se contentar com o que diz o confessor é orgulho e falta de fé”
            Entre os ensinamentos de S.Francisco de Sales, existem dois que consolam muito as pessoas escrupulosas:
1º.    Nunca se perdeu um verdadeiro obediente;
2º.    Devemos nos contentar em saber do diretor espiritual que andamos bem, sem nos preocupar em saber como.
- O escrupuloso é obrigado gravemente, a agir contra seus escrúpulos, quando há motivo de temer um dano grave para a alma ou para o corpo. Por isso, os escrupulosos devem ter maior escrúpulo de não obedecer ao seu confessor do que em ir contra  próprio escrúpulo.
- Eis o resumo de nossa salvação e perfeição:
1º.    Renunciarmos a nós mesmos;
2º.    Seguir a vontade de Deus;
3º.    Pedir-lhe sempre que nos dê a força para cumprir uma e outra coisa.

Oração
“Fora de vós, o que há para mim no céu? Se vos possuo, nada mais me atrai na terra... A rocha de meu coração e minha herança eterna é Deus”
- Redentor meu, digno de ser amado infinitamente, descestes do céu para vos dar todo a mim. A quem devo procurar na terra ou no céu senão a vós, o maior bem, o único bem de ser amado?
- Sede, portanto, o único Senhor de meu coração, apossai-vos dele. Que a minha alma só a vós ame, a vós obedeça, a vós procure agradar.
- Gozem os outros das riquezas do mundo; eu quero só a vós.
- Sois e sereias a minha riqueza nesta vida e na eternidade.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIII– Santo Afonso Maria de Ligório