A prisão e o sacrário
- Contempla-Me na prisão onde
passei grande parte da noite.
- Ali vinham os soldados
insultar-Me com palavras e ações, escarnecendo de Mim, ultrajando-Me,
batendo-Me na cabeça e sobre o Meu Corpo.
- Fartos de Mim, abandonaram-Me
sozinho e amarrado, num lugar úmido e escuro.
- Deram-Me uma pedra por assento
onde o Meu Corpo dolorido se sentiu transido de frio.
- Comparemos
aqui a prisão com o coração daqueles que Me recebem.
- Na prisão, passei apenas parte
da noite.
- Mas no
sacrário... quantos dias, quantas noites?
- Na prisão fui insultado e
maltratado pelos soldados que eram Meus inimigos.
- Mas no
sacrário... quantas vezes não o sou por almas que Me chamam de Pai... mas
não se comportam como filhos.
- Na prisão, sofri frio e sono,
fome e sede, tristeza, vergonha e abandono.
- E vi, no decorrer dos séculos, tantos tabernáculos onde Me faltaria o abrigo do amor... tantos corações gelados que seriam para Meu Corpo chagado, como a pedra da prisão.
Senhor, quero suavizar sua tristeza
- E quantos dias esperarei que
tal alma ou tal outra, venha visitar-Me no sacrário e Me receber no seu
coração.
- Quantas noites passadas a
desejar sua vinda:
- Mas ela
se deixa dominar por suas ocupações, por sua moleza, pelo medo de
prejudicar a saúde... e não vem.
- Esperava-te
para saciar Minha sede e para consolar Minha tristeza, alma querida, e não
vieste.
- Quantas vezes terei fome das
almas, de sua fidelidade, de sua generosidade:
- Saberão
elas aplacar esta fome ardente com aquela pequenina vitória sobre si
mesmas, ou aquela leve mortificação?
- Saberão
aliviar Minha tristeza com sua ternura e compaixão?
- Saberão,
quando vier um momento mais doloroso a natureza?
- Saberão,
quando tiverem que suportar um sofrimento qualquer?
- Um
esquecimento?
- Um
desprezo?
- Uma
mágoa de coração ou de família?
- E com tudo isso, dizer-Me do
fundo da alma:
“Isto será para suavizar Vossa tristeza,
para Vos acompanhar na Vossa Solidão”
- Ah, se soubessem unir-se a Mim
com que paz atravessariam a dificuldade, como sua alma sairia dali fortificada
e como Meu Coração seria consolado e aliviado.
Minha prisão e a frieza das almas
- Na prisão quantas palavras
obscenas proferidas contra Mim Me haviam de cobrir de confusão:
- E essa
dor aumentava ainda lembrando-Me que semelhantes palavras cairiam um dia
de lábios muito amados.
- Na prisão, enquanto aquelas
mãos imundas descarregavam pancadas e bofetões sobre Meu Corpo:
- Eu Me
via espancado e esbofeteado pelas almas que Me receberiam sem delicadeza e
Me acabrunhariam sob golpes repetidos de pecados habituais e consentidos.
- Depois, quando Me empurraram e
Me deixaram cair por terra, atado e sem forças:
- Vi
muitas almas preferirem suas satisfações e acorrentarem-Me por suas
ingratidões , repelirem-Me e renovarem Minha dolorosa queda, prolongando
Minha solidão.
- Ó almas escolhidas,
aproximai-vos de Vosso Esposo na prisão, comtemplai-O durante essa noite de
padecimento:
- E vede-A prolongar-se na solidão de tantos sacrários e na frieza de tantas almas.
Quereis dar-Me prova de vosso amor?
- Quereis dar-Me prova de vosso
amor?
- Deixai-Me
vosso coração para que dele faça minha prisão.
- Atai-Me
com as cadeias do vosso amor.
- Cobri-Me
com as vossas delicadezas.
- Saciai-Me
a fome com a vossa generosidade.
- Dai-Me
de beber com o vosso zelo.
- Consolai
a Minha tristeza com a fidelidade de vossa companhia.
- Tirai-Me
esta dolorosa confusão com a vossa pureza e a vossa reta intenção.
- Quereis que Eu repouse em vós?
- Preparai-Me
um leito com vossos atos de mortificação.
- Sujeitai
a vossa imaginação.
- Acalmai
os tumultos de vossas paixões.
- Então, no silêncio de vossa
alma, dormirei tranquilo e ouvireis a Minha Voz dizendo suavemente:
v Ó
Esposa Minha, que és agora o Meu Descanso, Eu serei o teu na eternidade.
v Já
que, com desvelo e amor, Me guardaste na prisão do teu coração, Minha
recompensa não terá limites e nunca te arrependerás dos sacrifícios que por Mim
fizeste durante a tua vida.
- Paremos aqui, Josefa, deixa-Me
passar o dia de hoje na prisão de tua alma. Haja nela profundo silêncio para
escutares as Minhas Palavras e responderes aos desejos que Eu te confiar.
Almas fieis imitadoras de Meu Coração
- Depois de ter passado a maior
parte da noite na prisão úmida, escura e sórdida.
- Depois de ter suportado os
ultrajes e os escárnios da criadagem curiosa acerca do que Me sucederia, quando
já Meu Corpo estava exausto com tantos tormentos...
- O que Me consumia de amor e
avivava em Mim nova sede de dores, era o pensamento de muitas almas que Eu
atrairia mais tarde a seguir-Me os passos.
- Eu as via, como fiéis
imitadoras de Meu Coração, aprendendo de Mim, não apenas mansidão, paciência e
serena aceitação dos sofrimentos e dos desprezos, mas até o amor daqueles que
as perseguiriam.
- Vi-as chegarem ao ponto de se
sacrificar por eles, como Eu próprio Me sacrificava pela salvação dos que Me
maltratavam.
- Vi-as:
- amparada
por Minha Graça,
- responderem
ao apelo Divino,
- abraçarem
o estado de perfeição,
- mergulharem
na solidão,
- amarrarem-se,
elas mesmas nas cadeias do amor,
- renunciarem
a tudo que amavam legitimamente,
- suportarem
com coragem as revoltas da sua própria natureza,
- deixarem-se
julgar,
- aceitarem
desprezos, difamação e mesmo serem tidas por loucas,
- guardarem,
apesar de tudo, seu coração, intimamente unido a seu Deus e Senhor.
- Assim, no meio de ultrajes e
tratamentos infames, o Amor Me consumia em desejos de cumprir a Vontade do Pai
e Meu coração, estreitamente unido a Ele nas horas de solidão e de dor,
oferecia-se para reparar a Sua Glória.
- Também, almas religiosas que permaneceis
na prisão escolhida pelo Amor e que, mais de uma vez passais aos olhos das
criaturas, por inúteis e quiça prejudiciais... não temais:
- Nas
horas de solidão e dor deixai revoltar-se o mundo contra vós.
- Una-se
vosso coração mais intimamente a Deus, único Objeto de vosso amor.
- Reparai Sua Glória ultrajada por tantos pecados.
Amanheceu
- Ao amanhecer do dia seguinte,
Caifaz ordenou que Me conduzissem a Pilatos a fim de que pronunciasse contra
Mim a sentença de morte.
- Pilatos interrogou-Me com sagacidade,
com a esperança de descobrir um verdadeiro motivo de condenação, mas, não
encontrando nenhum, sentiu logo a consciência perturbada a vista da injustiça
que ia cometer. Então, para se desembaraçar de Mim, mandou-Me conduzir a
Herodes.
Alma de Pilatos
- Pilatos é o tipo das almas que,
balouçadas entre os impulsos da Graça e os das paixões, se deixam dominar pelo
respeito humano e pelo amor excessivo de si mesma.
- Encontram-se diante de tentação
ou de ocasião perigosa? Tornam-se voluntariamente cegas e raciocinam até
ficarem persuadidas de que não há nisso mal nem perigo algum... que elas tem
juízo bastante para decidir, e não precisam de conselho... receiam parecer
ridículas aos olhos do mundo... faltam de energia para vencerem a si próprias
e, passando ao lado da graça, caem de uma ocasião em outra e acabam como
Pilatos, entregando-Me a Herodes.
- Quando é uma alma religiosa,
não haverá talvez ocasião para ofensa grave.
- Mas, para resistir, seria
preciso aceitar uma humilhação, suportar uma contrariedade.
- E se, longe de obedecer ao
movimento da graça e de descobrir lealmente sua tentação, a alma consultar sua
própria razão e se convencer de que não há motivo para afastar tal perigo ou
recusar tal satisfação, cairá brevemente em perigo maior.
- Como Pilatos, cegará seus
próprios olhos, perderá a coragem para agir com retidão e, pouco a pouco, senão
rapidamente, também ela Me entregará a Herodes.
Meu Reino não é deste mundo (João 18,36)
- A todas as perguntas de Pilatos
nada respondi, mas quando Me disse:
“És tu o Rei dos Judeus?”
- Então com gravidade e na
plenitude de Minha responsabilidade, respondi:
“Tu o disseste, Sou Rei, mas Meu Reino não é deste mundo”
- Assim deve a alma responder com
energia e generosidade, quando se apresentar ocasião de vencer o respeito
humano, de aceitar algum sofrimento ou humilhação aos quais lhe seria fácil
escapar.
- “Não, Meu Reino não é deste
mundo” eis porque não procuro o favor dos homens.
- Vou para a minha verdadeira
pátria onde me espera repouso e felicidade.
- Aqui na terra não devo fazer
caso da opinião do mundo mas cumprir fielmente o meu dever.
- Se para isso precisar
atravessar humilhação e sofrimento, não recuarei; escutarei a Voz da Graça.
- Se não for capaz de o conseguir
sozinha, buscarei socorro e pedirei conselho, pois bem sei que o amor próprio e
a paixão tentam cegar a alma para enveredá-la pelo mau caminho.
- Pilatos, pois, dominado pelo
respeito humano e o receio de arcar com tamanha responsabilidade, ordenou que
Me levassem a Herodes.
- Era este um homem perverso que
só procurava satisfazer suas paixões desordenadas.
- Regozijou-se vendo-Me
comparecer a seu tribunal, esperando divertir-se com Minhas Palavras e Meus
Milagres.
“Para os puros, todas as coisas são puras;
mas para os impuros e descrentes; nada é
puro:
tanto a mente como a consciência deles
estão corrompidas” Tito 1, 15
- Considerai, almas queridas, a
repulsão que experimentei na presença daquele homem viciado e cujas perguntas,
gestos e movimentos Me cobriram de confusão.
- Almas puras e virginais, vinde
cercar vosso Esposo.
- Escutai os falsos testemunhos
que se levantam contra Mim.
- Vede a implacável sede dessa
multidão ávida de escândalos e da qual Me tornara joguete.
Quando Deus se cala
- Herodes espera que Eu responda
as suas perguntas sarcásticas para Me justificar e Me defender; mas Meus Lábios
não se abrem e guardo diante dele o mais profundo silêncio.
- Este silêncio era a maior prova
que lhe podia dar da Minha dignidade.
- As suas palavras obscenas não
mereciam cruzar-se com as Minhas puríssimas.
União intima do Coração de Jesus com o Pai
eterno, eu me uno a Vós
- Durante esse tempo Meu Coração
estava intimamente unido a Meu Pai Celeste.
- Consumia-Me em desejo de dar,
pelas almas, que tanto amo, o Meu Sangue até a última gota.
- O pensamento de todas as almas,
que um dia Me seguiriam, conquistadas pelos Meus exemplos e pela Minha
liberalidade, inflamava-Me em amor.
- E não só regozijava-Me durante
aquele terrível interrogatório mas desejava ao suplicio da Cruz.
- Depois de ter suportado as
piores ignominias no mais perfeito silêncio, deixei que Me tratassem como louco
e, coberto com veste branca sinal de zombaria e irrisão, por entre gritos da
multidão, fui levado novamente ao tribunal de Pilatos.
- Vê como esse homem está aturdido
e apavorado.
- Não sabe que fazer de Mim e
para ver se acalma a sede daquele povo que pede a Minha morte, ordena que Me
flagelem.
Discernir entre ‘ser tentado’ e ‘consentir’
na tentação CIC 2847
- Assim faz a alma que não tem
coragem e generosidade para romper energicamente com as exigências do mundo, da
sua natureza ou das suas paixões.
- Em vez de afrontar a tentação e
cortar pela raiz, como lhe pede a consciência, o que ela sabe que não vem do
espírito bom:
- Ora cede
a um pequeno capricho.
- Ora
concede a si mesma alguma leve satisfação.
- Se
tenta vencer-se num ponto, capitula diante de outro que lhe custaria maior
esforço.
- Se
mortifica alguns desejos, hesita em muitos outros em que deveria, para ser
fiel a Graça ou obedecer a regra privar-se de muita coisa que alimenta a
sensualidade e agrada a natureza.
- Concede a si mesma a metade de um capricho, a metade do que exige a paixão, e pacifica assim o remorso da consciência.
Paixão não mortificada
- Tratar-se-á por exemplo, de
divulgar uma falta que ela crê descobrir no próximo?
- Não é nem caridade fraterna,
nem desejo do bem, mas uma paixão oculta, um secreto movimento de inveja que
lhe inspiram essa ideia.
- A Graça e a consciência lançam
então dentro dela um grito de alarme e a previnem do espírito que a guia e da
injustiça que vai cometer.
- Haverá, de certo, na alma, um
primeiro instante de luta, mas a paixão que ela não mortificou priva-a
brevemente de luz e de coragem para repelir a ideia diabólica.
- Então inventa um meio para só
calar uma parte do que sabe, mas não tudo; e ela se desculpa diante de si
mesma:
“É preciso que se saiba... só direi uma palavra...”
- Assim é que Me abandonas, como
Pilatos para ser flagelado.
- Dentro em pouco, essa paixão te
obrigará a terminar sua obra.
- Não penses acalmar assim tua
sede.
- Hoje deste um passo, amanhã
irás mais longe.
- E, tendo cedido numa pequena
ocasião, com quanto mais razão cederá diante de grave tentação.
A Flagelação
- E agora, contemplai, almas
caríssimas a Meu Coração, como Me deixei conduzir com mansidão de cordeiro, ao
terrível suplicio da flagelação.
- Sobre Meu Corpo, moído de
pancadas e alquebrado de cansaço, os verdugos descarregam cruelmente açoites e
chicotes.
- Todos os Meus ossos são
abalados com a mais terrível dor, feridas sem conta Me estraçalham.
- De Minha Carne Divina lá se vão
pedaços arrancados pelos açoites.
- O Sangue jorra de todos os Meus
Membros e em breve fico reduzido a tão lastimável estado que não tenho mais
aparência de homem.
- Ah, como podeis contemplar-Me
neste oceano de amargura sem que vosso coração se compadeça de Mim?
Não pertence aos
algozes consolar-Me,
mas a vós, almas
escolhidas, para aliviar a Minha Dor.
- Contemplai as Minhas feridas e
vede se tem quem tenha sofrido tanto para vos provar seu amor.
O instrumento contempla Jesus Flagelado
- E, dirigindo-se a Josefa, Jesus
continua:
“Contempla-Me nesse estado de ignominia”
- Jesus se cala e ela ergue os
olhos para o Mestre.
- Ali está, diante dela, naquele
lamentável estado em que o pusera a flagelação, Ele a mantém longo tempo diante
da dolorosa contemplação como que para lhe imprimir para sempre na alma.
- “Dize-Me se Minhas Feridas não te darão
força para te venceres e resistires a tentação”
- Dize-Me se não te encontrarás
generosidade para te sacrificares e te entregares totalmente a Minha
Vontade”
- “Sim, olha para Mim e deixa-te guiar
pela graça e pelo desejo de Me consolares neste estado de vitima.”
- “Não temas. Teu sofrimento jamais
igualará ao Meu e Minha Graça te assistirá em tudo o que Eu te pedir.”
- “Adeus. Conserva-Me assim em teus olhos.”
Os efeitos da Mensagem de Amor e da contemplação
- Então o Senhor desaparece.
Josefa continua imóvel, com os olhos fechados e uma indizível emoção gravada no
rosto.
- Envolve-a impressionante silêncio.
- Pouco a pouco volta a si... não
pode falar... com a mão trêmula, escreve:
- Mostrou-se no estado em que O
deixaram depois da Flagelação, e esta visão me encheu de tanta compaixão que me
parece que ora em diante terei coragem para sofrer o que for até o fim de minha
vida.
- Dor nenhuma chegará perto
sequer da Sua Dor.
- O que mais me impressionou
foram Seus Olhos que são habitualmente tão belos e cujo Olhar tanto me
fala a alma... hoje, estavam fechados, muito inchados e ensanguentados,
principalmente o Olho direito.
- Os Cabelos cheios de Sangue
caiam-lhe sobre o Rosto, sobre os Olhos e sobre a Boca.
- Estava em Pé mas curvado
e atado a alguma coisa, mas eu não via senão a Ele.
- Suas Mãos estavam
amarradas uma a outra, a altura da cintura e cobertas de Sangue.
- Seu Corpo sulcado de
feridas e manchas roxas com as veias dos braços inchadas e quase pretas.
- Do Ombro esquerdo pendia
um pedaço de Carne s destacar-se e também de várias outras partes do Corpo.
- As Vestes estavam a Seus
Pés rubras de Sangue.
- Uma corda muito apertada
segurava a altura da Cintura um pedaço de pano Ensanguentado que não se
lhe podia ver a cor.
- Não posso dizer em que estado O
vi... não sei exprimi-lo.
17.março.1923 (397-409)
“Apelo ao Amor” A
mensagem do Coração de Jesus ao Mundo e Sua Mensageira Irmã Josefa Menéndez da
Sociedade do Sagrado Coração.
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