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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Maria, admirável perseverança

Continua... Esta Devoção é um meio admirável de perseverança
§174. É o que diz São Bernardo, em termos formais, para nos inculcar esta prática: 
“Quando Ela vos sustém, não caís, quando vos protege, nada temeis; quando vos conduz, 
não vos cansais; quando vos é favorável, chegais ao porto da salvação.”
- São Boaventura parece dizer-nos a mesma coisa em termos ainda mais formais: 
A Santíssima Virgem, diz ele, não é apenas detida na plenitude dos santos, mas Ela retém e guarda os santos na plenitude deles, para que esta não diminua. Impede que as suas virtudes se dissipem, que os seus méritos pereçam, que se percam as suas graças, e que os demônios lhes façam mal. Enfim, impede que Nosso Senhor os castigue quando pecam.

§175. A Virgem Santíssima é a Virgem Fiel que, pela sua fidelidade a Deus, repara as perdas causadas pela infiel Eva por sua infidelidade. 
- Obtém de Deus a fidelidade e a perseverança para todos os que se lhe dedicam, pelo que um santo a compara a uma âncora firme, que os retém e impede de naufragar no meio do mar agitado deste mundo, onde tantos perecem por se não segurarem a esta âncora sólida. 
“Nós ligamos as almas à Vossa esperança, como a uma âncora firme” (S Boaventura).
- Foi a Ela que os santos que se salvaram mais se amarraram e mais amarraram os outros, para perseverar na virtude.
- Felizes, pois, mil vezes felizes os cristãos que agora se agarram fiel e inteiramente a Maria, como a uma âncora firme.
- As investidas das tempestades deste mundo não os farão soçobrar, nem perder os seus tesouros celestes.
- Felizes os que se acolhem a Ela, como à arca de Noé!
- As águas do dilúvio do pecado, que afogam a tantos, não os prejudicarão, porque, repete a Santíssima Virgem com a Sabedoria:
“Aqueles que em mim trabalham na sua salvação, não pecarão” Eclo 24, 30
- Felizes os pobres filhos da infeliz Eva, que se ligam à Mãe e Virgem Fiel, que sempre permanece fiel e nunca se desmente: “Ela permanece fiel, não podendo negar-se a si mesma” (2 Tm 2, 13).
- Ela ama sempre os que a amam (Pr 8,17), com um amor não apenas afetivo, mas efetivo e eficaz, porque os impede, por meio de graças abundantes, de recuar na virtude, ou de cair no caminho, perdendo a graça de seu Filho.

§176. Esta boa Mãe recebe sempre, por pura caridade, tudo o que lhe damos em depósito. 
- E, uma vez que o recebeu como depositária, é obrigada em justiça a guardar, em virtude do contrato de depósito. Do mesmo modo que uma pessoa, a quem eu tivesse confiado mil moedas de ouro, seria obrigada a guardá-las, e se, por negligência, viesse a perdê-las, em boa justiça seria Ela a responsável.
- Mas não, nunca a fiel Maria deixará perder, por negligência, o que lhe tiver sido confiado. Seria mais fácil passarem o Céu e a Terra do que Ela ser negligente e infiel para com os que n'Ela confiam.

§177. Ó pobres filhos de Maria, a vossa fraqueza é extrema, grande a vossa inconstância e bem corrompida a vossa natureza. Fostes tirados, é certo, do mesmo barro corrompido que os filhos de Adão e Eva. Mas não desanimeis por isso. Consolai-vos e alegrai-vos! Eis que vos ensino este segredo desconhecido da maioria dos cristãos, até mesmo dos mais piedosos.
- Não guardeis o vosso ouro e a vossa prata nos vossos cofres, já forçados pelo espírito maligno que vos roubou. Eles são pequenos, velhos e fracos demais para guardar tão grande e precioso tesouro. Não ponhais a água pura e cristalina da fonte nos vossos vasos estragados e infectados pelo pecado. Se o pecado já não existe em vós, ficou pelo menos o seu odor e a água se contaminará. 
- Não deiteis os vossos vinhos finos em vossos tonéis velhos, que já foram cheios de mau vinho; ficariam estragados e em perigo de se perderem.

§178. Embora me compreendais, almas predestinadas, quero falar mais claramente.
- Não confieis o ouro da vossa caridade, a prata da vossa pureza, as águas das graças celestiais e o vinho dos vossos méritos e virtudes a um saco roto, a um cofre velho e arrombado, a uma vasilha estragada e contaminada como sois vós. 
- Do contrário sereis roubados pelos ladrões, isto é, pelos demônios, que procuram e espiam noite e dia o tempo propício para o fazer. 
- Do contrário, estragareis, pelo mau odor do vosso amor próprio, da confiança em vós mesmos e da vossa própria vontade, tudo o que de mais puro Deus vos dá.
- Colocai, lançai no seio e no Coração de Maria todos os vossos tesouros, todas as vossas graças e virtudes. Ela é vaso espiritual, vaso honorífico, vaso insigne de devoção. 
- Depois que o próprio Deus se encerrou neste vaso, com todas as suas perfeições, tornou-se todo espiritual e fez-se a morada das almas mais espirituais. 
- Tornou-se honorífico, e trono de honra dos maiores príncipes da eternidade. 
- Tornou-se insigne em devoção, e a morada das mais ilustres em doçura, em graças e virtudes. 
- Enfim, tornou-se rico como uma Casa de Ouro, forte como a Torre de Davi e puro como uma Torre de Marfim.

§179. Ah! Como é feliz aquele que deu tudo a Maria, que se confia e abandona, em tudo e por tudo, em Maria! É todo d'Ela e Ela é toda d'Ele.
- Pode dizer ousadamente com Davi: “Maria foi feita para mim” (Sl 118, 56); 
ou com o discípulo amado: “Recebi-a como toda a minha riqueza” (Jo 19, 27); 
ou com Jesus Cristo: “Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu” (Jo 17, 10).

§180. Se, ao ler isto, algum crítico imaginar que falo com exagero e levado por devoção desmedida, pobre dele! Não me compreende, ou porque é um homem carnal, que não entende as coisas do espírito, ou porque pertence ao mundo e não pode receber o Espírito Santo, ou porque é orgulhoso e crítico, e condena ou despreza tudo o que não percebe.
- Mas as almas que não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus e de Maria, essas compreendem-me e apreciam, e é para elas que eu escrevo (Jo 1, 13).

§181. No entanto, retorno à matéria interrompida, dizendo a uns e a outros que Maria Santíssima é a mais honesta e liberal de todas as simples criaturas. Nunca se deixa vencer em amor e liberalidade; em troca de um ovo, diz um santo homem, Ela dá um boi; quer dizer, por pouco que se lhe der, Ela dá muito mais daquilo que recebeu de Deus. Se, pois, uma alma se lhe entrega sem reservas, Ela também se lhe dá toda, contanto que a alma ponha n'Ela, sem presunção, toda a sua confiança, trabalhando, por sua vez, em adquirir as virtudes e em vencer as suas paixões.

§182. Que os fiéis servos da Santíssima Virgem digam, portanto, com a ousadia de São João Damasceno:
“Tenho confiança em Vós, ó Mãe de Deus, serei salvo. Tendo a Vossa proteção, nada temerei. Com o Vosso socorro combaterei e porei em debandada os meus inimigos: porque a Vossa Devoção é uma arma de salvação que Deus dá aos que quer salvar!”
- Derramai no Seio e no Coração da Santíssima Virgem Maria todos os Vossos tesouros, todas as Vossas virtudes e graças!
Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort

Maria, Liberdade interior

Esta Devoção dá uma grande liberdade de espírito
§169. Sexto motivo. Esta prática de Devoção dá uma grande liberdade interior àqueles que a observam fielmente. 
- É a liberdade dos filhos de Deus (Gl 5, 1-13; 2 Cor 3, 17; Rm 8, 21)
- Como por esta Devoção nos tornamos escravos de Jesus Cristo, consagrando-nos totalmente a Ele nesta qualidade, este bom Mestre recompensa o cativeiro amoroso em que nos colocamos da seguinte maneira:
  • Tira da alma todo escrúpulo e temor servil, que só servem para a estreitá-la, escravizá-la e confundi-la;
  • Dilata o coração para uma santa confiança em Deus, fazendo-o ver n'Ele seu Pai;
  • Inspira-lhe um amor terno e filial.

§170. Sem me deter em provar esta verdade por meio de razões, contento-me em citar um fato histórico que li na vida da Madre Inês de Jesus. Era religiosa jacobina do convento de Langeac, em Auvergne, e faleceu nesse mesmo local em odor de santidade no ano de 1634. Ainda não tinha mais de sete anos quando já sofria de grandes penas do espírito. Foi então que ouviu uma voz dizer-lhe que, se desejava ser livre de todas as suas penas e protegida contra todos os seus inimigos, deveria tornar-se o mais depressa possível escrava de Jesus e de sua Santa Mãe.
- Mal regressou a casa, deu-se inteiramente como escrava a Jesus e à sua Santa Mãe, embora não conhecesse até aquela data esta Devoção. Tendo encontrado uma cadeia de ferro, cingiu-se com ela sobre os rins e usou-a até a morte. Depois desta ação cessaram todas as suas penas e escrúpulos.
- Ficou em tanta paz e liberdade de coração que ensinou esta prática a várias pessoas - que nela fizeram grandes progressos - entre outros ao Pe. M. Olier, fundador do Seminário de São Sulpício, e a outros sacerdotes e eclesiásticos do mesmo seminário. Um dia apareceu-lhe a Santíssima Virgem e pôs-lhe ao pescoço uma cadeia de ouro, testemunhando-lhe assim a alegria que sentia por ela se ter feito escrava sua e de seu Filho.
- S. Cecília, que acompanhava a Santíssima Virgem, disse-lhe:
Felizes os fiéis escravos da Rainha do Céu, porque gozarão a verdadeira liberdade: Ó Mãe, servir-Vos é a liberdade!

Esta Devoção causa grandes vantagens para o próximo
§171. Sétimo motivo. Outro motivo que nos pode comprometer a abraçar esta Devoção são os grandes bens que dela receberá nosso próximo. 
- Por esta prática exercemos a caridade para com ele duma maneira eminente, pois damos-lhe, pelas mãos de Maria, o que temos de mais caro, ou seja, o valor satisfatório e impetratório de todas as nossas boas obras, sem excluir o mínimo bom pensamento ou o mais leve sofrimento.
- Consentimos que todas as satisfações que adquirimos e havemos de adquirir até a morte sejam aplicadas, segundo a vontade da Santíssima Virgem, ou pela conversão dos pecadores, ou pela libertação das almas do Purgatório.
- Não será isto amar perfeitamente o nosso próximo? (Jo15, 13).
- Não é isto ser verdadeiro discípulo de Jesus Cristo, que se reconhece pela caridade? (Jo 13, 35).
- Não é este o meio de converter os pecadores sem perigo de vaidade, e de libertar as almas do Purgatório quase sem fazer mais nada além do que nos impõem os deveres de estado?

§172. Para se apreciar a excelência deste sétimo motivo seria preciso conhecer o bem que é a conversão dum pecador ou a libertação duma alma do Purgatório. 
É um bem infinito, maior do que criar o Céu e a Terra, pois é dar a uma alma a posse de Deus.
- Quando por esta prática se livrasse apenas uma alma do Purgatório, durante toda a vida, ou se convertesse apenas um pecador, não bastaria isso para levar todo homem verdadeiramente caridoso a abraçá-la?
- Mas é preciso notar que as nossas boas obras, passando pelas mãos de Maria, recebem um aumento de pureza e, por conseguinte, de mérito e de valor satisfatório e impetratório. 
- Tornam-se assim muito mais eficazes para aliviar as almas do Purgatório e converter os pecadores do que se não passassem pelas mãos virginais e generosas de Maria.
- O pouco que por Ela se dá, sem vontade própria e com uma caridade muito desinteressada, torna-se verdadeiramente poderoso para aplacar a cólera de Deus e atrair a sua misericórdia.
- Na hora da morte verificar-se-á que uma pessoa realmente fiel a esta prática, terá livrado, por este meio, muitas almas do Purgatório e convertido muitos pecadores, embora só tenha praticado as ações ordinárias do seu estado. Que alegria no momento do juízo! Que glória para a eternidade!
Quanto mais atenção dedicares a Maria nas tuas orações, ações, contemplações e sofrimentos, mais perfeitamente encontrarás Jesus Cristo, que está sempre com Ela.
Esta Devoção é um meio admirável de perseverança
§173. Oitavo motivo. Enfim, o que de certo modo nos impelirá mais fortemente ainda para esta Devoção à Santíssima Virgem é ser ela o meio admirável para perseverarmos na virtude e sermos fiéis.
  • Por que é que a maior parte das conversões dos pecadores não são duradouras?
  • Por que recaem eles tão facilmente no pecado?
  • Por que é que a maior parte dos justos, em vez de ir de virtude em virtude e de alcançar novas graças, perdem muitas vezes as poucas virtudes e graças que possuem?
- Esta desgraça provém, como já acima mostrei (nn.87-89), de que estando o homem tão corrompido, tão fraco e inconstante, se fia em si próprio, se apoia nas suas próprias forças e se julga capaz de guardar o tesouro das suas graças, virtudes e méritos.
- Por meio desta Devoção, confiamos à Santíssima Virgem -e sabemos como Ela é fiel- tudo o que possuímos.
- Tomamo-la como depositária universal de todos os nossos bens da natureza e da graça. Confiamo-nos à sua fidelidade, apoiamo-nos no seu poder e fundamo-nos na sua misericórdia e caridade, a fim de que conserve e aumente as nossas virtudes e méritos, apesar dos esforços que o demônio, o mundo e a carne fazem para nos roubar.
- Dizemos-lhe como um bom filho à sua mãe e um fiel servo à sua senhora:
“Guardai o meu depósito!” (1 Tm 6, 20).
- Minha boa Mãe e Senhora, reconheço que, por Vossa intercessão, recebi até hoje mais graças de Deus do que merecia. A minha triste experiência me ensina que trago este tesouro num vaso muito frágil, e que sou demasiado fraco e miserável para o conservar em mim:
“Sou novo e desprezado” (Sl 118, 141)
- Recebei, por favor, em depósito, tudo quanto possuo, e conservai-me por Vossa fidelidade e poder.
- Se me guardardes, nada perderei; se me sustentardes, não hei de cair; se me protegerdes, estarei ao abrigo dos meus inimigos.

Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort