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domingo, 16 de março de 2014

Maria, 4ª e 5ª prática de devoção

Culto especial ao Mistério da Encarnação
Continua 4ª prática de devoção:
§245. 1ª. Estamos num século orgulhoso, em que abundam os sábios soberbos, os espíritos fortes e críticos, que acham o que criticar nas práticas de piedade mais fundadas e mais sólidas.
- A fim de não lhes fornecer, sem necessidade, um pretexto de crítica, vale mais dizer escravidão de Jesus Cristo em Maria, e dizer-se escravo de Jesus Cristo do que escravo de Maria. Assim denomina-se esta Devoção mais de acordo com o seu fim último, que é Jesus Cristo, do que com o caminho e meio para lá chegar, que é Maria. Apesar disso, podemos, na verdade, usar sem escrúpulos ambas as denominações, como eu mesmo faço. Por exemplo, um homem que vai de Orleans a Tours pelo caminho de Amboise pode muito bem dizer que vai a Amboise, e que vai a Tours; que é viajante para Amboise e para Tours. No entanto, a diferença é que Amboise é apenas o caminho direto para ir a Tours, e que só Tours é o seu fim último e o termo da sua viagem.

§246. 2ª. O principal mistério que se celebra e honra nesta Devoção é o mistério da Encarnação, no qual se pode ver Jesus em Maria, encarnado no seu seio. Por isso vem mais a propósito dizer escravidão de Jesus em Maria. Jesus habitando e reinando em Maria, conforme a bela oração de tantos homens célebres:
“Ó Jesus, que viveis em Maria, vinde e vivei em Vossos servos, no espírito da Vossa Santidade, na Plenitude de Vossa Força, na Perfeição de Vossas Vias, na Verdade de Vossas Virtudes, na Comunhão de Vossos Mistérios, dominai sobre toda a potestade inimiga, em Vosso Espírito para a Glória do Pai. Amém.”

§247. Este modo de falar mostra mais claramente a íntima união que existe entre Jesus e Maria. Estão unidos tão intimamente que um está todo no outro: Jesus todo em Maria e Maria toda em Jesus. Ou antes, Ela já não existe: é Jesus que é tudo n'Ela. Seria mais fácil separar do Sol a sua luz, que Maria de Jesus. Pelo que se pode chamar a Nosso Senhor, Jesus de
Maria, e à Santíssima Virgem, Maria de Jesus.

§248. O tempo não permite deter-me aqui para explicar as excelências e grandezas deste mistério de Jesus vivendo e reinando em Maria, ou da Encarnação do Verbo. Por isso contento-me com dizer, em duas palavras, que este é o primeiro dos mistérios de Jesus Cristo, o mais oculto, o mais elevado e o menos conhecido.
- Foi neste mistério que Jesus escolheu todos os eleitos com a colaboração de Maria, escondido no seu seio, que por isso é chamado pelos santos de “A Sala dos Segredos Divinos”. Foi neste mistério que Jesus operou todos os mistérios que depois se seguiram na sua vida, pela aceitação que deles fez. “Jesus, entrando no mundo, disse: Eis que venho para fazer a tua vontade, ó Deus” (Hb 10, 5-9). Por conseguinte, este mistério é um resumo de todos os outros; encerra a vontade e a graça de todos.
- Finalmente é o Trono da Misericórdia, da Liberalidade e da Glória de Deus.

Trono da sua Misericórdia para nós, pois só podemos nos aproximar de Jesus por meio de Maria, bem como só podemos vê-lo e falar-lhe por intermédio de Maria. Jesus, que atende sempre à sua querida Mãe, concede neste mistério sua graça e misericórdia aos pobres pecadores. “Vamos, pois, com confiança, ao trono da graça” (Hb 4, 16).

Trono da sua Liberalidade para com Maria, pois, enquanto o Novo Adão permaneceu neste verdadeiro Paraíso Terrestre, operou tantas maravilhas escondidas, que nem os anjos nem os homens as podem compreender. É por isso que os santos chamam Maria de a Magnificência de Deus, como se Deus só em Maria fosse Magnífico (Is 33, 21).

Trono da sua Glória para o Pai celeste, pois foi em Maria que Jesus Cristo aplacou perfeitamente seu Pai, irritado com os homens. Foi n'Ela que Jesus reparou cabalmente a glória que o pecado lhe tinha roubado. No sacrifício que fez da sua vontade e de si mesmo, Jesus deu mais glória a Deus do que jamais lhe teriam dado todos os sacrifícios da Antiga Lei. Enfim, foi em Maria que Jesus deu ao Pai uma glória infinita, que jamais havia recebido do homem.

Grande Devoção pela Ave-Maria e pelo Rosário
§249. Quinta prática. Terão muita devoção em rezar a Ave-Maria, ou Saudação Angélica. Poucos cristãos, embora esclarecidos, conhecem o valor, o mérito, a excelência e a necessidade desta oração. Foi preciso que a Santíssima Virgem aparecesse repetidas vezes a grandes santos muito esclarecidos, como São Domingos, São João Capistrano, o bem-aventurado Alano da Rocha, para lhes mostrar o mérito desta oração. Compuseram grossos volumes sobre as maravilhas da sua eficácia na conversão das almas. Publicaram altamente e pregaram publicamente que, tendo a salvação do mundo começando pela Ave-Maria, a salvação de cada alma em particular está ligada a esta oração.

- Foi esta oração que fez dar à Terra seca e estéril o fruto da vida, e é esta mesma oração que, rezada com devoção, deve fazer germinar nas nossas almas a Palavra de Deus, e fazer brotar o fruto de vida, que é Jesus Cristo.
- Disseram ainda que a Ave-Maria é um celeste orvalho que rega a Terra, isto é, a alma, para lhe fazer produzir fruto a seu tempo. E a alma que não for regada por esta oração ou orvalho celeste não dará fruto, mas apenas sarças e espinhos, não estando longe de ser amaldiçoada.

§250. Eis o que a Santíssima Virgem revelou ao Bem-aventurado Alano da Rocha, conforme é referido no seu livro “De dignitate Rosarii”, e depois citado por Cartagena. “Fica sabendo, meu filho, e fá-lo saber a todos, que um sinal provável e próximo de condenação eterna é ter aversão, tibieza e negligência em rezar a Saudação Angélica, que salvou todo o mundo”.
- Palavras tão consoladoras quão terríveis, que dificilmente se acreditariam se não tivéssemos esse santo por garantia e, antes dele, São Domingos, e depois muitos outros grandes personagens, com a experiência de muitos séculos.
- Efetivamente, sempre se verificou que os que trazem o sinal da condenação, como todos os hereges, os ímpios, os orgulhosos e os mundanos odeiam e desprezam a Ave-Maria e o Terço.

- Os hereges ainda aprendem e rezam o Pai-Nosso, mas não a Ave-Maria, nem o Terço. Têm-lhes horror; preferiam trazer consigo uma serpente a um Terço. Os orgulhosos, embora católicos, como têm as mesmas inclinações que seu pai Lúcifer, também desprezam ou votam indiferença à Ave-Maria,
considerando o Terço como uma devoção para efeminados, própria para ignorantes e analfabetos. Pelo contrário, a experiência tem mostrado que aqueles e aquelas que apresentam grandes sinais de predestinação amam, saboreiam e rezam com prazer a Ave-Maria, e que quanto mais são de Deus, tanto mais gostam desta oração. Foi o que disse a Santíssima Virgem
ao bem-aventurado Alano, depois das palavras que acabo de citar.
  
Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort

sexta-feira, 14 de março de 2014

Maria, 3ªe 4ª prática de devoção

Uso das Cadeiazinhas
§236. Terceira prática. É muito louvável, muito glorioso e útil para aqueles e aquelas que assim se fazem escravos de Jesus em Maria, que usem umas cadeiazinhas de ferro. Estas ser-lhes-ão um sinal da sua Escravidão de Amor, e serão bentas com uma bênção própria. Estes sinais exteriores não são, na verdade, tão essenciais, e uma pessoa pode passar bem sem eles, embora se tenha abraçado a esta Devoção. Mas os escravos de amor sacudiram as cadeias vergonhosas da escravidão do demônio, a que o pecado original e talvez os pecados atuais os tinham reduzido. 
Por isso não posso deixar de louvar aqueles e aquelas que se sujeitaram voluntariamente à gloriosa escravidão de Jesus Cristo, e se gloriam, com São Paulo, de estar em cadeias por amor de Jesus Cristo (Ef 3, 1). Estas cadeias são mil vezes mais preciosas, embora de ferro e sem brilho algum, que todos os colares de ouro dos imperadores.

§237. Ainda que outrora não houvesse nada de mais difamante do que a Cruz, no presente é esse madeiro o que há de mais glorioso no Cristianismo. O mesmo se diga dos ferros da escravidão.
- Entre os antigos e, mesmo hoje, entre os pagãos, nada há de mais ignominioso. Mas para os cristãos não há nada mais ilustre do que essas cadeias de Jesus Cristo. Elas livram-nos e preservam-nos dos infames laços do pecado e do demônio. Colocam-nos em liberdade e ligam-nos a Jesus e a Maria, não por imposição e por força como se faz a forçados, mas por caridade e amor, como a filhos. “Atrai-los-ei com cadeias de caridade”, diz Deus pela boca dum profeta (Os 11, 4) . 
- Estas cadeias são, por conseguinte, fortes como a morte, e, de certo modo, mais fortes ainda nas pessoas que forem fiéis em usar estes gloriosos sinais até a morte. Pois, embora a morte destrua seus corpos, reduzindo-os à podridão, não destruirá esses laços da sua escravidão, já que sendo de ferro, não se corrompem facilmente. E talvez no dia da ressurreição da carne, no grande momento do juízo final, essas cadeias, que lhes ligarão ainda os ossos, constituam parte da sua glória e sejam transformadas em gloriosas cadeias de luz. Felizes, portanto, mil vezes felizes, os ilustres escravos de Jesus em Maria, que usarem estas cadeias até a sepultura!

§238. Eis as razões por que se usam estas cadeiazinhas:
- A primeira razão é para que o cristão se lembre dos votos e promessas do seu Batismo; para que se recorde da renovação perfeita que deles fez, por meio desta Devoção, e da estreita obrigação em que está de lhes ser fiel. O homem conduz-se, muitas vezes, mais pelos sentidos do que pela fé pura, e esquece-se facilmente das suas obrigações para com Deus, se não houver qualquer coisa exterior que lhas faça lembrar. Ora, estas cadeiazinhas servem maravilhosamente para lembrar ao cristão as cadeias do pecado e da escravidão do demônio, de que o Batismo o livrou.
- Lembram também a dependência de Jesus Cristo em que o homem se colocou pelo Santo Batismo, bem como a ratificação que dela fez ao renovar as suas promessas. Uma das razões por que tão poucos cristãos pensam nas promessas do seu Santo Batismo e vivem tão livremente como se nada tivessem prometido a Deus, como os pagãos, é que não trazem nenhum sinal exterior que os faça lembrar disso.

§239. A segunda razão é para mostrar que não nos envergonhamos de ser escravos e servos de Jesus Cristo, e que renunciamos à funesta escravidão do mundo, do pecado e do demônio.
- Uma outra razão é para servirem de garantia e preservação contra as cadeias do pecado e do demônio. Pois temos de trazer ou as cadeias da iniquidade, ou as cadeias da caridade e da salvação.

§240. Ah! Meu querido irmão, quebremos as cadeias do pecado e dos pecadores, do mundo e dos mundanos, do demônio e dos seus sequazes, e “lancemos para longe de nós o seu jugo funesto” (Sl 2, 3).
- Para me servir das palavras do Espírito Santo:
“Ponhamos os pés nos Seus gloriosos ferros, e o pescoço nos Seus grilhões” (Eclo 6, 25). “Curvando os ombros, levemos a Sabedoria, que é Jesus Cristo, sem aborrecermos as suas cadeias” (Eclo 6, 26).
- Note-se que antes de dizer estas palavras, o Espírito Santo vai preparando a alma, para que não venha a rejeitar este importante conselho. - Eis as suas palavras: “Ouve, meu filho, e recebe um conselho de sabedoria, e não rejeites o meu conselho (Eclo 6, 24).

§241. Permite-me, meu querido amigo, que eu me una ao Espírito Santo, para te dar o mesmo conselho: “As suas cadeias são cadeias de salvação” (Eclo 6, 31). Jesus Cristo, do alto da Cruz, deve atrair tudo a si, livre ou forçadamente. Ele atrairá os réprobos com as cadeias de seus pecados a fim de os acorrentar, como forçados e demônios, à sua ira eterna e à sua justiça vingadora. Mas atrairá particularmente nestes últimos tempos, os predestinados, com cadeias de caridade: “Atrairei tudo a Mim” (Jo 12, 32). “Hei de atraí-los com cadeias e vínculos de caridade” (Os 11, 4).

§242. Estes escravos de amor de Jesus Cristo, estes prisioneiros de Jesus Cristo, podem usar as cadeias ao pescoço, nos braços, à cintura ou nos pés. O Padre Vicente Caraffa, sétimo Geral da Companhia de Jesus, que faleceu em odor de santidade em 1643, trazia uma argola de ferro nos pés, como sinal da sua servidão, e dizia que lamentava não poder arrastar publicamente as suas cadeias. A Madre Inês de Jesus, de quem já falamos, usava uma corrente de ferro em volta da cintura.
- Alguns outros usaram-na ao pescoço, como penitência pelos colares de pérolas que tinham trazido no mundo. Outros ainda usaram-na nos braços, para se lembrarem, nos seus trabalhos manuais, de que eram escravos de Jesus Cristo.

Culto especial ao Mistério da Encarnação
§243. Quarta prática. Terão especial devoção ao grande mistério da Encarnação do Verbo, celebrado no dia 25 de março. É o mistério próprio desta Devoção, visto que ela foi inspirada pelo Espírito Santo:
1º. Para honrar e imitar a inefável dependência que o Filho de Deus quis ter de Maria, para glória de seu Pai e para nossa salvação. Esta dependência manifesta-se duma maneira particular neste mistério, em que Jesus Cristo está cativo e escravo no seio de Maria Santíssima, e onde depende d'Ela em todas as coisas.
2º. Para agradecer a Deus as graças incomparáveis que deu a Maria e, particularmente, por a ter escolhido para sua tão digna Mãe, escolha que se realizou neste mistério.
- Estes são os dois fins principais da escravidão de Jesus Cristo em Maria.

§244. Nota, por favor, que eu digo, habitualmente, escravo de Jesus em Maria, escravidão de Jesus em Maria. Pode-se realmente dizer, como muitos o fizeram até aqui, escravo de Maria, escravidão de Maria. Mas parece-me preferível dizer escravo de Jesus em Maria. Como aconselhava o Padre Tronson, Superior Geral do Seminário de São Sulpício, celebre por sua rara prudência e piedade consumada. Foi assim que aconselhou um sacerdote que o consultou sobre este assunto. E as razões de tal proceder são as seguintes:
Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria

São Luis Maria Grignion de Monfort