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domingo, 9 de abril de 2017

Metanoia Cristã


Significado de Metanóia (Mind Set):
  • Mudança, transformação de caráter ou na maneira de pensar.
  • Mudança que resulta ou é motivada por algum tipo de arrependimento.
  • Remorso por alguma falha; penitência.
  • Modificação espiritual; conversão.
  • Modo novo de conceber ideias, de se comportar, de enxergar a vida e a realidade.
Esperança no mundo
- A Paixão de Nosso Divino Redentor deixa uma lição para nós:
  • Aqueles que, por princípios mundanos, têm como ideal obter aplauso, colocando sua esperança na aprovação dos homens, erram, porque cometem a loucura de escolher para si uma situação estável.
- A Paixão de Nosso Senhor nos mostra, de maneira eloquente, o quanto é preciso pôr nosso empenho em conhecer, amar e servir a Deus com “todo seu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento e com toda a tua força e o teu próximo como a ti mesmo” Marcos 12, 30-31, pouco nos importando se nos atacam ou nos elogiam, se nos recebem ou nos repudiam, mas, isto sim, se agradamos a Deus com a nossa forma de proceder.
- Ao sermos Batizados nos comprometemos –seja por nós mesmos ou na pessoa de nossos padrinhos- a renunciar ao demônio, ao mundo e a carne e ficarmos marcados com o sinal do combate.
- Não firmamos, em nenhum momento, o propósito de nos apoiarmos no aplauso dos outros. Assim sendo, devemos, sempre, nos lembrar dessas promessas de luta, que exigem de nossa parte a determinação de enfrentar todas as batalhas que tais inimigos, por nós rejeitados no Batismo, vão se apresentando no decorrer desta peregrinação.

A Cruz
- A Cruz, sinal de ignominia por constituir o pior castigo, o suplício mais horrível daqueles tempos da Encarnação de Jesus, considerado pelos Judeus como ‘Maldição Divina” Dt 21,23 e pelos romanos como infamante, a tal ponto que não era aplicado a um cidadão do Império, sendo reservado apenas aos escravos e aos criminosos mais comuns.
- No entanto, tão poderoso é este Rei Jesus que, posto nesse pedestal de humilhação, Ele o transforma em trono de glória!
- Hoje em dia, ostentar a Cruz ao peito é uma honra, e nos admiramos ao vê-la sobre as coroas ou no alto das catedrais e dos edifícios eclesiásticos:
  • É a exaltação da Cruz.
- Ora, sendo participes da vida divina, pela graça, somos chamados a trilhar a mesma via do Rei dos reis, sem nunca descer, subir para chegar ao Céu, cujas portas nos serão abertas, não por nossos méritos, mas pelos de Nosso Redentor (Metanóia).


Pela Cruz alcançamos a Luz
- Contrário a certa mentalidade muito alastrada, não é possível abolir a Cruz da face da Terra, pois, em geral, todo ser humano sofre.
- A dor é nossa companheira e só deixará de existir no Paraiso Celeste.
- É neste contexto que é imprescindível ao homem compreender o verdadeiro valor do sofrimento (Metanóia), pois uma equivocada compreensão do sofrimento leva alguns a caírem no:
  • Abatimento,
  • Revolta contra a providência,
  • Querer esquivar-se de carregar a própria cruz, cuja tentativa se torna inútil, tornando-a mais pesada, acrescentando ainda o ônus da inconformidade com a vontade de Deus, que conhece e permite cada uma de nossas angústias.
Valor da luta
- Compenetremo-nos de que a dor encerra inúmeros benefícios para nossa salvação:
  • Poderoso meio de nos aproximarmos de Deus. (Metanóia).
- Desde antes da queda, Anjos e homens, por terem sido criados em estado de prova, tem a tendência de fechar-se e esconder-se sobre si (conf Gn 3, 8-10), quando deveriam estar constantemente abertos para Deus.
- E é nisto que consiste a prova do entendimento e a compreensão de nossa realidade como Batizados, filhos de Deus e de sermos chamados de Cristãos (Metanóia).
- As lutas, reveses e aflições surgidas em nosso caminho são elementos eficazes para dirigir nosso espírito ao Bem infinito e escancarar para Ele a porta de nossa alma.
- Nessas horas experimentamos o poder da oração, sentimos nossa total dependência de Deus e nos colocamos em suas mãos sem reservas, a procura de amparo e força.
- O sofrimento pode receber o título de bem aventurança que nos faz merecer, já neste mundo, a recompensa de libertar-nos de nosso egoísmo e de vivermos voltados para Deus. Ó dor, bem aventurada dor!
- Em sua Bondade infinita, o Senhor nos “cumula de tribulações na Terra para nos obrigar a buscar a felicidade no Céu” diz Santo Antônio Maria Claret.
- O sofrimento constitui-se, então, um meio infalível de preparação para conhecer, amar e contemplar a Deus face a face.

Glória comprada pelo sofrimento
- O Verbo onipotente, Unigênito do Pai, ao Se encarnar quis passar pelas vicissitudes da condição humana, para nos dar exemplo de paciência.
- Sua Alma Santíssima que desde o primeiro instante da concepção, já possuía a glória, e esta deveria, naturalmente, refletir-se em sua carne; mas a relação natural entre alma e corpo n’Ele estava submetida a sua Divina Vontade, a qual aprouve suspender esta lei, realizando um milagre contra Si mesmo, pois preferiu tomar um corpo padecente a fim de que obtivesse com maior honra a glória do Corpo, quando a merecesse pela Paixão.
- Ele assumiu aquelas deficiências corporais derivadas do pecado original como o cansaço, a fome, a sede e a morte.
- Jesus visava apontar o combate da Cruz como causa de elevação para todos nós, Batizados, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo (conf Rm 8,17). (Metanóia).
- Tão excelente é o sacrifício de nosso Salvador, oferecendo-Se a Si mesmo ao Pai como Vitima perfeita, que os efeitos da Paixão excedem em muito a dívida do pecado. Diz o Padre Garrigou-Lagrange:
“Deus Pai pediu a seu Filho:  um ato de amor que Lhe agrada mais do que Lhe desagradam todos os pecados juntos;
um ato de amor redentor, de um valor infinito e superabundante”
Jesus lhe ofereceu o sofrimento e morte na Cruz.

O combate do Católico é sua glória
- Somos combatentes (Metanóia).
- Não fomos feitos para apoiar aqueles que põe sua esperança no mundo, mas para defender Nosso Senhor Jesus Cristo.
- O mundo só nos interessa como objeto de conquista para O Reino de Deus, pois queremos ser apóstolos, a fim de que todos os homens experimentem nossa alegria de cristãos. (Metanóia).
- Alegria proveniente da certeza (Metanóia), infundida pela fé na alma, de um dia recuperar o corpo em estado glorioso e viver a eternidade feliz no convívio com Deus, com Maria Santíssima, com os Anjos e com os Santos.
- A convicção (Metanóia) de que a Cruz conduz a Luz, isto é, a vitória e ao triunfo final, torna a alma equilibrada, calma e serena, e dá forças para encarar a morte com confiança, sabendo que no outro lado estará Aquele que por nós morreu na Cruz, pronto a nos receber (Metanóia).
- E agora? Estou preparado para a Metanóia? Ou seja:
  • Mudança,
  • transformação de caráter,
  • maneira de pensar,
  • modificação espiritual,
  • conversão. 
Metanóia de Pedro
- A famosa frase de Santo Agostinho:
“Crer para entender e entender para crer”
resume uma verdadeira Metanóia que aconteceu com Pedro; vejamos o relato em João 13, 6-9:
- “Jesus coloca agua numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxuga-los com a toalha que estava cingido. (Traje e função dos escravos, não dos senhores ISm 25,41).
Chega, então, a Simão Pedro, que lhe diz:
- Senhor, tu, lavar-me os pés?
Respondeu Jesus:
- O que faço, não compreenderás agora, mas o compreenderás mais tarde.
Disse-lhe Pedro:
- Jamais me lavarás os pés!
Respondeu Jesus:
- Se Eu não te lavar, não terás parte comigo.
Disse-lhe Pedro:
- Senhor, não apenas meus pés, mas também as mãos e a cabeça”

- Por não estarmos prontos, podemos voltar nas decisões tomadas; Deus purifica nosso entendimento quando cremos mas ainda não entendemos.
- Essa foi a Metanóia de Pedro: por crer em Jesus aceitou sua proposta mesmo ainda não entendendo.

- Jesus ‘sentiu’ e ‘experimentou’ toda repugnância e dor que haveremos de ‘sentir’ e ‘experimentar’ durante todo nosso processo de Metanóia (conversão).
“Não creias porém que deixei de sentir então repugnância e dor. Pelo contrário quis que a minha natureza humana experimentasse todas as que vós mesmos experimentais, a fim de que meu exemplo vos fortificasse em todas as circunstancias de vossa vida.
Também quando soou para Mim aquela hora dolorosíssima de minha Paixão, que Eu poderia tão facilmente evitar, abracei-a amorosamente para:
  • cumprir a Vontade do Pai,
  • reparar Sua Glória,
  • expiar os pecados do mundo,
  • comprar a salvação de muitas almas.
Jesus a Santa Josefa; Apelo ao Amor pg 414

Minha Metanóia
- Descreva em seu diário espiritual quais são as repugnâncias que sua natureza humana sente quando se fala de uma verdadeira conversão ao cristianismo.
- Quais as renúncias que devo proceder?
- O que me impede de ser humilde?
- O que me impede de perdoar?
- O que me impede de Amar até o extremo, como Jesus amou?
- Se voluntariamente passei a maior parte de minha vida na impiedade ou na indiferença e percebo que a eternidade já esta as portas, o que me impede de implorar o perdão?
- Qual respeito humano sinto como uma ‘repugnância’ que me está impedindo de me unir ao Senhor?
“Enquanto tiver o homem um sopro de vida, poderá ainda recorrer a Misericórdia e implorar o perdão”
Jesus a Santa Josefa; Apelo ao Amor pg 418
- Olhemos para o resultado e a recompensa que haveremos de receber na eternidade.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Consolação

Testemunho de Santa Joana de Chantal
Consolem-se, pois, as almas que estão resolvidas a ser todas de Deus, embora se vejam privadas de toda a consolação. Sua dor é sinal de que são muito queridas por Deus e de que ele preparou para elas um lugar no céu onde a felicidade é plena e eterna.
Tenham por certo que, quanto mais aflitas neste mundo, tanto mais serão consoladas no céu: “Segundo as muitas dores que experimentou o meu coração, as tuas consolações alegraram a minha alma” Salmo 93,19.
Para consolo dessas pessoas, quero acrescentar aqui o que se conta na vida de Santa Joana de Chantal: Por espaço de quarenta e um anos foi atormentada por terríveis sofrimentos interiores, tentações, medo de não estar na graça de Deus e até de ter sido abandonada por ele. Eram tão continuas e tão grandes as suas aflições que chegava a dizer que só o pensamento da morte é que lhe dava alivio.
“São tão furiosos os assaltos –dizia ela- que eu não sei onde repousar o meu pobre espírito. As vezes me parece acabar a paciência e estar ao ponto de perder e deixar tudo. É tão cruel a tirania da tentação, que todas as horas do dia eu trocaria com a morte. As vezes chego a perder o sono e a vontade de comer”

Tentações
Nos últimos anos de sua vida, as tentações tornaram-se mais violentas. Ela sofria dia e noite em continuo martírio interior quando rezava, quando trabalhava, quando descansava. Era tentada contra todas as virtudes –exceto a castidade- com duvidas, trevas e repugnâncias. As vezes Deus lhe tirava sua luz interior e parecia como que irritado com ela, como que a rejeitando.
            Assustada, ela virava os olhos para o outro lado, procurando algum alivio; mas, não o encontrando, era forçada a olhar para Deus e abandonar-se a sua misericórdia. Parecia-lhe que estivesse para cair a todo momento devido aos ataques das tentações. Embora a assistência divina não a desamparasse, parecia-lhe que o Senhor já a tinha abandonado.
Não sentia satisfação alguma, mas só o tedio e angustias na oração, na leitura espiritual, na comunhão e em todos os outros exercícios de piedade. Seu único recurso em tal estado de abandono era olhar para seu Deus e entregar-se a sua vontade divina.

Tentações intensas
            “Em todo este meu desamparo –dizia ela- até a simplicidade de minha vida se torna para mim uma nova cruz, aumentada com a incapacidade que sinto de praticar boas obras”.
            Por isso, ela dizia que lhe parecia ser como um doente cheio de dores, sem poder voltar-se de um lado para outro, como um mudo que não pode explicar seus males, como um cego que não vê se lhe dão remédio ou veneno. “Parece-me não ter fé, nem esperança, nem amor ao meu Deus”
            Apesar de tudo, a santa conservava o rosto sereno, era delicada no trato com as pessoas e mantinha os olhos fixos em Deus, entregando-se a vontade divina.

Assim são feitos os santos
São Francisco de Sales, seu diretor espiritual, sabendo quanto Deus amava sua bela alma, assim escreveu sobre ela: “Seu coração era como um musico surdo que, embora catasse maravilhosamente, não podia tirar do canto nenhum prazer”. Mais tarde ela escreveu: “Deveis servir ao vosso Salvador só por amor a sua vontade, com a privação de todas as consolações e com esses dilúvios de tristezas e amarguras”. Assim são feitos os santos.
            “Cortadas com o cinzel, polidas e lavradas –diz a Igreja- as pedras brilhantes, unidas com arte e perfeição, elevarão o templo até o céu”. Os santos são essas pedras escolhidas; trabalhadas e cinzeladas com as tentações, os temores, as trevas e outros sofrimentos internos e externos, tornam-se aptas para serem colocadas nos tronos do paraíso.

Oração
            Jesus, minha esperança, minha felicidade, amor único de minha alma, não mereço suas consolações. Reservai-as para as almas inocentes que sempre vos amaram. Eu, como pecador, sou indigno delas, não vos peço. Eis o que desejo: fazei que eu vos ame e cumpra vossa vontade em toda a minha vida; depois disponde de mim como vos aprouver. Amém.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

terça-feira, 10 de junho de 2014

Purificação Interior

Purificação interior
Quando uma alma tem certeza moral de estar na graça de Deus, embora despojada dos prazeres do mundo e dos dons de Deus, está contente sabendo que ama a Deus e é amada por ele.
Mas o que faz Deus, querendo vê-la mais purificada e despida de toda a satisfação sensível, para uni-la toda a si por meio de seu puro amor?
- Coloca-a na prova da desolação que causa uma dor pior do que todos os sofrimentos interiores e exteriores que uma alma pode sofrer. Priva-a do conhecimento de estar na graça e a deixa em densas trevas, de modo a pensar que não mais encontrará a Deus. As vezes Ele permite que seja assaltada por fortes tentações dos sentidos, tentações contra a castidade, pensamentos de desconfiança, de desespero e até mesmo de ódio a Deus.
            Parece-lhe que o Senhor a rejeitou e já não escuta as suas orações. De um lado as tentações são fortes e a concupiscência se faz sentir, de outro lado, a alma se vê em tão grande escuridão, que, embora resista com a vontade, não distingue bem se está resistindo como deve as tentações ou se nelas está consentindo.
            Com isso cresce-lhe o temor de perdido a Deus, e de que Deus, pelas suas infidelidades nesses combates, justamente a tenha abandonado de todo. Parece-lhe ter chegado a extrema ruina, de não mais amar a Deus e de ser odiada por ele.
- Santa Tereza experimentou essa provação. Diz ela que em tal estado, a solidão já não a consolava mas lhe era um tormento, e quando ia rezar, parecia-lhe encontrar um inferno.

Combater o bom combate
            Acontecendo isso a uma alma que ama a Deus, não deve ficar ela aborrecida nem o diretor espiritual ficar assustado. Tais movimentos dos sentidos, as tentações contra a fé, a desconfiança, os impulsos que a movem a odiar a Deus, são temores e tormentos da alma, esforços do inimigo, mas não são atos voluntários e por isso não são pecados.
            A pessoa que ama de verdade a Jesus Cristo resiste bem a esses combates e não consente em tais sugestões. Envolvida pelas trevas, não sabe distinguir o seu estado e se perturba. Vendo-se afastada da presença da graça, teme e se aflige. Bem se pode ver, nessas almas assim provadas, que tudo é medo e apreensão, mas não realidade. Perguntai-lhes se, enquanto se encontram abandonadas assim, cometeriam um só pecado venial conscientemente. Resolutamente responderiam estar prontas a sofrer, não uma, mas mil mortes, antes de deliberadamente dar um desgosto a Deus.

Unir-se a vontade de Deus
Devemos distinguir:
- Uma coisa é fazer um ato bom, como vencer a tentação, confiar em Deus, amar e querer o que Deus quer.
- Outra coisa é conhecer que, de fato, fazemos esse ato bom.
- Conhecer que fazemos um ato bom traz-nos consolação. O proveito não nos vem de conhecer que praticamos uma boa ação, mas de a praticarmos.
            Deus contenta-se com o ato feito e priva a alma do conhecimento. Assim ele lhe tira toda a satisfação própria que, na verdade, nada acrescenta ao ato praticado. O Senhor quer mais o nosso proveito do que a nossa satisfação.
            Consolando uma pessoa aflita, São João da Cruz escreveu-lhe:
“Nunca estiveste em melhor estado do que este, porque nunca estiveste tão humilhada e desapegada do mundo. Nunca te reconheceste tão miserável como agora, nem despojada e longe de procurar a ti mesma”
            Não creiamos, enfim, ser mais amados de Deus quando sentimos as consolações espirituais, pois, a perfeição não consiste nisso, mas em mortificar a nossa vontade e uni-la a vontade de Deus.

Perseverança na desolação
            Nessa desolação a alma não deve dar ouvidos a tentação que sugere Deus tê-la abandonado, nem deixar a oração, pois é isso que o demônio pretende para jogá-la no precipício. Diz Santa Tereza:
“O Senhor prova com aridez e tentações aqueles que o amam.
Ainda que a aridez dure toda a vida, não deixe a alma a oração; tempo virá em que tudo lhe será bem pago”.
            Em tal estado de sofrimento, a alma deve humilhar-se, julgando-se merecedora de ser assim tratada pelas ofensas feitas a Deus. Humilhar-se e resignar-se inteiramente a vontade divina, dizendo-lhe:
“Aqui estou, Senhor. Se me quereis assim desolada e aflita durante toda a minha vida ou mesmo por toda a eternidade, dai-me a vossa graça, fazei que eu vos ame; depois disponde de mim como for do vosso agrado”.

Manter-se em estado de graça
            Querer a alma ter a certeza de estar na graça de Deus, ou de que isto é provação e não abandono de Deus, será inútil e talvez causa de maior inquietação pois Ele não quer que ela saiba.
Não o quer para maior bem, para que a alma se humilhe mais e multiplique as orações e atos de confiança na sua misericórdia.
A alma quer ver e Deus não quer que veja.
            Além disso, São Francisco de Sales diz: A resolução de não consentir em nenhum pecado, por pequeno que seja, nos assegura que estamos em estado de graça”.
            Mas, quando a alma se encontra em grande desolação, nem isso conhece claramente. Ela não deve pretender sentir o que deseja, basta-lhe querer com a limitação de sua vontade. Dessa forma, deve abandonar-se toda nos braços da bondade divina. Oh! Como agradam a Deus esses atos de confiança e de resignação no meio das trevas da desolação! Confiemos no Senhor que, como diz Santa Tereza, nos ama mais do que nós amamos a nós mesmos”.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Aridez espiritual - Consolações

A alma que se dá a Deus experimenta a principio, consolações sensíveis. O Senhor procura atraí-la e desprende-la dos prazeres terrenos, para que ela vá se desapegando das criaturas e unindo-se a ele. Contudo, pode unir-se a ele seguindo um caminho errado, levada mais pelo gosto das consolações espirituais, do que por uma verdadeira vontade de agradar a Deus. Engana-se, pensando que tanto mais o ama, quanto mais gosto encontra nas suas devoções. Daí provém inquietar-se e afligir-se ao ser perturbada nos exercícios de piedade que lhe davam prazer, quando deve fazer outras coisas por obediência, ou por caridade, ou por obrigações do seu próprio estado.

É um defeito universal de nossa fraca humanidade procurar em tudo a própria satisfação. Não encontrando nestes exercícios o prazer desejado, deixa-os ou ao menos os reduz. Reduzindo-os de dia para dia, finalmente deixa todos. Essa desgraça acontece a muitas almas. Chamadas por Deus ao seu amor, começam a marchar no caminho da perfeição e avançam enquanto duram as consolações espirituais. Mas depois, quando elas acabam, abandonam tudo e voltam a vida antiga. É preciso persuadir-nos de que o amor de Deus e a perfeição não consistem em sentir consolações, mas em vencer o amor próprio e fazer a vontade de Deus.
- Diz São Francisco de Sales: “Deus é tão digno de nosso amor quando nos consola e quando nos faz sofrer”

            No tempo das consolações não é grande virtude deixar os gostos sensíveis e suportar as ofensas e contrariedades. No meio das alegrias a alma suporta tudo. Essa paciência nasce, muitas vezes, mais das consolações do que da força do verdadeiro amor a Deus.
            Por isso, com a finalidade de consolidá-la na virtude, o Senhor retira-se e lhe recusa esses gostos sensíveis para destruir todo o apego ao amor próprio que se alimentava com tais satisfações.

            Primeiro sentia gosto em fazer atos de oferecimento, confiança, amor; depois que secou a fonte de consolações, faz estes atos com frieza e dificuldade. Fica aborrecida com os exercícios mais piedosos, com a oração, com a leitura espiritual, com a comunhão. Só vê trevas e temores e tudo lhe parece perdido. Reza, torna a rezar, e se aflige por lhe parecer que Deus não a ouve.

            Vejamos na prática o que devemos fazer da nossa parte. Quando o Senhor, por sua misericórdia, nos consola com visitas consoladoras e nos faz sentir a presença de sua graça, não é bom rejeitar essas consolações, como queriam alguns falsos místicos. Aceitemo-las agradecidos, mas  cuidemos em não nos determos nelas com complacências. A isto São João da Cruz chama de ‘gula espiritual’, o que é defeito e não agrada a Deus.
            Esforcemo-nos em afastar de nossa alma a complacência sensível nessas consolações. Cuidemos especialmente em não pensar que ele usa de tais finezas conosco, porque nos comportamos com ele de forma melhor que os outros. Esse pensamento de vaidade obrigaria o Senhor a retirar-se inteiramente de nós e a nos deixar em nossa miséria. Devemos agradecer a Deus porque essas consolações espirituais são dons que ele nos fez, bem maiores do que todas as riquezas e honras temporais. Não sejamos famintos em saborear essas satisfações sensíveis, mas sejamos humildes, tendo diante dos olhos os pecados da vida passada.
            É preciso crer que essas consolações são pura consequência da bondade de Deus. Talvez o Senhor antes nos conforte para que depois soframos com paciência alguma grande tribulação que deseja nos enviar.
            Por isso, ofereçamo-nos para suportar qualquer sofrimento externo ou interno, enfermidades, perseguições, aridez espiritual, dizendo-lhe: “Meu Senhor, aqui estou. Fazei de mim e de tudo o que tenho o que vos aprouver. Dai-me a graça de vos amar e de cumprir perfeitamente a vossa vontade, e nada mais vos peço!


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Liberdade de espírito (Santo Afonso)

8. Muitas pessoas inventam para si uma santidade conforme sua inclinação:
·         Quem é melancólico faz a santidade consistir no viver sozinho;
·          quem é ativo, em pregar e fazer reconciliações;
·         os de gênio austero, em fazer penitência e mortificações;
·         os de temperamento bondoso, em dar esmolas;
·         alguns em visitar santuários;
·         outros em fazer muitas orações vocais.
- Os atos externos são frutos do amor a Jesus Cristo. Mas, o verdadeiro amor consiste em nos conformar em tudo com a vontade de Deus, em renunciar a nós mesmos e em preferir que o que mais agrada a Deus, somente porque ele o merece.

            9. Há os que querem servir a Deus, mas em tal emprego, em tal lugar, com tais companheiros ou em tais circunstancias. Se assim não for, ou deixam o trabalho ou o fazem de má vontade. Essas pessoas não têm a liberdade de espírito; são escravas do amor próprio, ganhando pouco merecimento do que fazem. Vivem sempre inquietas porque, estando presas a própria vontade, o jugo de Cristo se lhes torna pesado.
Quem ama de verdade a Jesus Cristo, ama só o que lhe agrada, quando, onde e como ele quer; seja em trabalhos importantes ou em ocupações simples e humildes, numa vida distinta no mundo ou escondida e desprezada. Isso é o que exige o amor a Jesus Cristo.
Nisso devemos nos esforçar, combatendo as ambições do amor próprio que quereria ver-nos ocupados somente em trabalhos gloriosos ou de acordo com nossas inclinações. De que adianta ser neste mundo a pessoa mais honrada, mais rica, a maior de todas, sem a vontade de Deus?
- Dizia Henrique Suso: “Preferiria ser um mísero verme da terra por vontade de Deus, do que um anjo do céu por minha própria vontade”

            10. Jesus Cristo: “Muitos me dirão: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, e em teu nome expulsamos os demônios, em teu nome fizemos muitos milagres?’ Mas o Senhor lhes responderá: ‘Nunca vos conheci, afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade’” Mt 7, 22-23. Retirai-vos, nunca vos reconheci por meus discípulos, porque preferistes a vossa inclinação e não aminha vontade.
- Isso se aplica especialmente aqueles sacerdotes que se gastam pela salvação e perfeição dos outros e, no entanto, vivem no pântano de suas próprias imperfeições.
- A santidade consiste:
1º.    Numa verdadeira renúncia de si mesmo;
2º.    Numa total mortificação das próprias paixões;
3º.    Numa perfeita conformidade com a vontade de Deus.
- Quem falha numa dessas virtudes, está fora do caminho da perfeição. Por isso, dizia um grande servo de Deus que era melhor colocar como finalidade das nossas ações a vontade de Deus, do que a sua glória. Pois, fazendo sua vontade, buscamos também a sua glória. Mas, propondo-nos a glória de Deus, muitas vezes nos enganamos fazendo a nossa vontade, com o pretexto da glória de Deus.
- S.Francisco Sales: “São muitos os que dizem ao Senhor: eu me dou todo a vós sem reservas; mas são poucos os que aceitam a prática desse abandono. Esse abandono consiste numa certa indiferença para receber qualquer acontecimento conforme a Divina Providência nos mandar, sejam aflições ou consolações, sejam desprezos e injurias ou honras e louvores.”

Amor no sofrimento
            11. Portanto, é só no sofrer e no abraçar com alegria as coisas desagradáveis e contrárias ao nosso amor próprio que se conhece quem ama de verdade a Jesus Cristo.
- Tomás Kempis: “Quem não está pronto a sofrer tudo pela pessoa amada e a seguir sempre sua vontade, não merece o nome de verdadeiro amigo”
- Corre velozmente para Deus que, de boa vontade, se conforma com a vontade divina em tudo.
- S.Tereza: “Que maior vantagem pode haver, do que ter alguma prova de que damos alegria a Deus”. Não podemos ter maior garantia de agradarmos a Deus, do que aceitando de boa vontade as cruzes mandadas por ele. O Senhor aceita de bom grado nossos agradecimentos pelos benefícios que nos fez neste mundo. Mas diz S.João Ávila que vale mais um ‘bendito seja deus’ nas contrariedades, do que seis mil agradecimentos na alegria.

            12. É preciso notar ainda, que não só devemos receber com resignação as provações vindas diretamente de Deus, tais como as doenças, a nossa limitação, a perda acidental de alguma coisa, mas também tudo o que nos vem indiretamente de Deus e diretamente dos homens: as perseguições, os roubos, as injurias. Na verdade, tudo nos vem de Deus.
            Certa vez o rei Davi foi injuriado por um súdito seu de nome Semei que o maltratou com palavras ofensivas e até com pedradas. Um dos seus soldados quis cortar a cabeça do atrevido, mas Davi observou a humildade: “Deixai-o maldizer; o Senhor lhe ordenou que maldissesse a Davi” IISam 16,10, isto é, Deus serve-se deste homem para castigar os meus pecados; por isso permite que me injurie assim.

            13. S.Maria Madalena Pazzi dizia que todas as nossas orações não devem ter outra finalidade a não ser alcançar de Deus a graça de seguir em tudo a sua santa vontade.
- Certas pessoas, ávidas de satisfações espirituais, nada mais fazem na sua oração do que procurar sentimentos agradáveis e ternos, para se deliciarem neles. As almas fortes e desejosas de pertencer só a Deus não lhe pedem senão luz para discernir sai vontade e força para a cumprir perfeitamente. Para alcançar a perfeição do amor, é necessário sujeitar em tudo nossa vontade a vontade de Deus.
- S.Francisco Sales: “Não penseis já ter chegado a perfeição que deveis possuir, enquanto vossa vontade não estiver completamente, mesmo nas coisas mais difíceis, submissa alegremente a vontade de Deus”
- S.Tereza: A entrega de nossa vontade a Deus o faz unir-se a nossa pequenez”
- Mas isso jamais poderá ser conseguido, senão através da oração mental ou meditação, e de súplicas contínuas a sua divina Majestade, com um verdadeiro desejo de ser todo, sem reservas, de Jesus cristo.

            14. Coração bondoso de meu Salvador, Coração apaixonado pelos homens, que nos amais cm tanta delicadeza;
Coração merecedor de reinar e de possuir todos os nossos corações. Quem me dera fazer todos compreenderem o amor que lhes tendes e a bondade que manifestais com aqueles que vos amam sem reservas!
- Jesus, dignai-vos aceitar a oferta e o sacrifício que hoje vos faço de toda a minha vontade. Fazei-me compreender o que desejais de mim; quero fazer tudo com a vossa graça.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIII– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 5 de março de 2014

Meditação

Sequencia da postagem “Ser de Deus”
A meditação
            18. O terceiro meio para se tornar santo é a meditação.
- João Gerson diz: que quem não medita as verdades eternas não pode, a não ser por milagre, viver como cristão. A razão é que, sem meditação, não há luz e se caminha na escuridão. As verdades de fé não se enxergam com os olhos do corpo, mas com os olhos d alma, quando nosso espírito as medita. Quem não faz meditação sobre as verdades eternas, não pode vê-las e por isso ando no escuro, facilmente se apega as coisas sensíveis e por causa delas despreza os bens eternos.
- S.Tereza: “Embora pareça que não há imperfeições em nós, descobrimos grande numero delas, quando Deus faz ver o nosso intimo, o que ele costuma fazer na meditação”.
- S.Bernardo: Quem não medita, não julga com severidade a si mesmo, porque não se conhece. A oração controla nossos afetos e dirige nossos atos para Deus; mas sem oração, os afetos de nossa alma se apegam a terra, nossas ações acompanham os afetos e assim tudo acaba em desordem.

            19. É impressionante o que se lê na vida da venerável irmã Maria Crucifixa. Quando rezava, como que ouviu um demônio gloriar-se de ter feito uma religiosa deixar a meditação. Em espírito viu que, após essa falta, o demônio tentava a religiosa a cometer uma falta grave e ela já estava para consentir. Correndo depressa, chamou-lhe atenção e livrou-a da queda.
- S.Tereza: Quem deixa a meditação, em pouco tempo se torna um animal ou um demônio.

            20. Quem abandona a meditação, portanto, deixará de amar a Jesus Cristo. A meditação é a fornalha onde se acende e se conserva o fogo do amor a Deus.
- S.Catarina Bolonha: Quem não medita muito fica sem o laço de união com Deus. Nessa situação não será difícil para o demônio, encontrando a pessoa fria no amor de Deus, leva-la a se alimentar com uma fruta envenenada.
- S.Tereza: Quem persevera na meditação, mesmo que o demônio a tente de muitas maneiras tenho certeza que o Senhor a levará ao porto da salvação... Quem não para no caminho da meditação, chegará ainda que tarde.
- O demônio se esforça muito em afastar a pessoa da meditação porque
“ele sabe que as pessoas perseverantes na oração estão perdidas para ele”
- Quantos bens se conseguem na meditação! Dela nascem os bons pensamentos, manifestam-se nossos piedosos afetos, desenvolvem-se os grandes DESEJOS, tomam-se as resoluções firmes de se dar inteiramente a Deus. Dessa maneira, a pessoa lhe sacrifica os prazeres terrenos e todos os DESEJOS desordenados.
- S.Luis Gonzada: “Não existirá muita perfeição, se não existir muita meditação.” Reparem bem nesta frase as pessoas que amam a perfeição!

As consolações espirituais
            21. Não se deve rezar para sentir a consolação do amor de Deus. Quem reza com esta finalidade, perderá seu tempo ou tirará pouco proveito. Devemos rezar somente para agradar a Deus, isto é, para conhecer o que Deus quer de nós e lhe pedir sua ajuda para cumprir sua vontade.
“Carregar a cruz sem consolações faz a alma voar até a perfeição”
- A oração sem consolações sensíveis torna-se mais frutuosa para a alma. Pobre pessoa que deixa a oração só porque não sente gosto nela!
- S.Tereza: Quem deixa a oração, é como jogar-se no inferno por si mesmo, sem necessidade dos demônios.

            22. Nasce da oração a gente sempre pensar em Deus.
- S.Tereza: Quem ama de verdade, sempre se lembra da pessoa a quem ama. Esta é a causa porque as pessoas piedosas falam sempre de Deus, sabendo o quanto agrada a Deus falar d’Ele e de seu amor por nós. É também assim que procuram comunicar aos outros aquele mesmo amor que invade seus corações. “Nas conversas dos filhos de Deus sempre está presente Jesus Cristo, agradando-lhe muito que se alegrem nele”
            23. Da oração nasce ainda o DESEJO de conservar o recolhimento interior nas ocupações externas e necessárias. Disse ‘ocupações necessárias’, isto é, seja por causa da direção da família, seja por causa dos próprios deveres, ou dos trabalhos exigidos pela obediência. Mesmo assim, as pessoas de oração devem amar a solidão e não se dissipar em ocupações extravagantes e inúteis; do contrário perderão o espírito de recolhimento, este grande meio de manter a união com Deus: “És um jardim fechado, minha irmã, minha esposa”. Nossa alma, esposa de Jesus Cristo, deve ser um jardim fechado a todas as criaturas, não admitindo outros pensamentos e ocupações que não sejam de Deus ou para Deus. Os corações dissipados não se tornam santos.
- Os santos que se dedicam a conquistar pessoas para Deus, não perdem o recolhimento mesmo entre as canseiras da pregação, do ouvir confissões, do reconciliar os inimigos, do assistir os doentes. O mesmo acontece com aqueles que se dedicam ao estudo. Quantos estudam muito e se esforçam para se tornar sábios e acabam não se tornando nem sábios nem santos. A verdadeira sabedoria é a sabedoria dos santos: saber amar a Jesus Cristo. P amor de Deus traz consigo a ciência e todos os bens; “Com ela me vieram todos os bens” Sab7,11, isto é, com a caridade.
- S.João Berchmans tinha uma paixão extraordinária pelo estudo, mas, com sua virtude, não deixou que os estudos dificultassem o seu crescimento espiritual.
- S.Paulo: Digo a todos que estão entre vós, que não saibam mais do que convém saber, mas que saibam com sobriedade...” Rm 12,3 quem deixa a oração por causa do estudo não busca a Deus, mas a si mesmo. Quem procura a Deus, larga o estudo oportunamente para não deixar a oração.

Meditação e Oração
            24. O maior mal, além disso, é que sem meditação não se reza. Em outras obras espirituais já falei da necessidade de rezar, especialmente num livrinho a parte, intitulado: “O grande meio da oração” neste capitulo direi rapidamente mais alguma coisa.
- Bispo João Palafox: Como podemos conservar a caridade, se Deus não nos dá a perseverança?
·         Como o Senhor nos dará a perseverança, se não a pedimos?
·         Como a pediremos sem oração?
Sem oração não existe comunicação com Deus, para se manter a vida cristã. De fato, quem não faz meditação enxerga pouco as necessidades de sua alma, não conhece bem os perigos a que se expõe para se salvar, nem os meios que deve usar para vencer as tentações. Assim, conhecendo pouco a necessidade da oração, deixará de rezar e certamente se perderá.

            25. Quanto ao que meditar, não há assunto, mais útil do que as verdades da vida: a morte, o julgamento, o inferno e o céu.
- Devemos meditar especialmente na morte, imaginando estarmos para morrer numa cama, com o crucifixo nas mãos e próximos a entrar na eternidade. Mas, principalmente para quem ama a Jesus Cristo e DESEJA crescer no seu santo amor, não existe meditação mais útil do que a Paixão do Redentor. O calvário é a montanha das pessoas que amam. Quem ama a Jesus Cristo sempre faz sua meditação sobre esta montanha, onde não se respira outro ar senão o amor de Deus.
- Vendo um Deus que morre por nosso amor e porque nos ama –amou-nos e se entregou por nós- é impossível não o amar intensamente. Das chagas de Jesus Crucificado saem continuamente flechas de amor que ferem os corações mais duros. Feliz aquele que faz continuamente nesta vida a sua meditação sobre o monte Calvário! Montanha feliz, amável, querida, quem se afastará de ti? Desprendendo fogo, abrasas as pessoas qie moram permanentemente sobre ti!


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap VIII– Santo Afonso Maria de Ligório

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Maria, caminho fácil, curto e perfeito.

Esta Devoção conduz à união com Nosso Senhor
§152. Quinto motivo. Esta Devoção é um caminho fácil, curto, perfeito e seguro para chegar à união com Deus, na qual consiste a perfeição cristã.

Caminho Fácil
- É um caminho fácil que Jesus Cristo abriu ao vir até nós, e onde não se encontra obstáculo algum para chegar até Ele. Pode-se, na verdade, chegar à união divina por outros caminhos, mas será por muito mais cruzes e mortes misteriosas, com muito mais dificuldades, que só a custo serão vencidas. 
- Será preciso passar por noites escuras, por combates e agonias misteriosas, por cima de montanhas escarpadas, por cima de espinhos muito agudos e por desertos horríveis.
- Mas pelo caminho de Maria passa-se mais suave e tranquilamente. 
- Também aqui se encontram, é certo, rudes combates a travar e grandes dificuldades a vencer. 
- Mas esta boa Mãe e Senhora torna-se tão presente e tão próxima dos Seus fiéis servos para os iluminar nas suas trevas, esclarecer nas suas dúvidas, confirmar no meio dos seus temores, sustentar nas lutas e dificuldades, que este caminho virginal para encontrar Jesus Cristo é realmente um caminho de rosas e mel à vista dos outros. 
- Houve alguns santos, mas em pequeno número, como S. Efrém, S. João Damasceno, S. Bernardo, S. Bernardino, S. Boaventura, S. Francisco de Sales etc., que passaram por este caminho ameno para ir a Jesus Cristo. O Espírito Santo, Esposo fiel de Maria, tinha-lho indicado por uma graça singular. 
- Os outros santos, porém, que são em maior número, embora todos tenham sido devotos da Santíssima Virgem, não entraram, ou entraram muito pouco, nesta via. Foi por isso que sofreram provas mais rudes e perigosas.

§153. Mas então donde vem, dir-me-á algum fiel servo de Maria, que os servos fiéis desta boa Mãe têm tantas ocasiões de sofrer, e mais até do que outros que d'Ela não são tão devotos?
- Contradizem-nos, perseguem-nos, caluniam-nos, não os suportam; ou, ainda, caminham em trevas interiores e por desertos onde não há a mínima gota do orvalho celeste. Se esta Devoção à Santíssima Virgem torna mais fácil o caminho que conduz a Jesus Cristo, donde vem que sejam eles os mais crucificados?

§154. Respondo-lhes: É bem verdade que os mais fiéis servos da Santíssima Virgem são os Seus maiores favoritos. Por isso são eles que recebem d'Ela as maiores graças e favores do Céu, a saber, as cruzes. 
- Mas sustento que são também os servos de Maria que levam essas cruzes com mais facilidade, com maior mérito e glória. Aquilo que deteria mil vezes outras almas, ou as faria cair, não os detém nem uma só vez e faze-os avançar. É que esta Mãe, toda cheia de graça e de unção do Espírito Santo, adoça todas estas cruzes que lhes prepara, no mel da sua Doçura Materna e na unção do Puro Amor. 
- Deste modo eles recebem-nas alegremente como nozes cobertas de açúcar, ainda que em si sejam muito amargas. Uma pessoa que deseja ser devota e viver piedosamente em Jesus Cristo, consequentemente há de sofrer perseguição e levar todos os dias a sua Cruz (Lc 9, 23). Julgo que tal pessoa nunca levará grandes cruzes ou não as levará alegremente, nem até o fim, sem possuir uma terna devoção à Santíssima Virgem, que é a doçura das cruzes. 
- Do mesmo modo ninguém poderá comer, sem se fazer grande violência, que não será muito duradoura, nozes verdes que não sejam adoçadas em açúcar.

Caminho Curto
§155. Esta Devoção à Santíssima Virgem é um caminho curto para encontrar Jesus Cristo, quer porque ninguém se perde nele, quer porque, como acabo de dizer, se avança por ele com mais alegria e facilidade e, portanto, com mais prontidão. 
- Avança-se mais, em pouco tempo de submissão e dependência para com Maria, que durante anos inteiros de vontade própria e de apoio em si mesmo. 
- Pois o homem obediente e submisso a Maria Santíssima cantará vitórias notáveis sobre todos os seus inimigos (Pr 21, 28). 
- Quererão estes impedi-lo de caminhar, fazê-lo recuar ou cair, é verdade. Mas, com o apoio, a ajuda e a guia de Maria, sem cair, sem recuar e mesmo sem se atrasar, avançará a passos de gigante para Jesus Cristo, pelo mesmo caminho por onde, como está escrito, Jesus veio até nós a passos de gigante e em pouco tempo (Sl 18, 6).

§156. Por que julgais que Jesus Cristo viveu tão pouco tempo na Terra e que, nos poucos anos que nela passou, viveu quase sempre em submissão e obediência à sua Mãe? Ah! É que, tendo morrido cedo, viveu muito (Sb 4, 13) e muito mais que Adão, cujas perdas vinha reparar, embora este vivesse mais de novecentos anos. E Jesus Cristo viveu muito porque viveu bem unido e submisso à sua Santa Mãe, para obedecer a Deus seu Pai.
- E é assim pelas seguintes razões:
1ª. Aquele que honra sua mãe é semelhante ao homem que ajunta tesouros, como diz o Espírito Santo. Isto é, aquele que honra Maria, sua Mãe, até se submeter a Ela, a obedecer-lhe em todas as coisas, tornar-se-á em breve muito rico, pois amontoa diariamente tesouros, por esta pedra filosofal:
“Como quem acumula tesouros, assim é aquele que honra sua mãe” (Eclo 3, 5).
2ª. É no seio de Maria, que encerrou e gerou um homem perfeito e que pôde conter Aquele que nem o universo inteiro pode compreender nem conter, é no seio de Maria, digo, que os jovens se tornam velhos anciãos em luz, em santidade, em experiência e em sabedoria, e que atingem em poucos anos a plenitude da idade de Jesus Cristo. Isto baseia-se numa interpretação espiritual da seguinte palavra do Espírito Santo:
“A minha velhice está na misericórdia do seio” (Sl 91, 11).

Caminho Perfeito
§157. Esta prática de Devoção à Santíssima Virgem é um caminho perfeito para ir e para se unir a Jesus Cristo, porque Maria Santíssima é a mais perfeita e a mais Santa das puras criaturas, e Jesus Cristo, que veio a nós de maneira perfeita, não escolheu outro caminho para a sua grande e admirável viagem.
- O Altíssimo, o Incompreensível, o Inacessível, Aquele que é, quis vir a nós, pequeninos vermes da Terra, que nada somos. E como se fez isto?
- O Altíssimo desceu perfeita e divinamente até nós por meio da humildade de Maria, sem nada perder da sua divindade e santidade. É igualmente por Maria que os pequeninos devem subir, perfeita e divinamente, ao Altíssimo, sem nada temer.
- O Incompreensível deixou-se compreender e conter perfeitamente pela humilde Maria, sem nada perder da sua imensidade. É por Maria que nos devemos deixar conter e conduzir perfeitamente, sem nenhuma reserva.
- O Inacessível aproximou-se, uniu-se estreitamente e até pessoalmente à nossa humanidade por intermédio de Maria, sem nada perder da sua majestade. É por Maria que nos devemos aproximar de Deus e unir-nos à Divina Majestade perfeita e estreitamente, sem receio de sermos repelidos.
- Enfim, Aquele que é quis vir ao que não é, e fazer que o que não é se transforme em Deus ou naquele que é. Deus fê-lo perfeitamente, dando-se e submetendo-se inteiramente à jovem Virgem Maria, sem deixar de ser, no tempo, Aquele que é desde toda a eternidade. 
- É ainda por Maria que nos podemos tornar semelhantes a Deus pela graça e pela glória, embora nada sejamos. Basta entregarmo-nos a Ela tão perfeita e inteiramente que já nada sejamos em nós mesmos, mas tudo n'Ela, sem receio de nos enganarmos.

§158. Abram-me um caminho novo para ir a Jesus Cristo, calcetado com todos os méritos dos bem-aventurados, ornado com todas as suas virtudes heróicas, iluminado e enfeitado com a luz e a beleza de todos os anjos, e que os anjos todos e os santos nele se encontrem para conduzir, defender e sustentar aqueles e aquelas que por ele queiram seguir. 
- Com certeza absoluta, digo-o ousadamente, e digo a verdade: eu escolheria, de preferência a este caminho tão perfeito, o caminho imaculado de Maria (Sl 17, 33), caminho sem nódoa alguma nem defeito, sem pecado original nem atual, sem sombras nem trevas. E quando o meu amável Jesus vier segunda vez à Terra, em sua glória, (como é certo), para aqui reinar, não escolherá outro caminho para a sua vinda, senão Maria Santíssima, por quem veio tão segura e perfeitamente primeira vez. 
- A diferença que há entre a primeira e a última vinda é que a primeira foi secreta e escondida, e a segunda será gloriosa e triunfante; mas são ambas perfeitas, pois ambas por intermédio de Maria. Ai! Eis um mistério que não se compreende:
“Que toda a língua aqui emudeça!”
Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort