quinta-feira, 8 de maio de 2014

Esperança faz crescer o amor (Santo Afonso)

Quem ama a Jesus Cristo, dele tudo espera
1. A esperança faz crescer a caridade, e a caridade faz crescer a esperança.
- S. Tomás: “No momento em que esperamos algum bem de alguma pessoa, começamos a amá-la”. Por isso, o Senhor não quer que ponhamos nossa confiança nas criaturas: “Não coloqueis nos poderosos a vossa confiança.” Ele amaldiçoa quem confia no homem, dizendo: “Maldito o homem que confia no homem”. Deus não quer que confiemos nas criaturas, porque não quer que coloquemos nelas o nosso amor.
- S.Vicente Paulo: “Cuidemos em não nos apoiarmos muito na proteção dos homens, porque o Senhor, quando nos vê apoiados neles, retira-se de nós. Ao contrário, quanto mais confiamos em Deus tanto mais progredimos no seu amor”.
            “Correrei pelo caminho de vossos mandamentos, porque sois vós que dilatais o meu coração.” Corre no caminho da perfeição quem possui o coração dilatado na confiança em Deus. Digo mais, não só corre, mas voa, porque tendo depositado toda sua esperança no Senhor, deixará de ser fraco como era. Tornar-se-á forte com a força de Deus comunicada a todos os que confiam em Deus: “Aqueles que esperam no Senhor renovam suas forças; terão asas como de águia. Correrão sem se cansar, irão para frente sem se fatigar” Isaias40,31. A águia, quanto mais se levanta em seu voo, mais se avizinha do sol; do mesmo modo a alma, fortalecida com a confiança, desprende-se da terra e mais se une a Deus pelo amor.

            2. Assim como a esperança ajuda a aumentar o amor de Deus, assim também o amor aumenta a esperança, porque a caridade nos faz filhos adotivos de Deus. Na ordem natural somos obras de suas mãos. Na ordem sobrenatural, pelos merecimentos de Jesus Cristo, somos filhos de Deus e participantes da natureza divina (IIPedro 1,4). E se a caridade nos faz filhos de Deus, como consequência nos faz também herdeiros do céu: “Se somos filhos, também somos herdeiros” Rm 8,17. Ora, aos filhos compete habitar a casa do pai. Aos herdeiros pertence a herança, e por isso a caridade faz crescer a esperança do paraíso. Dessa forma, quem ama a Deus não cessa de continuamente exclamar: Venha a nós o vosso reino!

Esperança no amor
            3. Deus ama a quem o ama, como se diz na sagrada Escritura: “Eu amo aqueles que me amam” Pr 8,17. Ele enche de graças a quem o procura com amor: “O Senhor é bondoso com a alma que o procura” Lm 3,25. Por isso, quem mais ama a Deus, mais espera na sua bondade. Dessa confiança nasce nos santos aquela inalterável tranquilidade, que os fez sempre alegres e sossegados, até mesmo no meio das contrariedades. Amando eles a Jesus Cristo e sabendo quanto ele é generoso com suas graças para com aqueles que o ama, só nele confiam e nele encontram tranquilidade. É essa a razão porque a alma esposa, descrita no Cântico dos Cânticos, transbordava de felicidade. Não amando senão a Deus, descansava somente nele. Sabendo o quanto é agradecido com quem o ama, estava toda contente. Por isso dela se dizia: “Quem é esta que sobe do deserto, mergulhada em felicidade, apoiando-se em seu amado?” Ct 8,5. É mais do que certo o que diz a Escritura: “Todos os bens me vieram junto com ela”Sb 7,11.; junto com a caridade nos vem todos os bens.

            4. O objeto primário da esperança cristã é Deus, de cuja presença gozam as almas do céu. Mas não pensemos que a esperança de gozar da presença de Deus no céu seja um obstáculo para a caridade, porque a esperança está inseparavelmente unida a caridade. No céu a caridade se aperfeiçoa e encontra o seu complemento.
             A caridade, como diz a Sagrada Escritura, é aquele tesouro infinito que nos faz amigos de Deus: “Ela é para os homens um tesouro inesgotável, e os que a adquiriram, tornaram-se amigos de Deus” Sb 7,14.
- S.Tomás: “A amizade tem por fundamento a comunicação de bens. Sendo a amizade um amor recíproco entre os amigos, é necessário que eles reciprocamente façam bem uns aos outros, conforme o que cabe a cada um. “Se não houvesse comunicação de bens, não haveria amizade”. Por isso Jesus disse aos seus discípulos: “Eu vos chamei amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” Jo 15,15. Já que Jesus os tinha feito seus amigos, devia comunicar-lhes todos os seus segredos.

Comunhão com Deus
            5. S.Francisco de Sales: “Se por impossível, existisse uma bondade infinita, isto é, um Deus a quem não pertencêssemos de modo nenhum e com quem não pudéssemos ter nenhuma união nem comunicação, com certeza nós a valorizaríamos mais do que a nós mesmos. Poderíamos desejar amá-la, mas não a amaríamos porque o amor exige união. A caridade é uma amizade, e a amizade tem por fundamento a comunicação e por finalidade a união.”
- S.Tomás: “A caridade não exclui o desejo da recompensa que Deus nos prepara no céu, mas até nos faz considerá-la como principal objetivo de nosso amor que é Deus, felicidade dos bem-aventurados. É próprio da amizade que os amigos desfrutem mutuamente uns dos outros.”

            6. Esta é aquela reciproca comunicação de dons de que fala o Cântico dos Cânticos: “Aquele que eu amo existe para mim e eu para ele” Ct2,16. A alma no céu se dá toda a Deus e Deus se dá todo a alma na medida em que ela é capaz e segundo seus merecimentos.
            Conhecendo seu nada diante da infinita amabilidade de Deus e vendo que Deus merece ser amado infinitamente mais por ela do que ela por Deus, a alma deseja mais o agrado de Deus do que a sua própria satisfação. Por isso, mais se alegra em dar-se a Deus para lhe agradar, do que Deus dar-se todo a ela; e tanto se alegra que Deus se doe a ela, quanto isso a inflama a dar-se toda a Deus com amor mais intenso. Goza já da glória comunicada por Deus, mas goza da glória para atribui-la ao mesmo Deus e aumentar-lhe a glória o quanto pode.
            No céu, a alma, vendo a Deus, não pode deixar de amá-lo com todas as suas forças. Também Deus não pode odiar quem o ama. É um absurdo, mas se Deus pudesse odiar alguém que o ama e se alguém no céu pudesse viver sem o amar, esse alguém preferiria sofrer todos os tormentos do inferno, contanto que lhe fosse dado amar a Deus, do que viver sem o amar, mesmo gozando de todas as outras felicidades do Paraíso. Sim, porque conhecendo que Deus merece ser amado infinitamente mais do que ela, a alma deseja muito mais amar do que ser amada por ele.

Oração
             Meu Deus, meu Criador e Redentor, vós me criastes  me remistes para me levardes ao Paraíso. Ofendendo-vos tantas vezes, renunciei abertamente ao céu e me contentei de me ver condenado.
            Bendita seja sempre a vossa infinita misericórdia que, tendo-me perdoado –como espero-, me livrou tantas vezes do inferno!
            Meu Jesus, quem me dera nunca vos ter ofendido e vos ter sempre amado.
            Consola-me que ainda tenho tempo de vos amar.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XV– Santo Afonso Maria de Ligório

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