segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Salve Rainha, Mãe de Misericórdia

Maria é Rainha
- Tendo sido a Santíssima Virgem elevada a dignidade de Mãe de Deus, com justa razão a Santa Igreja a honra, e quer que de todos seja honrada com o titulo glorioso de Rainha.
- Se o Filho é Rei, diz Pseudo-Atanásio, justamente a Mãe deve considerar-se e chamar-se Rainha.
- Desde o momento em que Maria aceitou ser Mãe do Verbo Eterno, diz S.Bernardino de Sena, mereceu tornar-se Rainha do mundo e de todas as criaturas.
- Se a carne de Maria, conclui Arnoldo, abade, não foi diversa da de Jesus, como, pois, da monarquia do Filho pode ser separada a Mãe? Por isso deve julgar-se que a glória do reino não só é comum entre a Mãe e o Filho, mas também que é a mesma para ambos.
- Se Jesus é Rei do universo, do universo também é Maria Rainha, escreve Roberto, abade. De modo que, na frase de S.Bernardino de Sena, quantas são as criaturas que servem a deus, tantas também devem servir a Maria.
- Por conseguinte estão sujeitos ao domínio de Maria os anjos, os homens e todas as coisas do céu e da terra, porque tudo está também sujeito ao império de Deus. Eis por que Guerrico abade lhe dirige estas palavras: Continuai, pois, a dominar com toda a confiança: disponde a vosso arbítrio dos bens de Vosso Filho: pois, sendo Mãe, e Esposa do Rei dos reis, pertence-vos como Rainha o reino e o domínio sobre todas as criaturas.

Maria é Rainha de Misericórdia
- Maria é, pois, Rainha. Mas saibamos todos, para consolação nossa, que é uma Rainha cheia de doçura e de clemência, sempre inclinada a favorecer e fazer bem a nós pobres pecadores. Quer por isso a Igreja a saudemos nesta oração com o nome de Rainha de Misericórdia.
- O próprio nome de rainha, considera S. Alberto Magno, denota piedade e providência para com os pobres, enquanto que o de imperatriz da ares de severidade e rigor.
- Magnificência dos reis e das rainhas consiste em aliviar os desgraçados, diz Sêneca. Enquanto que os tiranos governam tendo em vista apenas seu interesse pessoal, devem os reis procurar o bem de seus vassalos.
- Por isso na sagração dos reis se lhes unge a testa com óleo. E o símbolo da misericórdia e benignidade de que devem estar animados para com seus súditos.
- Devem, pois, os reis principalmente empregar-se nas obras de misericórdia, mas sem omitir, quando necessário, a justiça para com os réus. Não assim Maria. Bem que seja Rainha, não é rainha de justiça, zelosa do castigo dos malfeitores. E Rainha de Misericórdia, inclinada só a piedade e ao perdão dos pecadores. Por isso quer a Igreja que expressamente lhe chamemos Rainha de Misericórdia.
- Eu ouvi, diz o Salmista, estas duas coisas: que o poder é de Deus e que é vossa a misericórdia (Sl 61, 12). Considerando o afamado chanceler de Paris João Gerson, as palavras de Davi, disse: consistindo o reino de Deus na justiça e misericórdia, o Senhor dividiu:
  • o reinado da justiça reservou-o para si e
  • o reinado da misericórdia o cedeu a Maria.
- E ainda o Senhor ordenou que pelas mãos de Maria passariam, e a seu arbítrio seriam conferidas todas as misericórdias dispensadas aos homens. Isto mesmo confirma um escritor no prefácio das Epistolas Canônicas, escrevendo:
Quando a Santíssima Virgem concebeu o Divino Verbo e deu a luz,
obteve metade do reino de Deus:
 tornou-se Rainha de Misericórdia e Jesus ficou sendo Rei de Justiça.
- O Eterno Pai constituiu Jesus Cristo Rei de Justiça e fê-lo por conseguinte Juiz universal do mundo. Vem dai a exclamação do Salmista: Dai, oh Deus, ao rei a vossa equidade, e ao filho do rei vossa justiça (Sl 71,2).
- Pelo que diz um douto interprete: Senhor, destes a vosso Filho a justiça, porque a Mãe do Rei entregastes a misericórdia. Aqui S.Boaventura tece belo comentário a citada passagem, dizendo: Dai, oh Deus, vosso juízo ao Rei e vossa misericórdia a sua Mãe. Ernesto, Arcebispo de Praga, também diz que o Eterno Pai deu ao Filho o oficio de julgar e punir, e a Mãe o oficio de socorrer e aliviar os miseráveis. Por isso profetizou o mesmo profeta Davi, que o próprio Deus (por assim dizer) consagrou Maria Rainha de Misericórdia, ungindo-a com o óleo da alegria. “Por isso te ungiu o teu Deus com o óleo da alegria” (Sl 44,8).

- E isso para que todos nós, miseráveis filhos de Adão, nos alegrássemos, considerando que temos no céu esta rainha toda cheia de unção, misericórdia e piedade para conosco, observa Conrado de Saxônia.
- Muito bem aplica S.Alberto Magno a este propósito a história da rainha Ester, que foi figura de Maria, nossa Rainha. No capitulo 4 do Livro de Ester se lê que, reinando Assuero, saiu um decreto condenando a morte todos os judeus. Então Mardoqueu, que era um dos condenados a morte, recomendou a sua salvação a Ester. Pediu-lhe que interpusesse o seu valimento junto ao rei, a fim de que revogasse a sentença. Ao principio Ester recusou fazer este favor, temendo irritar ainda mais Assuero. Repreendeu-a Mardoqueu, mandando-lhe dizer que não pensasse só em salvar-se a si, pois o Senhor a tinha posto sobre o trono para obter a salvação de todos os judeus.
“Não te persuadas de que, por isso que estás na casa do rei, salvarás tu só a vida entre todos os judeus (Ester 4,13).

- Essas palavras de Mardoqueu a Ester, nós pobres pecadores, podemos repeti-las a Maria, nossa Rainha, se ela em algum tempo se recusar alcançar-nos de Deus o perdão do castigo, de nós bem merecido. Não cuideis, Senhora, que Deus vos elevou a ser Rainha do mundo só para bem vosso. Se tão grande vos fez, é para que mais vos compadecêsseis, e melhor pudésseis socorrer nossas misérias.
- Assuero, quando viu Ester na sua presença, lhe perguntou com agrado  o que lhe vinha pedir: Qual é o teu pedido? Respondeu-lhe a Rainha: Meu Rei, se em algum tempo achei graça aos teus olhos, dá-me o meu povo, pelo qual te rogo (7,3). E Assuero a ouviu e atendeu, ordenando logo que revogasse a sentença. Ora, se Assuero, por amor a Ester, lhe concedeu a salvação dos judeus, como poderá Deus, cujo amor por Maria é sem medida, deixar de ouvi-la quando pede pelos pobres pecadores, que ela se recomendam? Se em algum tempo achei graça aos teus olhos, dá-me o meu povo –repete a Virgem Santíssima. Bem sabe a divina Mãe que é bendita e bem-aventurada, que é a única entre as criaturas que achou a graça perdida pelos homens. Bem sabe que é a predileta de seu Senhor, por ele querida acima de todos os anjos e santos. Se me amais, Senhor, dai-me estes pecadores pelos quais vos rogo. E é possível que o Senhor a deixe desatendida? Quem ignora o poder das preces de Maria junto de Deus? A lei da clemência está em sua língua, diz o Sábio (Pr 31,26). Toda súplica sua é como uma lei estabelecida pelo Senhor, para que se use de misericórdia com todos aqueles por quem Maria interceder.
- O autor dos Sermões sobre a Salve Rainha indaga por que motivo a Igreja intitula Maria Santíssima rainha de Misericórdia. E responde: Para que acreditemos que Maria abre o oceano imenso da misericórdia de Deus a quem quer, quando quer, e como quer. Pelo que não há pecador, nem maior de todos, que se perca, se Maria o protege.
Glórias de Maria – Santo Afonso de Ligório


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