terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Amor de Cristo

I,13. S. João de Ávila era tão entusiasmado por Jesus Cristo que em todas suas pregações não deixava nunca de falar do amor de Cristo por nós. Escrevendo sobre o amor de nosso querido Redentor, expressa estes ardentes sentimentos, que por serem muito bonitos, resolvi colocar aqui:
14. “Vós Redentor, amastes o homem de tal modo que, quem considerar este amor, não pode deixar de vos amar. Vosso amor faz violência aos corações, como diz S. Paulo: “O amor de Cristo nos constrange” IICor 5,14 A origem do amor de Jesus Cristo para com os homens é sua caridade para com Deus. Ele mesmo o disse aos seus discípulos na quinta-feira santa: “Para que o mundo saiba que amo o Pai: Levantai-vos e vamos”.
            Mas para onde?
            Morrer pelos homens, na cruz!

15. Inteligência alguma compreenderá o quanto arde este fogo no Coração de Jesus Cristo. Assim como lhe foi mandado sofrer uma morte, do mesmo modo, se lhe tivesse sido ordenado que sofresse mil mortes, ele teria amor bastante para sofrê-las todas. Foi-lhe imposto sofrer por todos os homens; mas se lhe fosse pedido fazê-lo pela salvação de um só, tê-lo-ia feito do mesmo modo que o fez por todos. Assim como esteve três horas na cruz, se fosse necessário estar nela até o dia do juízo, ele teria amor para o fazer.
Jesus Cristo amou muito mais do que sofreu.
- O amor divino, fostes maior do que exteriormente vos mostrastes. Mostrastes-vos grande exteriormente, porque tantas chagas e feridas nos falam de um grande amor. Mas não dizem toda sua grandeza. Interiormente fostes maior do que exteriormente vos manifestastes: vossas dores físicas foram, apenas, uma faísca que saiu daquela grande fornalha de imenso amor.
- O maior sinal de amor é dar a vida pelos amigos. Contudo, não foi um sinal que bastasse a Jesus Cristo para exprimir seu amor por nós.

16. Esse amor, quando se dá a conhecer, faz as pessoas boas saírem de si e ficarem estarrecidas. Por isso as pessoas sentem afervorar-se o coração, DESEJAM o martírio, alegram-se no sofrimento, têm alivio nos grandes sofrimentos. Passeiam nas brasas como se fossem rosas, DESEJAM os tormentos, regozijam-se com o que o mundo teme, abraçam o que o mundo detesta. Para a pessoa unida a Cristo na cruz –diz S. Ambrósio- nenhuma coisa é mais consoladora e gloriosa do que trazer consigo os sinais de jesus Crucificado.

Frutos da Caridade
III,8. Eis o que S. João Crisóstomo diz dos frutos gerados em uma pessoa que possui o amor de Deus: “Quando o Amor de Deus se apodera de uma pessoa, produz nela um insaciável DESEJO de trabalhar pela pessoa amada; tanto que, por muitas e grandes que sejam as obras que faça, e por mais longo que seja o tempo dedicado a seu serviço, tudo parece nada.
- Sempre se aflige por fazer pouco para Deus, e se lhe fosse lícito morrer e consumir-se inteiramente por ele, de bom grado o faria. Por isso, por mais que faça sempre se considera inútil. O amor ensina a pessoa o que Deus merece, e na caridade desta luz divina vê todos s defeitos de suas ações, de tudo tira confusão e sofrimento, reconhecendo que todos os seus trabalhos são bem pouca coisa para um Senhor tão grande.

9. Diz S. Francisco de Sales: Como se engana a pessoa que faz consistir a santidade em outras coisas e não em amar a Deus! Uns põem na austeridade ou em dar esmolas, outros na oração ou frequência dos sacramentos. Para mim, não conheço outra santidade senão a de amar a Deus de todo o coração; todas as outras virtudes sem este amor não passam de um montão de pedras. E se não possuímos esse amor, a culpa é nossa, pois não nos decidimos a nos dar inteiramente a Deus.

10. S. Tereza sentiu em sua alma, certa vez, como se Jesus lhe dissesse: “Tudo o que não me agrada, é vaidade”. Como seria bom que todos entendessem esta verdade: “Uma só coisa é necessária”. Não é necessário ser rico neste mundo, ganhar a estima dos outros, levar vida cômoda, ter dignidades, passar por sábio.
A única coisa necessária é amar a Deus e fazer sua vontade.
- Só para este fim ele nos criou e nos conserva a vida; somente assim podemos ser admitidos no céu. A toda a alma que DESEJA ser sua esposa, o Senhor diz: “Coloca-me como um selo sobre teu coração, como um selo sobre teus braços” Ct8, 6 para que:
·         dirijas a mim todos os teus DESEJOS e ações; sobre teu coração a fim de que não entre em ti outro amor senão o meu, sobre teu braço para que não tenhas em vista senão a mim em tudo que fazes.
- Como corre rapidamente na perfeição quem só olha Jesus Crucificado em todas suas ações e só a ele procura agradar!

11. O fim de todos nossos esforços deve ser, portanto, adquirir um verdadeiro amor a Jesus Cristo. Os mestres da vida espiritual descrevem os sinais do verdadeiro amor:
·         É TEMEROSO, e o seu medo é dar desgosto a Deus.
·         É GENEROSO, cheio de confiança em Deus, tudo faz para a sua glória.
·         É FORTE, pois resiste a todas as más inclinações mesmo nas mais violentas tentações, e nos mais profundos sofrimentos.
·         É OBEDIENTE, porque procura seguir imediatamente a voz de Deus.
·         É PURO, amando somente a Deus e só porque Deus merece ser amado.
·         É ARDENTE, porque desejaria inflamar todos os corações, vendo-os consumidos pelo amor de Deus.
·         É ARREBATADOR, pois arrasta a alma e a faz viver como que fora de si mesma, como se não visse, não ouvisse e não tivesse mais os sentidos para as coisas da terra. Atenta em só amar a Deus.
·         É UNITIVO, unindo estreitamente à vontade da criatura a vontade de seu Criador.
·         É DESEJOSO, porque enche a alma do DESEJO de deixar a terra para unir-se perfeitamente a Deus no Paraiso, a fim de amá-lo com todas suas forças.

12. Mas ninguém ensina melhor as características e a prática da caridade do que o grande pregador desta rainha das virtudes, São Paulo. Ele diz primeiramente que sem a caridade o homem é nada, e de nada se aproveita: “Ainda que eu tivesse toda a fé a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que eu distribuísse todos meus bens em sustento dos pobres, ainda que entregasse meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria”. ICor 13, 1-7
- S. Paulo nos indica os sinais da verdadeira caridade, e ao mesmo tempo nos ensina a prática das virtudes que são filhas da caridade:
“A caridade é paciente, é bondosa. A caridade não tem inveja, não se ostenta, não se enche de orgulho, não é ambiciosa e não busca os seus próprios interesses. Não se irrita, não guarda rancor, nem se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” ICor 13, 1-7

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap I, II e III– Santo Afonso Maria de Ligório

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