- Neste século de atividades
desordenadas e de velocidades vertiginosas, há uma obrigação bastante
desconhecida. E, no entanto, Cristo a menciona por duas vezes (Lc 14, 28-33):
é o Dever de Sentar-se.
- Acredito não fazer um
julgamento temerário ao afirmar que os melhores esposos cristãos, aqueles mesmo
que nunca esquecem o dever de se ajoelhar, cometem muitas vezes o pecado de não
se sentarem.
- Antes de empreenderdes a
construção do vosso lar, confrontastes sem dúvida os vossos pontos de vista,
pesastes os vossos recursos materiais e espirituais, elaborastes um plano, mas,
depois que vos entregastes ao trabalho, não houve da vossa parte negligência em
vos sentardes juntos a examinar a tarefa já realizada, reencontrar o ideal
entrevisto, consultar o Mestre da obra?
- Sei das objeções e
dificuldades, mas sei também que a casa desmorona um dia se não tivermos
vigiando a sua estrutura (Mt 7, 24-27).
- No lar que não encontra tempo
para uma pausa destinada a reflexão, frequentemente:
·
a desordem material e moral se introduz
insidiosamente;
·
a rotina se apodera da oração comum, das
refeições e de todos os ritos familiares;
·
a educação fica reduzida a reflexos de pais mais
ou menos nervosos;
·
a união conjugal fica abalada.
- Estas deficiências e muitas
outras se observam, não só nos casais sem formação, naqueles que ignoram os
problemas da educação e da espiritualidade familiar, mas muitas vezes naqueles
mesmos que são considerados como competências em ciências familiares e o são na
realidade... teoricamente.
- Por não tomarem a distância
necessária a uma boa visão, os esposos não veem mais o que qualquer visita
percebe logo ao transpor o limiar da casa; o desleixo que faz objeto da
conversa dos amigos, por vezes desolados, mas evitando falar aos interessados
muitas vezes incapazes de compreensão ou simplesmente susceptíveis.
- Houve casais que compreenderam
o perigo, encararam e adotaram vários meios para combatê-lo. Um deles dizia-me
recentemente, depois de fazer a experiência, quanto é útil para os esposos,
abandonarem todos os anos os filhos e irem juntos repousar ou fazer uma viagem
de uma ou duas semanas.
- Mas, pensareis talvez ao
ler-me, não é dado a todo mundo ter a disposição pessoal, amigos ou parentes a
quem se possam confiar assim as crianças. Há, entretanto, outras soluções.
- Três famílias se associaram
para as férias, foram para o mesmo lugar: cada casal pôde ausentar-se durante
uma semana, deixando aos outros dois o cuidado dos filhos.
- Para evitar o perigo da rotina
no lar, há outro recurso a respeito do qual quero vos entreter um pouco mais
longamente:
·
Tomai a vossa ‘agenda’ e assim como nela seria
inscrito eventualmente um compromisso qualquer, seja um concerto ou uma visita
a amigos, anotai um encontro convosco mesmo; e fique bem estipulado que estas
duas ou três horas são sagradas, e que por nada neste mundo vos faria suprimir
esse ‘encontro’, como não suprimiriam um espetáculo na cidade ou um jantar de
amigos.
Como utilizar estas horas?
·
Em primeiro lugar, ireis tomar a decisão de que
não estais com pressa, uma vez que não é costume.
·
Mudai de ambiente; é preciso a qualquer preço
modificar o quadro habitual e esquecer as preocupações.
·
Leiam, juntos, um capitulo bem escolhido de um
livro propositalmente posto em reserva para esta hora privilegiada (pode ser a Bíblia, a Imitação de Cristo...
ou qualquer leitura espiritual de sua predileção).
·
Fazei longamente uma oração: que cada qual faça,
quanto possível, em voz alta, uma oração pessoal e espontânea; esta forma de oração,
sem condenar as outras, aproxima milagrosamente os corações.
·
Penetrando assim na paz do Senhor, comunicai-vos
um ao outro aqueles pensamentos, aquelas queixas, aquelas confidências que não
é fácil nem recomendável fazer no decurso das jornadas, ativas e ruidosas e
que, no entanto, seria perigoso fechar no segredo do coração, pois que, bem o
sabeis, há ‘silenciosos inimigos do amor’.
·
Não vos detenhais somente sobre vós mesmos, nem
sobre as preocupações atuais, mas fazei uma excursão às fontes de vosso amor,
reconsiderando o ideal vislumbrado então, na época em que juntos e com passo
decidido empreendestes a marcha pela estrada.
·
‘Renovai o
vosso fervor e o sentimento de vossas almas’(leia Efésios 4, 22-32): É
preciso crer naquilo que fazemos e fazê-lo com entusiasmo.
·
Voltai para o presente, confrontai ideal e
realidade, fazei o exame de consciência de vossa própria família (não o vosso
exame de consciência pessoal) e tomai as resoluções práticas e oportunas para
curar, consolidar, rejuvenescer, arejar, abrir o vosso lar. Empregai neste
exame lucidez e sinceridade; remontai às causas do mal diagnosticado.
·
Meditar alguns instantes sobre cada um de vossos
filhos, pedindo ao Senhor que ponha ‘suas
próprias vistas dentro de vosso coração’ segundo a sua promessa, a fim de
que possais vê-los e amá-los como Ele próprio, a fim de conduzi-los segundo as
suas vistas.
·
Finalmente, perguntai a vós mesmos se Deus é o
primeiro servido em vosso lar.
·
Se sobrar tempo, fazei aquilo que bem
entenderdes, mas eu vos suplico, não retorneis às banalidades a rádio ou TV.
Não tendes
mais nada a dizer?
·
Calai-vos juntos, este momento também é de
grande proveito.
·
Será de grande importância fazer por escrito um
pequeno relatório daquilo que tiver sido descoberto, estudado, decidido, no decorrer
do encontro, mas isto poderá ser feito depois, por um dos dois e será lido por
ambos, juntos, no próximo encontro.
- O que faz objeto destas minhas
palavras, nada mais é do que um meio de conservar jovem e vivo o vosso amor e o
vosso lar; há seguramente muitos outros.
- Adotado por numerosos casais
que eu conheço, já deu provas de sua eficiência.
Padre Henri Caffarel-Fundador das
Equipes de Nossa Senhora (L’Anneau d’Or nº 5/Novembro 1945)