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sábado, 8 de março de 2014

Oração

Sequencia da postagem “Eucaristia”
A Oração
            33. O quinto meio e o mais necessário para a vida espiritual e para se ter o amor a Jesus Cristo, é a Oração.
            Em primeiro lugar, Deus nos faz conhecer, por este meio, o grande amor que nos tem. Que maior prova de amizade uma pessoa pode dar a seu amigo do que lhe dizer: pede-me o que quiseres e de mim receberás? Ora, é justamente isso que o Senhor nos diz: “Pedi e vos será dado, buscai e achareis” Lucas11, 9. Por isso mesmo, a oração se torna poderosa junto de Deus para nos alcançar todos os bens. A oração tudo pode, quem reza alcança de Deus o que quer.
“Bendito seja Deus que não rejeitou minha oração,
nem retirou de mim sua misericórdia” Sl 62,20
- S.Agostinho: Quando percebes que não te falta a oração, fica sossegado, pois a misericórdia de Deus não te faltará.
- S.João Crisóstomo: “Sempre se alcança, até mesmo enquanto estamos rezando”. Quando pedimos ao Senhor, já antes de terminarmos de pedir, ele nos dá a graça que suplicamos.
- Se, portanto, somos pobres, queixemo-nos só de nós mesmos.
- Somos pobres porque assim o queremos e por isso não merecemos compaixão. Que compaixão pode merecer um mendigo que, tendo um patrão muito rico e disposto a lhe dar tudo, contanto que peça, prefere ficar na sua miséria só para não pedir o que lhe é necessário?
- Deus está pronto a enriquecer todos os que lhe pedem:
“Rico para todos que o invocam” Rm 10,12

            34. A prece humilde consegue tudo de Deus. Saibamos também que ela nos é útil e mesmo necessária para nossa salvação. Para vencermos as tentações temos necessidade absoluta da ajuda de Deus. Algumas vezes, em tentações mais fortes, a graça suficiente que Deus não nega a ninguém, poderia bastar para resistirmos ao pecado. Mas, devido as nossas más tendências, ela não nos bastará; necessitamos então de uma graça especial. Quem reza, alcança esta graça; quem não reza, não a consegue e se perde.
            Tratando-se particularmente da graça da perseverança final, isto é, de morrer na amizade de Deus, o que é absolutamente necessário para a nossa salvação, do contrário estaremos para sempre perdidos, esta graça Deus não a dá senão a quem pede. Este é um dos motivos porque muitos não se salvam, pois são poucos os que cuidam de pedir a Deus a graça da perseverança final.

Rezar sempre
35. Resumindo, a oração é necessária não só por necessidade de preceito, mas ainda por necessidade de meio. Isto quer dizer: quem não reza, é impossível que se salve. A razão é que não podemos alcançar a salvação sem o auxilio da graça de Deus e Deus só dá esta graça a quem lhe pede. Sendo contínuas as tentações e os perigos de perdermos a amizade de Deus, contínuas também devem ser as nossas orações.
- S.Tomáz: A oração contínua é necessária ao homem. Para entrar no céu. No momento em que deixarmos de nos recomendar a Deus, o demônio nos vencerá.
            Embora a graça da perseverança final não possa se merecida por nós, como ensina o Concilio de Trento, contudo pode-se merecê-la de certo modo com a oração.
- S.Gregório: O Senhor quer nos dar suas graças, mas quer que as peçamos; que até mesmo ser importunado e como que constrangido com nossas orações.
- S.Maria Madalena Pazzi: Quando pedimos as graças de Deus, ele não só nos atende, mas de certo modo nos agradece. Sim, porque sendo Deus a bondade infinita, DESEJA comunicar-se com as pessoas tendo, por assim dizer, um DESEJO enorme de distribuir seus bens; mas ele quer que peçamos. Por isso, quando uma pessoa lhe pede, é tanto o seu prazer que de certo modo se vê obrigado a agradecer.
            36. Portanto, se queremos permanecer na amizade de Deus até a morte, precisamos sempre nos fazer mendigos e ter a boca aberta para pedir a Deus que nos ajuda, repetindo sempre:
“Meu Jesus, misericórdia! Não permitais que eu me separe de vós.
Meu Deus, ajudai-me, socorrei-me”
- A oração frequente dos antigos monges do deserto era: “Senhor atendei as minhas preces, vinde depressa em meu auxilio” Senhor, ajudai-me depressa, porque se demorardes, eu cairei na desgraça e me perderei.
- É preciso fazer assim principalmente nos momentos de tentações. Quem não faz assim, está perdido!

Confiança na oração
            37. Tenhamos grande fé na oração: Deus prometeu atender aquele que lhe pede: “Pedi e recebereis” Jo16,24. Por que vamos duvidar, se o Senhor se obrigou com sua promessa e ele não pode faltar à promessa de nos conceder a graça que lhe pedimos?.
- Quando recorremos a Deus, tenhamos plena confiança de que Deus nos atenderá e alcançaremos aquilo que queremos. “Tudo o que pedirdes na oração, crede que o recebereis, e ser-vos-á dado” Mc 11,24.

            38. Mas alguém poderá dizer:
- Sou um pecador, não mereço ser ouvido.
- Mas Jesus é que disse “Todo aquele que pede, recebe” Lc11,10 seja justo ou pecador.
- S.Tomás diz que a força da oração para obtermos a graça, não vem dos nossos méritos mas da misericórdia de Deus que prometeu ouvir aquele que lhe pede. Nosso Salvador para nos tirar todo receio quando rezamos, nos diz: “Em verdade, em verdade vos digo, o que pedirdes ao Pai, em meu nome, ele vos dará” Jo16,23 É como se dissesse: Pecadores, não tendes merecimentos para ganhar as graças. Fazei assim, quando DESEJARDES as graças: pedi ao meu Pai em meu nome, isto é, pelos meus merecimentos e pelo amor; pedi quanto quiserdes e vos será dado.
- Notemos a expressão “em meu nome”, isto é, em nome do Salvador. Por isso tudo que pedimos deve ser graças referentes a nossa salvação; é bom reparar que a promessa não se refere a bens temporais. Os bens temporais, quando são úteis a salvação eterna, ele nos concede, mas quando não são, ele nos nega. Pedindo bens temporais, lembremo-nos de pedi-los com a condição de que sejam uteis a nossa alma. Quando são graças espirituais, então não existem condições, mas confiança e confiança infalível.
- Podemos dizer: “Pai eterno, em nome de Jesus Cristo, livrai-me desta tentação e dai-me a santa perseverança, dai-me vosso amor, dai-me o céu”
- Todas estas graças podemos pedi-las a Jesus Cristo em seu nome, isto é, pelos méritos, pois aqui existe a promessa de Jesus:
“Tudo que pedirdes a meu Pai em meu nome, eu o farei”
- Quando rezamos a Deus, não nos esqueçamos de nos recomendar a dispensadora das graças. Maria.
- Deus é quem dá as graças, mas é pelas mãos de Maria que ele as dá.
- S.Bernardo: “Busquemos as graças e busquemo-las por meio de Maria, porque o que ela procura para nós, sempre acha; nada lhe pode ser recusado”
- Se Maria pede também por nós, estamos seguros, porque as orações de Maria são todas ouvidas e nunca rejeitadas.
 A Prática de amor a Jesus Cristo Cap VIII– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 5 de março de 2014

Meditação

Sequencia da postagem “Ser de Deus”
A meditação
            18. O terceiro meio para se tornar santo é a meditação.
- João Gerson diz: que quem não medita as verdades eternas não pode, a não ser por milagre, viver como cristão. A razão é que, sem meditação, não há luz e se caminha na escuridão. As verdades de fé não se enxergam com os olhos do corpo, mas com os olhos d alma, quando nosso espírito as medita. Quem não faz meditação sobre as verdades eternas, não pode vê-las e por isso ando no escuro, facilmente se apega as coisas sensíveis e por causa delas despreza os bens eternos.
- S.Tereza: “Embora pareça que não há imperfeições em nós, descobrimos grande numero delas, quando Deus faz ver o nosso intimo, o que ele costuma fazer na meditação”.
- S.Bernardo: Quem não medita, não julga com severidade a si mesmo, porque não se conhece. A oração controla nossos afetos e dirige nossos atos para Deus; mas sem oração, os afetos de nossa alma se apegam a terra, nossas ações acompanham os afetos e assim tudo acaba em desordem.

            19. É impressionante o que se lê na vida da venerável irmã Maria Crucifixa. Quando rezava, como que ouviu um demônio gloriar-se de ter feito uma religiosa deixar a meditação. Em espírito viu que, após essa falta, o demônio tentava a religiosa a cometer uma falta grave e ela já estava para consentir. Correndo depressa, chamou-lhe atenção e livrou-a da queda.
- S.Tereza: Quem deixa a meditação, em pouco tempo se torna um animal ou um demônio.

            20. Quem abandona a meditação, portanto, deixará de amar a Jesus Cristo. A meditação é a fornalha onde se acende e se conserva o fogo do amor a Deus.
- S.Catarina Bolonha: Quem não medita muito fica sem o laço de união com Deus. Nessa situação não será difícil para o demônio, encontrando a pessoa fria no amor de Deus, leva-la a se alimentar com uma fruta envenenada.
- S.Tereza: Quem persevera na meditação, mesmo que o demônio a tente de muitas maneiras tenho certeza que o Senhor a levará ao porto da salvação... Quem não para no caminho da meditação, chegará ainda que tarde.
- O demônio se esforça muito em afastar a pessoa da meditação porque
“ele sabe que as pessoas perseverantes na oração estão perdidas para ele”
- Quantos bens se conseguem na meditação! Dela nascem os bons pensamentos, manifestam-se nossos piedosos afetos, desenvolvem-se os grandes DESEJOS, tomam-se as resoluções firmes de se dar inteiramente a Deus. Dessa maneira, a pessoa lhe sacrifica os prazeres terrenos e todos os DESEJOS desordenados.
- S.Luis Gonzada: “Não existirá muita perfeição, se não existir muita meditação.” Reparem bem nesta frase as pessoas que amam a perfeição!

As consolações espirituais
            21. Não se deve rezar para sentir a consolação do amor de Deus. Quem reza com esta finalidade, perderá seu tempo ou tirará pouco proveito. Devemos rezar somente para agradar a Deus, isto é, para conhecer o que Deus quer de nós e lhe pedir sua ajuda para cumprir sua vontade.
“Carregar a cruz sem consolações faz a alma voar até a perfeição”
- A oração sem consolações sensíveis torna-se mais frutuosa para a alma. Pobre pessoa que deixa a oração só porque não sente gosto nela!
- S.Tereza: Quem deixa a oração, é como jogar-se no inferno por si mesmo, sem necessidade dos demônios.

            22. Nasce da oração a gente sempre pensar em Deus.
- S.Tereza: Quem ama de verdade, sempre se lembra da pessoa a quem ama. Esta é a causa porque as pessoas piedosas falam sempre de Deus, sabendo o quanto agrada a Deus falar d’Ele e de seu amor por nós. É também assim que procuram comunicar aos outros aquele mesmo amor que invade seus corações. “Nas conversas dos filhos de Deus sempre está presente Jesus Cristo, agradando-lhe muito que se alegrem nele”
            23. Da oração nasce ainda o DESEJO de conservar o recolhimento interior nas ocupações externas e necessárias. Disse ‘ocupações necessárias’, isto é, seja por causa da direção da família, seja por causa dos próprios deveres, ou dos trabalhos exigidos pela obediência. Mesmo assim, as pessoas de oração devem amar a solidão e não se dissipar em ocupações extravagantes e inúteis; do contrário perderão o espírito de recolhimento, este grande meio de manter a união com Deus: “És um jardim fechado, minha irmã, minha esposa”. Nossa alma, esposa de Jesus Cristo, deve ser um jardim fechado a todas as criaturas, não admitindo outros pensamentos e ocupações que não sejam de Deus ou para Deus. Os corações dissipados não se tornam santos.
- Os santos que se dedicam a conquistar pessoas para Deus, não perdem o recolhimento mesmo entre as canseiras da pregação, do ouvir confissões, do reconciliar os inimigos, do assistir os doentes. O mesmo acontece com aqueles que se dedicam ao estudo. Quantos estudam muito e se esforçam para se tornar sábios e acabam não se tornando nem sábios nem santos. A verdadeira sabedoria é a sabedoria dos santos: saber amar a Jesus Cristo. P amor de Deus traz consigo a ciência e todos os bens; “Com ela me vieram todos os bens” Sab7,11, isto é, com a caridade.
- S.João Berchmans tinha uma paixão extraordinária pelo estudo, mas, com sua virtude, não deixou que os estudos dificultassem o seu crescimento espiritual.
- S.Paulo: Digo a todos que estão entre vós, que não saibam mais do que convém saber, mas que saibam com sobriedade...” Rm 12,3 quem deixa a oração por causa do estudo não busca a Deus, mas a si mesmo. Quem procura a Deus, larga o estudo oportunamente para não deixar a oração.

Meditação e Oração
            24. O maior mal, além disso, é que sem meditação não se reza. Em outras obras espirituais já falei da necessidade de rezar, especialmente num livrinho a parte, intitulado: “O grande meio da oração” neste capitulo direi rapidamente mais alguma coisa.
- Bispo João Palafox: Como podemos conservar a caridade, se Deus não nos dá a perseverança?
·         Como o Senhor nos dará a perseverança, se não a pedimos?
·         Como a pediremos sem oração?
Sem oração não existe comunicação com Deus, para se manter a vida cristã. De fato, quem não faz meditação enxerga pouco as necessidades de sua alma, não conhece bem os perigos a que se expõe para se salvar, nem os meios que deve usar para vencer as tentações. Assim, conhecendo pouco a necessidade da oração, deixará de rezar e certamente se perderá.

            25. Quanto ao que meditar, não há assunto, mais útil do que as verdades da vida: a morte, o julgamento, o inferno e o céu.
- Devemos meditar especialmente na morte, imaginando estarmos para morrer numa cama, com o crucifixo nas mãos e próximos a entrar na eternidade. Mas, principalmente para quem ama a Jesus Cristo e DESEJA crescer no seu santo amor, não existe meditação mais útil do que a Paixão do Redentor. O calvário é a montanha das pessoas que amam. Quem ama a Jesus Cristo sempre faz sua meditação sobre esta montanha, onde não se respira outro ar senão o amor de Deus.
- Vendo um Deus que morre por nosso amor e porque nos ama –amou-nos e se entregou por nós- é impossível não o amar intensamente. Das chagas de Jesus Crucificado saem continuamente flechas de amor que ferem os corações mais duros. Feliz aquele que faz continuamente nesta vida a sua meditação sobre o monte Calvário! Montanha feliz, amável, querida, quem se afastará de ti? Desprendendo fogo, abrasas as pessoas qie moram permanentemente sobre ti!


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap VIII– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Maria, 3º e 4º Motivos da Devoção

Maria se dá ao seu escravo de amor
§144. Terceiro motivo. A Santíssima Virgem, que é uma Mãe toda doçura e misericórdia, nunca se deixa vencer em amor e liberdade.
- Por isso, quando vê que alguém se lhe dá totalmente para a honrar e servir, despojando-se do que tem de mais querido para a amar, dá-se também, inteiramente e duma maneira inefável, a quem tudo lhe deu.
Ela submerge-o no abismo das suas graças,
Ela adorna-o com os Seus méritos,
Ela lhe dá o apoio do seu poder,
Ela o ilumina com a sua luz,
Ela o abrasa no seu amor,
Ela comunica-lhe as suas virtudes: sua humildade, sua fé, sua pureza, etc.
Ela se torna a sua garantia, seu suplemento e seu tudo perante Jesus. - Enfim, como a alma que se consagrou é toda de Maria, também Maria é toda dela.
- Desta maneira pode dizer-se deste fiel servo e filho de Maria o que São João Evangelista diz de si mesmo, isto é, que ele recebeu a Virgem Santíssima como todo o seu tesouro:
“O discípulo a recebeu em sua casa” (Jo 19, 27).

§145. Isto produz na alma, se for fiel, uma grande desconfiança, desprezo e ódio de si mesma, e uma grande confiança e grande abandono à Santíssima Virgem, sua amável Soberana.
- Já não se firma, como antes, nas suas disposições, intenções, méritos, virtudes e boas obras. Porque, tendo feito um sacrifício completo a Jesus por intermédio desta boa Mãe, já não tem senão um só tesouro que encerra todos os seus bens e que já não está em suas mãos, e este tesouro é Maria.
- Isso é que faz que a alma se aproxime de Nosso Senhor sem escrúpulo nem temor servil, e que ela o invoque com muita confiança. Os seus sentimentos tornam-se semelhantes aos do piedoso e sábio Padre Pupert.
- Este, fazendo alusão à vitória de Jacó sobre o Anjo (Gn 32, 23-33), dirige à Santíssima Virgem estas palavras:
“Ó Maria, minha Princesa e Mãe imaculada de Deus feito homem, Jesus Cristo, eu desejo lutar com este Homem, ou seja, com o Verbo Divino, armado não com os meus próprios méritos, mas com os Vossos”.
- Oh! Quão poderoso e forte junto de Jesus Cristo é quem está armado dos méritos e da intercessões da digna Mãe de Deus, que vence amorosamente o Todo-Poderoso, como diz Santo Agostinho!
Maria purifica as nossas boas obras
§146. Como nesta Devoção entregamos a Nosso Senhor, pelas mãos de sua Santa Mãe, todas as nossas boas obras, esta amável Senhora purifica-as, embeleza-as e fá-las aceitáveis para o seu Filho.
1º. Ela os purifica de toda a sujeira do amor próprio e do apego imperceptível à criatura, que estão insensivelmente nas melhores ações.
- E como as mãos da Santíssima Virgem, nunca manchadas nem ociosas, purificam tudo aquilo em que tocam, estas mãos tão puras e fecundas tiram do presente que lhe fazemos tudo o que tiver de estragado ou de imperfeito.

§147. 2º. Ela as embeleza e adorna com Seus méritos e virtudes.
- É como se um camponês, querendo ganhar a amizade e benevolência do rei, fosse ter com a rainha e lhe entregasse uma maçã, que constituísse toda a sua fortuna, a fim de que ela a apresentasse ao rei.
- A rainha, depois de recebida a pobre e pequena oferta do camponês, poria essa maçã numa grande e bela bandeja de ouro oferecendo-a assim ao rei, em nome do camponês. E desde então a maçã - por si mesma indigna de ser apresentada a um rei -, torna-se digna de sua majestade, em atenção à bandeja de ouro e à pessoa que a presenteia.

§148. 3º. Ela apresenta essas boas obras a Jesus Cristo, pois nada reserva para si do que lhe dão, como se fosse fim, mas tudo remete fielmente a Jesus.
- O que se lhe dá, dá-se necessariamente a Jesus. Se a louvam e glorificam, Ela louva e glorifica Jesus. Quando a louvam e bendizem, a Santíssima Virgem canta, como outrora ao ser louvada por Santa Isabel:
A minha alma glorifica o Senhor” (Lc 1,46).

§149. 4º. Ela faz que Jesus aceite essas boas obras, por menores e mais pobres que sejam, enquanto presente para este Santo dos santos e Rei dos reis.
- Quando alguém apresenta a Jesus alguma coisa em seu próprio nome e apoiado na sua habilidade e disposição pessoais, Jesus examina o dom, e, frequentemente, rejeita-o, por causa da sujeira que contraiu pelo amor próprio, tal como outrora rejeitou os sacrifícios dos judeus, repletos que eram de vontade própria (Hb 10, 5-7).
- Mas quando se lhe apresenta alguma coisa pelas mãos puras e virginais da sua bem amada Mãe, toca-se-lhe no ponto fraco, se me é lícito empregar esta expressão. Ele já não considera tanto o que se lhe dá, como a sua boa Mãe, que lho apresenta. Não olha tanto para donde lhe vem esse presente, como para Aquela por quem o recebe.
- Assim Maria, que jamais é rejeitada, e é sempre bem acolhida por seu Filho, faz que sua Majestade receba com agrado tudo quanto lhe apresenta, seja grande ou pequeno.
- Basta que Maria a apresente, para que Jesus receba e aceite. 
- Era o grande conselho que São Bernardo dava àqueles que conduzia à perfeição:
Quando quiserdes oferecer alguma coisa a Deus, tende cuidado de a oferecer pelas mãos muito agradáveis e muito dignas de Maria, se não quiserdes ser repelidos”.

§150. Não é isto mesmo o que a própria natureza inspira aos pequenos em relação aos grandes, como já vimos? Por que a graça não nos levaria a fazer o mesmo em relação a Deus, que está infinitamente acima de nós, e diante de quem somos menos que um átomo? Temos, além do mais, uma advogada tão poderosa que nunca é repelida, tão hábil que conhece todos os segredos para ganhar o Coração de Deus, tão boa e caridosa que não repele ninguém, por pequeno ou mau que seja. Mais adiante mostrarei, na história de Rebeca e Jacó, a verdadeira prefigura das verdades que menciono.

Esta Devoção é um meio excelente para procurar a maior glória de Deus
§151. Quarto motivo. Esta Devoção, fielmente praticada, é um meio excelente para fazer com que o valor de todas as nossas boas obras seja utilizado para a maior glória de Deus.
- Quase ninguém age por este fim tão nobre - embora a isso estejamos obrigados -, seja por não saber em que consiste a maior glória de Deus, seja por não a querer. Mas a Santíssima Virgem, a quem cedemos o valor e o mérito das nossas boas obras, sabe perfeitamente onde reside a maior glória de Deus e não faz nada sem ser para esse fim. 
- Por isso um perfeito servo desta Rainha, inteiramente consagrado a Ela da forma que dissemos, pode dizer corajosamente que o valor de todas as suas ações, pensamentos e palavras é empregado para a maior glória de Deus, a não ser que expressamente revogue o seu oferecimento.
- Poderá haver algo mais consolador para uma alma que ama a Deus, com um amor puro e desinteressado, e que estima a glória e os interesses divinos mais do que os seus próprios interesses?!
Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Renovação dos Votos do Batismo

Uma Perfeita Renovação dos Votos do Santo Batismo
§126. Como disse, esta Devoção podia muito justamente chamar-se uma renovação perfeita dos votos ou promessas do Santo Batismo.
- Todo cristão, antes do Batismo, era escravo do demônio, pois lhe pertencia.
- Ao receber este sacramento renunciou solenemente, pela própria boca ou pelas de seu padrinho e sua madrinha, a satanás, às suas pompas e às suas obras. Assim tomou a Jesus Cristo por seu Mestre e Soberano Senhor, a fim de depender d'Ele na qualidade de escravo de amor. É o que se faz pela presente Devoção:
  • renuncia-se (como está expresso na fórmula da consagração), ao demônio, ao mundo, ao pecado e a si mesmo, dando-se inteiramente a Jesus Cristo pelas mãos de Maria. E ainda se faz mais, porque no Batismo fala-se habitualmente pela boca de outra pessoa, isto é, do padrinho e da madrinha. A entrega a Jesus Cristo é feita por intermediários. Mas nesta Devoção damo-nos por nós mesmos, voluntariamente, com conhecimento de causa.
- No Batismo não nos damos a Jesus Cristo pelas mãos de Maria, ao menos de maneira expressa, e não damos a Jesus Cristo o valor das nossas boas obras. Ficamos, depois de recebido o sacramento, com plena liberdade de aplicar aquele valor a quem quisermos ou de o reservarmos para nós. Por esta Devoção, porém, damo-nos expressamente a Nosso Senhor pelas mãos de Maria, e consagramos-lhe o valor de todas as nossas ações.

§127. Diz Santo Tomás: “Os homens fazem no Batismo voto de renunciar ao demônio e às suas pompas”. E, segundo Santo Agostinho, é este o maior e mais indispensável dos votos, em que prometemos permanecer em Cristo. O mesmo dizem os canonistas:
“O principal voto é aquele que fazemos no Batismo”.
- No entanto, quem é que guarda este grande voto? 
- Quem cumpre fielmente as promessas do Santo Batismo? 
- Não é verdade que quase todos os cristãos quebram a fidelidade prometida a Jesus Cristo no seu Batismo? 
- Donde provirá este desregramento universal, senão do esquecimento em que se vive das promessas e compromissos do Batismo, e do fato de que quase ninguém ratifica por si mesmo o contrato de aliança que fez com Deus por meio de seus padrinhos!

§128. Isto é muito verdade. O Concílio de Sens foi convocado por ordem de Luís, o Bondoso, para remediar as grandes desordens dos cristãos. Ora, este concílio entendeu que a principal causa dessa corrupção de costumes provinha do esquecimento e da ignorância em que se vivia das promessas do Batismo. E não encontrou melhor meio para remediar tão grande mal que o de levar os cristãos a renovar os votos e promessas do Santo Batismo.

§129. O Catecismo do Concílio de Trento, fiel intérprete das intenções deste santo concílio, exorta os párocos a fazer o mesmo:
“Levem os seus fiéis a recordar e crer que estão ligados e consagrados a Nosso Senhor Jesus Cristo como escravos ao seu Redentor e Senhor”.

§130. Ora, os concílios, os Padres da Igreja e até a experiência mostram-nos que o melhor meio para remediar os desregramentos dos cristãos é lembrar-lhes as obrigações do seu Batismo e fazer-lhes renovar os votos que nele emitiram.
- Portanto, não é bastante razoável que o façamos agora duma maneira perfeita, mediante esta Devoção e consagração a Nosso Senhor por meio de sua Mãe Santíssima? Digo duma maneira perfeita porque, ao consagrarmo-nos a Jesus Cristo, nos servimos do mais perfeito de todos os meios, que é a Santíssima Virgem.

Respondendo a algumas objeções
§131. Não se pode objetar que esta Devoção seja nova ou indiferente.
- Não é nova, pois os concílios, os Padres e vários outros autores, antigos e modernos, falam desta Devoção a Nossa Senhora, ou renovação dos votos do Batismo, como de coisa praticada antigamente, e que aconselham a todos os cristãos.
- Não é indiferente ou sem importância, porque a principal fonte de todas as desordens, e logo, da condenação dos cristãos, vem do esquecimento e do abandono desta prática.

§132. Poderá alguém dizer que esta Devoção, fazendo-nos dar a Nosso Senhor, pelas mãos da Santíssima Virgem, o valor de todas as nossas boas obras, orações, mortificações e esmolas, nos impossibilita de socorrer as almas de nossos parentes, amigos e benfeitores.

- Em primeiro lugar, respondo que não é de crer que os nossos amigos, parentes ou benfeitores sejam prejudicados pelo fato de nos termos dedicado e consagrado sem reservas ao serviço de Nosso Senhor e da sua Santa Mãe. Pensá-lo seria fazer uma injúria ao poder e à bondade de Jesus e Maria, que saberão muito bem socorrer os nossos parentes, amigos e benfeitores com o nosso pequeno tesouro espiritual, ou por outros meios.

- Em segundo lugar, esta prática não impede que se reze pelos outros, quer sejam vivos ou mortos, embora a aplicação das nossas boas obras dependa da vontade da Santíssima Virgem.
- Mas, pelo contrário, levar-nos-á a orar com mais confiança, precisamente como uma pessoa rica que tivesse entregado toda a sua fortuna a um grande príncipe, para o honrar melhor, suplicaria com mais confiança a este príncipe que desse esmola a algum dos seus amigos que lha pedisse.
- Daria até prazer ao príncipe por proporcionar-lhe assim ocasião de mostrar seu reconhecimento para com uma pessoa que se despojou para o revestir, e que se fez pobre para o honrar.
- O mesmo se deve dizer de Nosso Senhor e da Santíssima Virgem: nunca se deixarão vencer em gratidão.

§133. Dirá talvez outro, se dou à Santíssima Virgem todo o valor das minhas ações para que o aplique a quem quiser, será talvez preciso que sofra muito tempo no Purgatório.
- Esta objeção, que nasce do amor próprio e da ignorância acerca da liberalidade de Deus e da Virgem destrói-se por si mesma.
- Uma alma fervorosa e generosa, que preza mais os interesses de Deus que os seus; que dá a Deus, sem reservas, tudo o que tem, sem poder dar mais; que só anseia pela glória e pelo Reino de Jesus por Maria; que se sacrifica inteiramente para o conseguir; essa alma generosa e liberal haverá de ser castigada no outro mundo por ter sido mais liberal e mais desinteressada do que as outras?
- De modo algum: é para com essa alma, como veremos mais adiante, que Nosso Senhor e sua Santa Mãe são mais liberais neste mundo e no outro na ordem da natureza, da graça e da glória.

§134. É necessário vermos agora, o mais brevemente possível, os motivos que nos devem tornar recomendável esta Devoção, os maravilhosos efeitos que produz nas almas fiéis, e as suas práticas.
Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort

Perfeita Consagração de si mesmo a Virgem Maria

Natureza da Perfeita Devoção a Santíssima Virgem Maria
§120. Toda a nossa perfeição consiste em sermos conformes a Jesus Cristo, em nos unirmos e consagrarmos a Ele.
- Por isso, a mais perfeita de todas as devoções é, indubitavelmente, aquela que nos conforma, nos une e nos consagra mais perfeitamente a Jesus Cristo. Ora, de todas as criaturas, Maria é a mais conforme a Ele.
- Por conseguinte, a Devoção que, dentre todas as demais, melhor consagra e assemelha uma alma a Nosso Senhor é a Devoção à Santíssima Virgem, sua Santa Mãe.
- E quanto mais uma alma for consagrada a Maria, tanto mais o será a Jesus Cristo. É por isso que a perfeita consagração a Jesus Cristo não é mais que uma perfeita e inteira consagração da alma à Santíssima Virgem.
- E nisto consiste a Devoção que ensino ou, por outras palavras, consiste numa perfeita renovação dos votos e promessas do Santo Batismo.

Uma Perfeita e Total Consagração de si mesmo à Virgem Maria
§121. Como fica dito, esta Devoção consiste em nos darmos inteiramente à Santíssima Virgem, para que por Ela pertençamos inteiramente a Jesus Cristo. É preciso que dar-lhe:
1º. Nosso corpo, com todos os seus sentidos e membros;
2º. Nossa alma, com todas as suas potências;
3º. Nossos bens exteriores, chamados de fortuna, presentes e futuros;
4º. Nossos bens interiores e espirituais, que são os nossos méritos, virtudes e boas obras passadas, presentes e futuras.
- Numa palavra, devemos dar tudo o que temos na ordem da natureza e na ordem da graça, e tudo o que podemos vir a ter no futuro, na ordem da natureza, da graça ou da glória.
- E isto sem excetuarmos nada, nem um centavo, nem um cabelo ou a menor boa ação, e por toda a eternidade, sem pretendermos esperar outra recompensa pelo nosso oferecimento e serviços, além da honra de pertencer a Jesus Cristo por Ela e n'Ela, ainda que esta amável Senhora não fosse, como é sempre, a mais liberal e agradecida de todas as criaturas.

§122. É preciso notar, neste ponto, que há dois aspectos nas boas obras que fazemos, a saber: a satisfação e o mérito, ou para melhor dizer, o valor satisfatório ou impetratório e o valor meritório.
  • O valor satisfatório ou impetratório duma boa ação consiste em satisfazer a pena devida pelo pecado, ou em alcançar uma nova graça.
  • O valor meritório, ou mérito, consiste em uma boa ação merecer a graça e a glória eterna.
- Ora, nesta consagração de nós mesmos à Santíssima Virgem, damos-lhe todo o valor satisfatório ou impetratório e o valor meritório, ou seja, as satisfações e os méritos de todas as nossas boas obras.
- Damos-lhe os nossos méritos, as graças e virtudes, não para comunicá-los a outrem, mas para que, como depois diremos, Ela no-los conserve, aumente e aperfeiçoe.
- Os méritos, graças e virtudes, são, pois, propriamente falando, inalienáveis.
- Só Jesus Cristo, tornando-se a nossa garantia junto do Pai, nos pode comunicar os Seus méritos. Damos-lhe as nossas satisfações para as comunicar a quem entender para a maior glória de Deus.

§123. 1º. Que por esta Devoção damos a Jesus Cristo tudo o que lhe podemos dar. Fazemo-lo da maneira mais perfeita, visto ser pelas mãos de Maria.
- E damos assim muito mais do que pelas outras devoções, em que lhe consagramos parte do nosso tempo, ou parte das nossas boas obras, ou parte das nossas satisfações e mortificações.
Aqui tudo fica dado e consagrado, até mesmo o direito de dispor dos bens interiores, e das satisfações que se ganham com as boas obras de cada dia.
- Isto não se pede nem mesmo numa ordem religiosa.
- Na vida religiosa, dão-se a Deus:
·         os bens de fortuna pelo voto de pobreza,
  • os bens do corpo pelo voto de castidade,
  • a vontade própria pelo voto de obediência e, às vezes,
  • a liberdade física pelo voto de clausura.
- Mas não se lhe dá a liberdade ou o direito de dispor do valor das boas obras, não se renuncia, tanto quanto é possível, ao que o cristão tem de mais precioso e mais querido que são os seus méritos e satisfações.

§124. 2º. Segue ainda que uma pessoa assim, voluntariamente consagrada e sacrificada a Jesus Cristo por Maria, já não pode dispor do valor de qualquer das suas boas ações.
- Tudo o que sofre, tudo o que pensa, diz e faz de bom, tudo isso pertence a Maria. Ela pode empregá-lo segundo a vontade de seu Filho e para a sua maior glória, sem que, todavia, esta dependência prejudique de algum modo as obrigações do estado a que essa pessoa atualmente ou no futuro pertença.
- Por exemplo, as obrigações dum sacerdote que, por seu ofício ou por outra razão, deve aplicar o valor satisfatório e impetratório da Santa Missa a um particular. Pois esta doação total só se faz conforme a ordem que Deus estabeleceu e os deveres de estado.

§125. 3º. Enfim, segue-se que esta Consagração é feita conjuntamente à Santíssima Virgem e a Jesus Cristo:
  • à Santíssima Virgem como ao meio perfeito que Jesus Cristo escolheu para se unir a nós e nos unir a Ele;
  • a Nosso Senhor como ao nosso fim último, a quem devemos tudo o que somos, como a nosso Redentor e nosso Deus.
- Com esta Devoção damos a Jesus Cristo tudo o que lhe podemos dar, e da maneira mais perfeita, porque o fazemos pelas mãos mesmas de Maria.

Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort

Veja também: Maria, motivos de devoção.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Maria, 3ª verdade da devoção

Devemos esvaziar-nos do que há de mau em nós
§78. Terceira Verdade. As nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo mau fundo que há em nós.
- Quando se deita água límpida e clara numa vasilha que não tem bom cheiro, ou vinho numa pipa cujo interior está azedado por outro vinho, que teve anteriormente, a água clara e o vinho bom ficam estragados e ganham facilmente o mau cheiro.
- Do mesmo modo, quando Deus infunde em nossa alma, corrompida pelo pecado original e atual, as suas graças e orvalhos celestes, ou o vinho delicioso do seu Amor, assim também os Seus dons são ordinariamente manchados e estragados pelo mau fermento e mau fundo que o pecado deixou em nós.
- Os nossos atos, mesmo as virtudes mais sublimes, disso se ressentem.
- É, pois, da mais alta importância, para adquirir a perfeição - que só se alcança pela união com Jesus Cristo - esvaziarmo-nos do que há de mau em nós. Doutra forma, Nosso Senhor, que é infinitamente puro e que odeia infinitamente a menor mancha que vê na alma, afastar-nos-á de Seus olhos e não se unirá a nós.

Para nos despojar de nós mesmos é preciso:
§79. Em primeiro lugar, conhecer bem, pela luz do Espírito Santo:
  • o nosso fundo mau,
  • a nossa incapacidade para qualquer bem útil à salvação,
  • a nossa fraqueza em todas as coisas,
  • a nossa permanente inconstância,
  • a nossa indignidade de toda a graça,
  • a nossa iniquidade em toda a parte.
- O pecado dos nossos primeiros pais arruinou-nos a todos quase por completo, azedou-nos, corrompeu-nos, fez-nos inchar como o fermento faz à massa em que é lançado.
- Os pecados atuais que cometemos, quer mortais, quer veniais, embora tenham sido perdoados, aumentaram-nos a concupiscência, a fraqueza, a inconstância e corrupção, deixando maus vestígios na nossa alma.
- O nosso corpo é tão corrupto que é chamado pelo Espírito Santo corpo de pecado (Rm 6, 6; Sl 50, 7), concebido no pecado, alimentado no pecado, capaz de todo pecado e sujeito a mil enfermidades.
- Corrompe-se de dia a dia, e gera somente sarna, vermes e corrupção.
- A nossa alma, unida ao corpo, tornou-se tão carnal que chega a ser chamada carne:
Toda a carne tinha corrompido o seu caminho” (Gn 6, 12).
- A nossa única herança é:
·         o orgulho e a cegueira de espírito,
·         o endurecimento do coração,
·         a fraqueza e a inconstância da alma,
·         a concupiscência,
·         a revolta das paixões e as doenças do corpo.
- Somos, naturalmente:
·          mais orgulhosos que os pavões,
·         mais apegados à Terra que os sapos,
·         piores que os bodes,
·         mais invejosos que as serpentes,
·         mais gulosos que os porcos,
·         mais coléricos que os tigres e
·         mais preguiçosos que as tartarugas,
·         mais fracos que caniços e
·         mais inconstantes que os cata-ventos.
De nosso só temos o nada e o pecado,
e só merecemos a ira de Deus e o inferno eterno.

§80. Depois disto, será para admirar que Nosso Senhor tenha dito que quem o quisesse seguir devia renunciar a si mesmo e odiar a sua própria alma? (Mt 16, 24).
- Que aquele que amasse a sua alma a perderia, e o que a odiasse a salvaria? (Jo 12, 25).
- Esta Sabedoria infinita, que não impõe mandamentos sem razão, não nos manda odiarmo-nos a nós mesmos senão porque somos sumamente dignos de ódio. Nada há tão digno de amor como Deus, e nada tão digno de ódio como nós.
Podemos, portanto, conforme os sentimentos dos Santos
e de muitos homens célebres, dizer-nos e tornar-nos
escravos de amor de Maria Santíssima, para ser, assim,
mais perfeitamente escravos de Jesus Cristo.

§81. Em segundo lugar, para nos despojar de nós mesmos, é preciso morrer todos os dias.
- Isto quer dizer que é preciso renunciar às operações das potências da nossa alma e dos sentidos do nosso corpo, ou seja:
    temos de ver como se não víssemos,
·         de ouvir como se não ouvíssemos,
·         de nos servir das coisas deste mundo como se delas não nos servíssemos (1Cor 7, 29-31).

- É a isto que São Paulo chama de morrer todos os dias (1 Cor 15, 31).
Se o grão de trigo cai à Terra e não
morre, permanece só e não produz fruto” (Jo 12, 24).
- Se não morrermos para nós mesmos, e se as nossas devoções mais santas não nos levam a esta morte necessária e fecunda, não daremos fruto que valha. Porque então as nossas devoções tornar-se-ão inúteis, todas as nossas boas obras serão manchadas pelo amor próprio e pela nossa vontade própria, o que fará com que Deus abomine os maiores sacrifícios e as melhores ações que possamos fazer.
- E, nesse caso, encontrar-nos-emos com as mãos vazias de virtudes e méritos na hora da nossa morte, e não teremos sequer uma centelha de Puro Amor, pois este só é dado às almas mortas para si mesmas e cuja vida está oculta com Jesus Cristo em Deus (Cl 3, 3).

§82. Em terceiro lugar, é preciso escolher, dentre todas as devoções à Santíssima Virgem, aquela que nos leva mais a esta morte para nós próprios, porque é esta a melhor e a mais santificante.
- Não se julgue, de fato, que tudo o que brilha é ouro, que tudo o que é doce é mel, e que tudo o que é fácil e praticado pela maior parte das pessoas é o mais santificante.
- Na natureza há segredos para fazer operações naturais em pouco tempo, econômica e facilmente.
- Na ordem da graça existem também segredos para fazer operações sobrenaturais em pouco tempo, suavemente e facilmente, tais como: despojar-se de si mesmo, encher-se de Deus e tornar-se perfeito.
- A prática que quero revelar é um desses segredos de graça, desconhecido pela maior parte dos cristãos, conhecido por poucas almas piedosas, praticado e apreciado por menos ainda.
- Para começar a descobrir esta prática, eis uma quarta verdade, que é uma consequência da terceira.

Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort