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domingo, 9 de abril de 2017

Metanoia Cristã


Significado de Metanóia (Mind Set):
  • Mudança, transformação de caráter ou na maneira de pensar.
  • Mudança que resulta ou é motivada por algum tipo de arrependimento.
  • Remorso por alguma falha; penitência.
  • Modificação espiritual; conversão.
  • Modo novo de conceber ideias, de se comportar, de enxergar a vida e a realidade.
Esperança no mundo
- A Paixão de Nosso Divino Redentor deixa uma lição para nós:
  • Aqueles que, por princípios mundanos, têm como ideal obter aplauso, colocando sua esperança na aprovação dos homens, erram, porque cometem a loucura de escolher para si uma situação estável.
- A Paixão de Nosso Senhor nos mostra, de maneira eloquente, o quanto é preciso pôr nosso empenho em conhecer, amar e servir a Deus com “todo seu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento e com toda a tua força e o teu próximo como a ti mesmo” Marcos 12, 30-31, pouco nos importando se nos atacam ou nos elogiam, se nos recebem ou nos repudiam, mas, isto sim, se agradamos a Deus com a nossa forma de proceder.
- Ao sermos Batizados nos comprometemos –seja por nós mesmos ou na pessoa de nossos padrinhos- a renunciar ao demônio, ao mundo e a carne e ficarmos marcados com o sinal do combate.
- Não firmamos, em nenhum momento, o propósito de nos apoiarmos no aplauso dos outros. Assim sendo, devemos, sempre, nos lembrar dessas promessas de luta, que exigem de nossa parte a determinação de enfrentar todas as batalhas que tais inimigos, por nós rejeitados no Batismo, vão se apresentando no decorrer desta peregrinação.

A Cruz
- A Cruz, sinal de ignominia por constituir o pior castigo, o suplício mais horrível daqueles tempos da Encarnação de Jesus, considerado pelos Judeus como ‘Maldição Divina” Dt 21,23 e pelos romanos como infamante, a tal ponto que não era aplicado a um cidadão do Império, sendo reservado apenas aos escravos e aos criminosos mais comuns.
- No entanto, tão poderoso é este Rei Jesus que, posto nesse pedestal de humilhação, Ele o transforma em trono de glória!
- Hoje em dia, ostentar a Cruz ao peito é uma honra, e nos admiramos ao vê-la sobre as coroas ou no alto das catedrais e dos edifícios eclesiásticos:
  • É a exaltação da Cruz.
- Ora, sendo participes da vida divina, pela graça, somos chamados a trilhar a mesma via do Rei dos reis, sem nunca descer, subir para chegar ao Céu, cujas portas nos serão abertas, não por nossos méritos, mas pelos de Nosso Redentor (Metanóia).


Pela Cruz alcançamos a Luz
- Contrário a certa mentalidade muito alastrada, não é possível abolir a Cruz da face da Terra, pois, em geral, todo ser humano sofre.
- A dor é nossa companheira e só deixará de existir no Paraiso Celeste.
- É neste contexto que é imprescindível ao homem compreender o verdadeiro valor do sofrimento (Metanóia), pois uma equivocada compreensão do sofrimento leva alguns a caírem no:
  • Abatimento,
  • Revolta contra a providência,
  • Querer esquivar-se de carregar a própria cruz, cuja tentativa se torna inútil, tornando-a mais pesada, acrescentando ainda o ônus da inconformidade com a vontade de Deus, que conhece e permite cada uma de nossas angústias.
Valor da luta
- Compenetremo-nos de que a dor encerra inúmeros benefícios para nossa salvação:
  • Poderoso meio de nos aproximarmos de Deus. (Metanóia).
- Desde antes da queda, Anjos e homens, por terem sido criados em estado de prova, tem a tendência de fechar-se e esconder-se sobre si (conf Gn 3, 8-10), quando deveriam estar constantemente abertos para Deus.
- E é nisto que consiste a prova do entendimento e a compreensão de nossa realidade como Batizados, filhos de Deus e de sermos chamados de Cristãos (Metanóia).
- As lutas, reveses e aflições surgidas em nosso caminho são elementos eficazes para dirigir nosso espírito ao Bem infinito e escancarar para Ele a porta de nossa alma.
- Nessas horas experimentamos o poder da oração, sentimos nossa total dependência de Deus e nos colocamos em suas mãos sem reservas, a procura de amparo e força.
- O sofrimento pode receber o título de bem aventurança que nos faz merecer, já neste mundo, a recompensa de libertar-nos de nosso egoísmo e de vivermos voltados para Deus. Ó dor, bem aventurada dor!
- Em sua Bondade infinita, o Senhor nos “cumula de tribulações na Terra para nos obrigar a buscar a felicidade no Céu” diz Santo Antônio Maria Claret.
- O sofrimento constitui-se, então, um meio infalível de preparação para conhecer, amar e contemplar a Deus face a face.

Glória comprada pelo sofrimento
- O Verbo onipotente, Unigênito do Pai, ao Se encarnar quis passar pelas vicissitudes da condição humana, para nos dar exemplo de paciência.
- Sua Alma Santíssima que desde o primeiro instante da concepção, já possuía a glória, e esta deveria, naturalmente, refletir-se em sua carne; mas a relação natural entre alma e corpo n’Ele estava submetida a sua Divina Vontade, a qual aprouve suspender esta lei, realizando um milagre contra Si mesmo, pois preferiu tomar um corpo padecente a fim de que obtivesse com maior honra a glória do Corpo, quando a merecesse pela Paixão.
- Ele assumiu aquelas deficiências corporais derivadas do pecado original como o cansaço, a fome, a sede e a morte.
- Jesus visava apontar o combate da Cruz como causa de elevação para todos nós, Batizados, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo (conf Rm 8,17). (Metanóia).
- Tão excelente é o sacrifício de nosso Salvador, oferecendo-Se a Si mesmo ao Pai como Vitima perfeita, que os efeitos da Paixão excedem em muito a dívida do pecado. Diz o Padre Garrigou-Lagrange:
“Deus Pai pediu a seu Filho:  um ato de amor que Lhe agrada mais do que Lhe desagradam todos os pecados juntos;
um ato de amor redentor, de um valor infinito e superabundante”
Jesus lhe ofereceu o sofrimento e morte na Cruz.

O combate do Católico é sua glória
- Somos combatentes (Metanóia).
- Não fomos feitos para apoiar aqueles que põe sua esperança no mundo, mas para defender Nosso Senhor Jesus Cristo.
- O mundo só nos interessa como objeto de conquista para O Reino de Deus, pois queremos ser apóstolos, a fim de que todos os homens experimentem nossa alegria de cristãos. (Metanóia).
- Alegria proveniente da certeza (Metanóia), infundida pela fé na alma, de um dia recuperar o corpo em estado glorioso e viver a eternidade feliz no convívio com Deus, com Maria Santíssima, com os Anjos e com os Santos.
- A convicção (Metanóia) de que a Cruz conduz a Luz, isto é, a vitória e ao triunfo final, torna a alma equilibrada, calma e serena, e dá forças para encarar a morte com confiança, sabendo que no outro lado estará Aquele que por nós morreu na Cruz, pronto a nos receber (Metanóia).
- E agora? Estou preparado para a Metanóia? Ou seja:
  • Mudança,
  • transformação de caráter,
  • maneira de pensar,
  • modificação espiritual,
  • conversão. 
Metanóia de Pedro
- A famosa frase de Santo Agostinho:
“Crer para entender e entender para crer”
resume uma verdadeira Metanóia que aconteceu com Pedro; vejamos o relato em João 13, 6-9:
- “Jesus coloca agua numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxuga-los com a toalha que estava cingido. (Traje e função dos escravos, não dos senhores ISm 25,41).
Chega, então, a Simão Pedro, que lhe diz:
- Senhor, tu, lavar-me os pés?
Respondeu Jesus:
- O que faço, não compreenderás agora, mas o compreenderás mais tarde.
Disse-lhe Pedro:
- Jamais me lavarás os pés!
Respondeu Jesus:
- Se Eu não te lavar, não terás parte comigo.
Disse-lhe Pedro:
- Senhor, não apenas meus pés, mas também as mãos e a cabeça”

- Por não estarmos prontos, podemos voltar nas decisões tomadas; Deus purifica nosso entendimento quando cremos mas ainda não entendemos.
- Essa foi a Metanóia de Pedro: por crer em Jesus aceitou sua proposta mesmo ainda não entendendo.

- Jesus ‘sentiu’ e ‘experimentou’ toda repugnância e dor que haveremos de ‘sentir’ e ‘experimentar’ durante todo nosso processo de Metanóia (conversão).
“Não creias porém que deixei de sentir então repugnância e dor. Pelo contrário quis que a minha natureza humana experimentasse todas as que vós mesmos experimentais, a fim de que meu exemplo vos fortificasse em todas as circunstancias de vossa vida.
Também quando soou para Mim aquela hora dolorosíssima de minha Paixão, que Eu poderia tão facilmente evitar, abracei-a amorosamente para:
  • cumprir a Vontade do Pai,
  • reparar Sua Glória,
  • expiar os pecados do mundo,
  • comprar a salvação de muitas almas.
Jesus a Santa Josefa; Apelo ao Amor pg 414

Minha Metanóia
- Descreva em seu diário espiritual quais são as repugnâncias que sua natureza humana sente quando se fala de uma verdadeira conversão ao cristianismo.
- Quais as renúncias que devo proceder?
- O que me impede de ser humilde?
- O que me impede de perdoar?
- O que me impede de Amar até o extremo, como Jesus amou?
- Se voluntariamente passei a maior parte de minha vida na impiedade ou na indiferença e percebo que a eternidade já esta as portas, o que me impede de implorar o perdão?
- Qual respeito humano sinto como uma ‘repugnância’ que me está impedindo de me unir ao Senhor?
“Enquanto tiver o homem um sopro de vida, poderá ainda recorrer a Misericórdia e implorar o perdão”
Jesus a Santa Josefa; Apelo ao Amor pg 418
- Olhemos para o resultado e a recompensa que haveremos de receber na eternidade.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Mérito no sofrimento (Santo Afonso)

Mérito no Sofrimento
6. Quantos méritos se podem ganhar só em suportar com paciência as doenças! Suportando com paciência as dores de nossas doenças, tecemos uma grande parte e talvez a maior parte da coroa que Deus nos prepara no céu.
- S.Liduvina, depois de ter suportado tantas doenças, tão dolorosas, desejava morrer mártir por Jesus Cristo. Um dia, suspirando por esse martírio, entendeu que uma bela coroa, ainda inacabada, estava sendo preparada para ela. Ansiosa para que fosse terminada, suplicou ao Senhor o aumento de suas dores. Jesus a ouviu... sofreu mais ainda e pouco depois morreu.

            7.Para as pessoas que amam ardentemente a Jesus Cristo, como são leves e agradáveis as dores e os desprezos! Por isso os mártires iam ao encontro das torturas, unhas de ferro, chapas incandescentes e espadas, com tanta alegria.
- S.Prosdócimo, mártir: “Atormentem-me quanto quiserem, mas fiquem sabendo que para quem ama a Jesus Cristo não existe coisa mais desejável do que sofrer por seu amor”
- S.Gordiano: “Tu que me ameaças com a morte, mas o que me desagrada é que não posso morrer por Jesus Cristo senão uma só vez”.

            Mas, pergunto eu, por que os mártires falavam assim? Porque eram insensíveis aos sofrimentos ou tinham perdido o juízo?
- Não, responde São Bernardo, de maneira alguma, “Não foi a loucura que fez isso, mas sim o amor”. Eles não eram loucos. Sentiam as dores dos tormentos, mas porque amavam a Deus, consideravam grande vantagem sofrer e perder tudo, até mesmo a própria vida, por amor de Deus.

Nossa morte
            8.Principalmente no tempo da doença, devemos estar prontos para aceitar a morte, aquela morte que é da vontade de Deus. Temos de morrer. Nossa vida vai terminar na última doença e não sabemos qual delas nos levará a sepultura. Portanto, é necessário que nos preparemos em todas as enfermidades para abraçar a morte que Deus nos tem destinado.
- Algum doente poderá dizer:
- Mas eu fiz tantos  pecados e nenhuma penitência! Queria viver, não por viver, mas para dar alguma satisfação a Deus antes de morrer.
- Dize-me, meu irmão,  como sabes que, vivendo, farás penitência e não te comportarás pior que antes? Neste momento podes esperar que Deus te tenha perdoado. Mas que melhor penitência do que aceitar com resignação a morte, se Deus assim o quer?
- S.Luis Gonzaga que morreu aos 23 anos, abraçou a morte alegremente, dizendo: “Encontro-me agora, assim espero, na graça de Deus. Mais tarde não sei o que será de mim. Morro contente, se nesta hora Deus quiser me chamar para a outra vida.
- S.João A’Vila dizia que uma pessoa, encontrando-se com boas disposições, mesmo medíocres, deve desejar a morte par sair do perigo em que sempre vivemos neste mundo, de poder pecar e perder a graça de Deus.

            9.Devido a nossa fragilidade, não podemos viver nesta terra sem cometer, ao menos, pecados veniais. Por isso, ao menos, por esse motivo, de não ofender a Deus, deveríamos abraçar com alegria a morte.
- Se amamos a Deus de verdade, devemos ardentemente desejar vê-lo e amá-lo com todas as forças do céu. Isso ninguém pode fazer perfeitamente nesta vida. Mas, se a morte não nos abre a porta, não podemos entrar no paraíso.
- S.Agostinho: “Morra eu, Senhor, para vos ver”.
- Senhor, fazei-me morrer porque, se não morro, não posso vos amar e vos ver face a face.

A pobreza
            10.Precisamos praticar a paciência, suportando a pobreza.
- É certo que é muito necessário praticar a conformidade, quando nos faltam os bens materiais.
- S.Agostinho: “Quem não tem Deus, não tem nada; quem tem Deus, tem tudo”. Possuindo Deus e estando unido a sua vontade, encontramos nele todos os bens.
- S.Francisco: descalço, vestido com uma roupa pobre, pobre de tudo e que ao dizer: “Meu Deus e meu tudo”, achava-se o mais rico de todos os reis da terra. Chama-se pobre quem deseja bens que não possui.
Mas quem não deseja nada e está contente com sua pobreza, é perfeitamente rico.
- S.Paulo “Não tendo nada, mas possuindo tudo” IICor 6,10. Quem ama a Deus de verdade, diz quando lhe faltam os bens temporais: “Meu Jesus, só tu me bastas” e fica contente.
            Os santos não só tiveram paciência na pobreza, mas procuraram também desfazer-se de tudo, para viverem desapegados e unidos só a Deus. Se não temos o espirito de renunciar a todas as coisas do mundo, ao menos contentemo-nos com a situação em que o Senhor nos quer. Não tenhamos ansiedade para adquirir as riquezas da terra, mas sim as do céu, imensamente maiores e eternas. Convençamo-nos do que diz Santa Tereza: “Quanto menos tivermos aqui, mais possuiremos lá”

            11.S.Boaventura: A abundância dos bens temporais é um empecilho para a alma, impedindo-a de voar para Deus. Pelo contrário, escreve S.João Climaco que a pobreza é um meio de caminhar para Deus sem impedimentos.
“Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” Mt 5,3 Para as outras bem aventuranças, dos mansos, dos puros de coração, está prometido o céu, isto é, a felicidade do céu é ainda nesta vida: ‘deles é o reino dos céus’. Ainda nesta vida os pobres gozam de um paraiso antecipado. “Pobres de espírito” quer dizer: não só são pobres das coisas da terra, mas também não as cobiçam. Vivem contentes, possuindo o que lhes basta para se alimentar e se vestir. “Tendo, pois, de que nos sustentar e cobrir, contentemo-nos com isto” ITm6,8
- S.Lourenço Justiniano: “Feliz pobreza, que nada possui e nada tem! É sempre feliz e sempre abundante; todos os incômodos que experimenta faz com que sirvam para o bem da alma”
- S.Bernardo: “O avarento está sempre faminto como um mendigo, nunca chega a ficar satisfeito com os bens que deseja. O pobre, como senhor de tudo, os despreza, pois não deseja nada”

            12.Se a pobreza não fosse um grande bem, Jesus Cristo não a teria escolhido para si, nem a teria deixado em herança para os seus preferidos. De fato, os santos, vendo Jesus tão pobre, amaram tanto a pobreza.
- O próprio São Paulo nos alerta contra a cobiça de enriquecimento como laço do demônio para perder os homens: “Porque os que querem fazer-se ricos, caem na tentação e no laço do demônio e em muitos desejos inúteis e perniciosos, que submergem os homens no abismo da morte e da perdição”.
- Deus só nos baste! Bastem-nos os bens que ele nos dá. Alegremo-nos de sermos pobres quando nos faltar o que queríamos. Aí é que está o mérito: Não é pobreza que é considerada virtude, mas sim o amor a pobreza.
- Muitos são pobres, mas porque não amam a sua pobreza, não tem nenhum mérito.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIV– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Coração manso (Santo Afonso)

Quem ama a Jesus Cristo, não se irrita com o próximo
1. A virtude de não se irritar nas contrariedades que acontecem, é filha da mansidão. Por ser uma virtude que deve ser continuamente praticada por quem vive no meio dos homens, trataremos aqui apenas de alguns pontos mais particulares, mais uteis na prática.

            2. A humildade e a mansidão foram as virtudes mais estimadas por Jesus Cristo. Por isso ele disse aos seus discípulos: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” Mt11,29.
- Nosso redentor foi chamado cordeiro: “Eis o Cordeiro de Deus” Jo1,29, não só pelo sacrifício que devia fazer na cruz para satisfazer pelos nossos pecados, mas também pela mansidão manifestada em toda sua vida, especialmente na sua paixão. Na casa de Caifás, recebeu uma bofetada daquele servo que, ao mesmo tempo, o tratava como um atrevido: “Assim respondes ao pontífice?” Jesus só disse estas humildes palavras: “Se falei mal, dize-me em que; se falei bem, por que me bates?” Esta mansidão ele continuou a vive-la até a morte. Pregado na cruz, enquanto todos caçoavam e praguejavam, ele apenas dizia ao Pai Eterno que lhes perdoasse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” Lc23,34

Coração manso
            3. Como são caros a Jesus Cristo os corações mansos. Recebendo ofensas, desprezos, calúnias, perseguições e até mesmo pancadas e ferimentos, não se irritam contra quem os injuria ou maltrata.
“Sempre lhe agradaram as súplicas dos mansos” As eles, de modo especial, está prometido o céu”: “Bem aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra”.
- Padre Alvarez dizia que o paraíso é a pátria dos desprezados, perseguidos e oprimidos. A eles, e não aos orgulhosos, que são honrados e estimados pelo mundo, está reservada a posse daquele reino eterno.
- As pessoas bondosas não só alcançarão a felicidade eterna na outra vida, mas já nesta terra gozarão de uma grande paz. Isso é verdade, porque os santos não guardam ódio de quem os maltrata, mas os amam mais do que antes. O Senhor, em recompensa a sua paciência, aumenta-lhes a paz interior.

- S.Tereza: “As pessoas que falam mal de mim, parece que eu as amo com maus amor”. Mais tarde, disseram dela: “As ofensas eram para ela alimento de amor”, isto é, as ofensas davam-lhe mais oportunidade para mais amar aquelas pessoas que mais a ofendiam.
- Tal mansidão só possui quem tem grande humildade e pouco conceito de si mesmo, pelo que julga merecer todo o desprezo. Por isso mesmo, os orgulhosos são sempre raivosos e vingativos, porque julgam-se bons e acreditam ser merecedores de toda a honra.

Morrer no Senhor
            4. “Bem aventurados os que morrem no Senhor”. É preciso morrer no Senhor para ser bem-aventurado, para gozar a felicidade desde esta vida. Esta felicidade é a que podemos ter já antes de ir para o céu, muito menor na certa do que a alegria do céu, mas que supera a todos os prazeres sensíveis desta vida: “A paz de Deus, que vai além de toda a compreensão, guarde vossos corações e vossos espíritos” Fl 4,7
            Para alcançar essa paz, mesmo no meio das ofensas e calunias, é preciso estar morto no Senhor. O morto, ainda que maltratado e desprezado pelos outros, não se ressente. Também a pessoa manda de coração, como o morto vê nem ouve, procura suportar todos os desprezos. Quem ama de coração a Jesus Cristo chegará facilmente a isso.
            Quem ama de coração a Jesus Cristo chegará facilmente a isso. Unido inteiramente com a vontade de Deus, com a mesma paz e a mesma tranquilidade, recebe as coisas favoráveis e as desfavoráveis, as alegrias e as tristezas, as injurias e os louvores. Assim fez São Paulo que podia dizer: “Estou cheio de alegria no meio de minhas tribulações”.
            Feliz aquele que atinge esse grau de virtude! Goza de uma paz contínua, que é bem maior que os outros bens do mundo.
S.Francisco Sales: “Que vale todo o mundo em comparação com a paz do coração?” Realmente, o que adiantam todas as riquezas e todas as honras do mundo para quem vive inquieto e sem paz no coração?

            5. Para estarmos sempre unidos com Jesus Cristo, é preciso fazermos tudo com tranquilidade, sem nos inquietarmos com alguma dificuldade que se apresente: “O Senhor não está na agitação” Deus não mora nos corações agitados!
- Vejamos os belos ensinamentos que nos dá o mestre da mansidão, S.Francisco Sales: “Nunca vos irriteis, nem mesmo abrais a porta a cólera por qualquer motivo. Se ela entrar em nós, já não poderemos expulsá-la nem dominá-la, quando quisermos. Os meios para isso são:
1º.    Afastar imediatamente a cólera, desviando a atenção para outra coisa e calando-se.
2º.    Imitando os apóstolos quando viram a tempestade, recorrer a Deus a quem pertence pôr o coração em paz.
3º.    Se a cólera, por vossa fraqueza, já colocou o pé em vosso coração, esforçai-vos por vos tranquilizar e, depois, praticai atos de humildade e de mansidão para com a pessoa com quem vos sentis irritados. Tudo isso deve ser feito com suavidade e sem violência, porque é importante não irritar mais as feridas”.

- O próprio São Francisco de Sales dizia que precisou se esforçar durante toda a sua vida para vencer duas paixões que o dominavam: a cólera e o amor. Para vencer a paixão da cólera, confessava ter se esforçado durante vinte e dois anos. Quanto a paixão do amor, tinha procurado modificar o objeto, deixando as criaturas e dirigindo todos os seus afetos a Deus. Desse modo alcançou uma paz interior tão grande que até mesmo exteriormente a demostrava, apresentando quase sempre um rosto sereno e um sorriso nos lábios.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XII– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Maria, 3ª verdade da devoção

Devemos esvaziar-nos do que há de mau em nós
§78. Terceira Verdade. As nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo mau fundo que há em nós.
- Quando se deita água límpida e clara numa vasilha que não tem bom cheiro, ou vinho numa pipa cujo interior está azedado por outro vinho, que teve anteriormente, a água clara e o vinho bom ficam estragados e ganham facilmente o mau cheiro.
- Do mesmo modo, quando Deus infunde em nossa alma, corrompida pelo pecado original e atual, as suas graças e orvalhos celestes, ou o vinho delicioso do seu Amor, assim também os Seus dons são ordinariamente manchados e estragados pelo mau fermento e mau fundo que o pecado deixou em nós.
- Os nossos atos, mesmo as virtudes mais sublimes, disso se ressentem.
- É, pois, da mais alta importância, para adquirir a perfeição - que só se alcança pela união com Jesus Cristo - esvaziarmo-nos do que há de mau em nós. Doutra forma, Nosso Senhor, que é infinitamente puro e que odeia infinitamente a menor mancha que vê na alma, afastar-nos-á de Seus olhos e não se unirá a nós.

Para nos despojar de nós mesmos é preciso:
§79. Em primeiro lugar, conhecer bem, pela luz do Espírito Santo:
  • o nosso fundo mau,
  • a nossa incapacidade para qualquer bem útil à salvação,
  • a nossa fraqueza em todas as coisas,
  • a nossa permanente inconstância,
  • a nossa indignidade de toda a graça,
  • a nossa iniquidade em toda a parte.
- O pecado dos nossos primeiros pais arruinou-nos a todos quase por completo, azedou-nos, corrompeu-nos, fez-nos inchar como o fermento faz à massa em que é lançado.
- Os pecados atuais que cometemos, quer mortais, quer veniais, embora tenham sido perdoados, aumentaram-nos a concupiscência, a fraqueza, a inconstância e corrupção, deixando maus vestígios na nossa alma.
- O nosso corpo é tão corrupto que é chamado pelo Espírito Santo corpo de pecado (Rm 6, 6; Sl 50, 7), concebido no pecado, alimentado no pecado, capaz de todo pecado e sujeito a mil enfermidades.
- Corrompe-se de dia a dia, e gera somente sarna, vermes e corrupção.
- A nossa alma, unida ao corpo, tornou-se tão carnal que chega a ser chamada carne:
Toda a carne tinha corrompido o seu caminho” (Gn 6, 12).
- A nossa única herança é:
·         o orgulho e a cegueira de espírito,
·         o endurecimento do coração,
·         a fraqueza e a inconstância da alma,
·         a concupiscência,
·         a revolta das paixões e as doenças do corpo.
- Somos, naturalmente:
·          mais orgulhosos que os pavões,
·         mais apegados à Terra que os sapos,
·         piores que os bodes,
·         mais invejosos que as serpentes,
·         mais gulosos que os porcos,
·         mais coléricos que os tigres e
·         mais preguiçosos que as tartarugas,
·         mais fracos que caniços e
·         mais inconstantes que os cata-ventos.
De nosso só temos o nada e o pecado,
e só merecemos a ira de Deus e o inferno eterno.

§80. Depois disto, será para admirar que Nosso Senhor tenha dito que quem o quisesse seguir devia renunciar a si mesmo e odiar a sua própria alma? (Mt 16, 24).
- Que aquele que amasse a sua alma a perderia, e o que a odiasse a salvaria? (Jo 12, 25).
- Esta Sabedoria infinita, que não impõe mandamentos sem razão, não nos manda odiarmo-nos a nós mesmos senão porque somos sumamente dignos de ódio. Nada há tão digno de amor como Deus, e nada tão digno de ódio como nós.
Podemos, portanto, conforme os sentimentos dos Santos
e de muitos homens célebres, dizer-nos e tornar-nos
escravos de amor de Maria Santíssima, para ser, assim,
mais perfeitamente escravos de Jesus Cristo.

§81. Em segundo lugar, para nos despojar de nós mesmos, é preciso morrer todos os dias.
- Isto quer dizer que é preciso renunciar às operações das potências da nossa alma e dos sentidos do nosso corpo, ou seja:
    temos de ver como se não víssemos,
·         de ouvir como se não ouvíssemos,
·         de nos servir das coisas deste mundo como se delas não nos servíssemos (1Cor 7, 29-31).

- É a isto que São Paulo chama de morrer todos os dias (1 Cor 15, 31).
Se o grão de trigo cai à Terra e não
morre, permanece só e não produz fruto” (Jo 12, 24).
- Se não morrermos para nós mesmos, e se as nossas devoções mais santas não nos levam a esta morte necessária e fecunda, não daremos fruto que valha. Porque então as nossas devoções tornar-se-ão inúteis, todas as nossas boas obras serão manchadas pelo amor próprio e pela nossa vontade própria, o que fará com que Deus abomine os maiores sacrifícios e as melhores ações que possamos fazer.
- E, nesse caso, encontrar-nos-emos com as mãos vazias de virtudes e méritos na hora da nossa morte, e não teremos sequer uma centelha de Puro Amor, pois este só é dado às almas mortas para si mesmas e cuja vida está oculta com Jesus Cristo em Deus (Cl 3, 3).

§82. Em terceiro lugar, é preciso escolher, dentre todas as devoções à Santíssima Virgem, aquela que nos leva mais a esta morte para nós próprios, porque é esta a melhor e a mais santificante.
- Não se julgue, de fato, que tudo o que brilha é ouro, que tudo o que é doce é mel, e que tudo o que é fácil e praticado pela maior parte das pessoas é o mais santificante.
- Na natureza há segredos para fazer operações naturais em pouco tempo, econômica e facilmente.
- Na ordem da graça existem também segredos para fazer operações sobrenaturais em pouco tempo, suavemente e facilmente, tais como: despojar-se de si mesmo, encher-se de Deus e tornar-se perfeito.
- A prática que quero revelar é um desses segredos de graça, desconhecido pela maior parte dos cristãos, conhecido por poucas almas piedosas, praticado e apreciado por menos ainda.
- Para começar a descobrir esta prática, eis uma quarta verdade, que é uma consequência da terceira.

Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Pecado e morte

O pecado e a morte
- Naquele momento extremo, o homem pecador será acusado pelo demônio, pelo mundo e pela carne.
- Não mais lhe farão propostas atraentes; não lhe apresentarão o amargo como doce o imperfeito como perfeito, como acontecia durante a vida.
- A Verdade virá patenteada como é.
- O remorso, antes tão enfraquecido, ladrará velozmente, quase levando o pecador ao desespero.
- Não obstante os próprios pecados; é preciso conservar a esperança no Sangue de Cristo. Meu perdão é dado por meio Dele e Minha Misericórdia é infinitamente maior do que todos os males do mundo.
- Não se demore, porém. É terrível achar-se desarmado num campo de batalha entre numerosos inimigos!

A morte do bom
- Sabes que o sofrimento existe por causa da vontade: ninguém padeceria, se a vontade de todos fosse reta e estivesse em conformidade com a minha vontade. Com isto não quero dizer que iriam desaparecer as dificuldades.
- É o sofrimento que não existiria, pois as contrariedades seriam voluntariamente aceitas por meu amor. As pessoas aceitariam-nas, por saber que são queridas por mim.
- O homem conformado a minha vontade é:
* desapegado de si mesmo,
* vence o mundo,
* o demônio e
* a carne;
ao chegar o momento da morte, seu falecimento acontece na paz.
- Como seus inimigos foram vencidos durante a vida:
* o mundo não o perturba, pois conhece as suas ilusões e já renunciou a seus prazeres;
* a carne enfraquecida não se ergue para o acusar, uma vez que foi dominada pela mortificação, vigílias, oração humilde e continua.
- Graças a renuncia ao pecado e apego a virtude, não sente mais tendências para o que é sensível e amor pelo corpo; atitudes essas que tornam a morte indesejável.
- Por um sentimento natural, o homem teme a morte; o justo supera esse sentimento, vence o medo natural mediante o desejo de alcançar a meta. Desaparece, pois, todo sofrimento que vem do apego natural ao corpo.

- A consciência do homem justo que agoniza está tranquila; durante a vida ela montou boa guarda, dera o alarme quando os inimigos da alma queriam assaltar a cidade interior.
- Como o cachorro late a chegada dos inimigos (sentidos) e acorda os guardas (potências), assim ela sempre advertira a razão. Esta última, em ação conjugada com o Livre arbítrio, distinguia quem era amigo, quem não:
* Diante dos amigos –virtudes e santos desejos do coração- acolhia-os com atenções;
* Diante dos inimigos –vícios e maus pensamentos- eram afastados com a espada do ódio e do amor.
- Dessa forma a consciência não atormenta.
- O interior da pessoa constitui uma família feliz, tudo está em paz.

- É verdade que o homem humilde, que conhece o valor do tempo e das virtudes, acusa-se na hora da morte por não ter aproveitado melhor a própria vida. Mas tal atitude não causa aflição; é mesmo meritória. Leva a pessoa a concentrar-se e a considerar o Sangue do Cordeiro Imaculado e humilde.
- Naquele instante a alma não fica a pensar nas virtudes praticadas; sabe que não pode confiar nelas, mas unicamente no Sangue de Cristo, onde achou o perdão.
- Mas como a lembrança do Sangue sempre a acompanhara, também naquele último instante nele se inebria e afoga.

- Quanto aos demônios, não tendo em que acusar o justo, aproxima-se a procura de qualquer coisa. São feios e crêem atemorizar o justo por suas figuras. Como no justo não há pecado, a visão dos demônios não atemoriza. E eles, ao notar a alma mergulhada no Sangue de Cristo, afastam-se atacam de longe, sem perturbar o homem.

- De fato, este justo, já começou a gozar da vida eterna:
* Pela fé, já contempla o bem infinito e eterno, que Sou Eu;
* Pela esperança, não por méritos pessoais mas por dom gratuito, está seguro de atingir-me na virtude do Sangue de Cristo;
* Pela caridade, estende seus braços e abraça-me.
- Antes de chegar a Mim a alma já Me possui.
- Bondosamente os coloco em seus respectivos lugares, conforme o grau de amor com que até mim chegaram.

A morte do mau
- Se grande é a dignidade do bom sacerdote, enorme é a baixeza do mau sacerdote. No momento de falecer, os demônios o acusam tremendamente e mostram-lhe sua figura que é horrível.
O homem deveria tolerar qualquer sofrimento nesta vida para não o ver jamais!
- O remorso corrói o mau sacerdote moribundo com mais violência; a sensualidade até então considerada como senhora –e também os prazeres desordenados, acusam-no. Ao tomar consciência de coisas que desconhecia, o mau se perturba grandemente, pois vivera como um infiel.
- O egoísmo apagara-lhe a iluminação da fé. Agora o demônio aponta a maldade, provocando-lhe o desespero.
- Muito difícil esta batalha para o mau sacerdote moribundo, desarmado, sem o escudo da caridade.
- Qual amigo do diabo, de tudo se vê despojado: não possui a Iluminação sobrenatural da fé, nem a Ciência Sagrada.
- Nada compreendera desta ultima, porque a soberba não lhe permitira penetrar em sua natureza intima. Na grande luta final, nem sabe o que fazer. Não se alimenta de esperança; jamais confiara no Sangue de Cristo, do qual fora distribuidor. Sua confiança repousava em si mesmo, nos cargos importantes, nos prazeres mundanos.

(O Diálogo-Santa Catarina de Sena, pg 282; 284; 288)