Testemunho de
Santa Joana de Chantal
Consolem-se,
pois, as almas que estão resolvidas a ser todas de Deus, embora se vejam
privadas de toda a consolação. Sua dor é sinal de que são muito queridas por
Deus e de que ele preparou para elas um lugar no céu onde a felicidade é plena
e eterna.
Tenham por
certo que, quanto mais aflitas neste mundo, tanto mais serão consoladas no céu:
“Segundo as muitas dores que experimentou o meu coração, as tuas consolações
alegraram a minha alma” Salmo 93,19.
Para consolo
dessas pessoas, quero acrescentar aqui o que se conta na vida de Santa Joana de
Chantal: Por espaço de quarenta e um anos foi atormentada por terríveis sofrimentos
interiores, tentações, medo de não estar na graça de Deus e até de ter sido
abandonada por ele. Eram tão continuas e tão grandes as suas aflições que chegava
a dizer que só o pensamento da morte é que lhe dava alivio.
“São tão furiosos os assaltos –dizia
ela- que eu não sei onde repousar o meu pobre espírito. As vezes me parece
acabar a paciência e estar ao ponto de perder e deixar tudo. É tão cruel a
tirania da tentação, que todas as horas do dia eu trocaria com a morte. As vezes
chego a perder o sono e a vontade de comer”
Tentações
Nos últimos anos
de sua vida, as tentações tornaram-se mais violentas. Ela sofria dia e noite em
continuo martírio interior quando rezava, quando trabalhava, quando descansava.
Era tentada contra todas as virtudes –exceto a castidade- com duvidas, trevas e
repugnâncias. As vezes Deus lhe tirava sua luz interior e parecia como que
irritado com ela, como que a rejeitando.
Assustada,
ela virava os olhos para o outro lado, procurando algum alivio; mas, não o
encontrando, era forçada a olhar para Deus e abandonar-se a sua misericórdia. Parecia-lhe
que estivesse para cair a todo momento devido aos ataques das tentações. Embora
a assistência divina não a desamparasse, parecia-lhe que o Senhor já a tinha
abandonado.
Não sentia
satisfação alguma, mas só o tedio e angustias na oração, na leitura espiritual,
na comunhão e em todos os outros exercícios de piedade. Seu único recurso em
tal estado de abandono era olhar para seu Deus e entregar-se a sua vontade
divina.
Tentações intensas
“Em
todo este meu desamparo –dizia ela- até a simplicidade de minha vida se torna
para mim uma nova cruz, aumentada com a incapacidade que sinto de praticar boas
obras”.
Por
isso, ela dizia que lhe parecia ser como um doente cheio de dores, sem poder
voltar-se de um lado para outro, como um mudo que não pode explicar seus males,
como um cego que não vê se lhe dão remédio ou veneno. “Parece-me não ter fé,
nem esperança, nem amor ao meu Deus”
Apesar
de tudo, a santa conservava o rosto sereno, era delicada no trato com as
pessoas e mantinha os olhos fixos em Deus, entregando-se a vontade divina.
Assim são feitos os santos
São Francisco de
Sales, seu diretor espiritual, sabendo quanto Deus amava sua bela alma, assim
escreveu sobre ela: “Seu coração era como um musico surdo que, embora catasse
maravilhosamente, não podia tirar do canto nenhum prazer”. Mais tarde ela
escreveu: “Deveis servir ao vosso Salvador só por amor a sua vontade, com a
privação de todas as consolações e com esses dilúvios de tristezas e amarguras”.
Assim são feitos os santos.
“Cortadas
com o cinzel, polidas e lavradas –diz a Igreja- as pedras brilhantes, unidas
com arte e perfeição, elevarão o templo até o céu”. Os santos são essas pedras
escolhidas; trabalhadas e cinzeladas com as tentações, os temores, as trevas e
outros sofrimentos internos e externos, tornam-se aptas para serem colocadas
nos tronos do paraíso.
Oração
Jesus,
minha esperança, minha felicidade, amor único de minha alma, não mereço suas
consolações. Reservai-as para as almas inocentes que sempre vos amaram. Eu,
como pecador, sou indigno delas, não vos peço. Eis o que desejo: fazei que eu
vos ame e cumpra vossa vontade em toda a minha vida; depois disponde de mim
como vos aprouver. Amém.
A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII–
Santo Afonso Maria de Ligório