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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Consolação

Testemunho de Santa Joana de Chantal
Consolem-se, pois, as almas que estão resolvidas a ser todas de Deus, embora se vejam privadas de toda a consolação. Sua dor é sinal de que são muito queridas por Deus e de que ele preparou para elas um lugar no céu onde a felicidade é plena e eterna.
Tenham por certo que, quanto mais aflitas neste mundo, tanto mais serão consoladas no céu: “Segundo as muitas dores que experimentou o meu coração, as tuas consolações alegraram a minha alma” Salmo 93,19.
Para consolo dessas pessoas, quero acrescentar aqui o que se conta na vida de Santa Joana de Chantal: Por espaço de quarenta e um anos foi atormentada por terríveis sofrimentos interiores, tentações, medo de não estar na graça de Deus e até de ter sido abandonada por ele. Eram tão continuas e tão grandes as suas aflições que chegava a dizer que só o pensamento da morte é que lhe dava alivio.
“São tão furiosos os assaltos –dizia ela- que eu não sei onde repousar o meu pobre espírito. As vezes me parece acabar a paciência e estar ao ponto de perder e deixar tudo. É tão cruel a tirania da tentação, que todas as horas do dia eu trocaria com a morte. As vezes chego a perder o sono e a vontade de comer”

Tentações
Nos últimos anos de sua vida, as tentações tornaram-se mais violentas. Ela sofria dia e noite em continuo martírio interior quando rezava, quando trabalhava, quando descansava. Era tentada contra todas as virtudes –exceto a castidade- com duvidas, trevas e repugnâncias. As vezes Deus lhe tirava sua luz interior e parecia como que irritado com ela, como que a rejeitando.
            Assustada, ela virava os olhos para o outro lado, procurando algum alivio; mas, não o encontrando, era forçada a olhar para Deus e abandonar-se a sua misericórdia. Parecia-lhe que estivesse para cair a todo momento devido aos ataques das tentações. Embora a assistência divina não a desamparasse, parecia-lhe que o Senhor já a tinha abandonado.
Não sentia satisfação alguma, mas só o tedio e angustias na oração, na leitura espiritual, na comunhão e em todos os outros exercícios de piedade. Seu único recurso em tal estado de abandono era olhar para seu Deus e entregar-se a sua vontade divina.

Tentações intensas
            “Em todo este meu desamparo –dizia ela- até a simplicidade de minha vida se torna para mim uma nova cruz, aumentada com a incapacidade que sinto de praticar boas obras”.
            Por isso, ela dizia que lhe parecia ser como um doente cheio de dores, sem poder voltar-se de um lado para outro, como um mudo que não pode explicar seus males, como um cego que não vê se lhe dão remédio ou veneno. “Parece-me não ter fé, nem esperança, nem amor ao meu Deus”
            Apesar de tudo, a santa conservava o rosto sereno, era delicada no trato com as pessoas e mantinha os olhos fixos em Deus, entregando-se a vontade divina.

Assim são feitos os santos
São Francisco de Sales, seu diretor espiritual, sabendo quanto Deus amava sua bela alma, assim escreveu sobre ela: “Seu coração era como um musico surdo que, embora catasse maravilhosamente, não podia tirar do canto nenhum prazer”. Mais tarde ela escreveu: “Deveis servir ao vosso Salvador só por amor a sua vontade, com a privação de todas as consolações e com esses dilúvios de tristezas e amarguras”. Assim são feitos os santos.
            “Cortadas com o cinzel, polidas e lavradas –diz a Igreja- as pedras brilhantes, unidas com arte e perfeição, elevarão o templo até o céu”. Os santos são essas pedras escolhidas; trabalhadas e cinzeladas com as tentações, os temores, as trevas e outros sofrimentos internos e externos, tornam-se aptas para serem colocadas nos tronos do paraíso.

Oração
            Jesus, minha esperança, minha felicidade, amor único de minha alma, não mereço suas consolações. Reservai-as para as almas inocentes que sempre vos amaram. Eu, como pecador, sou indigno delas, não vos peço. Eis o que desejo: fazei que eu vos ame e cumpra vossa vontade em toda a minha vida; depois disponde de mim como vos aprouver. Amém.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Aridez espiritual - Consolações

A alma que se dá a Deus experimenta a principio, consolações sensíveis. O Senhor procura atraí-la e desprende-la dos prazeres terrenos, para que ela vá se desapegando das criaturas e unindo-se a ele. Contudo, pode unir-se a ele seguindo um caminho errado, levada mais pelo gosto das consolações espirituais, do que por uma verdadeira vontade de agradar a Deus. Engana-se, pensando que tanto mais o ama, quanto mais gosto encontra nas suas devoções. Daí provém inquietar-se e afligir-se ao ser perturbada nos exercícios de piedade que lhe davam prazer, quando deve fazer outras coisas por obediência, ou por caridade, ou por obrigações do seu próprio estado.

É um defeito universal de nossa fraca humanidade procurar em tudo a própria satisfação. Não encontrando nestes exercícios o prazer desejado, deixa-os ou ao menos os reduz. Reduzindo-os de dia para dia, finalmente deixa todos. Essa desgraça acontece a muitas almas. Chamadas por Deus ao seu amor, começam a marchar no caminho da perfeição e avançam enquanto duram as consolações espirituais. Mas depois, quando elas acabam, abandonam tudo e voltam a vida antiga. É preciso persuadir-nos de que o amor de Deus e a perfeição não consistem em sentir consolações, mas em vencer o amor próprio e fazer a vontade de Deus.
- Diz São Francisco de Sales: “Deus é tão digno de nosso amor quando nos consola e quando nos faz sofrer”

            No tempo das consolações não é grande virtude deixar os gostos sensíveis e suportar as ofensas e contrariedades. No meio das alegrias a alma suporta tudo. Essa paciência nasce, muitas vezes, mais das consolações do que da força do verdadeiro amor a Deus.
            Por isso, com a finalidade de consolidá-la na virtude, o Senhor retira-se e lhe recusa esses gostos sensíveis para destruir todo o apego ao amor próprio que se alimentava com tais satisfações.

            Primeiro sentia gosto em fazer atos de oferecimento, confiança, amor; depois que secou a fonte de consolações, faz estes atos com frieza e dificuldade. Fica aborrecida com os exercícios mais piedosos, com a oração, com a leitura espiritual, com a comunhão. Só vê trevas e temores e tudo lhe parece perdido. Reza, torna a rezar, e se aflige por lhe parecer que Deus não a ouve.

            Vejamos na prática o que devemos fazer da nossa parte. Quando o Senhor, por sua misericórdia, nos consola com visitas consoladoras e nos faz sentir a presença de sua graça, não é bom rejeitar essas consolações, como queriam alguns falsos místicos. Aceitemo-las agradecidos, mas  cuidemos em não nos determos nelas com complacências. A isto São João da Cruz chama de ‘gula espiritual’, o que é defeito e não agrada a Deus.
            Esforcemo-nos em afastar de nossa alma a complacência sensível nessas consolações. Cuidemos especialmente em não pensar que ele usa de tais finezas conosco, porque nos comportamos com ele de forma melhor que os outros. Esse pensamento de vaidade obrigaria o Senhor a retirar-se inteiramente de nós e a nos deixar em nossa miséria. Devemos agradecer a Deus porque essas consolações espirituais são dons que ele nos fez, bem maiores do que todas as riquezas e honras temporais. Não sejamos famintos em saborear essas satisfações sensíveis, mas sejamos humildes, tendo diante dos olhos os pecados da vida passada.
            É preciso crer que essas consolações são pura consequência da bondade de Deus. Talvez o Senhor antes nos conforte para que depois soframos com paciência alguma grande tribulação que deseja nos enviar.
            Por isso, ofereçamo-nos para suportar qualquer sofrimento externo ou interno, enfermidades, perseguições, aridez espiritual, dizendo-lhe: “Meu Senhor, aqui estou. Fazei de mim e de tudo o que tenho o que vos aprouver. Dai-me a graça de vos amar e de cumprir perfeitamente a vossa vontade, e nada mais vos peço!


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Aridez espiritual

Aridez espiritual
            Diz São Francisco de Sales: “É um erro querer medir a nossa devoção através das consolações que experimentamos. A verdadeira piedade no caminho de Deus consiste em ter uma vontade resoluta de fazer tudo que lhe agrada”.
            Deus une a si as almas que ele mais ama através da aridez espiritual. O que nos impede a verdadeira união com Deus é o apego as nossas inclinaçõesdesordenadas.
Por isso, quando Jesus quer atrair uma alma ao seu perfeito amor, procura desprende-la de todos os apegos aos bens criados. Assim a vai afastando dos bens temporais, dos prazeres mundanos, das coisas, das honrarias, dos amigos, dos parentes, da saúde física. Por meio dessas perdas, desgostos, desprezos, mortes e enfermidades, ele a vai desprendendo de todas as coisas criadas para leva-la a colocar no seu Criador todas as suas afeições.

Para afeiçoá-la aos bens espirituais, Deus lhe faz experimentar muitas consolações sensíveis.
Por isso, a alma procura desapegar-se dos prazeres sensuais e até mesmo praticar mortificações. É preciso que seu diretor espiritual a ajude negando-lhe licença de fazer mortificações, ao menos em tudo que pede. Levada por esse entusiasmo sensível, poderia facilmente prejudicar a saúde.

É tática do demônio, vendo uma alma dar-se a Deus e percebendo que Deus a consola como o faz com principiantes, procura fazer-lhe perder a saúde com penitências indiscretas. Depois, vindo as doenças, poderá deixar não só as penitências mas também a oração, a comunhão e todos os exercícios piedosos e voltar a vida antiga.
Por isso, o diretor espiritual desse ser muito sóbrio em conceder licenças a essas almas que começam a vida espiritual e procuram penitências. Procure exorta-las a se mortificarem interiormente, sofrendo com paciência os desprezos e contrariedades, obedecendo aos superiores, refreando a curiosidade dos olhos e dos ouvidos e outras coisas semelhantes. Diga-lhes que depois, quando tiverem adquirido o costume de praticar essas mortificações interiores, poderão praticar as mortificações externas.

É claro o erro daqueles que dizem que as mortificações externas de nada ou pouco servem. Está fora de dúvida que as mortificações internas são necessárias a perfeição. Mas nem por isso deixam de ser necessárias também as externas.
Dizia São Vicente de Paulo que quem não pratica as mortificações externas, não será mortificado nem externa nem internamente. E acrescentava São João da Cruz que não se deve dar crédito a um diretor espiritual que despreza as mortificações externas, ainda que ele fizesse milagres.


A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XVII– Santo Afonso Maria de Ligório