quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Cristo, Ama-lo pela sua paixão

1. Toda santidade e perfeição de uma pessoa consiste em amar a Jesus Cristo, nosso Deus, nosso maior bem, nosso Salvador.
Jesus Cristo mesmo disse: “Quem me ama será amado por meu Pai”
São Francisco de Sales diz: “Alguns põem a perfeição na austeridade da vida, outros na oração, estes na frequência dos sacramentos, aqueles nas esmolas. Enganam-se. A perfeição consiste em amar a Deus de todo coração” Como escreve São Paulo: “Mas sobretudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição”
            A caridade une e conserva todas as virtudes que fazem um homem perfeito. Santo Agostinho exclamava: “Ama e faze o que queres”. A pessoa que ama a Deus, aprende deste amor a evitar o que lhe desagrada e a fazer tudo o que lhe agrada.

Amor Eterno
2. Por acaso, não merece Deus todo nosso amor? Ele nos amou eternamente: “Amo-te com um amor eterno”. Deus diz ao homens:
- “Olhe, fui eu o primeiro a mar você. Você não estava ainda no mundo. O mundo nem existia, e eu já o amava. Eu amo você desde que sou Deus. Amo você, e desde que amei a mim mesmo, amei também você.”
- Santa Inês, virgem, tinha razão quando lhe apresentavam jovens que pretendiam ser seus esposos. Ela dizia:
- “Outro amor me conquistou primeiro. Jovens deste mundo, desistam de pretender meu amor. O primeiro a me amar foi o meu Deus. Amou-me desde toda a eternidade, por isso é justo dar-lhe todos meus afetos, não amar outro senão ele”

3. Os homens deixam-se levar pelas recompensas. Deus quis cativá-los ao seu amor por meio de seus dons.  Disse portanto:
            Quero atrair os homens a me amar com aqueles laços com que se deixam prender, isto é, laços de amor que são exatamente todos os dons feitos por Deus aos homens. Dotou-os de alma com potências perfeitas a sua imagem, memória, entendimento, vontade. O corpo com seus sentidos. Depois criou o céu, estrelas, plantas, mares, rios, fontes, montanhas, metais, frutas e tantas espécies de animais. Deus criou tudo para o homem e quer que este o ame em agradecimento por tantos dons. Santo Agostinho exclamava:
“O céu e a terra e todas as coisas me dizem que eu devo amar-vos. Senhor meu, todas as coisas que vejo na terra e acima da terra me falam e me exortam a vos amar. Todas me dizem que as fizestes por meu amor”
- O Abade Rancé, fundador da Trapa, ficava olhando de sua ermida as colinas, as fontes, as aves, as flores, as plantas e o céu; sentia-se inflamado por Deus em cada uma destas criaturas feitas pelo seu amor.

4. Santa Maria Madalena de Pazzi inflamava-se no amor de Deus quando tinha nas mãos uma bonita flor:
“Meu Senhor pensou em criar esta flor, desde toda a eternidade, por meu amor” Essa flor tornava-se em suas mãos como uma flecha de amor que a feria e unia sua pessoa mais intimamente a Deus.
- Olhando as arvores, as fontes, os regatos, lagos e campos, dizia Santa Tereza: “Todas estas belas criaturas me lembram a minha ingratidão para com Deus. Tocando-as com a bengala, dizia-lhes:
Calem-se, calem-se. Vocês me chamam de ingrato; entendo. Calem-se, calem-se. Não me reprovem mais”

Deus nos deu Seu Filho
5. Mas Deus não se contentou em dar-nos estas belas criaturas. Além disso, para cativar todo o nosso amor, ele deu-se a nós em todo o seu ser. Deus Pai chegou ao extremo de nos dar seu próprio Filho: “Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu seu Filho Único”.
- Vendo-nos mortos e privados de sua graça por causa do pecado, o que fez o Eterno Pai? Pelo amor imenso, ou melhor, pelo amor excessivo que nos tinha, mandou seu querido Filho que pagasse por nossos pecados. Devolveu-nos assim a vida tirada de nós pelo pecado. Como diz São Paulo: “Mas Deus que é rico em misericórdia, pelo excessivo amor que nos amou, quando estávamos mortos por nossos pecados, nos vivificou juntamente com Cristo”
- Dando-nos o Filho, não o perdoando para nos perdoar, deu-nos todos os bens: sua graça, seu amor, o céu. Todos esses bens são certamente menores que o Filho de Deus. “Aquele que não poupou seu próprio Filho mas que o entregou por nós, como não nos dará também com ele todas as coisas?

6. O Filho de Deus, pelo amor que nos tem, deu-se também todos a nós: “Amou-nos e se entregou a si mesmo por nós”. Fez-se homem, vestiu-se de carne, como nós. “O Verbo se fez carne” para nos remir da morte eterna, recuperar-nos a graça divina, o paraíso perdido. Eis aqui um Deus aniquilado! “Esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo tomando a semelhança humana”.

Como retribuir
17. Como vos pagarei, ó Cristo, esse vosso amor? É justo que sangue se pague com sangue. Seja eu banhado com esse sangue e cravado nessa cruz. Recebe-me também em teus braços, ó santa cruz. Alarga-te, coroa de espinhos, para que eu coloque em ti minha cabeça. Cravos, deixai as mãos inocentes de Meu Senhor e transpassai meu coração de compaixão e amor. Jesus, São Paulo, diz que Vossa morte foi para que vos apoderásseis dos vivos e dos mortos, não pelos castigos mas pelo amor: “Cristo morreu e ressuscitou para ser o Senhor dos mortos e dos vivos”.

18. Roubador dos corações, a força de vosso amor estraçalhou nossos corações tão duros. Inflamastes todo o mundo no vosso amor. Senhor da sabedoria, inebriai nossos corações com esse vinho, abrasai-os com esse fogo, feri-os com essa flecha de vosso amor. Tudo me convida a vos amar e a não me esquecer mais de vós.”

19. Para se chegar ao amor perfeito de Cristo é preciso empregar os meios adequados. Eis os meios que nos ensina Santo Tomas:
  • Recordar-se continuamente dos benefícios divinos, gerais e particulares.
  • Considerar a infinita bondade de Deus que está sempre nos fazendo o bem. Sempre nos ama e procura ser amado por nós.
  • Evitar com cuidado tudo o que o desagrada, por mínimo que seja.
  • Renunciar a todos os bens sensíveis deste mundo: riquezas, honras e prazeres dos sentidos.
O padre Thauler acrescenta ainda: meditar sua paixão é um poderoso meio para obter o perfeito amor a Jesus Cristo.

21. “Choro as dores e as humilhações do meu Senhor. O que mais me faz chorar é que os homens, por quem ele sofreu tanto, vivem esquecidos dele” SFAssis Dizia isso, soluçava mais ainda ao ponto de também cair em prantos a pessoa que o interrogava. Quando ouvia o balido de um cordeiro, ou outra coisa que lhe lembrava Jesus Sofredor, vinham-lhe as lágrimas. Estando doente, alguém o aconselhou a ler um livro piedoso. Ele respondeu: “Meu livro é Jesus Crucificado”. Por isso é que exortava seus confrades a pensar sempre na paixão de Jesus Cristo. “Quem não se enamora de Deus, vendo Cristo morto na Cruz, não se abrasará jamais”.


A Prática de amor a Jesus Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório

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