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quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Jesus abandonado


- Meus Apóstolos Me abandonaram.
- Só Pedro, levado pela curiosidade, se disfarçou no meio dos criados.
- Em volta de Mim, apenas falsas testemunhas que acumulavam mentiras sobre mentiras para atiçar a raiva dos juízes iníquos.
- Os mesmos lábios que outrora tanto aclamaram meus milagres, tornam-se hoje meus acusadores.
- Chamam-Me perturbador, profanador do sábado, falso profeta, e a soldadesca excitada por essas calúnias profere contra Mim gritos e ameaças.
- Aqui farei ouvir um apelo aos Meus Apóstolos de então, as Minhas almas escolhidas de hoje.

- Onde estáveis, Apóstolos e discípulos, testemunhas de Minha Vida, dos Meus Ensinamentos, dos Meus Milagres?
- Ai de todos aqueles que Me deviam alguma prova de amor, nenhum ali está para Me defender.
- Estou só, acusado dos mais abomináveis crimes, cercado de soldados que, como lobos vorazes, querem devorar-Me.
- Todos Me maltratam, um Me bate na face, outro cospe em Mim a sua saliva imunda, aquele outro expõe-Me ao escárnio.

- E enquanto Meu Coração se oferece a todos estes suplícios para livrar as almas da escravidão do pecado...
... Pedro constituído por Mim, Chefe da Igreja,
... Pedro, que poucas horas antes prometera seguir-Me até a morte,
... Pedro que tem ocasião de dar testemunho de Mim, responde a uma simples pergunta com uma negação.
- E como a pergunta é repetida e o temor se apodera cada vez mais dele, jura que nunca Me conheceu e que jamais fôra Meu Discípulo.
- Ah, Pedro, juras que não conheces teu Mestre! E não só juras, mas pela terceira vez O renégas com horríveis imprecações.

Almas escolhidas
- Almas escolhidas, medite quão dolorosa é para Meu Coração que arde e se consome de Amor ver-se renegado pelos Seus?
- Quando o mundo se revolta contra Mim e que tantas almas Me desprezam, Me maltratam e procuram matar-Me e que, voltando-Se para os Seus Meu Coração só encontra isolamento e abandono...
Que tristeza e que amargura.

Recorrei a Mim
- A vós, como a Pedro, Ei direi:
- Esquecestes as provas de Amor que vos tenho dado?
- Os laços que vos prendem a Mim?
- As promessas com que tantas vezes protestáveis fidelidade em defender-Me até a morte?
- Se sois fracas e receais ceder ao respeito humano, vinde pedir-Me força para vencer.
- Não vos apoieis sobre vós mesmas, mas recorrei a Mim com confiança e Eu vos sustentarei.

Fugi das ocasiões de pecado
- Se viveis no meio do mundo, cercadas de perigos e ocasiões de pecado, não vos exponhais voluntariamente ao perigo.
- Teria Pedro sucumbido se, resistindo corajosamente, não tivesse cedido a vã curiosidade?
- E vós que trabalhais na Minha Seara ou na Minha Vinha, se, em alguma ocasião vos sentirdes arrastados a ação por uma satisfação humana: fugi.

Trabalhai em comunhão com a Igreja
- Mas se trabalhais puramente por obediência, para Minha Glória e a Salvação das Almas, nada temais:
  • Eu vos defenderei e vós passareis vitoriosamente através do perigo.

Procurai e pensai nas coisas do alto (Colossenses 3)
- Enquanto os soldados Me conduziam a prisão, avistei Pedro no meio dos criados e Meus Olhos fitaram-no; ele olhou para Mim e chorou amargamente seu pecado.
- É assim que fixo Meus Olhos sobre a alma culpada.
- Mas ela? Olhará para Mim? E os nossos olhares se encontrarão sempre?
- Ai, quantas vezes o Meu em vão procura o dela.
- A alma não Me vê, está cega.
- Insisto  com doçura, ela não Me ouve.
- Chamo-a pelo nome, não Me responde.
- Tento acorda-la com alguma tribulação, ela não desperta do seu sono.

Sem fé a razão falha
- Almas que amo, se não olhardes mais para o céu, sereis nesta terra como entes privados de razão.
- Levantai a cabeça para o vosso fim, para a Pátria que vos espera.
- Procurai a Vosso Deus e O encontrareis sempre com os Olhos fixos sobre vós; e no Seu Olhar, Paz e Vida.

16.março.1923 (390-396)
“Apelo ao Amor” A mensagem do Coração de Jesus ao Mundo e Sua Mensageira Irmã Josefa Menéndez da Sociedade do Sagrado Coração.

sábado, 9 de setembro de 2017

Getsêmani e seus ensinamentos


- Vamos ao Getsêmani e enche tua alma com os sentimentos de tristeza e amargura que inundaram a Minha.

Aprendei de Mim (Mateus 11,28)
- Depois de ter pregado as multidões, curado doentes, restituído vista aos cegos, ressuscitado mortos...
- Depois de ter vivido três anos no meio de meus Apóstolos para forma-los e ensinar-lhes Minha Doutrina...
- Acabei finalmente por lhes mostrar com Meu exemplo, a se amarem e a se suportarem mutuamente, a praticarem caridade uns para com os outros, lavando-lhes os pés e tornando-Me seu alimento.

Entrega e Sacrifício
- Era chegada a hora em que o Filho de Deus feito homem, Redentor do gênero humano, ia derramar o Sangue e dar a Vida pelo mundo.
- Foi então que quis pôr-Me em oração e entregar-Me a Vontade de Meu Pai.
- Almas caríssimas, Aprendei de Mim, Vosso Modelo, que a única coisa necessária, quaisquer que sejam as revoltas da natureza, é entregar-vos e sacrificar-vos humildemente com um ato supremo da vontade, ao cumprimento da Vontade de Deus, seja em que circunstância for.

Oração antes da ação
- Aprendei de Mim que toda ação importante deve ser precedida de oração e por ela vivificada, pois é na oração que a alma alcança fortaleza para as horas difíceis.
- É pela oração que Deus se comunica, aconselha e inspira, mesmo sem que a alma o sinta.
- Retirei-Me ao Jardim de Getsêmani, isto é, a solidão.
- Assim a alma há de procurar a seu Deus, longe de tudo, dentro de si mesma.
- Para O encontrar há de impor silencio a todas as agitações da natureza, tantas vezes em luta contra a graça.
- Há de fazer calar os raciocínios do amor próprio ou da sensualidade, que procuram abafar as inspirações da graça e se opõem ao encontro de Deus.

- Tomei comigo Três dos meus Discípulos para ensinar que as Três Potências da Alma devem acompanhar-vos na oração:
  • Recorde-vos a Vossa Memória as Perfeições e os Benefícios de Vosso Deus, Sua Misericórdia, Seu Amor, Seu Poder, Sua Bondade.
  • O Vosso Entendimento procure os meios de corresponder a tantas graças maravilhosas que multiplicou para vós.
  • A Vossa Vontade fortaleça-se com o desejo de fazer mais e melhor por Ele... de trabalhar pela salvação das almas, quer no labor apostólico, quer no silencio e na oração de uma vida humilde e oculta.
- Submetei a Vossa Vontade a Vontade de Deus... Adorai Seus Desígnios para convosco, sejam quais forem... e todo o vosso ser se prostre como convém a criatura diante do Criador.
- Foi assim que Eu Me ofereci para realizar a Obra da Redenção do mundo.

Agonia sem morte (Lucas 22,44)
- No mesmo instante vi cair sobre Mim todos os tormentos da Minha Paixão, as calunias e os insultos, os açoites e a coroa de espinhos, a sede, a cruz.
- Todas estas dores se acumularam diante de Meus olhos e ao mesmo tempo a multidão de ofensas, de pecados e de crimes que se cometeriam no decurso dos séculos.
- Não somente Os vi, mas senti-Me revestido de todos esses horrores.
- E sob este fardo de ignomínias, apresentei-Me a Meu Pai Santíssimo para implorar Misericórdia.
- Então senti precipitar-se sobre Mim a cólera de um Deus ofendido e irritado e ofereci-Me como fiador. Eu, Seu Filho, para aplacar Sua ira e satisfazer a Sua Justiça.
- Mas, sob o peso de tantos crimes, experimentei na Minha natureza humana tal angústia e tão mortal agonia que todo o Meu corpo ficou coberto com um suor de Sangue.
- Oh! Pecadores, que Me fazeis sofrer assim. Dar-vos-á este Sangue salvação e vida? Ou ficará perdido para vós?
- Como exprimir Minha dor, pensando neste suor, nestas angústias, nesta agonia, neste Sangue, inúteis para tantas e tantas almas.
  
Consolar e ser consolado
- Venho revelar-te os sentimentos de Meu Coração, mas também repousar-Me no meio de vós.
- Ah, que alegria Me dão as almas que sabem receber-Me com júbilo... porque as visito ora para consolá-las, ora para nelas procurar consolo. Mas elas nem sempre Me reconhecem, mormente quando tem que sofrer.
“Quando sofres, é Meu consolo e Meu repouso.
Quando repousas, Sou Eu que te guardo” (182)

Desperta, tu que dormes (Efésios 5,14)
- Aproxima-Te de Mim e quando Me vires submerso num oceano de tristeza, vem comigo procurar os três discípulos que deixei a alguma distância.
- Tinha-os escolhido para repousar ao pé deles, associando-os a Minha prece e a Minha Angústia.
- Como dizer o que sofreu o Meu Coração quando, indo procurá-los os encontrei adormecidos?  Que mágoa para quem ama, ver-se só e sem poder confiar nos seus.
- Quantas vezes Meu Coração sofre com esta dor, e quantas vezes procurando alívio junto de suas Almas escolhidas, as encontra adormecidas.
- Em vão tento despertá-las, arrancá-las a si mesmas e as preocupações pessoais, aos entretenimentos inúteis e frívolos. Muitíssimas vezes respondem-Me, com atos, se não com palavras:
  • Agora não posso, tenho muito que fazer, estou muito cansada, preciso de um pouco de sossego.
- Então, insistindo suavemente, digo a essa alma:
  • Vem um momento, vem orar comigo, agora é que tenho necessidade de ti, não receies sacrificar esse descanso por Mim, pois serei Eu tua recompensa.
- Recebo a mesma resposta.
- Pobre alma adormecida, que não pode velar uma hora comigo.
  
É vão o socorro humano (Salmo 107, 13)
- Aprendei de Mim, almas queridas, como é inútil e vão procurar alívio junto das criaturas.
- Ao pé delas, muitas vezes não encontrareis senão acréscimo de sofrimento, pois estão dormindo e não respondem nem a vossa expectativa, nem ao vosso amor.

Meu Pai
- Voltando depois a Minha oração, prostei-Me de novo, adorei o Pai e implorei-Lhe socorro.
- Não Lhe disse: “Meu Deus” mas “Meu Pai”.
- Quando o vosso coração sofre mais, deveis também chamar a Deus Vosso Pai.
- Suplicai-Lhe que vos ajude, expondo-Lhe os vossos sofrimentos, os vossos temores, os vossos desejos, e, com os gemidos da vossa dor, recordai-Lhe que sois sua filha, seu filho.
- Dizei-Lhe:
  • que vosso corpo está extenuado,
  • que vosso coração está opresso até a morte,
  • que vossa alma parece experimentar o suor de sangue.
- Orai com confiança de filha e esperai tudo dAquele que É Vosso Pai.
- Ele próprio vos consolará e vos dará a força necessária para atravessar a tribulação ou o sofrimento, seja este vosso ou das almas que vos são confiadas.
- Minha alma, triste e desamparada ia sofrer angústia ainda mais mortal, pois sob o peso das iniquidades dos homens e em troca de tanto padecimento e de tanto amor só via Eu ultrajes e ingratidões.

Sangue Divino! Méritos infinitos!
- O Sangue que escorria por todos os Meus poros e que daí a pouco havia de jorrar de todas as minhas feridas seria inútil para muitíssimas almas, muitas se perderiam, outras, em maior número, Me ofenderiam, e grandes multidões nem sequer Me conheceriam.
- Eu derramaria Meu Sangue por todas e Meus Méritos seriam oferecidos a cada uma; Sangue Divino! Méritos infinitos! Inúteis entretanto para tantas e tantas almas.
- Sim, por todas derramaria Meu Sangue e todas seriam amadas com grande Amor:
·         Mas para algumas quanto seria mais terno, mais delicado, mais ardente este Amor. Dessas almas escolhidas esperava Eu mais consolo e amor, mais generosidade e abnegação; em uma palavra, mais correspondência as Minhas Bondades.
·         Mas ai! Quantas vi, naquele momento, desviarem-se de Mim; fecharem umas os ouvidos a Minha voz; outras ouvirem-na sem a seguirem; outras, corresponderem por algum tempo, com certa generosidade mesmo, ao Apêlo de Meu Coração, depois adormecerem pouco a pouco, e um dia chegarem a dizer-Me por sua obras:
o   Já trabalhei bastante, fui fiel aos pormenores de minhas obrigações, dominei minha natureza, vivi na abnegação; agora preciso de um pouco mais de liberdade, já não sou criança. Tantas privações, tanta vigilância, não são mais necessárias, bem posso largar tal coisa que me incomoda, etc...
- Pobre alma! Começas a adormecer?
- Dentro em pouco voltarei e, no teu sono, não me ouvirás.
- Virei oferecer-Te Minha Graça e não a receberás.
- Terás algum dia força para despertar?
- Não é para temer que, tendo ficado por longo tempo sem alimento, te enfraqueças e não possas mais sair de tua letargia.
- Almas que amo, sabei que muitos foram surpreendidos pela morte no meio de profundo sono.
- Onde e como acordaram?
- Tudo isso estava diante de Meus olhos e de Meu Coração.
- Que fazer?
- Recusar?
- Pedir ao Pai que Me livrasse dessa angústia?
- Representar-Lhe a inutilidade de Meu Sacrifício para tantas almas?
- Não!
- Submeti-Me novamente a Sua Vontade Santíssima, aceitei o Cálice para esgotá-lo até as fezes.
  
Não recuse o sofrimento
- Assim procedi para ensinar-Vos a não recuar diante do sofrimento.
- Nunca julgueis inútil, mesmo se não virdes o seu resultado:
  • Submetei o vosso juízo e deixai que a Vontade Divina opere e se cumpra em vós.
- Eu não quis recuar nem fugir, e, sabendo que ali naquele Jardim viriam prender-Me os inimigos. De lá não arredei o pé.

Os traidores
- Depois de ter sido reconfortado pelo Enviado de Meu Pai (Lucas 22,43), vi que se aproximava Judas, um dos Meus Doze Apóstolos e atrás dele vinham os que haviam de apoderar-se de Mim.
- Estavam armados com bordões e pedras, traziam correntes e cordas para Me prender e amarrar.
- Levantei-Me e indo-lhes ao encontro, disse-lhes: “A quem procurais?”
- Então Judas, pondo as mãos sobre os Meus ombros, beijou-Me!
- Ah! Judas, que fazes e que significa este ósculo?
- A quantas almas não posso Eu dizer também. Que fazeis? Por que Me atraiçoais com um ósculo?

Reuniões perigosas
- Alma que amo, que acabas de Me receber, que Me repetes os protestos do teu amor; mal sais da Minha presença, logo Me entregas aos Meus inimigos?
- Bem sabes que nessa reunião que te atrai, há conversas que Me ferem e tu, que Me recebeste pela manhã e Me receberás talvez no dia seguinte, perdes ali a brancura preciosa de Minha Graça.

Negócios ilícitos
- Porque levas adiante esse negócio que te enegrece as mãos? Direi a outra.
- Não sabes que não é licito o modo por que adquires essa fortuna, como te elevas a essa posição e como procuras esse bem estar?
- Tu Me recebes e Me beijas como Judas, depois, dai a alguns instantes, ou quando muito, daí a algumas horas, és tu mesmo que dás sinal aos Meus inimigos para que me reconheçam e se apoderem de Mim.
  
Amizade perigosa
- Também Me dirijo a ti, alma Cristã, que Me atraiçoas com essa amizade perigosa.
- Não só Me acorrentas e Me lapidas, mas és causa de que outra Me atraiçoe também.
- Por que Me entregas assim? Tu que Me conheces e que mais de uma vez te tens gloriado da tua piedade e da tua caridade?
- Sem dúvida, poderias recolher com elas grande mérito mas na realidade, que são senão véu que encobre tua malícia?

Almas escolhidas
- Amigo, por que vieste?
- Judas! Com um beijo traiste o Filho de Deus, Teu Mestre e Teu Senhor. Aquele que te ama e está pronto a te perdoar ainda... tu, um dos Meus Doze... um dos que se sentaram a Minha Mesa e aos quais lavei Eu próprio os pés.
- Quantas vezes posso e devo falar assim as almas mais caras a Meu Coração.
- Alma querida! Porque te deixas arrastar por esta paixão?
- Porque lhe deixas campo livre?
- Não está sempre em teu poder te livrares dela, mas só te peço combate-la, lutar e resistir-lhe.
- Que são os prazeres momentâneos? Senão os trinta dinheiros por que Judas Me vendeu e que só serviram para perdição?
- Quantas almas Me te vendido e Me venderão ainda pelo preço vil de um deleite passageiro.
- Ah! Pobres almas. A quem procurais?
- A Mim? A este Jesus que conheceis e que amáveis?

Vigiai e orai (Mateus 26,41)
- Sim, trabalhai sem descanso a fim de que vossos defeitos e vossas más inclinações não cheguem a se transformar em hábitos.
- A erva dos campos dever ser ceifada todos os anos e, até mesmo, em cada estação.
- É preciso lavrar a terra para fortifica-la e arrancar incessantemente as ervas daninhas.
- Do mesmo modo, a alma deve vigiar e endireitar com cuidado as suas tendências defeituosas.
- Nem sempre é uma falta grave que abre caminho a desordens piores.
- O ponto de partida das maiores quedas é frequentemente pouca coisa:
  • Um pequeno gozo;
  • Um momento de fraqueza;
  • Um consentimento, talvez licito, mas pouco mortificado;
  • Um prazer legitimo em si, mas que não convém.
- Tudo isso aumentando e multiplicando-se, a alma vai caindo na cegueira, a graça tem menos preponderância, a paixão se fortifica e afinal triunfa.
- Ah! Como é triste para o Coração de Deus, cujo Amor é infinito, ver tantas almas aproximarem-se insensivelmente no abismo.

Balança do Amor
- Toma a Cruz e nada temas.
- Nunca ultrapassará tuas forças, pois Eu a medi e a pesei na Balança do Amor.
- Ah! Sabes quanto te amo e quanto amo as almas. É por elas que Me sirvo de ti, pois embora sejas muito pequena e pouco valhas, utilizo tua pequenez conservando-te unida a Meus Méritos e a Meu Coração.
- Fica com Minha Cruz e sofre pelas almas e por amor de Mim.

Pecado, arma contra Deus
- Como as almas que Me ofendem gravemente, Me entregam aos inimigos a fim de que Me levem a morte, ou antes, são elas que se tornam inimigas e a arma de que se servem contra Mim é o pecado.

Almas de eleição
- Não se trata porém sempre de grandes quedas.
- Há também almas, e almas de eleição que Me atraiçoam por:
·         suas faltas habituais,
·         suas más inclinações não combatidas,
·         suas condescendências com a natureza imortificada,
·         suas faltas de caridade, de obediência, de silêncio, etc...
- E se Meu Coração sofre com os pecados e a ingratidão do mundo, quanto mais, se são ofensas vindas de almas muito amadas.
- Se o beijo de Judas Me causou tanta dor, foi justamente por ser dos Meus Doze e que dele, como dos outros, esperava Eu mais amor, mais consolo, mais delicadeza.
- Ó vós, que escolhi para lugar de Meu repouso e Jardim das Minhas Delicias, de vós também espero muito mais amor, ternura, delicadeza, que de outras que não Me são tão intimamente unidas.
- Sêde o bálsamo que cicatriza as Minhas feridas, enxugai Minha Face manchada e desfigurada.
- Ajudai-Me a esclarecer as almas cegas que, na escuridão da noite, Me prendem e Me amarram para Me conduzirem a morte.

Sou Eu, aquele que te ama
- Não Me deixeis só.
- Acordai e vinde, porque se aproximam os Meus inimigos.
- Quando os soldados avançaram para Me prender, disse-lhes:
  • Sou Eu! É a palavra que repito a alma que se acerca do perigo e da tentação; Sou Eu sim, Sou Eu! Tu vens para Me trair e Me entregar.
- Não importa!
- Vem, Sou Teu Pai e se quiseres, ainda estás a tempo:
  • Perdoar-te-ei; e ao invés de Me amarrares tu, com teus pecados; Eu é que te prenderei com os laços do Meu Amor.
- Vem, Sou Aquele que te ama. Aquele que derramou todo o Sangue por ti.
- Tenho compaixão de tua fraqueza e espero-te, com desejo ardente de te acolher em Meus Braços.
- Vem, alma Minha Esposa, Meu Sacerdote, Sou a Misericórdia infinita.
- Não te hei de castigar, não te hei de repelir, mas abrir-te-ei Meu Coração e Te amarei com mais ternura ainda.
- Lavarei tuas manchas no Sangue de Minhas Chagas.
- Tua beleza recobrada causará admiração ao céu e Meu Coração repousará em ti.

Apelo as almas
- Ah! Que tristeza, quando, depois de um apelo destes a almas cegas e ingratas, elas Me ligam e Me conduzem a morte.
- Depois de Me ter dado o beijo da traição, Judas saiu do Jardim e compreendendo o alcance de seu crime, caiu em desespero.
- Quem poderá calcular a Minha Dor quando vi Meu Apostolo correr para a perdição eterna?
- Entretanto soara a hora e, dando inteira liberdade aos soldados, entreguei-Me com docilidade de cordeiro.
- Arrastaram-Me logo a casa de Caifaz onde fui recebido com zombarias e insultos, onde um dos criados Me deu a primeira bofetada.
- A primeira bofetada.
- Compreende isto bem: Acaso Me fez sofrer mais que os golpes da flagelação? Não, mas nesta primeira bofetada, Eu vi o primeiro pecado mortal de tantas almas que tinham, vivido até então na Minha Graça.
- E depois do primeiro, quantos outros, e quantas almas arrastadas pelo exemplo ao mesmo perigo.
- Talvez a mesma desgraça: a desgraça de morrer em pecado.

“Apelo ao Amor” A mensagem do Coração de Jesus ao Mundo e Sua Mensageira Irmã Josefa Menéndez da Sociedade do Sagrado Coração 12 a 15.março.1923. (378)

Veja também: 

domingo, 9 de abril de 2017

Metanoia Cristã


Significado de Metanóia (Mind Set):
  • Mudança, transformação de caráter ou na maneira de pensar.
  • Mudança que resulta ou é motivada por algum tipo de arrependimento.
  • Remorso por alguma falha; penitência.
  • Modificação espiritual; conversão.
  • Modo novo de conceber ideias, de se comportar, de enxergar a vida e a realidade.
Esperança no mundo
- A Paixão de Nosso Divino Redentor deixa uma lição para nós:
  • Aqueles que, por princípios mundanos, têm como ideal obter aplauso, colocando sua esperança na aprovação dos homens, erram, porque cometem a loucura de escolher para si uma situação estável.
- A Paixão de Nosso Senhor nos mostra, de maneira eloquente, o quanto é preciso pôr nosso empenho em conhecer, amar e servir a Deus com “todo seu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento e com toda a tua força e o teu próximo como a ti mesmo” Marcos 12, 30-31, pouco nos importando se nos atacam ou nos elogiam, se nos recebem ou nos repudiam, mas, isto sim, se agradamos a Deus com a nossa forma de proceder.
- Ao sermos Batizados nos comprometemos –seja por nós mesmos ou na pessoa de nossos padrinhos- a renunciar ao demônio, ao mundo e a carne e ficarmos marcados com o sinal do combate.
- Não firmamos, em nenhum momento, o propósito de nos apoiarmos no aplauso dos outros. Assim sendo, devemos, sempre, nos lembrar dessas promessas de luta, que exigem de nossa parte a determinação de enfrentar todas as batalhas que tais inimigos, por nós rejeitados no Batismo, vão se apresentando no decorrer desta peregrinação.

A Cruz
- A Cruz, sinal de ignominia por constituir o pior castigo, o suplício mais horrível daqueles tempos da Encarnação de Jesus, considerado pelos Judeus como ‘Maldição Divina” Dt 21,23 e pelos romanos como infamante, a tal ponto que não era aplicado a um cidadão do Império, sendo reservado apenas aos escravos e aos criminosos mais comuns.
- No entanto, tão poderoso é este Rei Jesus que, posto nesse pedestal de humilhação, Ele o transforma em trono de glória!
- Hoje em dia, ostentar a Cruz ao peito é uma honra, e nos admiramos ao vê-la sobre as coroas ou no alto das catedrais e dos edifícios eclesiásticos:
  • É a exaltação da Cruz.
- Ora, sendo participes da vida divina, pela graça, somos chamados a trilhar a mesma via do Rei dos reis, sem nunca descer, subir para chegar ao Céu, cujas portas nos serão abertas, não por nossos méritos, mas pelos de Nosso Redentor (Metanóia).


Pela Cruz alcançamos a Luz
- Contrário a certa mentalidade muito alastrada, não é possível abolir a Cruz da face da Terra, pois, em geral, todo ser humano sofre.
- A dor é nossa companheira e só deixará de existir no Paraiso Celeste.
- É neste contexto que é imprescindível ao homem compreender o verdadeiro valor do sofrimento (Metanóia), pois uma equivocada compreensão do sofrimento leva alguns a caírem no:
  • Abatimento,
  • Revolta contra a providência,
  • Querer esquivar-se de carregar a própria cruz, cuja tentativa se torna inútil, tornando-a mais pesada, acrescentando ainda o ônus da inconformidade com a vontade de Deus, que conhece e permite cada uma de nossas angústias.
Valor da luta
- Compenetremo-nos de que a dor encerra inúmeros benefícios para nossa salvação:
  • Poderoso meio de nos aproximarmos de Deus. (Metanóia).
- Desde antes da queda, Anjos e homens, por terem sido criados em estado de prova, tem a tendência de fechar-se e esconder-se sobre si (conf Gn 3, 8-10), quando deveriam estar constantemente abertos para Deus.
- E é nisto que consiste a prova do entendimento e a compreensão de nossa realidade como Batizados, filhos de Deus e de sermos chamados de Cristãos (Metanóia).
- As lutas, reveses e aflições surgidas em nosso caminho são elementos eficazes para dirigir nosso espírito ao Bem infinito e escancarar para Ele a porta de nossa alma.
- Nessas horas experimentamos o poder da oração, sentimos nossa total dependência de Deus e nos colocamos em suas mãos sem reservas, a procura de amparo e força.
- O sofrimento pode receber o título de bem aventurança que nos faz merecer, já neste mundo, a recompensa de libertar-nos de nosso egoísmo e de vivermos voltados para Deus. Ó dor, bem aventurada dor!
- Em sua Bondade infinita, o Senhor nos “cumula de tribulações na Terra para nos obrigar a buscar a felicidade no Céu” diz Santo Antônio Maria Claret.
- O sofrimento constitui-se, então, um meio infalível de preparação para conhecer, amar e contemplar a Deus face a face.

Glória comprada pelo sofrimento
- O Verbo onipotente, Unigênito do Pai, ao Se encarnar quis passar pelas vicissitudes da condição humana, para nos dar exemplo de paciência.
- Sua Alma Santíssima que desde o primeiro instante da concepção, já possuía a glória, e esta deveria, naturalmente, refletir-se em sua carne; mas a relação natural entre alma e corpo n’Ele estava submetida a sua Divina Vontade, a qual aprouve suspender esta lei, realizando um milagre contra Si mesmo, pois preferiu tomar um corpo padecente a fim de que obtivesse com maior honra a glória do Corpo, quando a merecesse pela Paixão.
- Ele assumiu aquelas deficiências corporais derivadas do pecado original como o cansaço, a fome, a sede e a morte.
- Jesus visava apontar o combate da Cruz como causa de elevação para todos nós, Batizados, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo (conf Rm 8,17). (Metanóia).
- Tão excelente é o sacrifício de nosso Salvador, oferecendo-Se a Si mesmo ao Pai como Vitima perfeita, que os efeitos da Paixão excedem em muito a dívida do pecado. Diz o Padre Garrigou-Lagrange:
“Deus Pai pediu a seu Filho:  um ato de amor que Lhe agrada mais do que Lhe desagradam todos os pecados juntos;
um ato de amor redentor, de um valor infinito e superabundante”
Jesus lhe ofereceu o sofrimento e morte na Cruz.

O combate do Católico é sua glória
- Somos combatentes (Metanóia).
- Não fomos feitos para apoiar aqueles que põe sua esperança no mundo, mas para defender Nosso Senhor Jesus Cristo.
- O mundo só nos interessa como objeto de conquista para O Reino de Deus, pois queremos ser apóstolos, a fim de que todos os homens experimentem nossa alegria de cristãos. (Metanóia).
- Alegria proveniente da certeza (Metanóia), infundida pela fé na alma, de um dia recuperar o corpo em estado glorioso e viver a eternidade feliz no convívio com Deus, com Maria Santíssima, com os Anjos e com os Santos.
- A convicção (Metanóia) de que a Cruz conduz a Luz, isto é, a vitória e ao triunfo final, torna a alma equilibrada, calma e serena, e dá forças para encarar a morte com confiança, sabendo que no outro lado estará Aquele que por nós morreu na Cruz, pronto a nos receber (Metanóia).
- E agora? Estou preparado para a Metanóia? Ou seja:
  • Mudança,
  • transformação de caráter,
  • maneira de pensar,
  • modificação espiritual,
  • conversão. 
Metanóia de Pedro
- A famosa frase de Santo Agostinho:
“Crer para entender e entender para crer”
resume uma verdadeira Metanóia que aconteceu com Pedro; vejamos o relato em João 13, 6-9:
- “Jesus coloca agua numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxuga-los com a toalha que estava cingido. (Traje e função dos escravos, não dos senhores ISm 25,41).
Chega, então, a Simão Pedro, que lhe diz:
- Senhor, tu, lavar-me os pés?
Respondeu Jesus:
- O que faço, não compreenderás agora, mas o compreenderás mais tarde.
Disse-lhe Pedro:
- Jamais me lavarás os pés!
Respondeu Jesus:
- Se Eu não te lavar, não terás parte comigo.
Disse-lhe Pedro:
- Senhor, não apenas meus pés, mas também as mãos e a cabeça”

- Por não estarmos prontos, podemos voltar nas decisões tomadas; Deus purifica nosso entendimento quando cremos mas ainda não entendemos.
- Essa foi a Metanóia de Pedro: por crer em Jesus aceitou sua proposta mesmo ainda não entendendo.

- Jesus ‘sentiu’ e ‘experimentou’ toda repugnância e dor que haveremos de ‘sentir’ e ‘experimentar’ durante todo nosso processo de Metanóia (conversão).
“Não creias porém que deixei de sentir então repugnância e dor. Pelo contrário quis que a minha natureza humana experimentasse todas as que vós mesmos experimentais, a fim de que meu exemplo vos fortificasse em todas as circunstancias de vossa vida.
Também quando soou para Mim aquela hora dolorosíssima de minha Paixão, que Eu poderia tão facilmente evitar, abracei-a amorosamente para:
  • cumprir a Vontade do Pai,
  • reparar Sua Glória,
  • expiar os pecados do mundo,
  • comprar a salvação de muitas almas.
Jesus a Santa Josefa; Apelo ao Amor pg 414

Minha Metanóia
- Descreva em seu diário espiritual quais são as repugnâncias que sua natureza humana sente quando se fala de uma verdadeira conversão ao cristianismo.
- Quais as renúncias que devo proceder?
- O que me impede de ser humilde?
- O que me impede de perdoar?
- O que me impede de Amar até o extremo, como Jesus amou?
- Se voluntariamente passei a maior parte de minha vida na impiedade ou na indiferença e percebo que a eternidade já esta as portas, o que me impede de implorar o perdão?
- Qual respeito humano sinto como uma ‘repugnância’ que me está impedindo de me unir ao Senhor?
“Enquanto tiver o homem um sopro de vida, poderá ainda recorrer a Misericórdia e implorar o perdão”
Jesus a Santa Josefa; Apelo ao Amor pg 418
- Olhemos para o resultado e a recompensa que haveremos de receber na eternidade.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Mérito no sofrimento (Santo Afonso)

Mérito no Sofrimento
6. Quantos méritos se podem ganhar só em suportar com paciência as doenças! Suportando com paciência as dores de nossas doenças, tecemos uma grande parte e talvez a maior parte da coroa que Deus nos prepara no céu.
- S.Liduvina, depois de ter suportado tantas doenças, tão dolorosas, desejava morrer mártir por Jesus Cristo. Um dia, suspirando por esse martírio, entendeu que uma bela coroa, ainda inacabada, estava sendo preparada para ela. Ansiosa para que fosse terminada, suplicou ao Senhor o aumento de suas dores. Jesus a ouviu... sofreu mais ainda e pouco depois morreu.

            7.Para as pessoas que amam ardentemente a Jesus Cristo, como são leves e agradáveis as dores e os desprezos! Por isso os mártires iam ao encontro das torturas, unhas de ferro, chapas incandescentes e espadas, com tanta alegria.
- S.Prosdócimo, mártir: “Atormentem-me quanto quiserem, mas fiquem sabendo que para quem ama a Jesus Cristo não existe coisa mais desejável do que sofrer por seu amor”
- S.Gordiano: “Tu que me ameaças com a morte, mas o que me desagrada é que não posso morrer por Jesus Cristo senão uma só vez”.

            Mas, pergunto eu, por que os mártires falavam assim? Porque eram insensíveis aos sofrimentos ou tinham perdido o juízo?
- Não, responde São Bernardo, de maneira alguma, “Não foi a loucura que fez isso, mas sim o amor”. Eles não eram loucos. Sentiam as dores dos tormentos, mas porque amavam a Deus, consideravam grande vantagem sofrer e perder tudo, até mesmo a própria vida, por amor de Deus.

Nossa morte
            8.Principalmente no tempo da doença, devemos estar prontos para aceitar a morte, aquela morte que é da vontade de Deus. Temos de morrer. Nossa vida vai terminar na última doença e não sabemos qual delas nos levará a sepultura. Portanto, é necessário que nos preparemos em todas as enfermidades para abraçar a morte que Deus nos tem destinado.
- Algum doente poderá dizer:
- Mas eu fiz tantos  pecados e nenhuma penitência! Queria viver, não por viver, mas para dar alguma satisfação a Deus antes de morrer.
- Dize-me, meu irmão,  como sabes que, vivendo, farás penitência e não te comportarás pior que antes? Neste momento podes esperar que Deus te tenha perdoado. Mas que melhor penitência do que aceitar com resignação a morte, se Deus assim o quer?
- S.Luis Gonzaga que morreu aos 23 anos, abraçou a morte alegremente, dizendo: “Encontro-me agora, assim espero, na graça de Deus. Mais tarde não sei o que será de mim. Morro contente, se nesta hora Deus quiser me chamar para a outra vida.
- S.João A’Vila dizia que uma pessoa, encontrando-se com boas disposições, mesmo medíocres, deve desejar a morte par sair do perigo em que sempre vivemos neste mundo, de poder pecar e perder a graça de Deus.

            9.Devido a nossa fragilidade, não podemos viver nesta terra sem cometer, ao menos, pecados veniais. Por isso, ao menos, por esse motivo, de não ofender a Deus, deveríamos abraçar com alegria a morte.
- Se amamos a Deus de verdade, devemos ardentemente desejar vê-lo e amá-lo com todas as forças do céu. Isso ninguém pode fazer perfeitamente nesta vida. Mas, se a morte não nos abre a porta, não podemos entrar no paraíso.
- S.Agostinho: “Morra eu, Senhor, para vos ver”.
- Senhor, fazei-me morrer porque, se não morro, não posso vos amar e vos ver face a face.

A pobreza
            10.Precisamos praticar a paciência, suportando a pobreza.
- É certo que é muito necessário praticar a conformidade, quando nos faltam os bens materiais.
- S.Agostinho: “Quem não tem Deus, não tem nada; quem tem Deus, tem tudo”. Possuindo Deus e estando unido a sua vontade, encontramos nele todos os bens.
- S.Francisco: descalço, vestido com uma roupa pobre, pobre de tudo e que ao dizer: “Meu Deus e meu tudo”, achava-se o mais rico de todos os reis da terra. Chama-se pobre quem deseja bens que não possui.
Mas quem não deseja nada e está contente com sua pobreza, é perfeitamente rico.
- S.Paulo “Não tendo nada, mas possuindo tudo” IICor 6,10. Quem ama a Deus de verdade, diz quando lhe faltam os bens temporais: “Meu Jesus, só tu me bastas” e fica contente.
            Os santos não só tiveram paciência na pobreza, mas procuraram também desfazer-se de tudo, para viverem desapegados e unidos só a Deus. Se não temos o espirito de renunciar a todas as coisas do mundo, ao menos contentemo-nos com a situação em que o Senhor nos quer. Não tenhamos ansiedade para adquirir as riquezas da terra, mas sim as do céu, imensamente maiores e eternas. Convençamo-nos do que diz Santa Tereza: “Quanto menos tivermos aqui, mais possuiremos lá”

            11.S.Boaventura: A abundância dos bens temporais é um empecilho para a alma, impedindo-a de voar para Deus. Pelo contrário, escreve S.João Climaco que a pobreza é um meio de caminhar para Deus sem impedimentos.
“Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” Mt 5,3 Para as outras bem aventuranças, dos mansos, dos puros de coração, está prometido o céu, isto é, a felicidade do céu é ainda nesta vida: ‘deles é o reino dos céus’. Ainda nesta vida os pobres gozam de um paraiso antecipado. “Pobres de espírito” quer dizer: não só são pobres das coisas da terra, mas também não as cobiçam. Vivem contentes, possuindo o que lhes basta para se alimentar e se vestir. “Tendo, pois, de que nos sustentar e cobrir, contentemo-nos com isto” ITm6,8
- S.Lourenço Justiniano: “Feliz pobreza, que nada possui e nada tem! É sempre feliz e sempre abundante; todos os incômodos que experimenta faz com que sirvam para o bem da alma”
- S.Bernardo: “O avarento está sempre faminto como um mendigo, nunca chega a ficar satisfeito com os bens que deseja. O pobre, como senhor de tudo, os despreza, pois não deseja nada”

            12.Se a pobreza não fosse um grande bem, Jesus Cristo não a teria escolhido para si, nem a teria deixado em herança para os seus preferidos. De fato, os santos, vendo Jesus tão pobre, amaram tanto a pobreza.
- O próprio São Paulo nos alerta contra a cobiça de enriquecimento como laço do demônio para perder os homens: “Porque os que querem fazer-se ricos, caem na tentação e no laço do demônio e em muitos desejos inúteis e perniciosos, que submergem os homens no abismo da morte e da perdição”.
- Deus só nos baste! Bastem-nos os bens que ele nos dá. Alegremo-nos de sermos pobres quando nos faltar o que queríamos. Aí é que está o mérito: Não é pobreza que é considerada virtude, mas sim o amor a pobreza.
- Muitos são pobres, mas porque não amam a sua pobreza, não tem nenhum mérito.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XIV– Santo Afonso Maria de Ligório

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Coração manso (Santo Afonso)

Quem ama a Jesus Cristo, não se irrita com o próximo
1. A virtude de não se irritar nas contrariedades que acontecem, é filha da mansidão. Por ser uma virtude que deve ser continuamente praticada por quem vive no meio dos homens, trataremos aqui apenas de alguns pontos mais particulares, mais uteis na prática.

            2. A humildade e a mansidão foram as virtudes mais estimadas por Jesus Cristo. Por isso ele disse aos seus discípulos: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” Mt11,29.
- Nosso redentor foi chamado cordeiro: “Eis o Cordeiro de Deus” Jo1,29, não só pelo sacrifício que devia fazer na cruz para satisfazer pelos nossos pecados, mas também pela mansidão manifestada em toda sua vida, especialmente na sua paixão. Na casa de Caifás, recebeu uma bofetada daquele servo que, ao mesmo tempo, o tratava como um atrevido: “Assim respondes ao pontífice?” Jesus só disse estas humildes palavras: “Se falei mal, dize-me em que; se falei bem, por que me bates?” Esta mansidão ele continuou a vive-la até a morte. Pregado na cruz, enquanto todos caçoavam e praguejavam, ele apenas dizia ao Pai Eterno que lhes perdoasse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” Lc23,34

Coração manso
            3. Como são caros a Jesus Cristo os corações mansos. Recebendo ofensas, desprezos, calúnias, perseguições e até mesmo pancadas e ferimentos, não se irritam contra quem os injuria ou maltrata.
“Sempre lhe agradaram as súplicas dos mansos” As eles, de modo especial, está prometido o céu”: “Bem aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra”.
- Padre Alvarez dizia que o paraíso é a pátria dos desprezados, perseguidos e oprimidos. A eles, e não aos orgulhosos, que são honrados e estimados pelo mundo, está reservada a posse daquele reino eterno.
- As pessoas bondosas não só alcançarão a felicidade eterna na outra vida, mas já nesta terra gozarão de uma grande paz. Isso é verdade, porque os santos não guardam ódio de quem os maltrata, mas os amam mais do que antes. O Senhor, em recompensa a sua paciência, aumenta-lhes a paz interior.

- S.Tereza: “As pessoas que falam mal de mim, parece que eu as amo com maus amor”. Mais tarde, disseram dela: “As ofensas eram para ela alimento de amor”, isto é, as ofensas davam-lhe mais oportunidade para mais amar aquelas pessoas que mais a ofendiam.
- Tal mansidão só possui quem tem grande humildade e pouco conceito de si mesmo, pelo que julga merecer todo o desprezo. Por isso mesmo, os orgulhosos são sempre raivosos e vingativos, porque julgam-se bons e acreditam ser merecedores de toda a honra.

Morrer no Senhor
            4. “Bem aventurados os que morrem no Senhor”. É preciso morrer no Senhor para ser bem-aventurado, para gozar a felicidade desde esta vida. Esta felicidade é a que podemos ter já antes de ir para o céu, muito menor na certa do que a alegria do céu, mas que supera a todos os prazeres sensíveis desta vida: “A paz de Deus, que vai além de toda a compreensão, guarde vossos corações e vossos espíritos” Fl 4,7
            Para alcançar essa paz, mesmo no meio das ofensas e calunias, é preciso estar morto no Senhor. O morto, ainda que maltratado e desprezado pelos outros, não se ressente. Também a pessoa manda de coração, como o morto vê nem ouve, procura suportar todos os desprezos. Quem ama de coração a Jesus Cristo chegará facilmente a isso.
            Quem ama de coração a Jesus Cristo chegará facilmente a isso. Unido inteiramente com a vontade de Deus, com a mesma paz e a mesma tranquilidade, recebe as coisas favoráveis e as desfavoráveis, as alegrias e as tristezas, as injurias e os louvores. Assim fez São Paulo que podia dizer: “Estou cheio de alegria no meio de minhas tribulações”.
            Feliz aquele que atinge esse grau de virtude! Goza de uma paz contínua, que é bem maior que os outros bens do mundo.
S.Francisco Sales: “Que vale todo o mundo em comparação com a paz do coração?” Realmente, o que adiantam todas as riquezas e todas as honras do mundo para quem vive inquieto e sem paz no coração?

            5. Para estarmos sempre unidos com Jesus Cristo, é preciso fazermos tudo com tranquilidade, sem nos inquietarmos com alguma dificuldade que se apresente: “O Senhor não está na agitação” Deus não mora nos corações agitados!
- Vejamos os belos ensinamentos que nos dá o mestre da mansidão, S.Francisco Sales: “Nunca vos irriteis, nem mesmo abrais a porta a cólera por qualquer motivo. Se ela entrar em nós, já não poderemos expulsá-la nem dominá-la, quando quisermos. Os meios para isso são:
1º.    Afastar imediatamente a cólera, desviando a atenção para outra coisa e calando-se.
2º.    Imitando os apóstolos quando viram a tempestade, recorrer a Deus a quem pertence pôr o coração em paz.
3º.    Se a cólera, por vossa fraqueza, já colocou o pé em vosso coração, esforçai-vos por vos tranquilizar e, depois, praticai atos de humildade e de mansidão para com a pessoa com quem vos sentis irritados. Tudo isso deve ser feito com suavidade e sem violência, porque é importante não irritar mais as feridas”.

- O próprio São Francisco de Sales dizia que precisou se esforçar durante toda a sua vida para vencer duas paixões que o dominavam: a cólera e o amor. Para vencer a paixão da cólera, confessava ter se esforçado durante vinte e dois anos. Quanto a paixão do amor, tinha procurado modificar o objeto, deixando as criaturas e dirigindo todos os seus afetos a Deus. Desse modo alcançou uma paz interior tão grande que até mesmo exteriormente a demostrava, apresentando quase sempre um rosto sereno e um sorriso nos lábios.

A Prática de amor a Jesus Cristo Cap XII– Santo Afonso Maria de Ligório

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Maria, 3ª verdade da devoção

Devemos esvaziar-nos do que há de mau em nós
§78. Terceira Verdade. As nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo mau fundo que há em nós.
- Quando se deita água límpida e clara numa vasilha que não tem bom cheiro, ou vinho numa pipa cujo interior está azedado por outro vinho, que teve anteriormente, a água clara e o vinho bom ficam estragados e ganham facilmente o mau cheiro.
- Do mesmo modo, quando Deus infunde em nossa alma, corrompida pelo pecado original e atual, as suas graças e orvalhos celestes, ou o vinho delicioso do seu Amor, assim também os Seus dons são ordinariamente manchados e estragados pelo mau fermento e mau fundo que o pecado deixou em nós.
- Os nossos atos, mesmo as virtudes mais sublimes, disso se ressentem.
- É, pois, da mais alta importância, para adquirir a perfeição - que só se alcança pela união com Jesus Cristo - esvaziarmo-nos do que há de mau em nós. Doutra forma, Nosso Senhor, que é infinitamente puro e que odeia infinitamente a menor mancha que vê na alma, afastar-nos-á de Seus olhos e não se unirá a nós.

Para nos despojar de nós mesmos é preciso:
§79. Em primeiro lugar, conhecer bem, pela luz do Espírito Santo:
  • o nosso fundo mau,
  • a nossa incapacidade para qualquer bem útil à salvação,
  • a nossa fraqueza em todas as coisas,
  • a nossa permanente inconstância,
  • a nossa indignidade de toda a graça,
  • a nossa iniquidade em toda a parte.
- O pecado dos nossos primeiros pais arruinou-nos a todos quase por completo, azedou-nos, corrompeu-nos, fez-nos inchar como o fermento faz à massa em que é lançado.
- Os pecados atuais que cometemos, quer mortais, quer veniais, embora tenham sido perdoados, aumentaram-nos a concupiscência, a fraqueza, a inconstância e corrupção, deixando maus vestígios na nossa alma.
- O nosso corpo é tão corrupto que é chamado pelo Espírito Santo corpo de pecado (Rm 6, 6; Sl 50, 7), concebido no pecado, alimentado no pecado, capaz de todo pecado e sujeito a mil enfermidades.
- Corrompe-se de dia a dia, e gera somente sarna, vermes e corrupção.
- A nossa alma, unida ao corpo, tornou-se tão carnal que chega a ser chamada carne:
Toda a carne tinha corrompido o seu caminho” (Gn 6, 12).
- A nossa única herança é:
·         o orgulho e a cegueira de espírito,
·         o endurecimento do coração,
·         a fraqueza e a inconstância da alma,
·         a concupiscência,
·         a revolta das paixões e as doenças do corpo.
- Somos, naturalmente:
·          mais orgulhosos que os pavões,
·         mais apegados à Terra que os sapos,
·         piores que os bodes,
·         mais invejosos que as serpentes,
·         mais gulosos que os porcos,
·         mais coléricos que os tigres e
·         mais preguiçosos que as tartarugas,
·         mais fracos que caniços e
·         mais inconstantes que os cata-ventos.
De nosso só temos o nada e o pecado,
e só merecemos a ira de Deus e o inferno eterno.

§80. Depois disto, será para admirar que Nosso Senhor tenha dito que quem o quisesse seguir devia renunciar a si mesmo e odiar a sua própria alma? (Mt 16, 24).
- Que aquele que amasse a sua alma a perderia, e o que a odiasse a salvaria? (Jo 12, 25).
- Esta Sabedoria infinita, que não impõe mandamentos sem razão, não nos manda odiarmo-nos a nós mesmos senão porque somos sumamente dignos de ódio. Nada há tão digno de amor como Deus, e nada tão digno de ódio como nós.
Podemos, portanto, conforme os sentimentos dos Santos
e de muitos homens célebres, dizer-nos e tornar-nos
escravos de amor de Maria Santíssima, para ser, assim,
mais perfeitamente escravos de Jesus Cristo.

§81. Em segundo lugar, para nos despojar de nós mesmos, é preciso morrer todos os dias.
- Isto quer dizer que é preciso renunciar às operações das potências da nossa alma e dos sentidos do nosso corpo, ou seja:
    temos de ver como se não víssemos,
·         de ouvir como se não ouvíssemos,
·         de nos servir das coisas deste mundo como se delas não nos servíssemos (1Cor 7, 29-31).

- É a isto que São Paulo chama de morrer todos os dias (1 Cor 15, 31).
Se o grão de trigo cai à Terra e não
morre, permanece só e não produz fruto” (Jo 12, 24).
- Se não morrermos para nós mesmos, e se as nossas devoções mais santas não nos levam a esta morte necessária e fecunda, não daremos fruto que valha. Porque então as nossas devoções tornar-se-ão inúteis, todas as nossas boas obras serão manchadas pelo amor próprio e pela nossa vontade própria, o que fará com que Deus abomine os maiores sacrifícios e as melhores ações que possamos fazer.
- E, nesse caso, encontrar-nos-emos com as mãos vazias de virtudes e méritos na hora da nossa morte, e não teremos sequer uma centelha de Puro Amor, pois este só é dado às almas mortas para si mesmas e cuja vida está oculta com Jesus Cristo em Deus (Cl 3, 3).

§82. Em terceiro lugar, é preciso escolher, dentre todas as devoções à Santíssima Virgem, aquela que nos leva mais a esta morte para nós próprios, porque é esta a melhor e a mais santificante.
- Não se julgue, de fato, que tudo o que brilha é ouro, que tudo o que é doce é mel, e que tudo o que é fácil e praticado pela maior parte das pessoas é o mais santificante.
- Na natureza há segredos para fazer operações naturais em pouco tempo, econômica e facilmente.
- Na ordem da graça existem também segredos para fazer operações sobrenaturais em pouco tempo, suavemente e facilmente, tais como: despojar-se de si mesmo, encher-se de Deus e tornar-se perfeito.
- A prática que quero revelar é um desses segredos de graça, desconhecido pela maior parte dos cristãos, conhecido por poucas almas piedosas, praticado e apreciado por menos ainda.
- Para começar a descobrir esta prática, eis uma quarta verdade, que é uma consequência da terceira.

Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem Maria / São Luis Maria Grignion de Monfort